Academia de Poderes Inúteis escrita por Creeper


Capítulo 17
A bomba e o chá de cadeira


Notas iniciais do capítulo

Postando um pouco atrasada hoje, desculpa!
Como passaram a semana? Que calorão, hein!

Espero que gostem do capítulo ♥ Logo mais estarei respondendo os comentários!



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Nos entreolhamos incertos, ninguém tendo realmente vontade de ser o primeiro a se expor ao perigo e estragar o plano que já estava fadado ao fracasso. Foi a vez de Yara se ajoelhar e espiar, relatando em um cochicho:

— Tem algo no chão.

— Tipo? – comecei a roer as unhas, coisa que não fazia frequentemente.

— Hã… Uma bomba. – ela sentou-se com uma expressão confusa.

— Tem certeza? – Érica apoiou as mãos na mureta e ergueu um pouco a cabeça para observar. – É, parece uma bomba.

— Não tem como haver uma bomba na academia. – retruquei indignado.

— Mas tem. – Amanda assentiu depois de conferir. 

— O pouca sombra deve ter dado um jeito de colocar ali. – Ienaga bufou.

A porta vibrou com uma batida forte que parecia ser de um chute. O corpo de Ienaga moveu-se um pouco para frente com o impacto, todavia, Eduardo ajudou-a a voltar ao lugar.

— Yara, confio em você para descer e desarmar a bomba. – a líder assentiu determinada.

— Eu?! – Yara indagou perplexa.

— Você é a mais responsável já que o resto, me perdoem dizer, são uns cabeças de vento. – Ienaga esforçava-se para manter a porta fechada. – Além da mais discreta.

A garota engoliu em seco, o maxilar demonstrou-se tenso e os dedos se cerraram duramente. 

— Por favor, Yara, estamos meio ocupados. – Eduardo cerrou os dentes, os braços cobrindo a porta. – Não esperava que alguém desse tamanho tivesse tanta força. – resmungou.

Yara respirou fundo e a feição insegura contradisse totalmente a fala que saiu de sua boca:

— Tudo bem, eu vou.

Formulei a possibilidade de protestar, contudo, foi tarde demais, Yara já esgueirava-se pelas mesas e cadeiras, alcançando a escada que levava a parte principal do refeitório. Abri espaço entre Érica e Victor, encaixando-me na mureta para observar a garota que dava passos curtos até um pequeno objeto quadrado que expunha um visor e diversos fios. 

Ela ajoelhou-se no piso, pegou algo em sua mochila e tocou os fios da bomba, o rosto demonstrando a falta da menor ideia do que fazer. Um barulho surgiu da cozinha, nos obrigando a olhar para trás do balcão onde era servida a comida. Por um milagre, não havia ninguém.

Yara olhou para cima, esperando auxílio. 

— Ienaga, o que ela tem que fazer? – questionei entredentes.

— Oh, certo, deixe-me pensar. – Ienaga suava. – Hã, mande cortar o fio vermelho, sempre funciona nos filmes. 

— Não é o azul? – Eduardo arrastou uma cadeira com o pé e em um movimento rápido a pressionou debaixo da maçaneta da porta. 

— Corta o fio vermelho! – coloquei uma das mãos em volta da boca e falei baixinho. 

A garota analisou o amontoado de fios por um instante e logo voltou-se para mim, irritada:

— Eu não sei qual é o vermelho!

Bati a mão na testa, digerindo o pensamento de que a Ienaga não poderia ter feito pior escolha naquela situação. Sem raciocinar direito, ergui-me, causando questionamentos por parte de Amanda:

— Aonde você vai?

— Ajudar. – atravessei o lugar em longos passos, corri pela escada e joguei-me ao lado de Yara.

Ali embaixo a atmosfera acumulava-se em nossos ombros em forma de tensão, arregalei os olhos ao dar-me conta do quão plena e visível parecia a porta dos fundos de onde estávamos, imaginando que a qualquer segundo algum funcionário passaria por aquele lugar e nos veria. 

Analisando de perto, a bomba tinha sua estrutura pintada de cor-de-rosa e um adesivo de gatinho azul que só podia pertencer a um único grupo. Arrepiei-me das costas à nuca, colocando-me em alerta.

Respirei fundo e concentrei-me na bomba cujo visor marcava 60 segundos.

— Yara. – chamei.

— Hum? – ela me estendeu uma tesoura.

— Não me diga que você mudou a cor dos fios. – a encarei.

