Academia de Poderes Inúteis escrita por Creeper


Capítulo 44
Isolados, mas não derrotados


Notas iniciais do capítulo

E voltamos do hiatus! Agradeço muito a compreensão e peço desculpas por ter atrasado a postagem em um dia ><, mas cá estamos na reta final de API.

Espero que gostem ♥



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Na última aula, o escalado para a missão era o Eduardo. Ele fez o favor de desaparecer com partes do esqueleto que estava sendo usado em biologia e o professor foi obrigado a ir buscar outro no almoxarifado. Enquanto o homem quebrava a cabeça na tarefa de encaixar todos os ossos do novo esqueleto, Milena levou Thalita para o corredor, uma garota cujo poder fazia sua língua crescer conforme mentia e como ela fazia muito isso, estava a ponto de se engasgar.

A distração era algo importante. Não podíamos fazer aquilo nos corredores e dificilmente em nossos quartos, pois os inspetores estavam sempre de olho, por isso as aulas eram a melhor hora para Milena. 

Alguns dias depois, a missão era de Ienaga em conjunto com Eduardo. 

— Tem certeza de que quer fazer isso? – o vice perguntou preocupado.

— Total.  – a líder assentiu com as mãos na cintura. – Tudo bem para hoje, Milena?

A pequena estava levemente pálida, todavia, esboçou um sorriso sincero e agitou a cabeça. 

Então, antes que a professora chegasse, Ienaga deixou a sala. Todos assumimos nossas carteiras e fingimos normalidade, distraindo-se com nossos cadernos, deitando sobre as mesas ou avaliando as próprias unhas em sinal de tédio. 

De soslaio, observei uma figura sentar-se ao meu lado e retirar o material de sua mochila em silêncio.

— Uau. – apoiei o cotovelo nas costas da cadeira e encarei a garota de cima a baixo. – Você está linda hoje. – sorri tendo a plena certeza de que estava corado.

Yara arqueou as sobrancelhas, ergueu os olhos e tateou seus dois coques laterais.

— Mas eu não fiz nada de diferente hoje. – respondeu confusa. 

Passei o cotovelo para a mesa e sustentei o peso do rosto em minha mão, soltando um suspiro bobo. 

— Ele quis dizer que você é linda sempre. – uma voz infantil interrompeu-nos. 

Arregalei os olhos e cerrei os dentes ao visualizar Milena ajoelhada na cadeira atrás de mim e com a cabeça inclinada na direção de Yara. O rubor espalhou-se pelas bochechas da garota de coques e ela deixou escapar uma pequena risada. Ignorei o fato de estar vermelho feito um pimentão e também me permiti rir.

— Bom dia, quero todos sentados e prestando atenção porque a matéria de hoje é bem complexa. – a professora Renata adentrou a sala. 

Desse modo, a aula seguiu tranquila por dez minutos até que nosso plano entrou em ação.

— Professora… – Milena ergueu a mão fingindo constrangimento. – Desculpa atrapalhar, mas é que... A Ienaga está lá fora. – apontou para a janela.

— Lá fora?! – a professora arregalou os olhos. – Mas por quê? Ela sabe que não pode sair no sol!

— Parece que ela está gritando alguma coisa! – um garoto colou-se ao vidro.

Todos os alunos movidos pela curiosidade (ou melhor, agindo segundo o combinado) aproximaram-se das janelas e fitaram a garota no jardim que oscilava entre colocar as mãos em volta da boca e acená-las. Manchas vermelhas cobriam toda a sua pele e a fumaça dançava pelo ar.

— O que ela está fazendo dessa vez? – Renata abriu um dos vidros. – Laura, o que você quer?! – berrou ajeitando seus óculos.

Ienaga encheu o peito, ficou nas pontas dos pés e gritou com todas as forças de seus pulmões:

— Eu quero o Eduardo!

Em uma sincronia perfeita, todas as cabeças viraram-se na direção do garoto, esperando por sua reação. Ele estava ruborizado e seu corpo havia paralisado, o que eu não entendi, porque aquilo não fazia parte de sua atuação.

— E eu não vou sair daqui até ele saber dos meus sentimentos! – Ienaga bradou.

Renata levantou as sobrancelhas e em um movimento rápido tocou o ombro de Eduardo.

— Vamos lá falar com ela e tirá-la do sol. Você é um rapaz bonito, mas as meninas não deviam tomar medidas tão drásticas para chamar sua atenção!

