Academia de Poderes Inúteis escrita por Creeper


Capítulo 12
Os novos rebeldes


Notas iniciais do capítulo

Yo! Primeiramente, desculpa por não ter postado capítulo na semana passada, ocorreu uma falha técnica, mas bem, aqui estou.
Eu estou amando receber os comentários de vocês, é o que me motiva a continuar, de verdade ♥, assim que puder, responderei todos com calma. Muito obrigada!

Espero que tenham uma boa leitura!



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Tratei de guardar o desenho que Amanda me deu na gaveta debaixo de minhas camisetas e rezei para que não houvesse o risco de traças ou mofo. Fiquei dividido entre pensar na conversa de mamãe e na garota de cabelos castanhos, de qualquer forma, ambos os assuntos faziam minha cabeça girar e zunir. Não queria me render a eles e ficar maluco, então decidi dar uma passada no quarto de Yara depois do jantar, perguntando se podia ver Érica.

— Ela disse “não”. – Yara fechou a porta atrás de si. 

— Por quê? – indaguei ofendido.

Escutei uma tosse, seguido de um murmúrio que atravessou a porta de cor roxa, sendo que todas as outras do andar eram pintadas de prateado. 

— Porque ela não quer que você a veja “feia”. – Yara revirou os olhos.

— E o que isso muda? – retruquei.

A garota ignorou-me, conferiu seu celular e prosseguiu pelo corredor.

— É hora de buscar o combinado. – explicou em um tom calmo.

Os alunos ainda estavam agitados pelos andares dos dormitórios, conversando e rindo alto, ou simplesmente jogados na escada sem realmente terem vontade de ir para a cama. 

Eu os entendia. A parte da noite era um tédio, um dos momentos em que mais sentia saudade de casa. Naquele horário, eu, mamãe e Stefanie estaríamos assistindo algo na TV, provavelmente tendo Siri, Cleópatra e Floquinho em nossos colos. Ou nos sentaríamos nas cadeiras de área colocadas na calçada e observaríamos o céu em uma noite quente. Nos finais de semana iríamos à feira, comeríamos pastel e veríamos os peixinhos, brinquedos e plantas nas barraquinhas de venda. Por fim, voltaríamos para casa e dormiríamos ao assistir um filme qualquer.

Meu coração apertou-se só de pensar nisso, por mais que enxergasse aquilo como uma monotonia atrás da outra. Uma monotonia que fazia falta. 

Poucas pessoas frequentavam o primeiro andar depois do jantar, a menos que passassem pela porta do hall de entrada para ir ao pátio, jardim ou quadra (essa ficava fechada, mas tinha quem gostava de se apoiar na grade e fazer você-sabe-o-quê).

Uma figura banhada pela luz da lua permanecia estática ao lado do bebedouro, tendo uma sacola plástica cheia atrás dos pés, usava óculos escuros e uma jaqueta preta de tactel. Ao nos avistar, fez um breve sinal com o dedo indicador e médio e moveu a cabeça para a direção contrária à nossa.

Aproximamo-nos a passos leves e cautelosos, tendo a noção de conferir os arredores. Nenhum professor, aluno ou inspetor. Esses últimos gostavam de ficar jogando baralho na sala de informática.

— Fanta Maracujá e caldo de cana. – ainda sem nos olhar, Thiago estendeu uma garrafa de conteúdo amarelo sem rótulo e um copo de plástico tampado de cor esverdeada. – Agora, pega o beco.

Yara agarrou os produtos e empurrou minhas costas com o cotovelo obrigando-me a andar, mesmo diante de meus protestos. Subimos de volta ao nosso andar, meio que rindo e jurando deixar a situação em segredo. A garota foi para o quarto entregar a Fanta Maracujá e retornou segurando seu copo de caldo de cana.

— Eu estava precisando disso. – espetou um canudo no centro da tampa e bebeu satisfeita. – Hum? – inclinou o copo próximo ao meu rosto, oferecendo-me.

Afastei-me automaticamente e fiz uma careta, logo dizendo:

— Tomei uma vez e não gostei.

