Porto Maribel escrita por Sensei Oji Mestre Nyah Fanfic


Capítulo 3
O romance nem começou e já deu ruim




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TRIBUNAL DA CONSCIÊNCIA

 

RÉU: JÚLIO ANDERSON

JUIZ: JÚLIO IMPARCIAL

PROMOTOR: JÚLIO SENSATO

ADVOGADO DE DEFESA: JÚLIO NERD

TESTEMUNHAS: JÚLIO LASCIVO, JÚLIO DONO DA PORRA TODA, JÚLIO TÍMIDO, JÚLIO DOMINANTE, JÚLIO FESTEIRO E JÚLIO DIABINHO.

 

JULGAMENTO POR CRIME DE CONSCIÊNCIA E DÚVIDA ACERCA DAS INTENÇÕES DE CAIO CASTRO.

 

Júlio Sensato: Não seja burro! Você está cedendo às investidas daquela pessoa.

Júlio Nerd: Por favor, excelentíssimo, o promotor está pressionando o meu cliente para se confessar culpado.

Júlio Imparcial: Argumento aceito. Senhor promotor, atenha-se aos fatos.

Júlio Sensato: Desculpe, excelentíssimo. Mas precisamos ser enérgicos com gente burra.

Eu: Não sou burro. É que talvez eu esteja exagerando ao transformar o Caio num inimigo.

Júlio Imparcial: Vamos chamar as testemunhas.

Uma pausa para as testemunhas entrarem no tribunal. O primeiro a depor era o Júlio Festeiro.

Júlio Festeiro: Ah cara. Para com isso. Obviamente aquele mama na égua está jogando com a nossa cara. Transformá-lo em vítima agora é ceder ao inimigo.

Júlio Dono da Porra Toda: Você fala isso porque foi o que mais influênciou a sermos traficante de remédios. Você é uma péssima consciência.

Júlio Festeiro: Fala muito aí, vacilão. Eu fiz o que tinha que fazer. Ninguém se sustenta sem dinheiro.

Júlio Imparcial: E as demais testemunhas?

Júlio Tímido: E-eu concordo... com ele ali. Nã-não devíamos ter nos envolvido com o Vinícius. Mas eu confio no Caio.

Júlio Sensato: Argh. Você é uma decepção.

Júlio Nerd: Estamos de acordo com o tímido. Só porque fizemos cagada não quer dizer que o Caio seja alguém ruim. Tudo bem que o nosso eu é burro, e daí? Se ele é insensato, e daí? Se ele só faz escolhas merdas, e daí? Se a nossa vontade é de espancá-lo por tantas decisões ruins, e daí?

Eu: Advogado, não precisa me defender tanto.

Júlio Imparcial: Faltam mais três testemunhas. Onde estão?

Os demais olharam o Júlio Diabinho aparecer no tribunal trajado com uma roupa sexy vermelha e com chifres na cabeça.

Júlio Diabinho: Eu vim parar essa putaria. Não vai levar em nada. Vamos nos divertir.

Enquanto isso, Júlio Lascivo e Júlio Dominante faziam sexo no fundo do tribunal enquanto o Diabinho sambava sobre a mesa do juiz.

~.~

— Filho! Tá no mundo da lua? Não provou a comida. Está tudo bem?

— Claro que sim, mamãe.

Minha consciência martelava. Será que Caio é uma pessoa desonesta igual o Vinícius? A primeira impressão deu pontos negativos. E aquela passada de dedo momentos antes? Ele jantava ao meu lado na mesa. Era muito incômodo.

— Filho, o Caio é um menino tão trabalhador como você. Ele é pescador. Está juntando dinheiro para fazer a faculdade?

— Sim, dona Fátima. Eu passei um bom tempo sem estudos. Depois que completei o ensino médio eu decidi trabalhar com o meu pai.

— Mas agora o meu filho está guardando dinheiro para quando terminar a pandemia pagar a faculdade.

— Que interessante — disse desanimado.

— Mas o que você vai querer ser, Caio? — Minha mãe era a mais interessada.

