Academia de Poderes Inúteis escrita por Creeper


Capítulo 46
A pior das despedidas


Notas iniciais do capítulo

Olá!
Bem, esse é o último capítulo da nossa história e logo em seguida vem o epílogo, onde darei minhas palavras finais e todos os agradecimentos ♥. Eu tô bem feliz por termos chegado até aqui, foi uma longa jornada, hein? Agora sem mais delongas, vamos ver como essa trama se encerra.

Espero que tenham uma boa leitura e possam dar uma olhada nas notas finais ♥.



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Seu pequeno e frágil corpo esteve no ar por um segundo e quase tive medo de que Deus a confundisse com um anjo e a pedisse para voltar aos céus, entretanto, seu peso caiu sobre mim e eu automaticamente passei meus braços por suas costas, puxando-a para o mais apertado e seguro dos abraços.

Me senti forte e fraco ao mesmo tempo. Escutei seu coração bater loucamente e seu choro de medo. Ela apertou minha camiseta e afundou o rosto em meu peito, grunhindo e soluçando.

Minha única visão era parte de seu cabelo rosa e o banco vazio do carro de Hanna. Ou estaria vazio se ela não tivesse pulado para ele. Em uma de suas mãos estava a arma, mas ela não atiraria em mim, não com sua filha em meus braços.

Yara fez o favor de esticar seu corpo por cima dos nossos e fechar a porta enquanto Eduardo gritava para que Stefanie acelerasse. Minha irmã mais velha não pensou duas vezes antes de acatar a ordem e esmagar o pedal.

— Ela está bem? – indagou nervosa.

Milena acomodou parte do seu corpo nas minhas pernas e nas de Yara, deixando que víssemos seu rosto inchado e vermelho. Ela esfregou os olhos e voltou a chorar descontroladamente.

— Minha mãe… É a Hanna Sato? – seus ombros tremeram. – Por quê? Por que ela fez isso com a gente?

— Não sabemos, mas o importante é que você está com a gente. – Ienaga conferiu os retrovisores.

O carro de Hanna se aproximava perigosamente e não havia mais sinal do R.C.E. Cerrei os dentes tentando não pensar que estávamos sem saída.

— E agora? – a pequena fungou. – Sou a única que tem um poder. Mesmo que prendam minha mãe, o que vai acontecer comigo? Vão me separar de vocês. Sou a prova desse crime. – soluçou.

Era doloroso ouvir sua convicção e pior ainda saber que ela estava certa. A abracei com ainda mais força e deixei que algumas de minhas lágrimas molhassem seu cabelo. 

— Não vou deixar ninguém te machucar. – sussurrei. – Vamos arranjar uma solução.

— Temos que despistá-los. – Stefanie exclamou determinada. 

— E como pretende fazer isso? – Yara perguntou temerosa.

— Vocês vão ver. Segurem-se e rezem! – a motorista gritou.

Não houve tempo para fazer nada daquilo. Stefanie diminuiu a velocidade repentinamente e girou o volante sem hesitar, jogando o carro para uma área rural ao descer uma pequena ladeira. Fui esmagado contra a porta pelo peso dos outros três e meu coração quase saiu pela garganta ao avistar as árvores que surgiram em nosso campo de visão.

— STEFANIE! – todos gritamos em uníssono.

Rezei o Pai Nosso um milhão de vezes em único segundo e fiz de tudo para proteger a cabeça de Milena. Um solavanco desestabilizou nossos corpos e o som do aço sendo comprimido indicou quando batemos contra uma árvore. Uma fumaça branca subiu e nossas respirações ofegantes foram as únicas coisas a serem ouvidas quando o motor morreu.

Suspirei aliviado ao ver que Milena estava bem, contudo, perdi toda cor ao reparar no para-brisa trincado e no fio de sangue que escorria de um corte na testa de Stefanie. Ienaga estava zonza, mas voltou a si assim que viu o machucado da motorista.

— Eu tô bem. Eu... – Stefanie pegou a blusa amarrada em sua cintura e a pressionou na ferida. – Não tem mais como fugir. O que vamos fazer com a garota? – fechou os olhos e cerrou os dentes.

Olhei para a ladeira pela qual descemos, sabendo que em breve o carro de Hanna apareceria ali. Ienaga, Eduardo e Yara começaram a discutir entre si todas as alternativas possíveis, porém, nenhuma era boa o suficiente. Nenhuma garantia a segurança de Milena. Rangi os dentes, baixei o olhar e tentei buscar por uma resposta.