— Como não? É a oitava maravilha do mundo. – Yara arregalou os olhos.

— Acho que não. – desdenhei.

— Uma vez não é o suficiente. Dê uma segunda chance. – ela insistiu, praticamente empurrando o canudo na minha boca.

— Certo, certo, só não me fure com isso. – toquei metade do canudo enquanto ela segurava o copo e dei um pequeno gole. Era doce e refrescante. – Não é tão ruim, mas não tão bom.

— Que falta de paladar. – Yara puxou o copo de volta e sugou mais um pouco.

— E aí, bonitinhos.

Olhei ao redor para procurar a voz, encontrando Kaíque caminhando despreocupadamente, as mãos nos bolsos da bermuda e o cabelo molhado exalando um cheiro de shampoo anticaspa. Ele tomou banho e nem sequer era sábado, um verdadeiro milagre.

— Soube que vocês andam tentando se aproximar de algumas pessoas e descobrir o poder delas. Ou algo assim. – ele penteou o cabelo para trás com os dedos.

— Soube, é? – arqueei uma sobrancelha, desconfiado.

— Eu sei quando alguém está tentando fazer a mesma coisa que eu. – deu um sorriso torto. – Apesar de chutar que nossos objetivos são diferentes.

Cruzei os braços e torci o nariz, me lembrava bem de como ele parecia bem interessado em saber o poder de Amanda e usar isso de chantagem para passar a liderança.

— E qual o seu poder? – questionei.

— Hum… – Kaíque usou o indicador e o polegar para segurar o queixo. – Eu já sei o poder de vocês e não tem como usarem o meu contra mim. – deu de ombros, convencido. – Posso transformar líquidos em pó. Óbvio que não funciona com quantidades gigantescas, tipo uma caixa d’água.

Pisquei os olhos pausadamente em uma mistura de perplexidade e indignação.

— Por exemplo? – gesticulei.

Kaíque revirou os olhos, levantou as sobrancelhas e pegou o copo de Yara furtivamente, causando um resmungo de contrariedade da garota.

— É simples. – ele ergueu o recipiente na altura da cabeça. O restante do caldo de cana chacoalhou e abaixou-se subitamente para o fundo do copo, virando uma poeira esverdeada. – Tcharam!

— Haha, muito engraçado. – Yara bufou. – Agora, traga meu caldo de cano de volta. – estendeu a mão, autoritária.

— Foi mal, gracinha, não posso reverter. – Kaíque devolveu o copo cheio de pó. – De qualquer forma, isso nem é tão gostoso assim. – deu de ombros.

As mãos de Yara cerraram-se, uma ao lado do corpo e a outra em volta do copo, amassando-o e espalhando a poeira pelo ar. Os dentes trancaram-se e as sobrancelhas abaixaram-se sobre os olhos em uma expressão raivosa.

Foi curto e rápido, porém preciso: Yara ergueu o pé certeiramente no vão entre as pernas de Kaíque, emitindo um som nada agradável. Pude jurar que vi lágrimas descerem dos olhos do garoto quando seu corpo curvou-se acompanhado de um gemido de dor.

— Apareça na minha frente de novo e você perderá a capacidade de se reproduzir de tanto que isso vai ficar roxo. – a garota girou os pés e marchou para seu quarto.

E foi assim que encerramos a noite. Que maravilha. 

>>>

Dois dias se passaram e Érica havia melhorado, alegando que foi graças à magia da Fanta Maracujá. Então, Ienaga tomou a liberdade de nos convocar para uma reunião.

Sobrevivi ao período de aulas, algumas pessoas haviam parado de me tratar como uma aberração que podia incendiar a sala a qualquer momento, até formando dupla comigo quando a matéria exigia. Inclusive, eu nunca mais participei de uma aula de meditação. E tenho de dizer que eu olhava para a professora de química, Luana, de maneira diferente, pensando que por trás dos óculos fundo de garrafa havia alguém que contrabandeava bebidas para dentro da academia.

Desci os degraus pesadamente, jogando todo o peso do corpo em um pé por vez. Estava cansado e com preguiça. E um pouco irritado, já que ora ou outra Stefanie me enchia o saco sobre mamãe e Fábio.