Se algum dia existiu um fio vermelho naquela bomba, ele teve sua cor alterada e misturada em meio aos seus irmãos, sendo alguns lisos e outros espirais.

— Talvez. – Yara mordeu o lábio inferior.

Outro barulho veio da cozinha. Ou a bomba explodia ou éramos pegos. E nenhuma das opções nos favorecia. Inspirei e expirei, dizendo a mim mesmo para usar minha parte racional com sabedoria.

— Vai na base do uni-duni-tê. – afirmei e comecei a cantarolar, tocando em cada fio.

— Nossa vida depende do resultado do seu uni-duni-tê? – Yara perguntou incrédula.

— Não dependeria se a bonita não tivesse mudado a cor dos fios. – franzi as sobrancelhas e segurei o laranja.

— Desculpe? – ela pronunciou ofendida. 

— Desculpo. – peguei a tesoura e a posicionei no fio.

— Não, eu não estava pedindo desculpas e…

Não a deixei terminar a frase, apertei a tesoura, partindo o fio na metade em um único “click” e fazendo o visor congelar no número 27. Quase deixei escapar um suspiro aliviado, entretanto, os números começaram a descer aceleradamente, zerando a contagem em um único segundo.

Eu teria ficado parado ali mesmo caso Yara não se jogasse em cima de mim e me empurrasse para nos abrigarmos debaixo de uma das mesas. Seus braços passaram por minhas costas, apertando-me e me vi automaticamente a repetir seu movimento.

Abraçados como forma de proteção, escutamos um ruído agudo e a explosão veio em forma de confetes. Redondos e prateados confetes espalhando-se pelo ar e chão do refeitório.

— Mas que droga? – Yara empurrou-me e observou pasma.

Apoiei os cotovelos no chão, erguendo minimamente o tronco, ainda zonzo pelos acontecimentos anteriores. Pisquei diversas vezes, não acreditando no que estava vendo.

— Vocês caíram na minha fabulosa bomba anti-fugitivos! Essa com certeza vai para o meu canal!

Em um canto, a garota de cabelos rosas apontou para nós de modo acusador com uma mão enquanto segurava o celular na outra. Usava rabo-de-cavalo, jaleco e óculos redondos que não pareciam ser falsos.

Fala sério, a Bianca já não havia saído da história?

— Tinha que ser. – Yara revirou os olhos e terminou de sair de cima de mim.  

— Os rebeldes não irão colocar tudo a perder, mas não vão mesmo! – Bianca marchou em nossa direção. 

— Está falando muito alto, sua maluca! – rangi os dentes.

Passos ecoaram pelo refeitório e para minha surpresa, não vinham da porta dos fundos, mas sim da escada. O restante da União correu ao nosso encontro, todos normais, exceto por Ienaga e Eduardo que suavam e arfavam.

— Ah, não. – a líder resmungou ao ver a Bianca. – Eduardo, pega a cadeira de volta.

— Pretende me bater, sua desleixada?  – a garota franziu as sobrancelhas e recuou um passo, fazendo o rabo-de-cavalo balançar.

— Não, eu pretendo bater em mim mesma para desmaiar e não ter que ver sua cara. – Ienaga massageou as têmporas, impaciente. – Resolvemos isso como gente ou o quê?

Um estrondo interrompeu a resposta da líder das Super Gatinhas. Acima de nós Felipe escancarou a porta, Ana Carolina tentava impedi-lo segurando-o pelo braço, entretanto, foi arrastada pelo piso, puxada pela fúria do garoto. Pelo visto todos haviam esquecido que pouco se passava das 4 da manhã e estávamos tentando não ser pegos.

— É a última vez que vocês me fizeram de idiota! – Felipe pulou o último degrau e uma de suas pantufas escapou do pé. 

— Sim, porque é a última vez que pisamos aqui. – Eduardo retrucou com um sorrisinho.

— Se os dois não calarem a boca, juro que vão ficar sem dentes. – Victor exclamou estressado.

Vozes, vozes e mais vozes se mesclavam, algumas altas, outras furiosas e poucas conscientes. Em meio ao burburinho irritante, passos o romperam facilmente, calando a todos em questão de um segundo. 

Não sei como aconteceu, apenas sei que todos nos escondemos debaixo de uma única mesa, formando uma barreira com o banco que só serviu para nos apertar ainda mais. Colados uns aos outros, instantaneamente paramos de nos mover e cobrimos as bocas com as mãos.

Alguém caminhou pelo refeitório gritando algo. Uma voz respondeu vinda dos fundos. Os passos tornarem-se mais pesados e próximos, minha respiração perdeu o compasso junto ao disparo em meu peito. 