Não dava para fugir para sempre. Mas por um tempo, talvez.

— Milena, você precisa desaparecer. – falei duramente.

Todas as vozes se cessaram e os olhares caíram incrédulos sobre mim. Não conseguia fitar a nenhum deles, era extremamente difícil. 

— Não, a Hanna deve saber como apagar o poder dela! – Yara argumentou.

— E se ela não quiser apagar? Ou se o R.C.E. ou outra instituição a pegarem para pesquisas? – um nó se formou em minha garganta.

— Tudo bem. – Milena ditou. – Vou desaparecer.

Instantaneamente, ficamos em silêncio e focamos toda a nossa atenção na garota. Ela havia cerrado os dentes e as lágrimas corriam por seu rosto ruborizado.

— Eu volto quando achar que devo voltar. Vou procurar uma forma de apagar meu próprio poder. Talvez não consiga, mas as pessoas vão ter parado de me procurar.

— Espera, por quanto tempo pensa em ficar desaparecida? – Eduardo questionou boquiaberto.

— Dias. Meses. Anos. – ela encolheu os ombros. – O necessário.

— Não pode ficar todo esse tempo dentro do seu poder! – Ienaga protestou indignada.

— Posso. – a pequena assentiu. – Quando não me encontravam na academia, era lá que eu estava. Não sinto fome ou sede lá dentro, o corredor me fornece toda a energia que preciso como se quisesse que eu ficasse lá dentro. Já até aprendi a como contar as horas que se passam.

— Vai enlouquecer se ficar lá por anos! – Eduardo mordeu o lábio inferior. – Vamos pensar em outra coisa… A gente vai para outro país ou...

— Esquece! – Milena berrou e suas mãos trêmulas ameaçaram se juntar. – Eu não quero saber o que vem depois daqui. Eu não quero ver minha mãe de novo. Não quero passar por mais testes ou interrogatórios. Eu só queria ser uma criança normal!

O jeito como ela gritava e chorava assustava a todos. Stefanie a fitava em choque, sem conseguir pronunciar uma única palavra. Eduardo bateu no banco da motorista e apoiou a testa ali, derrotado. Ienaga e Yara se entreolharam com os olhos marejados e engoliram em seco.

— E se eu não posso ser essa criança… – Milena fungou. – Eu prefiro não existir aqui por um tempo. 

Senti meu maxilar travar de tanta tensão e apertei meus braços em volta de seu corpo, afundando o rosto em seu cabelo e acariciando suas madeixas. Não conseguia dizer nada. Não conseguia pensar em nada. Minha mente estava em branco e o choro escapava sem parar.

Mas um barulho me fez voltar à realidade. O barulho repentino de um carro freando e a voz alerta de Stefanie:

— Eles chegaram.

Afastei-me minimamente de Milena, apenas o suficiente para ver seu rosto pela última vez. Vendo minhas duas irmãs no mesmo lugar, pude reparar em como ambas se pareciam: os mesmos olhos castanhos brilhantes, as mesmas sobrancelhas determinadas e mesmo nariz arrebitado.

— Você vai conseguir voltar? – sussurrei.

— Eu sempre volto para o mesmo lugar que sumi. Não vai ser diferente dessa vez. – Milena respondeu apressada. – E, Stefanie… – virou-se para a motorista. – Você é a melhor irmã mais velha que eu podia ter.

A garota de cabelos azuis abriu a boca, todavia, não houve tempo para sanar suas dúvidas. Milena respirou fundo, lançou um olhar de despedida para cada um de nós e apertou uma mão na outra.

E então, desapareceu. Em um piscar de olhos, sua presença já não existia mais. Sequer seu perfume ou algum fio de cabelo. Nada que comprovasse que Milena algum dia esteve naquele carro.

Ienaga soltou um grunhido, voltou-se para frente e colocou a cabeça entre os joelhos, chorando e murmurando alguma coisa. Yara cobriu seus lábios com as mãos para barrar seus soluços e fechou os olhos fortemente.

Não conseguia consolar ninguém, porque eu mesmo estava inconsolável. Quis fechar os olhos e me recostar no banco para pensar que aquilo havia sido um pesadelo, entretanto, minha porta abriu-se e um cano preto cobriu minha vista.

— Cadê a menina?