Stef: Ela levou a Siri para passear com o cachorro dele. É assim que os adultos namoram hoje em dia? [16:07]

Bufei só de imaginar minha Siri ao lado de algum outro cachorro. E outro homem. Que poderia muito bem ser um cachorro também.

Perdido no estresse, sequer notei que alguém me seguia. Minha resposta automática seria bem ríspida, caso eu primeiro não registrasse quem era a pessoa.

— Pensei em dar oi, mas você parecia tão… Distraído. – Amanda deu um passo para trás e os diversos chaveiros brilhantes de sua mochila vinho chacoalharam.

— Não é nada demais. – passei a mão pelos cabelos, suspirando. 

Nos encaramos em silêncio, o clima estranhamente vergonhoso. 

— Está indo para algum lugar? – ela pigarreou e desviou o olhar.

Eu poderia falar que estava indo ao esconderijo da União?

— Reunião de grupo, sabe como é. – comentei descontraído, voltando ao meu percurso.

— Sei. A Bianca fazia reuniões todos os dias para decidirmos a maquiagem que iríamos usar no dia seguinte. – Amanda revirou os olhos. – Às vezes, o Felipe fazia algumas reuniões, porém, ninguém estava interessado de verdade em ouvi-lo. E quanto a Kaíque… Bom, quem sabe? – deu de ombros.

— Por que migrou de um grupo para o outro, mas não para o da União? – parei em frente ao bebedouro e abaixei-me.

Amanda demorou um pouco para responder, apertando uma das alças das mochila e olhando para cima.

— Não sei. Tenho a impressão de serem meio loucos. – confessou.

— E são. – abri a torneira. – Mas de um jeito bom. – formei uma concha com as mãos, deixei que a água se acumulasse ali e a bebi em alguns goles.

— Se você diz, acha que eu posso ir à reunião com você? – ela empolgou-se. – Tipo uma experimentação. Estou cansada dos outros grupos, provavelmente os loucos são a melhor opção agora. 

Quase engasguei, levantei-me bruscamente e assumi uma postura ereta perante o pedido. Não tinha autoridade o suficiente para responder àquela pergunta de modo positivo.

— Até onde sei, apenas membros podem ir às reuniões. – falei constrangido e enxuguei a boca com as costas da mão.

— Como faço para me tornar membro? – Amanda aproximou-se determinada. – Eu posso passar por qualquer prova, acredite, ser admitida no Super Gatinhas foi trabalhoso. – cerrou os dentes.

Fiquei ponderando se ela aceitaria invadir o quarto de alguém, abrir a janela emperrada e salvar o colega sonâmbulo dessa pessoa que você mesmo colocou em perigo. De qualquer forma, Ienaga ficaria feliz em ter mais um membro.

— Pode cobrir os olhos por favor? – pedi sem jeito.

Amanda estranhou, me avaliou com certa desconfiança e colocou uma das mãos sobre os olhos. Engoli em seco e toquei seu cotovelo, guiando-a pelos corredores e degraus necessários até o esconderijo. Por mais óbvia e idiota que fosse, acho que Ienaga me arrancaria um dedo se eu dedurasse nossa posição.

Abri a porta cuidadosamente tentando não fazer muito barulho. Visualizei Eduardo e Érica esparramados nas cadeiras e conversando em alto som. Sentada em um dos balcões, Yara balançava as pernas e segurava seus fones de ouvido, tirando-os para ouvir o que os outros dois falavam.

— Grande Norte! O que temos aí? – Eduardo segurava um estojo de lentes e ignorava a risada de Érica. Reparei que uma das íris do garoto estava roxa e a outra castanha.

— O que aconteceu? – fechei a porta, ainda segurando o cotovelo de Amanda.

— Ele fez uma das lentes desaparecer. – Érica tampou a boca para evitar o riso.

— Não tem graça. Pelo menos, ainda tenho o par amarelo. – ele fez um biquinho. – E então? – oscilou seu olhar entre mim e Amanda, visivelmente confuso.

