Cicatriz. escrita por _theliar


Capítulo 1
Capítulo 1




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"(...)Você vai me odiar quando eu te contar tudo

Você vai se perguntar se realmente me conhece de verdade

Você revisitará todos os sorrisos, e onde eles se encaixaram no dia

Eu sei disso e como isso vai acabar. (...)"

 

( Even So - Rachael Yamagata )

 


Cicatriz.


Minhas costas, marcadas pela fúria de meu pai, me levavam a um passado remoto. Sangue, chicote, ferimentos na minha carne. O puro cordeiro marcado pela ira do Senhor, de seu Deus. Acreditando ser o que realmente ele dizia que fosse apenas para purificar meu corpo do pecado eu me permitir a libertação sem questionamentos mesmo sentindo as dores a pagar por um preço que nem era para mim. Eu, Cain, aquele que carrega o nome amaldiçoado do homem que matou aquele que era de seu próprio sangue para dar ao Onipotente... Ele pecou. Eu também.

Fim de festa. Era tarde, eu não quis olhar para o relógio, pois sabia que mais uma vez passava da hora de estar dormindo. Escrevi em alguns papéis, não me recordo bem o que era, mas deveria ser apenas mais algumas daquelas anotações sobre novas combinações de venenos. O sono não vinha como esperei, novamente insônia por pensar naquele homem: Meu pai.

 

... Mestre Cain? – aquela voz amigável chamava meu nome mais uma vez naquela noite, eu contava nos dedos a quantidade de vezes que ele dizia Cain.

 

- Diga Riff. – retruquei já um pouco sonolento, mas ainda assim resistindo ao desejo de deitar.

 

- Precisa de algo?


Pergunto-me por que todas às vezes ele chegava tão manso, desde que eu lembro era assim comigo mesmo em minha infância. Riffael se aproximou quando menos esperei e cuidadoso como o de costume fora desabotoando minha camisa. Sim, era sufocante manter as aparências mesmo para mim. A pequena Marrye descansava em seus aposentos, talvez estivesse sonhando com seu mundo encantado de criança. Mas não demoramos e mesmo com a camisa desabotoada eu caminhei junto a Riff até o banheiro, as luzes acesas iluminando as paredes tão brancas e enfim a banheira estava cheia com aquela água morna.

 

Entrei na banheira e ao fechar os olhos eu pude enxergar a escuridão. Saborosa, cheia daquele silêncio e solidão se não fossem aquelas mãos que rapidamente tocavam minhas costas despidas com tamanha cautela. Havia um monstruoso receio de que eu fosse quebrar, como uma taça de cristal. Ele tocou minhas cicatrizes, dedilhou cada marca que o chicote de meu Pai deixara marcado no Cordeiro Negro. Meus lábios ligeiramente contorcidos pela mistura de ódio, sufocamento e gratidão por ter com quem compartilhar aquelas dores do passado declaravam meu alívio repentino. Riffael Raffit , ele fora o único que enxugou minhas lágrimas e beijou minhas cicatrizes.

 


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