Foi o que Hanna Sato perguntou apontando a arma para mim. Ninguém ousou soltar um suspiro que fosse e muito menos mover-se, tendo em consideração que com um toque, haveria uma bala entre meus olhos.

— CADÊ A MENINA? – insistiu.

— Não está com a gente. – Stefanie respondeu paralisada.

— Não me digam que a fizeram entrar no próprio poder. – Hanna piscou os olhos lentamente. – Desapareceram com minha filha! Vocês desapareceram com a minha... – gritou histérica.

— Não, ela desapareceu por ter uma mãe como você. – Ienaga rosnou.

A mulher não hesitou em movimentar seu pulso e deixar a arma na direção de Ienaga.

— Não faça isso, não pode matar uma adolescente! – uma voz masculina soou fora de nosso carro.

Atrás de Hanna estava Rodrigo, estranhamente nervoso e afobado, olhando para todos os lados até que seus olhos encontraram os meus.

— Qual deles é seu filho? – Hanna indagou em um tom autoritário.

— O loiro. – ele engoliu em seco. – E a motorista.

— Os dois, saíam. – ela ordenou.

Não nos mexemos um único centímetro. Não queríamos receber ordens daquela mulher e muito menos tínhamos força para nos levantarmos.

— Eu mandei saírem. Ou eu atiro em um desses três. – ergueu o tom de voz.

Stefanie expirou, soltou o cinto de segurança e abriu a porta bruscamente, saltando para fora do carro. Respirei fundo, troquei um último olhar com a União e assenti brevemente, também deixando o veículo.

Não conseguia encarar o homem ou sentir qualquer coisa por ele, diferente de Stefanie que o fuzilava com puro ódio e seus punhos cerrados que quase gritavam que o dariam um soco se sua mulher não tivesse uma arma.

— Rodrigo, você cuida da grandona e dos que ficaram. – Hanna mandou. 

— Espera, o que vai fazer com o garoto? – Rodrigo empalideceu.

— Apenas conversar. Quero saber o que ele disse para a nossa filha. – ela segurou meu ombro e me empurrou para que eu andasse. – Quando o R.C.E. chegar, faça os adolescentes de reféns. – jogou sua arma para o marido.

Rodrigo não sabia o que estava segurando ou como segurar. O suor acumulou-se em sua testa, ele analisou o objeto e depois olhou hesitante para a esposa. Minhas pernas tremiam e meu corpo ameaçava cair a qualquer instante, contudo, eu precisava ter um semblante forte assim como os do que estavam no carro.

Hanna continuou a me dar pequenos empurrões, me instigando a caminhar para dentro do emaranhado de árvores que se erguia à nossa frente. Os outros ficaram cada vez mais distantes, até que eu não fosse mais capaz de vê-los entre os galhos e arbustos.

— Então, o que disse a ela? – Hanna mexeu em sua bolsa.

— N-Nada. Ela fez a escolha dela. – minha voz saiu rouca.

— Não é porque é filho do meu marido que vou ser boazinha.

O “click” que se seguiu foi inconfundível. Não o escutava no dia a dia, mas sabia do que se tratava. Outra arma, dessa vez apontada diretamente em minha nuca.

Meu coração acelerou-se e quis sair por minha boca. Não havia escapatória. Não havia outra saída. Se eu gritasse, o que aconteceria? 

— Quando ela vai voltar? – questionou.

Continuamos a andar em linha reta, entrando cada vez mais fundo na floresta. O suor frio escorreu por meu rosto e minha vista ficou turva por causa da respiração descompassada.

— Daqui um mês. – engoli em seco.

— Então você ficará comigo durante um mês. Para eu ter certeza de que não está mentindo.

Funguei e senti meu corpo gelar. Eu não tinha forças para fugir, minhas pernas trêmulas sequer conseguiam me manter de pé. Não conseguia fazer nada além de chorar e querer vomitar.

— Por quê? – perguntei com a voz embargada.

— Ora, eu acabei de diz…

— Por que nos deu os poderes? – encolhi os ombros.

Hanna ficou quieta por um minuto, nisso pensei na minha própria mãe. Ela nunca imaginaria o que estava acontecendo com seus filhos naquele momento. Ela só estava tendo mais um dia de trabalho entre tecidos e máquinas de costura, mal vendo a hora de chegar em casa e encontrar sua filha e seus animais. Porque ela nunca teria injetado poderes em crianças recém-nascidas.