Seríamos pegos. Era a única coisa que conseguia pensar em meio ao zumbido batendo em meus ouvidos.

— Não tem ninguém aqui. Deve ter sido alguma dessas pragas que pregou uma peça e voltou correndo para o quarto.

O responsável chutou a bomba do Super Gatinhas, a qual deslizou pelo chão até bater nas pernas de nossa mesa. Bianca encolheu-se ao meu lado, fechando os olhos fortemente.

O cheiro de seu cabelo, forte e adocicado invadiu minhas narinas na intensidade de um soco. Não tive tempo para mover mais as mãos, o espirro fugiu abruptamente, o fogo chamuscou parte da manga de Bianca e o som quebrou o silêncio.

O olhar de todos pesou sobre mim, repreensivos e em pânico. Não puderam balbuciar xingamentos, pois o banco que nos protegiam foi puxado, revelando nosso esconderijo.

— Achei os pirralhos. – o homem de barba mal feita anunciou.  

“Droga.”, foi a única coisa que passou por minha cabeça.

Primeiro, o homem de barba e o homem de bigode nos fizeram limpar os confetes da bomba sob a supervisão de uma inspetora furiosa de roupão, chinelos e alguma coisa verde no rosto. Ela berrou conosco dizendo como éramos umas pestes e que estávamos encrencados quando o diretor chegasse. Felipe e Bianca tentaram protestar alegando que a culpa era toda da União Rebelde e eles não deveriam estar envolvidos, contudo, a inspetora não quis ouvir e somente entregou-lhes uma vassoura e uma pá.

Os homens dos suprimentos foram embora às 04:35, levando com eles nossa chance de fuga. Suspirei decepcionado enquanto terminava de varrer o chão, tendo noção que a maior parcela de culpa foi minha.

— Já que estão bem acordados, podem esperar pela chegada do diretor aqui. – a inspetora indicou uma fileira de cadeiras diante da porta da diretoria.

— Que horas ele chega? – Felipe questionou de olhos arregalados. 

— Não se preocupe, terão tempo o suficiente para pensarem no que fizeram. – ela arrebitou o nariz e marchou. – E se saírem daí, será pior.

Joguei meu corpo em uma das cadeiras, ao lado de Érica e Eduardo. Expirei frustrado e juntei as mãos trêmulas no espaço entre as pernas, balbuciando palavras que nem eu mesmo entendia. Nunca fui mandado para a diretoria.

— Argh, meu dia não podia começar pior. – Bianca andava de um lado para o outro, gesticulando exageradamente. – E olha só, meu jaleco está arruinado!

— Se tivesse ficado na cama aproveitando seu sono da beleza, isso não teria acontecido. – Ienaga alfinetou. – Sua bomba só aumentou o problema.

— Vocês são o problema. – Felipe exclamou furioso.

— Não adianta discutir. Todos tivemos o mesmo castigo. – Yara bufou.

— Não teríamos se vocês… – o baixinho insistiu.

— Cala a boca. – Victor ordenou.

— Vem cá, quem você pensa que é? – Felipe rangeu os dentes.

— Uma pessoa com muita vontade de socar a boca de alguém. Se candidata, hein, ô do um metro e meio? 

— E ele nem está brincando. – Eduardo zombou.

As vozes se calaram e o clima ficou pesado a ponto de se concentrar em minhas costas e ombros. Érica esfregou os pés no chão e Eduardo tamborilou os dedos em sua cadeira. Os pequenos ruídos se faziam enormes. 

Bocejos, unhas sendo roídas, resmungos de sono, passos que não saíam do lugar. A situação estava me matando aos poucos. Chequei o celular, encarando por tempo demais o horário. 

04:57.

Passaram-se longos dez minutos e nenhum sinal de algum adulto. Nenhuma alma viva passava pelo corredor desde que a inspetora nos deixou plantados ali.

— Como sabiam que estávamos no refeitório? – Eduardo questionou, a voz grave e firme.

Levantei minimamente a cabeça, observando o vice-líder de queixo erguido e braços cruzados. Não tinha como aquilo também ser culpa minha, eu não havia dito nada para Kaíque, até sacrifiquei minha língua para manter segredo.

— Não sabíamos onde estavam exatamente. – Ana Carolina balbuciou. – Felipe apenas me mandou uma mensagem dizendo que vocês queriam fugir e que deveríamos impedir. 