Assim que cruzaram a porta, a professora ordenou que não saíssemos da sala e nos ocupássemos em resolver os exercícios da apostila. Entretanto, a maioria preferiu continuar assistindo a cena que Ienaga fazia. 

Seguindo sua deixa, Milena tratou de levar outra pessoa para o corredor. Demorou pouco mais que cinco minutos para tirarem Ienaga do sol e retornarem à sala, tempo o suficiente para Milena também voltar.  Quando entrou, Ienaga lançou uma piscadela discreta para nós, ignorando as manchas que sumiam gradativamente de seu rosto.

 

>>> 

 

A sexta-feira era responsabilidade de Yara, foi um plano simples e fácil. Estávamos fazendo um jogo de cores com alguns retângulos de cartolina e ela mudou todos. A professora passou quinze minutos recatalogando as novas cores para medir os pontos do jogo e então mais quinze minutos porque Yara as mudou novamente.

Diante da ausência de aulas no sábado, ocupamos nosso dia em uma oficina realizada no jardim por ninguém menos ninguém mais que Bianca Sarri. Ela usava um rabo-de-cavalo, óculos redondos e uma camiseta larga. Nada muito extravagante, na verdade, não parecia estar interpretando nenhum personagem naquele dia.

— Se querem distrações, precisam aprender a fazer bombas. – a garota colocou as mãos na cintura. – Nos dias que não tem aula, dá para colocar algumas nos banheiros, isso vai ocupar os inspetores.

Sentados com as pernas cruzadas sobre a grama, ninguém ousava tirar os olhos da garota de cabelos pink, totalmente imersos em seus ensinamentos. Ela indicou algumas pequenas caixas organizadoras que guardavam fios, pilhas, baterias e outras bugigangas, ensinando passo a passo como fazer uma bomba, fosse ela de confetes ou fumaça.

Passamos o dia inteiro naquela oficina, conversando uns com os outros e ajudando-nos. Ora ou outra algum inspetor nos rodeava, mas saia rapidamente ao ser chamado por algum aluno dentro do prédio. 

— Quem diria, hein? – Eduardo sentou-se na rodinha formada por mim, Yara, Érica e Milena. – Ienaga e Bianca trabalhando juntas. – indicou com a cabeça.

Voltamos nosso olhar para as duas garotas de semblantes pacíficos que conversavam normalmente e até mesmo trocavam sorrisos e toques nos ombros. Sorri um tanto aliviado, já que até então ninguém suspeitava de que os poderes estavam sumindo. Ou era o que pensávamos.

 

>>> 

 

Duas semanas se passaram e o diretor queria falar conosco. Mais especificamente, com a antiga União Rebelde. 

Nós 9 nos reunimos na diretoria, dividindo-nos entre expressões sérias de quem estava preparado para a bronca e movimentos apreensivos de quem só queria estar longe dali.

As garotas tomaram assento nas cadeiras em frente à mesa do diretor, apesar do homem permanecer de pé com as mãos atrás das costas e um olhar afiado a nos estudar. Miguel estava ao seu lado como de costume, de lábios franzidos e ombros encolhidos.

— Qual de vocês está sem seu poder? – Heitor indagou com a voz grave carregada de autoridade. 

Aquela foi a primeira vez que senti medo na presença do diretor. Um arrepio percorreu minha espinha e o suor frio escorreu por minha testa. Meus olhos vidraram-se em meus tênis, perguntando-me repetidas vezes como ele havia descoberto. O coração disparou e a garganta se fechou.

 - Do que você está falando? – Ienaga ergueu o queixo.

— Nada de rodeios, japinha. – o homem franziu as sobrancelhas. – O poder de vários alunos sumiu. As aulas estão uma bagunça. Tem bombas nos banheiros. E tudo indica que começou neste grupo com um único aluno. Então vou perguntar de outro jeito: qual de vocês descobriu como retirar os poderes?

Engoli em seco e cerrei os punhos. A cabeça de Milena mantinha-se abaixada e seu corpo inteiro tremia.

— Sem rodeios, é? – a líder riu sarcástica. – Tudo bem. O aluno desse grupo sem o poder sou e…

— Sou eu. 

Arregalei os olhos ao perceber que a voz vinha da pessoa que estava ao meu lado: Victor Dias.

— Miguel? – Heitor colocou as mãos na mesa e arqueou uma sobrancelha.