— Oceanografia. Adoro tudo o que é relacionado ao mar. Não só os peixes são os que cairão na minha rede.

Senti um calafrio no meu corpo. Olhei de relance e percebi que Caio me olhava de tempo em tempo.

Terminamos o jantar. Mamãe queria que eu interagisse mais com ele, porém não tava animado para fazer amizade com um cara que chamou a polícia para mim minutos depois de tentar arrancar dez contos meus.

— Vou dormir.

— Durma com os anjos. — disse ele. Ainda parto-lhe a cara.

Entrei no quarto e me esparramei na cama. Estava muito cansado depois do primeiro dia de trabalho. Espero não ver com frequência aquele cara.

...

Quando digo não ver com frequência significa que seria o meu sonho ver o Caio uma vez por mês. No entanto, mal comecei o meu segundo dia de trabalho, ele estava de volta no mercadinho. Estava varrendo o chão dos corredores entre as prateleiras quando o vi conversar com a Sabrina no caixa. Ambos fazem um belo casal. Casal de entojados.

Ele se aproximou. Dessa vez não fugi. Apenas continuei varrendo.

— Bom dia?

— Bom dia.

— Como vai?

— Bem.

— Hahaha. Está monossilábico hoje. Nem parece aquele que se escondeu no banheiro ontem.

Meu rosto virou um tomate em 1 segundo. Desconversei, mas ele era mais ágil do que imaginava.

— Olha aqui, Caio. Cheguei na cidade há poucos dias porque passei por problemas. Assim que piso na minha terra natal, você chega e tenta me roubar dinheiro...

— Eu não tentei.

— Tentou sim. E que história era aquela de eu te pagar dez reais porque você me ajudou?

Ele riu da minha cara. A minha vontade era de dar um murro.

— Para nada. Aquilo foi uma brincadeira. Como vê, eu não tô pedindo esmola.

Suspirei.

— Você até chamou a polícia para me prender. Eu tive que correr bastante para não ser pego. E sabe o que foi o pior? A rodinha da minha mala quebrou.

De repente, Caio soltou uma gargalhada sinistra. Alguns clientes olharam. Ele riu tanto que chorou.

— Eu preciso tomar um fôlego.

— O que é tão engraçado.

— Espera um momento.

Ele saiu. Pouco tempo depois trouxe dois homens. Eram os policiais agora sem fardas. Caio explicou que os dois eram youtubers, que estavam fazendo uma pegadinha naquele dia. Um quarto rapaz apareceu.

— Somos donos de um canal com mais de cem mil inscritos — disse o Caio. — Os dois falsos policiais são Diego e Nando. Ele aqui é o cameraman chamado Mateus.

Cumprimentei a todos, com muita vergonha. Eles disseram que pagariam uma nova mala para mim, porém neguei a oferta.

Sabrina interrompeu a conversa. Alguns clientes precisavam de ajuda e eu estava vadiando com aquele quarteto.

— Espere até o fim do teu expediente. Quero tirar a má impressão que teve de mim.

Assenti. Não vi motivos para odiá-lo. Apenas foi um péssimo começo entre nós.

...

Às quatro da tarde o meu expediente acabou. O mercadinho terminou mais cedo.

Fui aos fundos. Havia um terreno baldio com mato que também fazia parte da propriedade da minha família. Pus os lixos recicláveis em seus respectivos lugares. Senti um aroma estranho.

— Que cheiro é esse? — E não, não era o odor fétido do lixo.

Caminhei pela trilha de mato até sentir o odor ficar ainda mais forte. Era como um óleo de amêndoas. Aproximei-me até ver umas roupas largadas ao chão.

— Meu Deus — Havia um rapaz franzino só de cueca, deitado no chão. Ele liberava feromônios. — Você é ômega!

Tentei ajudá-lo, mas não consegui. Se eu o fizesse, o meu rut chegaria pronto. Como alfa eu não podia ficar ali. Não quero perder o controle e abusar sexualmente de uma pessoa. Corri de volta ao supermercado a fim de pedir ajuda a alguém.

