Safe & Sound escrita por Haru


Capítulo 1
Safe & Sound




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/801111/chapter/1

Safe & Sound

Kin estava em sérios apuros. Derrotou um monstro, manteve sua filha a salvo dele e chamou ajuda, mas terminou a batalha severamente ferida e, acima de tudo, exausta. Além de tudo isso, um frio congelante se instaurou e só de voltar seus cansados olhos castanhos escuros para o céu podia antever uma tempestade quase que apocalíptica. A cereja do bolo era que sua menina dormia um sono profundo e a única cobertura visível se encontrava a quase meio quilômetro de distância — e Kin não tinha forças nem para ficar de pé, estava caída ao lado de Saori, as duas largadas em um imenso terreno baldio. 

Seus loiros, longos e encaracolados cabelos se destacavam no chão de barro seco sobre o qual ela deitava a cabeça. Quando a primeira gota d'água veio das nuvens até seu nariz, soube que aquele solo ali viraria lama em poucos segundos. O acastanhado e sereno rosto da garotinha pela qual deu tudo de si naquele confronto contrastava com sua estressada face naturalmente branca. Contemplou-a respirando por alguns instantes e então fechou os olhos. Eu preciso tirar você daqui rápido, pensou consigo mesma, buscando dentro de si as forças das quais precisaria.

Força, Kin, se motivava, agora com uma expressão diferente. Transpirava determinação. Num surto de força, girou para a esquerda, onde a pequenina de cabelos negros mas enrolados como os seus tirava a soneca mais tranquila de toda a vida dela. Usou o próprio corpo como cobertura para a sua menina, protegeu-a das gotas gélidas que caíram prenunciando o torrencial que vinha a cavalo. Vamos lá, se exortava mentalmente. Segurou-a pela nuca, em seguida pelas pernas, deu um alto brado que não expressava nem metade de todo o esforço que fazia e finalmente conseguiu se pôr de pé. 

Apenas feche os olhos... 

Ao longo do percurso até a cobertura — se é que ela não passava de uma miragem —, cantava para si mesma uma música. A chuva já caía impiedosamente. Sempre odiou a canção que entoava em sua mente, não entendeu de cara porque logo aquela começou a soar. Talvez porque fosse apropriada para a situação. Riu e abaixou a cabeça. Não sabia quem tremia mais: Saori ou seus braços. Se distraiu, pisou em falso e quase a deixou cair, entretanto, agarrou-a a tempo.

Você ficará bem... 

 Tinha duas notícias boas e duas ruins. As boas: a cobertura não era uma miragem e estava a pouquíssimos metros das duas. As ruins: a força da chuva duplicou e só existia lugar para uma debaixo da cobertura. A aquela altura, por um lado, todo o sangue que manchava a camiseta branca da loira foi lavado pelas águas, por outro, o lamaçal pelo qual ela andava se mostrou tão profundo que alcançava os seus calcanhares. Se lhe perguntassem, Kin não saberia dizer de onde arrancara as forças para seguir em frente. A resposta repousava inconsciente em seus enfraquecidos braços. 

Ninguém pode te machucar agora... 

 Quando chegou na cobertura, descobriu que se tratava de um monte de entulhos com uma telha por cima. Acho que serve, se confortou ao perceber que pelo menos o chão estava seco. Pôs com todo o cuidado sua filha encolhida em baixo da telha e ao lado dos entulhos. Fitou-a com carinho, amor, misericórdia, se ajoelhou sem forças ao lado da tenda e pediu perdão à menina pelo mau cheiro dos pedregulhos próximos. Sentiu que faltava alguma coisa. Tirou a jaqueta jeans, cobriu o telhadinho com ela e caiu sentada para o lado, de rosto apoiado num saco preto de lixo. 

Ao chegar a luz da manhã...

Kin acabou desmaiando, mas o assustador rugido de um trovão rasgando os céus a despertou. Ela abriu ligeiramente os olhos porque não possuía mais energias nem para mover o menor dos dedos. Tudo doía. Anoiteceu e seu esposo ainda não veio, Saori dormia mais do que as pedras. Para se distrair, quis pensar nos nomes que o xingaria por demorar tanto, mas até o vigor para sentir raiva lhe escapava. Suas pálpebras pesavam. Arashi, cadê você?, pedia por ele, esforçando-se para permanecer acordada. Se você chegar agora, eu não te xingo. Foi então que, contra a luz da majestosa lua cheia, ele surgiu diante delas.

Você e eu estaremos sãs e salvas...

Fim. 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Safe & Sound" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.