— O poder dele é cancelar o da irmã gêmea. – Miguel respondeu hesitante. 

Toda a atenção caiu sobre a garota encostada na porta. Amanda torceu a boca e cerrou o punho em frente ao peito.

— O chão é lava. – o diretor ditou. – Cinco… Quatro...

Victor arregalou os olhos e imediatamente esticou o braço para tocar a irmã, sussurrando a palavra “cancelar”. A gêmea por sua vez continuou a dar pulinhos no lugar e o desespero percorreu sua face enquanto pedia por ajuda.

— Viu? Eu não consigo mais cancelar. – Victor segurou a garota no colo, fazendo-a soltar um suspiro de alívio.

— E como você perdeu seu poder? – Heitor havia assumido uma postura cética.

— Não vou contar. – o gêmeo cuspiu as palavras. – O que foi? De repente, agora merecemos sua atenção?

— Victor! – Amanda e Breno cerraram os dentes.

— Sabe o que vai acontecer com você e os outros alunos sem poderes? – o diretor cruzou os braços.

Em seu canto, Miguel arregalou os olhos e abaixou a cabeça.

— O quê? Vão nos mandar para fora daqui? – Victor deu um sorriso torto. – Porque é o que mais queremos!

Congelado em meu lugar, eu me questionava até onde aquilo iria e tenho certeza de que Ienaga e Eduardo estavam se segurando para não mandar o garoto calar a boca.

— Não. Não vão para fora ainda. Não enquanto outros tiverem seus poderes e vocês não nos contarem como alguns perderam os seus.

Victor emitiu um muxoxo e cerrou os dentes, totalmente descontente. Os bibelôs da mesa do diretor começaram a tremer e as cadeiras soltaram estalos estranhos. Sentada em uma delas, Érica curvou o corpo sobre as pernas e prendeu as mãos entre os joelhos, murmurando um mantra de sorte e calma para si mesma.

— Senhor, é a onda de azar… – Miguel fez menção de tocar a garota.

— Certo, dispensados. – Heitor lançou-nos um olhar frio. – Se preparem para o que está por vir.

Ao deixarmos a sala e estarmos na segurança da escada do almoxarifado, todos protestaram contra Victor.

— Você é doido. – Breno assentiu. 

— Se eu deixasse a japa dizer que estava sem seu poder, a fariam queimar no sol para provar. – Victor desviou o olhar. – De todos vocês, eu era o melhor para fingir.

— Espera… Mas a Amanda continuou vendo a lava mesmo depois de você ter cancelado. – Érica apontou.

— Na verdade, eu estava fingindo. – Amanda riu sem jeito. – O Victor tem razão. Ele era o melhor para isso. 

— E agora? – Milena fitou seus pés. – O que vai acontecer com a gente? Ele disse para nos prepararmos…

— Pois estaremos preparados! – Ienaga concordou determinada. – Aquele velhote pode fazer o que quiser, nada irá nos deter ou separar! 

— Laura, sabe que adoro seu espírito de batalha e tudo, mas…  – Eduardo cruzou os braços e suspirou. – Ele nunca falou tão sério. Nem parecia o Heitor que conhecemos.

Assenti lentamente e Ienaga encarou Eduardo com um ar de incredulidade.

— E o que você sugere? – a líder arregalou os olhos e colocou uma mecha de cabelo atrás da orelha.

O vice fez um biquinho e analisou o teto por alguns segundos e pela sua expressão, teve uma ideia da qual não gostou. Ele respirou fundo e fez um sinal para que todos se aproximassem.

— Esconderijo. – balbuciou.

Soltei o ar preso em meu peito assim que a luz da salinha foi acesa e observei cada um se colocar em um canto, exalando angústia e preocupação.

— Não vai demorar muito para descobrirem que é a Milena quem some com os poderes. – Eduardo fechou a porta lentamente. – O melhor é sumirmos com os nossos agora.

— Agora?! – Milena soltou um gritinho e cobriu a boca instantaneamente. – Mas e a lista que fizemos? Dos alunos que eram prioridade… – cochichou.

— Bem, eu e Érica já éramos as próximas da lista. – Ienaga segurou seu queixo.

— E por que essa ideia? – Yara olhou para Eduardo.

