It's Quiet Uptown escrita por Siaht


Capítulo 8
VIII. he is working through the unimaginable


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoas maravilhosas!!!
Tudo bem com vocês?
Bom, finalmente estou aqui com o último capítulo dessa história e espero sinceramente que gostem! ♥



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{he is working through the unimaginable}

.

.

“if you see him in the street, walking by

himself, talking to himself, have pity

[...]

he is working through the unimaginable”

.

.

Havia cacos de vidro por toda parte. O rapaz havia quebrado todos os espelhos que conseguira encontrar. Cada maldita superfície refletora na qual colocara as mãos. Não suportava olhar para si mesmo. Era incapaz encarar o próprio rosto e não pensar na parte que lhe faltava. Incapaz de não ser dilacerado pela dor toda vez que o fantasma de seu irmão o observava de volta. George Weasley havia perdido seu melhor amigo, seu sócio, seu parceiro de crime, seu  gêmeo, seu Fred. Havia perdido aquele que estava com ele antes mesmo dele ser qualquer coisa significativa. Aquele que estava com ele desde o princípio. Os dois haviam chegado ao mundo juntos, não era certo que partissem separados. Haviam nascido para ser dois, qualquer outra coisa era perversa, distorcida e injusta.

O gêmeo solitário, então, apenas se deixou ruir. Deixou cada uma de suas partes se esmigalharem como pó, porque não fazia ideia de como ser inteiro sem Fred ao seu lado. Porque não sabia ser George num mundo sem Fred. Porque não queria aprender a ser essa pessoa. Sendo assim, o rapaz apenas se trancou no escuro. Se afogou no dilúvio das próprias lágrimas. Gritou até que sua voz se esgotasse. Amaldiçoou a tudo e a todos. Desejou incendiar a Gemialidades Weasley e destruir todo aquele universo de logros e brincadeiras, pois era horrendo que aquela loja se mantivesse de pé, quando um de seus fundadores jamais retornaria. Negou, barganhou, odiou, se sentiu tão deprimido que não era capaz de se levantar da cama. Se transformou na maior definição viva de infelicidade. 

Isso durou por um tempo longo. Um tempo longo demais. Até uma quarta-feira chuvosa e absurdamente comum. Um daqueles dias sem qualquer atrativo.  Um dia que teria passado completamente despercebido, se não houvesse sido o dia em que George Weasley finalmente aceitou que seu irmão estava morto. Ele já sabia disso antes, é claro, mas agora era diferente. Agora ele compreendia. Não havia mais lágrimas para chorar, embora a tristeza permanecesse seca em seu peito, e talvez isso tenha ajudado a clarear sua mente. Talvez tenha feito com que o rapaz finalmente enxergasse as coisas como elas eram. Fred não iria voltar. Mas por que George desejava seu retorno com tanto afinco? Porque, para além do fato de serem família, Fred era luz. Era alegria, risadas, rebeldia, amor. Era tudo o que George vinha afastando, desde sua partida.

Fred Weasley, afinal, não fora um pobre coitado ou uma vítima, fora um bruxo que decidira aceitar todos os riscos e lutar por um mundo melhor. O irmão não era tolo e sabia no que estava se metendo, sabia também que não conseguiria viver consigo mesmo se ficasse impassível, enquanto o mundo era destruído e inocentes pereciam. Fred havia sido um herói. E talvez George desejasse que esse não fosse caso, já que o destino de heróis costumava ser trágico. Porém, seria um demérito a memória do gêmeo ignorar esse fato e se concentrar apenas na tragédia final. Na verdade, tudo o que a família inteira vinha fazendo era uma ofensa a Fred e a vida que ele escolhera levar. Eles mal tocavam no nome do rapaz, como se fosse uma palavra proibida ou amaldiçoada. Como se quisessem apenas esquecer o garoto, porque seria menos doloroso. E Isso George não poderia permitir. Não poderia deixar que toda história e trajetória de seu irmão fosse apagada. Não poderia aceitar que Fred morresse novamente. 

Então, ele se forçou a sair de seu quarto. Se forçou a colocar um sorriso no rosto, mesmo que isso doesse e parecesse completamente falso. Se forçou a falar sobre Fred em toda e qualquer oportunidade. No começo, isso pareceu fazer mais mal do que bem. Causar erupções de dor e pranto por onde passava. Eventualmente, contudo, os sorrisos começaram a surgir. Vivos e reais. As risadas, a nostalgia, a saudade. Acima de tudo, a certeza de que havia sido uma honra amar e ser amado por Fred Weasley. 

O próximo passo fora se dedicar as Gemialidades Weasley. Aquela loja, no fim das contas, era o legado de Fred. Era o presente que ele deixara para o mundo.  Era algo de que George tinha a obrigação de cuidar e fazer prosperar. E foi o que ele fez. Foi o que seguiu fazendo dia após dia. Isso não quer dizer que foi fácil. Pelo contrário, havia momentos que pareciam insuportáveis. Momentos em que ele ainda queria apenas chorar ou odiar o mundo inteiro. Momentos em que tudo parecia a mais trágica das histórias. Ainda assim, em algum lugar de seu coração, havia sempre o lembrete de que Fred jamais escreveria uma tragédia, se pudesse escrever uma comédia. De que seu amado irmão odiaria vê-lo naquele estado lastimável. De que o gêmeo gostaria que ele vivesse, amasse, sorrisse e colocasse toda aquela vida, amor e sorriso no mundo. 

O fato era que George sempre seria um pouco triste. Sempre estaria um pouco quebrado. Sempre sentiria falta do irmão que partira cedo demais. Sempre iria desejar uma última conversa, um último abraço, uma última risada, um último “eu te amo”. Sempre iria sonhar com uma vida em que tudo fosse diferente. Sempre iria esperar um eco completando cada uma de suas frases. A dor e o luto o acompanhariam pelo resto de seus dias. O rapaz, no entanto, apenas aceitara tudo aquilo e resolvera transformar seu sofrimento em algo belo. Em algo de que Fred se orgulhasse. Algo que honrasse a memória do gêmeo. Algo que, de algum modo, o mantivesse vivo. Porque enquanto houvesse George, haveria algo de Fred no mundo. Eles haviam nascido para ser dois, afinal, e nem mesmo a morte poderia impedir isso. 


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Notas finais do capítulo

E enfim a aceitação. Essa parte tinha que ser do George, porque além de ser o gêmeo do Fred, acho que também seria a pessoa que o entenderia e conheceria melhor. A pessoa que saberia o que o irmão iria querer para a família e para o mundo. E que iria dedicar cada um de seus dias a honrar isso. Acho que o George sofreria muito e sempre sentiria falta do irmão, mas que não se prenderia a um luto eterno, justamente por saber que o Fred detestaria isso. Que a única forma de honrar o irmão seria continuar sorrindo, mesmo quando isso parecesse impossível.
Enfim, não sei se o capítulo conseguiu traduzir tudo o que eu queria ou fez jus a esse sentimentos, mas espero que tenha funcionado. E espero principalmente que tenham gostado.
Quero aproveitar agora para agradecer a todo mundo que acompanhou essa história. Especialmente a quem tirou um tempinho para deixar um comentário ou um favorito. Muito obrigada pela atenção e o carinho. Foi maravilhoso ter participado, ainda que de forma tão curta e singela, do Maio Weasley. ♥
Beijinhos e até a próxima,
Thaís



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