— Ela quis vir comigo para assistir à reunião. – cutuquei o outro braço da garota para que ela abaixasse a mão que cobria os olhos. 

Eduardo fez uma careta que dizia claramente: “quê?”.

— É… Olá. – Amanda acenou brevemente, sorrindo.

Yara retirou os fones de vez, observando a cena de modo apático. Eduardo refletiu por um instante, arqueando a sobrancelha como se dissesse “sério?”, suspirei e assenti.

— Hum, seja bem-vinda então? – o garoto ergueu-se e apertou a mão da garota. – Sou Eduardo, o vice. Nossa líder está no meio de uma ligação agora. – deu um de seus sorrisos galanteadores e inclinou a cabeça.

Foi então que ouvi a voz de Ienaga vinda da porta fechada do espaço de reuniões. Ela dizia coisas como “Sim, sim. Não, não.”, “É claro que estou tomando banho.” e “Tá, eu sei que você quer o melhor pra mim e blá blá blá, pode me responder?” “Tá, não digo mais blá blá blá pra você, desculpa”. 

— Problemas? – coloquei minha mochila em um balcão e fiz um sinal para que Amanda me imitasse se quisesse.

— A Érica estava contando sobre quando foi visitar a irmã recém-nascida no hospital… – Eduardo fitou a garota de cabelos azuis.

— Foi em julho. – Érica pensou. – Naquele hospital cinza que tem uma cruz vermelha e um pequeno jardim. Qual é mesmo o nome?

— Hospital Carvalho. – o garoto respondeu convicto. – Comentei que eu nasci lá. E pelo visto, Érica também. Além de que descobrimos que fazemos aniversário no mesmo dia. – exclamou empolgado.

— Uau. – ergui as sobrancelhas.

— Legal, né? – Érica apoiou as mãos no assento e balançou uma das pernas.

— E aí a Laura simplesmente pegou o celular e se trancou no espaço de reuniões, dizendo que precisava falar com a mãe. – Eduardo revirou os olhos.

Às vezes me esquecia que o nome de Ienaga era Laura, já que só o Felipe e o Eduardo a chamavam assim.

Nesse momento a porta do espaço de reuniões abriu-se em um estrondo. Ienaga segurava a maçaneta e desligava o celular, a feição determinada e os cabelos jogados de qualquer jeito sobre o rosto. 

— Norte e Yara, em que hospital nasceram? – ela perguntou após um minuto de suspense. 

Revirei um pouco a mente, havia pensado naquilo na reunião em que fomos oficializados membros da União Rebelde. Respondi prontamente, ao mesmo tempo que outra voz:

— Hospital Carvalho.

Percorri o olhar pela sala, fixando-o em Yara que somente arqueou uma sobrancelha e moveu levemente a cabeça. 

— Isso diz muita coisa e… – Ienaga finalmente notou nossa visitante. – Hã… Bonjour? – ficou confusa, coisa que eu nunca a via ficar.

Amanda fez uma breve reverência e exclamou:

— Gostaria de me juntar ao grupo.

Houve uma espécie de coro de suspiros surpresos, além da expressão pasma que Ienaga e Eduardo dividiam. Eles sustentaram um contato visual que parecia passar uma rápida conversa sobre o que estava havendo com direito a gesticulações de cabeça e mãos.

Eduardo cessou a conversa que só existia na mente deles, inspirou profundamente e voltou-se para nossa convidada.

— Ninguém nunca quis se juntar a nós por livre e espontânea vontade. – ele colocou a mão no peito, dramático. 

— Se quer mesmo nos acompanhar, precisa cumprir uma missão. – Ienaga chegou a porta em longos passos, o sorriso sádico formado no rosto. 

Amanda afirmou dedicada, dizendo que aguentava qualquer coisa.

— Traga seu irmão para o nosso lado também. – a líder estalou os dedos. – Você tem até amanhã.

Não julguei tão difícil, então me lembrei de quem era o irmão dela.

— Acho que consigo em vinte minutos. – Amanda contou nos dedos, completamente focada na tarefa.

— Gostei disso. – a líder riu presunçosa. – Seus vinte minutos começam agora. E vá de olhos fechados para não saber onde fica nosso esconderijo. – bateu as mãos. 