— Ana! – Felipe a repreendeu. Havia se sentado no chão.

— E quanto a bomba? – Eduardo cruzou as pernas, impassível.

— Já que Felipe estava seguindo vocês pela porta do segundo andar, decidi entrar pela principal e deixar uma armadilha que eu tinha preparada há algum tempo. Nunca se sabe quando vai precisar de uma bomba. – Bianca limpou seus óculos na barra da camiseta. – Não sou só um rostinho bonito, também sou inteligente e precavida. – se gabou.

— Certo. – o vice ficou sério. – Então, como descobriram nossa fuga? Ao que parece, Felipe e Ana souberam de última hora. – apontou os pijamas.

— Já respondemos demais. – Felipe torceu o nariz. 

— É, foi o suficiente. – Bianca abriu um brilho labial.

De repente, toda a atenção foi focada na garota de cabelos rosas.

— O que é? – ela parou o que estava fazendo e fitou a cada um de nós.

— Como pode estar devidamente vestida, penteada e maquiada para impedir nossa fuga? – Eduardo semicerrou os olhos.

— Ah, bebê. – Bianca deu uma risadinha. – Caso não saiba, não é fácil ser linda como eu. Acordo às quatro todos os dias para me arrumar e gravar stories às sete. 

Meu celular vibrou. O puxei discretamente de dentro do bolso e li a mensagem na tela, enviada no grupo da União Rebelde.

Ienaga: Não tem como ela ter descoberto. Não sozinha, pelo menos. Além de que ela não contaria ao Felipe. [05:12]

Amanda: Então, quem foi? [05:12]

Victor: Está faltando um líder, não é? Aquele do cabelo grande. [05:13]

Eu: Kaíque? Quando eu saí, ele estava dormindo, parecia doente na noite passada. [05:13]

Yara: O Kaíque é preguiçoso demais para pensar em algo além de dormir, comer e flertar. [05:13]

— Querem parar de trocar mensagens como se não estivéssemos aqui? – Bianca reclamou.

Não pude deixar de perceber que Ienaga e Eduardo assumiram expressões pensativas. 

A próxima hora se passou completamente arrastada e tediosa, se resumindo a curtos cochilos na cadeira dura de espera e dores no pescoço. Quando estava acordado, brincava de luta de dedão com Érica. Yara, ao seu lado, avaliava-nos com um ar de desaprovação. 

— Quanto tempo mais teremos que esperar? – Victor berrou.

O relógio marcava 06:21. Eu já não aguentava mais balançar a perna de ansiedade e perder na luta de dedão. Imaginei que nossas fugas teriam consequências, mas nunca cogitei a possibilidade de ser um chá de cadeira.

— Isso é crueldade. – Ana Carolina choramingou.

E enfim, às 07:15, a figura de um homem surgiu no final do corredor. Não tinha nada em mãos e a camisa de estampa floral sequer foi abotoada por inteiro. Heitor coçou a barba por fazer e agitou os cabelos medianos, parando para nos analisar. 

— Se meteram em confusão logo cedo? – destrancou a diretoria.

Você nem imagina.

— Entrem, quero acabar com isso tanto quanto vocês. 

Adentramos a sala em fila. Não havia muito para se ver além de armários, gaveteiros mal fechados, uma mesa extremamente bagunçada e algumas cadeiras nada posicionadas. As garotas sentaram-se e nós garotos ficamos de pé.

— Vamos lá, me digam o que houve. – Heitor limpou seus óculos e os colocou na cabeça.

Inúmeras vozes se misturaram, esganiçadas, afobadas e desesperadas. Uma acusando a outra. Uma se defendendo da outra. Todas contra si em um bolo de tons. 

A porta foi aberta após três batidas, revelando Miguel que carregava uma caneca de café e uma pasta. Ele deu um sorriso amarelo e esgueirou-se até Heitor, entregando-lhe os objetos. 

Discretamente, o estagiário me fitou, a cabeça fazendo um gesto de quem perguntava “que droga você fez?”. Só que ele não usaria essas palavras. 

— Calados. – Heitor ditou. – Não consigo entender nada com todos tagarelando ao mesmo tempo. – tomou um gole de seu café. – Japinha, você fala.

Ienaga ergueu-se subitamente, batendo ambas as mãos na mesa e tremendo os bibelôs exóticos do diretor.

— Primeiro, meu nome não é japinha. É Laura Ienaga. – ela exclamou seriamente. – Segundo, estávamos fazendo o que vocês não moveram um dedo para fazer.

