de: sgonçalves.pedro@gmail.com

para: laura_ienaga2003@gmail.com

“Cara Laura Ienaga (ou União como você disse),

Aqui é o neto da Marília, meu nome é Pedro, prazer. Fico ‘feliz’ que tenha contatado minha avó com tanto entusiasmo, porém, devo avisá-la que ela talvez não diferencie muito bem os vivos dos mortos. De qualquer forma, essas foram as palavras dela:

‘Sim, eu vi a Hanna Sato, aquela que trabalhava no Hospital Carvalho. Fiquei internada algumas vezes lá, então sempre dava um jeito de escapar da cama e esticar as pernas nos corredores, foi assim que a conheci (aqui ela deu uma pausa para tomar o remédio). Aonde eu estava? Ah, bastante tempo depois que ela foi demitida, a vi na rodoviária. Estava diferente (diferente, vó?), sim, cortou o cabelão preto e emagreceu uns bons quilos, mas eu reconheci a marca de queimadura que ela tinha no cotovelo. Depois comentei isso com a sua mãe e ela disse que eu não podia ter visto a Hanna, pois ela tinha morrido! Que lelé da cuca, não é, Pedro? (ela parou de falar aqui e foi assistir novela).’

Como você leu, minha avó pode ter se confundido. Ela também vê outros homens na rua e acha que sou eu por causa de alguma marca. Caso você queira levar isso adiante, é responsabilidade sua.

Atenciosamente, Pedro.”

Pedro desligou o computador instalado na sala, se levantou e anunciou que estava na hora de ir para a faculdade. Marília acomodada no sofá de frente para a televisão em um volume ensurdecedor indicou as chaves do carro na mesinha ao seu lado. 

O rapaz deixou um beijo na cabeça da avó e ao enfiar os dedos nas argolas do chaveiro, derrubou um porta-retrato que guardava uma foto dos tempos em que a senhora dizia ser vidente. Colocou-o de pé e saiu.