Discretamente movi a cabeça de um lado para o outro e torci o nariz para Amanda como se dissesse que aquilo não era necessário. Ela deu um pequeno sorriso e ergueu as mãos do tipo: “fazer o quê?”. Assim que a garota saiu, Ienaga girou a chave na porta, trancando-nos ali dentro.

— Precisamos conversar. Temos vinte minutos. – ela respirou fundo e dirigiu-se para o espaço de reuniões.

Pela falta de cadeiras (que misteriosamente ficavam espalhadas na outra sala), alguns encostaram-se nos cantos da parede e outros na mesa de centro e juntos observamos o brilho azulado do notebook em frente a lousa branca repleta de rabiscos e sinais de interrogação. Muitos sinais de interrogação.

— Temos muitas pontas soltas, vocês sabem. E precisamos nos agarrar a qualquer uma que acharmos e dar um nó. – Ienaga simulou o que estava dizendo com as mãos em movimentos rápidos. – Perguntei para minha mãe onde nasci… E posso anunciar que nós cinco nascemos no mesmo hospital.

— Pensei que você tivesse nascido em algum hospital particular, já que seus pais são ricos. – Eduardo abriu o gaveteiro onde o notebook descansava e entregou um canetão para Ienaga. – Aliás, eles poderiam ter pagado a multa caso você recusasse a matrícula aqui, não?

— Meus pais só começaram a ter dinheiro depois que eu fiz um ano. E não, eles não são ricos. – a líder bufou. – Quanto a multa… Eles sequer pensaram nisso e sim na possibilidade de eu viver em um internato. Aliás, isso não importa agora, tá? – bateu o canetão na testa do garoto. 

Por um momento, me peguei imaginando Ienaga em uma grande casa e com pais refinados que a dessem roupas de marca e a obrigassem a ter bons modos. Pelo visto, não deu tão certo.

— O que quero dizer é que achamos a terceira característica. – a garota escreveu a sigla HC e desenhou uma cruz dentro de um retângulo na lousa. – Quinze anos, estado de São Paulo e Hospital Carvalho. 

Franzi as sobrancelhas ao absorver a informação e automaticamente ergui a mão sob o efeito de trocentas aulas por dia. Ienaga apontou para mim, dando permissão para falar e eu ruborizei pelo meu ato bobo.

— Eu até entendo quanto a idade e ao estado. Mas somos apenas cinco em uma escola de noventa e seis alunos, não tem como comprovar que todos nasceram no mesmo hospital. – comentei.

Foi a vez de Érica levantar a mão em um impulso, Ienaga mudou a direção de seu canetão para ela.

— Alguém pode me explicar o que está acontecendo? – Érica observou o rosto de cada um e depois focou na lousa, a confusão aparente em sua expressão. 

Era verdade, ainda não havíamos falado sobre aquilo com a nova integrante do grupo. Eduardo aproximou-se dela e começou a sussurrar em seu ouvido, ora ou outra apontando para as anotações na superfície branca. O rosto de Érica iluminou-se um pouco enquanto ela assentia lentamente.

— Norte tem… Razão. – Yara pigarreou. 

Ienaga suspirou novamente e espalmou a mão na lousa com certa força, produzindo um baque e pressionando o canetão entre a palma e a superfície.

— É provável que o Informante não nos dê uma informação tão grande como essa. Pelo menos, não de graça. – vislumbrou o chão, pensativa. – Por isso, teremos que consegui-lá nós mesmos. E assim poderemos confirmar ou descartar a terceira característica.

Lá vem trabalho.”, revirei os olhos.

— Ou seja, continuamos no plano de trazermos mais membros para a União. – Ienaga inflou uma das bochechas. – A não ser que tenham uma ideia melhor. – nos lançou um semblante interrogatório.

Um arrepio percorreu minha espinha, obrigando-me a virar para o lado e concluir que Yara estava atrás de mim sabe-se lá há quanto tempo. Sem emitir nenhum som, movimentou os lábios, formando a frase “Eu tenho uma ideia. Depois.”