— Que seria? – Heitor desdenhou.

— Achar uma solução para nos tirar daqui. – Ienaga disse firmemente.

— Escuta, eu nem devia estar aqui, só tentei impedir essa doida de… – Felipe disparou.

— Você não foi chamado, tampinha. Você quem quis se envolver ao estar fora de seu quarto às quatro da manhã de acordo com o que a inspetora me disse. – Heitor jogou a pasta na mesa.  

Felipe engoliu em seco, endireitou a postura e arregalou os olhos, provavelmente assustado pelo modo que foi tratado. Torci a boca, guardando para mim todos os sentimentos negativos criados só de estar na presença daquele homem.

— Esses putos são inacreditáveis. – Heitor pressionou o indicador e o polegar no canto dos olhos. – É assim que você falava “criançada” no começo, Miguel? 

— Já disse que estou me acostumando ao vocabulário brasileiro. – o estagiário ruborizou fortemente.

Bianca pigarreou de maneira arrogante.

— Ah, Deus. – o homem suspirou. – Esperava não ter problemas até o acampamento.

— Acampamento? – perguntamos em coro, surpresos.

— C-Chefe, tu não… – Miguel abaixou-se um pouco.

— Haverá um acampamento no final de novembro. Caso se comportem, poderão passar as férias de dezembro em suas casas. – o diretor pousou os óculos na mesa.

— Caso nos comportemos? – Ana Carolina indagou.

— É, caso não causem confusões com seus poderes ao ar livre. – Heitor encostou a caneca em sua boca. – Acham que conseguem? – arqueou uma sobrancelha.

Ienaga deu uma longa e grave risada sarcástica.

— Está nos subestimando, senhor diretor. – pronunciou secamente.

— Chefe, o acampamento devia ser anunciado somente depois e… – Miguel checou alguns papéis.

— Não acho que esses pirralhos saibam guardar segredo. Anuncie ao restante da academia na segunda-feira depois das aulas. – o homem sustentou o olhar feroz de Ienaga.  – Agora, me passem seus nomes, sairão com uma advertência e uma ligação aos pais. 

Os murmúrios e reclamações ressoaram pela sala, o desespero voltando a se acumular e a apreensão preenchendo nossos corpos. 

“Minha mãe vai enlouquecer.”, afundei o rosto nas mãos. Depois de dizer a ela que estava tudo bem e que eu tinha amigos, uma ligação sobre eu ter tentado fugir da escola era tudo que ela não imaginava receber.

Fomos dispensados em seguida, os nomes sendo manchados em uma caderneta de capa preta. Miguel nos acompanhou, fechando a porta assim que saiu.

— Podia ter sido pior. – nos consolou. – E, por favor, não contem sobre o acampamento até o anúncio oficial, tudo bem?

— Não sei se consigo manter isso em segredo dos meus seguidores. – Bianca checou seu celular. – Se essa confusão já terminou, eu tenho mais o que fazer. – retirou-se pelo corredor.

— Mas que rapariga fogo! – Miguel comentou abobado. 

— Chamou ela de quê? – Érica surpreendeu-se.

— Menina. Mas que menina. – o estagiário corrigiu-se envergonhado. – Também preciso ir. Tenho muito trabalho pela frente. – suspirou cansado.

Felipe não disse nada, no máximo produziu um muxoxo e saiu a passos pesados, um dos pés descalços e o outro arrastando a pantufa. Ana Carolina acenou constrangida e seguiu seu caminho.

— Nos comportarmos, hein? – Ienaga retomou.

— Ienaga… – Amanda estendeu a mão, a fim de dar-lhe conforto.

Todavia, a líder inclinou a cabeça para o alto, gargalhando. Ajeitou a franja em um movimento preciso, colocou as mãos na cintura e bradou:

— Reunião na segunda-feira. Quero falar sobre o acampamento. 

E saiu saltitando pelo corredor, rodopiando o guarda-chuva de um lado para o outro. Não achava que alguém que havia acabado de sair da diretoria podia ser tão feliz.

— Ela é louca. – fiquei boquiaberto.

— Ela é. – Eduardo sorriu orgulhoso. – Não se esqueçam da reunião. – deu tapinhas em minhas costas e correu para alcançar a amiga.


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Notas finais do capítulo

E a fuga não deu certo! Como será esse acampamento? Onde o Kaíque esteve durante essa confusão? Heitor algum dia vai ser um bom diretor?

Até o próximo capítulo: "O que não tem remédio..."
Beijos.
—Creeper.



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