— Uma hora ou outra também vão descobrir que é o Norte quem está sem o poder dentro do nosso grupinho. E se o separarem de nós ou tentarem fazer algum teste? Se for assim, prefiro que todos nós tenhamos o mesmo castigo. 

Torci a boca e cerrei os punhos. Não queria me sentir diferente ou indefeso exatamente por não ter um poder. 

— Tudo bem. – Milena inspirou. – Eu retiro o poder de vocês aqui e agora. Se quiserem.

Meu queixo caiu e instintivamente segurei os ombros da garota e olhei no fundo de seus olhos.

— Espera, consegue desaparecer com tantos sem descansar? E o que vai acontecer com você se for a única do grupo que tiver um poder? 

O semblante da garota tremeluziu e ela engoliu em seco. 

— Eu sei que vocês vão dar um jeito. – franziu as sobrancelhas de modo confiante.

Ainda de boca aberta, soltei seus ombros e recuei alguns passos. Milena não esperou que eu dissesse mais nada, marchou em direção a Érica e Ienaga e estendeu a mão para a primeira que a apertasse. E em um piscar de olhos, Milena e a líder não estavam mais lá.

— Ei… – uma voz soou atrás de mim e alguém tocou minhas costas. Olhei para trás por cima do ombro, encontrando Yara. – Ela vai ficar bem. Precisa acreditar nela, senão ela não vai acreditar em si mesma.

Deixei um suspiro trêmulo escapar e segurei sua mão calorosa, tentando me acalmar e pensando quando toda aquela situação iria acabar. As garotas reapareceram após poucos minutos e Ienaga carregava uma expressão de admiração, além de algumas lágrimas acumuladas nos olhos. 

— Não brinca, eu voltei a ser completamente humana? – a líder tateou seu corpo.

Eduardo deu uma risada abafada, sacou seu celular e tirou uma foto da melhor amiga, surpreendendo a todos ao ter sua figura registrada na tela e não apenas roupas flutuantes. 

— Chega de queimaduras! Chega de evitar pão de alho! – Ienaga gargalhou e se jogou em Eduardo para um abraço exagerado. – Ah, Milena, eu te amo! 

— Não foi nada. – a pequena balançou a cabeça e deixou seus ombros caírem. – Érica?

Érica engoliu em seco e apesar da insegurança, confiou na garotinha e apertou sua mão. Ao meu lado, Yara transbordou expectativa e entrelaçou seus dedos aos meus, esperando ansiosa.

Assim que retornaram, Érica perguntou o que havia acontecido.

— Pense em todas as coisas de azar que quiser. – Yara esboçou um meio sorriso.

— Jura?! – Érica berrou extasiada e fitou Milena. – Certo, vamos ver… Passar debaixo de uma escada, gato preto, espelho quebrado e... Espera, isso é meio injusto, gatos pretos não dão azar, eles são fofinhos como qualquer outro! – gesticulou agitada.

Érica continuou a se testar por mais alguns minutos, andando de um lado para o outro e falando absurdamente alto coisas que a deixavam chateada e provavelmente ativariam a onda.

— Yara? – Milena esticou sua mão. Seu rosto demonstrava singelas olheiras e um sorriso fraco.

O processo repetiu-se: as duas sumiram e quando retornaram, Yara encontrava-se um pouco confusa. A pequena suspirou satisfeita e disse que ela estava livre de seu poder.

— Agora eu finalmente posso usar isso. – Yara retirou do bolso um pacote com duas presilhas: uma vermelha e outra preta.

Nenhuma cor se alterou ao ser tocada quando fora do pacote. Ruborizei ao ver os dedos delicados de Yara percorrerem sua franja e prendê-la com as presilhas, deixando seus olhos delineados mais aparentes e chamativos.

— Acho que me apaixonei de novo. – balbuciei paralisado.

Yara corou fortemente, riu sem jeito e encolheu-se. Os próximos a perderem seus poderes foram os gêmeos, Victor ficou totalmente indiferente e Amanda comemorou. Breno também perdeu o seu e mostrou-se aliviado.

O último foi Eduardo. Assim que ele voltou, puxou Ienaga para um abraço apertado e rodopiou-a pela sala com um sorriso de orelha a orelha.

— Então enfim acabou? – o vice questionou animado.

— É, acabou por aqui… – Milena falou baixinho e seu corpo pendeu para o lado.

Me movi instintivamente, todavia, Breno a amparou igualmente preocupado, afinal, era como se ela fosse a irmãzinha de todos ali. Ela colocou a mão na cabeça e expirou cansada.