— Por enquanto é isso. – a líder massageou as têmporas. – Érica? 

— Em que tipo de história de ficção nós estamos? – Érica deu uma risada nervosa.

— A boa e velha vida real. – Ienaga deu um sorriso de canto e guardou o canetão.

>>>

Deixamos o espaço de reuniões e decidimos jogar UNO na sala das cadeiras. Yara e Ienaga dominavam o jogo, cada uma tendo duas vitórias. Suspeitava que Eduardo estava fazendo suas cartas desaparecerem com seu poder, mas Érica sempre lhe lançava um +4 ou +2. Me senti ansioso pela ideia de Yara, apesar disso, me concentrei nas minhas cartas, tentando traçar uma estratégia de como vencer usando somente números de cores distintas e nenhuma carta especial.

Eu e Yara havíamos tratado de escrever o nome das cores em cada carta sob o pretexto de que ela poderia acidentalmente mudar a cor de alguma. Fiz a besteira de perguntar em um resmungo o porquê dela não dizer ao grupo que era daltônica e ela me deu uma de suas respostas afiadas. Parece que aquilo realmente a incomodava.

— Uno! – Ienaga gritou e balançou sua única carta.

— Uno. – Yara disse após jogar sua penúltima carta, uma de bloqueio cor-de-rosa (o nome descrito era azul). Perdi minha vez.

— Muito bem, essa rodada vale a liderança do grupo. – a líder estalou os dedos, pronta para socar alguém.

— Não, obrigada. – Yara resmungou.

— E quem disse que você vai vencer? – Ienaga provocou.

— Érica, pare de me mandar comprar mais! – Eduardo choramingou ao ter de recorrer ao baralho de compra. 

— Desculpe. – Érica riu atrás de seu leque de cartas.

Batidas na madeira ecoaram pela sala, interrompendo a rodada. Ienaga estava prestes a fazer uma ação, então gritou de frustração e foi atender a porta. 

— Vou considerar que sua vez foi pulada. – Yara anunciou.

— Nem pensar, sua caloteira! – Ienaga berrou e quase quebrou a maçaneta só de tocá-la. –  Quem é? – encostou o ouvido na porta.

— Amanda. – a voz do outro lado respondeu. 

Instintivamente girei a cabeça em sua direção. A líder abriu a porta, revelando a garota de rabo-de-cavalo e o garoto idêntico a ela praguejando alguma coisa de cenho franzido.

— Missão cumprida. – Amanda sorriu e apresentou o irmão.

— Que fique claro que só me juntei a vocês porque não confio em deixar minha irmã com um bando de malucos. – Victor bradou, as mãos fundas nos bolsos da calça jeans preta onde uma corrente prateada balançava. 

— E que fique claro que só te aceitamos por estarmos desesperados. – Eduardo sorriu adoravelmente.

— O que foi que você disse? – Victor cerrou os dentes e deu um passo à frente.

— Chumbo trocado não dói. – o vice agitou suas cartas, rindo.

Juro que vi um raio se formar entre os dois, a tensão se espalhou pelo ar, deixando-o tão pesado que tornou-se possível cortá-lo com uma faca. Eu e Érica nos escondemos atrás de nossas cartas e por cima delas pude ver Amanda expressando desaprovação e constrangimento.

— Bati. – Yara jogou sua última carta sobre o montinho no centro do piso.

— Não era a sua vez! – Ienaga berrou indignada.

— Se saiu da roda, perdeu a vez. – a garota dos coques cruzou os braços.

— Eu quero revanche! – a líder chutou uma cadeira e logo em seguida sentou-se nela, bufando e separando as pernas. – E vocês dois! – indicou os novos membros que arregalaram os olhos. – Venham jogar. – ordenou.

E ali eu tive certeza de que o nome do grupo mudaria para Desunião Rebelde.


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Notas finais do capítulo

Mais dois novos rebeldes na União, quem diria? O que foi que aconteceu nesse hospital? Será que os países baixos do Kaíque estão bem?
Me contem o que acharam!

Até o próximo capítulo: Ela tem três lados, ela é um triângulo?
Beijos.
—Creeper.



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