— Todos queremos ter a atenção do mundo algum dia, não? – Hanna respondeu séria. – E se o que vimos nos quadrinhos e filmes fosse verdade? Imagine uma sociedade com poderes, quantas coisas não faríamos? O céu deixaria de ser o limite. E eu quem teria sido a responsável pela evolução da humanidade.

Não podia ver a expressão de Hanna por estar de costas para ela, todavia, pelo seu tom de voz, tinha certeza de que ela sorria. Um sorriso definitivamente doentio.

— Mas não deu certo. Os poderes eram inúteis. – balbuciei.

— Eu percebi um erro em minha fórmula um ano depois. – contou. – Por isso, a consertei. Fora do emprego de enfermeira, eu apenas podia aplicar a injeção em um bebê que fosse meu, não?

Arregalei os olhos e abri a boca, travando no lugar por um segundo.

— Teve a Milena apenas para…

— Consertar meu erro. Tudo pelo meu projeto. Se desse certo, minha filha viveria em um mundo novo com um poder inigualável. Ela seria a mais incrível de todos. – Hanna tocou minhas costas para que eu voltasse a andar. – Porém, alguém a fez sumir.

Agora havia raiva em sua voz. 

— Não, Milena não podia fazer nossos poderes serem úteis. – resmunguei. – Seus experimentos nunca deram certo.

— Bem, ainda existem muitas crianças para testar. – ela bradou. – Mas você é uma a menos.

Senti meu coração falhar uma batida e instintivamente fechei os olhos. Não escutei o som do tiro. Talvez, se eu tivesse de fato morrido, não o ouviria de qualquer jeito. O que ouvi foi um barulho ensurdecedor acima de minha cabeça, seguido pela agitação dos pássaros e o farfalhar das folhas.

Com muita dificuldade, abri os olhos e avistei algo no ar. Gigantesco. Na cor preta. E a hélice que girava sem parar.

— Hanna Sato, levante as mãos agora e se afaste do garoto! – um homem falou pelo megafone de dentro do veículo.

Devidamente posicionada, Vitória trajava um colete a provas de balas e segurava uma arma de precisão como se fosse uma sniper. Eu ainda não conseguia olhar para Hanna, entretanto, tinha a total certeza de que ela ficou pálida e congelou.

Possivelmente Hanna tivesse até pensado em continuar a me fazer de refém, contudo, passos surgiram detrás das árvores, revelando Bárbara e Letícia que anteriormente também estavam na perseguição. 

— Não tem para onde fugir ou o que fazer. – Bárbara avisou. – Desista, é o fim da linha.

Hanna gargalhou de maneira louca e descontrolada, o que fez as mulheres adotarem posições de ataque, prontas para atirar a qualquer momento. Quando Hanna terminou de rir, soltou um longo suspiro, largou sua arma e abaixou-se na altura do meu ouvido:

— Ainda vão se arrepender disso. Eu podia ter mudado o mundo em que vivemos e vocês só precisavam colaborar. Agora, por sua teimosia e insistência, onde a minha filha foi parar? Sozinha na imensidão. E a culpa é sua por ter se rebelado.

A mulher foi afastada de mim à força, sendo puxada por Letícia que dobrou seus braços e os pressionou contra suas costas. Hanna continuou a rir e me olhar como se eu fosse patético. 

Bárbara gesticulou para o helicóptero e esse fez uma manobra para mudar de rota e abandonar o lugar em que estávamos. A vice-chefe aproximou-se de mim pousando a mão em meu ombro e me fazendo algumas perguntas, mas eu não conseguia me concentrar em nada que não fosse Hanna e sua expressão de superioridade e insanidade.

Ela estava ali, finalmente a achamos. Ou melhor, ela nos achou. Contudo, não havia nada que eu pudesse sentir que não fosse um vazio arrebatador. Meu choro era incontrolável e eu caí de joelhos na terra com as palavras de Hanna rodopiando em minha mente.

Bárbara me ajudou a levantar, passou meu braço por seus ombros e guiou-me de volta para o carro de Stefanie, onde todos haviam sido acolhidos pela polícia. Rodrigo estava sendo encaminhado para uma das viaturas e arregalou os olhos ao vislumbrar a esposa e a mim. Eu não sabia o que ele havia visto nela e nem porque a ajudou de certa forma, na verdade, não me interessava, nada mais importava.

Hanna foi colocada em uma viatura e a vice-chefe dispensou os policiais que tentaram falar comigo.

— Está tudo bem? – ela questionou preocupada. Também estava devidamente uniformizada e carregava um crachá que fazia o R.C.E. ter alguma credibilidade.