— O que houve? — perguntou a Sabrina.

— Há um ômega nu no terreno de trás.

Caio apareceu de repente. Estava com mais algumas pessoas.

— O que houve?

— Um ômega. Acho que abusaram dele.

Caio saiu correndo para os fundos. Fomos todos atrás dele. Ele conseguiu sentir o cheiro. Não pude me aproximar mais. Ele retirou a jaqueta, ficando apenas de regata, e vestiu o ômega ali mesmo.

— Você deve estar se perguntando o porquê ele aguentar o cheiro — disse Sabrina. — Caio é beta. Para você ele pode ser um humano simples. Mas ele consegue se garantir mais do que muitos alfas por aí.

O ômega agradeceu.

O único que se importou com aquele pobre rapaz fora Caio. Mesmo que os clientes e curiosos também fossem betas, apenas ele se mobilizou em ajudar. Olhei em volta. Ninguém moveu um dedo.

Pela primeira vez vi o Caio com outros olhos. Talvez ele não seja tão ruim assim.

Após o expediente, fui até o meu pai para falar sobre o ocorrido. Sabrina, claro, adiantou-se. Cheguei na entrada do seu quarto. Papai estava bem melhor. Continuava mexendo no celular quando me viu.

— Soube pela sua irmã que achou um ômega nos fundos do mercado.

— Sim. Ele aparentemente foi violado. O senhor sabe...

— Não me interessa o estado do ômega. Só quero saber se você está bem.

— Estou. Graças ao Caio que nos ajudou.

— Ele é uma excelente pessoa. Diferente desses ômegas que só servem para espalhar suas promiscuidades a torto e a direito.

Assim como eu, papai era alfa dominante. Mas a semelhança terminava aí. No Rio de Janeiro eu tinha alguns amigos ômegas, era divertido me envolver com eles. Papai é mais avesso. Talvez por sua educação rígida.

— Aquele menino está sempre por aí dando um de herói. Ele é beta. Por que sempre ajuda esses ômegas?

— Desde quando o senhor é preconceituoso com os ômegas?

— É consenso de que eles usam seus feromônios para ludibriar pessoas, sobretudo alfas. Mas eu não sou contra eles. Aceito até que você namore um.

Neguei qualquer tipo de namoro com ômega. Na verdade eu apenas omiti uma informação importante que eu não queria compartilhar com o senhor Leimar.

...

Fiquei sem ver Caio por alguns dias. Provavelmente devido a mais restrições impostas pelo governo estadual. Ele não morava na área do porto, por isso não nos víamos com frequência.

Queria saber sobre o ômega que resgatou. Desde aquele dia a minha curiosidade não parava de me atormentar.

— Bom dia — Ele falou enquanto sorria de uma forma descarada.

— Faz tempo que eu não te vejo.

— Qualé? Foi só uma semana. O que foi? Ficou com saudade?

— Achei estranho que logo você se ausentou por tanto tempo. Pensei que tivesse morrido.

Conversávamos na frente do mercado enquanto eu varria a calçada. Caio pegou a vassoura e me ajudou a limpar.

— O que houve com aquele ômega?

Ele olhou de soslaio para mim enquanto varria.

— Está bem melhor. Foi um cio atencipado.

— E sabe como ele foi parar no terreno de trás?

— Pulou o muro para fumar cigarro com um amigo. Cara, odeio isso. Odeio essas injustiças que ocorrem com os ômegas. Eu sei que na parte biológica eu nunca vou entender pois sou beta, mas a parte social é bastante questionável.

— É verdade.

— O que mais me irritou foi uma coisa — Senti que ele apertava o cabo da vassoura com raiva. — Drogaram aquele pobre rapaz.

— O que ele tomou? Cocaína, heroína...

— Não sei ao certo. Ele me falou que o tal amigo quis estuprá-lo. Antes ofereceu um comprimido rosa para ele tomar. Parece que o tal comprimido desinibe o cio.

Enguli em seco. Sabia exatamente que tipo de comprimido rosa era.


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Notas finais do capítulo

ferrou