— Ei, tá tudo bem? – Victor franziu as sobrancelhas.

— Sim, eu só preciso ir deitar. – ela afirmou.

— Melhor darmos uma pausa de um dia no Plano Distração. – Ienaga comentou aflita. – Você precisa descansar.

Milena não respondeu, apenas deixou escapar um suspiro trêmulo. Abandonamos o esconderijo depois disso e nós garotos compramos alguns chocolates na máquina de doces e as garotas encarregaram-se de entregá-los para Milena e levá-la em segurança para o dormitório.

Não dormi direito naquela noite, pois fiquei pensando no estado de minha irmã e nas palavras do diretor. Balancei a cabeça negativamente na escuridão do quarto e deixei que as pálpebras pesadas se fechassem.

Tive um pesadelo. Não me lembro como era, apenas sei que acordei ofegante e pensando em Milena.

 

>>> 

 

Havia uma pequena casa atrás do prédio da API. Nunca entendemos para que servia ou quem morava ali. Quase não prestávamos atenção nela, só era possível vê-la do terraço ou se déssemos a volta no jardim.

Até que chegou o dia de entendê-la. Quem morava ali inicialmente era um jardineiro e um guarda, porém, eles cederam seu lar quando o diretor pediu. E os 8 membros da União foram colocados ali, 8, porque Milena ficou de fora. 

Havia dois quartos e um banheiro em cada um deles. Uma cozinha e uma sala. Poucos móveis, mas tudo estava muito bem limpo.

— O que estamos fazendo aqui? – Érica perguntou perplexa.

— É aqui que vão morar a partir de hoje. – Heitor respondeu.

Na cozinha que cheirava a manteiga derretida, todos nós da União arregalamos os olhos e soltamos gritos de surpresa.

— Por que nós? – Yara questionou incrédula.

— Porque foram vocês que começaram com a perda de poderes. – o homem franziu o cenho.

— Senhor, não achas melhor repensar… – Miguel afobou-se.

— Pelo amor de Deus, Heitor, são adolescentes! – Fábio rangeu os dentes.

— Adolescentes que bagunçaram a academia. – o diretor rebateu.

— Que já era uma bagunça desde o começo. – foi a vez de Eduardo franzir as sobrancelhas.

Heitor respirou fundo de maneira raivosa.

— Se deixassem os adultos fazerem as coisas, não precisari…

— Os adultos não fazem nada! – Ienaga bateu as mãos na mesa da cozinha.

Fábio pigarreou e deu um passo à frente, a fim de controlar a situação.

— Laura, sei que é difícil ser paciente. Contudo, nós fazemos as coisas. Apenas não podemos contar a vocês. É perigoso, principalmente porque vocês já demonstraram serem inconsequentes. – o loiro falou cautelosamente.

Ienaga prendeu a respiração e congelou no lugar. Victor cruzou os braços, estava terrivelmente sério e irritado, quero dizer, mais do que o normal.

— E como isso vai funcionar? – indagou.

— Vão ficar aqui até resolvermos uma situação pendente. – Miguel abraçou seu tablet, constrangido. – E e-eu darei as aulas.

Breno ergueu a mão e disse plenamente:

— Não rola.

Miguel arregalou os olhos e suas bochechas ficaram salpicadas de vermelho.

— A-Algum problema comigo?

— Não é com você. É com a casa. – Breno cruzou os braços. – Casas para cadeirantes tem algumas diferenças, sabia? E nem o jardineiro e nem o guarda que moravam aqui andavam de cadeira de rodas. Não vou ficar aqui.

Discretamente, Victor deu um sorriso vitorioso e o resto de nós contorceu-se de afobação.

— Miguel? – Heitor arqueou uma sobrancelha.

— Ele tem toda razão, senhor. – Miguel afirmou surpreso. – Não acho que tenha problema ele voltar para a academia, ele é um membro recente na União Rebelde.

Todos nós trocamos olhares cúmplices e tentamos disfarçar a pequena esperança que surgia em nossos corações. Heitor resmungou alguma coisa e passou a mão pelos cabelos bagunçados.

— Certo, ele volta para a academia, mas vamos ficar de olho. O resto de vocês fica aqui. Meninos em um quarto e meninas no outro. Tem comida à vontade e Miguel cuidará das aulas. 