Não estava nada bem, minha cabeça girava sem parar e eu não conseguia parar de encarar a figura da pseudomorta. Fechei os olhos por um minuto e respirei fundo.

— Eu te odeio, Hanna Sato! Eu te odeio! – berrei com todas as minhas forças, a ponto de o ar faltar em meus pulmões. – Eu espero que você apodreça na cadeia! É tudo culpa sua! Tudo o que somos e passamos, é culpa sua! – continuei a gritar o mais alto que pude.

Bárbara distanciou-se um passo com os olhos arregalados. Ienaga e Eduardo me fitaram de maneira dolorosa e Stefanie e Yara foram corajosas o suficiente para desvencilharem-se dos policiais e correrem ao meu encontro.

Minha irmã deu-me um abraço terrivelmente apertado de modo que sentisse o suor de sua camiseta e me sufocar no tecido. Ela não fazia menção de me soltar, porém, eu também não queria que ela me soltasse. Queria morar em seus braços, porque tinha medo do que aconteceria se eles estivessem longe de mim.

— Eu queria nunca ter conhecido a Milena. – enxuguei meus olhos que não paravam de derramar lágrimas. – Porque assim não ia estar doendo tanto. – solucei.

Parecendo não aguentar mais o impulso que vinha reprimindo, Yara juntou-se ao abraço. Depois, Ienaga e Eduardo. Bárbara pareceu entender o momento e deixou-nos naquele estado por longos minutos.

— Sabe… – Yara balbuciou. – Ela estava sorrindo no final. – fitou o horizonte com os olhos marejados e os lábios trêmulos.

— É, estava. – confirmei, mas aquilo não acabava com a minha dor, apenas a deixava maior.

 

>>> 

 

O R.C.E. não era nada do que pensávamos. Não eram preguiçosos inúteis que haviam pegado o trabalho da API somente por não ter mais o que fazer. Os uniformes para ocasiões especiais e o esconderijo do hidrante de parede começavam a fazer sentido.

Não eram uma instituição comum, eram agentes secretos. Resolviam casos específicos como o nosso com a estratégia de parecerem desapegados e desajeitados quando na verdade sabiam mais do que todos e tinham seus próprios planos. Fomos completamente enganados.

Miguel e Fábio foram parar no hospital, mas pelo que eu soube, eles ficaram bem e sem sequelas. Mamãe quase teve um infarto quando soube da história e chorou compulsivamente por tudo que aconteceu conosco. O carro acidentado que havia sido emprestado de nossa tia não tinha outro destino a não ser o ferro velho, todavia, Stefanie insistiu para que pudesse ficar com ele na garagem de casa. No final, ela era uma das pessoas mais ansiosas pela volta de Milena.

Os dias que se passaram foram a mais pura dor de cabeça e a apreensão tornou-se uma bola no estômago. Os alunos não paravam de fazer perguntas uns para os outros e os pais cobravam uma posição do R.C.E. quanto a segurança e bem-estar dos filhos. 

Os presentes no dia da perseguição foram chamados para depor e após o julgamento, Hanna Sato e Rodrigo Alves foram presos. Apesar do alívio, nossos corações ainda estavam vazios.

O R.C.E. investigou o apartamento de Hanna e garantiu ao público que não havia mais nenhum indício de pessoas com poderes e que se alguma viesse a surgir, cuidariam do caso. Os interrogatórios feitos a nós quanto a Milena foram terríveis e no final, eu não sabia se agradecia a existência dos Resolvedores de Casos Específicos ou se a temia.

Érica, Breno, os gêmeos e até os antigos líderes de grupo tentaram nos consolar, mas apenas os que presenciaram o desaparecimento de Milena sabiam o que estavam sentindo.

Não existiam mais poderes e sendo assim, não existia mais um objetivo para a API. E todos sabiam disso, preenchendo-nos de um nervosismo inexplicável ao pensar no que aconteceria conosco.

Então, um ano após sua abertura, a Academia de Progresso Ideal fechou suas portas.

6 anos depois...


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Notas finais do capítulo

O que aconteceu 6 anos depois?
Recadinho aqui: o epílogo é o único capítulo que ainda não terminei, por isso é possível que a postagem atrase uma semana, mas não se preocupem, a história não acaba aqui, a gente precisa do desfecho do futuro, né?

Até o epílogo. Beijos.
—Creeper.



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