Fábio cerrou os punhos e me lançou um olhar de soslaio que pedia um milhão de desculpas. Meus ombros caíram em sinal de derrota e agitei a cabeça em negação. Pelo menos, ainda teríamos um membro dentro da academia para ficar com Milena.

— Quanto tempo isso vai durar? – Amanda mordeu o lábio inferior.

Heitor não respondeu. Havia adquirido uma feição séria e sua boca se transformou em uma linha reta. 

Os adultos voltaram para o prédio junto com Breno e fomos deixados ali para desfazer as malas que os inspetores trouxeram de nossos quartos. Eu e os meninos ficamos com o quarto menor de paredes brancas e cortinas cinzentas. Havia uma única cama de casal e um colchão de solteiro colocado no chão.

— O colchão é meu! – gritamos em uníssono.

— Nem vem, não vou dormir com nenhum de vocês na cama! – Victor rangeu os dentes e bateu a mão em seu peito.

— Tudo bem, então eu e o Norte dormimos juntos. – Eduardo passou o braço por minhas costas.

Victor tentou pronunciar alguma coisa, contudo, a única coisa que saiu de sua boca foram sons incompreensíveis. 

— Eu não tenho ciúmes. – resmungou virando o rosto.

— Entendi. Acho que se o Martin estivesse aqui, a história seria outra. – Eduardo observou.

— Ah, seu! – Victor franziu as sobrancelhas e ficou vermelho feito um tomate.

— Ownt, você está com vergonha! – o vice riu e colocou as mãos na cintura. – Quer dizer que agora você gosta do Mar… – cantarolou.

— Cala a boca! – o gêmeo puxou o garoto pela gola da camiseta.

Disfarçadamente, afastei-me até criar uma distância segura das faíscas que surgiram no ar. Eles esqueceram completamente a situação em que estávamos.

Resolvi ir até o quarto das meninas, parando na porta e dando pequenas batidas no batente. Yara e Érica estavam sentadas na cama de casal e Ienaga e Amanda arrumavam seus dois colchões de solteiro. Aquele lugar cheirava à naftalina.

— Qual o plano? – cruzei os braços.

— Milena vai se sentir mais segura com o Breno lá dentro. – Ienaga retirou seus tênis. – Mas o R.C.E. com certeza vai vigiá-lo. Então pensei em pedir para o Martin e a Yuri continuarem com o plano. 

— Isso se o R.C.E. não começar a duvidar deles. – Yara ponderou. 

— Talvez tivéssemos que pedir para alguém que eles não suspeitariam que tivesse uma conexão com a União. – Amanda segurou seu queixo. 

— Temos bastante opções. Nosso grupo nunca foi grande. – Érica deu uma risada nervosa.

— Mas apenas uma é o suficiente. Ou melhor, duas. – Ienaga ergueu dois dedos e assentiu.

— Quem? – pisquei os olhos rapidamente.

Ienaga respirou fundo, levantou-se e anunciou:

— Bianca e Ana Carolina. Aos olhos de todos, eu e Bianca nunca nos demos bem e Ana Carolina nunca foi muito próxima por causa do Felipe, ou seja, não vão suspeitar da garota famosa ou da garota certinha. 

Eu e as outras meninas nos entreolhamos surpresos, porém, entendemos o raciocínio da líder. Ela suspirou como se pensasse no que estava se metendo, colocou as mãos na cintura e encarou o piso.

— Será que aqueles dois já pararam de brigar? – olhou de soslaio para a parede que dividia os quartos.

Um novo plano se iniciava naquela noite. Primeiro, todos demos um jeito de acalmar Milena através de mensagens, dizendo que estávamos bem e que Breno daria apoio a ela. Depois, contatamos Bianca e Ana Carolina, explicando como as distrações deveriam ocorrer. A garota do Super Gatinhas nunca foi tão séria e aberta quanto a ordens de terceiros, prometendo até mesmo não publicar nada sobre nossa nova “estadia”. Martin e Yuri também foram incluídos ao receberem a missão de serem nossos olhos e ouvidos dentro da academia.

Então, uma semana se passou.


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Notas finais do capítulo

Ô-ou. Quem diria que Heitor assumiria essa postura?
Lembrando que agora faltam 2 caps + epílogo para o fim da nossa história, então o que será que a próxima semana nos guarda?

Até mais e me contem o que acharam ♥.
Beijos.
—Creeper.



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