A ironia em amar você escrita por SS Saibot


Capítulo 5
Pode ser desnatado e com creme?


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/800839/chapter/5

No dia dos namorados, Isabella acordou como se tivesse dormido com uma urtiga, então quando o professor guiou todos para o ônibus escolar na direção da Universidade de Maryland e os alunos começaram a cantar músicas de viagem quando o percurso tinha a ridícula duração de vinte e cinco quilômetros, ela pôs seus fones de ouvido, arrumou o cachecol de cashmere coral que usava em volta de seu pescoço, pôs a cabeça contra a janela e dormiu.

Não sabia que seria tão ruim quando aceitou ir à palestra na Universidade, mas aquelas poucas horas na instituição de ensino seriam contadas no seu currículo acadêmico para a Universidade, e não havia nada que Isabella não fizesse por horas complementares.

Logo o SAT chegaria e ela ainda precisava de mais duas cartas de recomendação de seus professores para ser considerada uma aluna indispensável para um corpo estudantil. Tinha que começar por um currículo brilhante se queria seguir os passos de sua mãe na medicina.

 Ao chegarem no campus grandioso e de estrutura invejável, logo foram guiados para dentro por um grupo de estudantes da própria faculdade. De acordo com o Sr. Langford, eles faziam parte de um comitê de boas vindas da Universidade. Recebiam todos os calouros e organizavam a maioria dos eventos do prédio, desde o voluntariado até a recepção de calouros.

Quando entraram no anfiteatro da Maryland University, muitos dos queixos dos seus colegas de turma caíram, mesmo que alguns morassem a uma distância ridícula do campus e não fossem enviar suas cartas para aquele lugar. Muitos deles estavam optando por grandes cidades como Nova York, Connecticut e New Hampshire. 

Eles se sentaram e pegaram suas anotações referentes a Orgulho e Preconceito.

O schedule que haviam recebido na entrada dizia que eles assistiriam uma peça da obra encenada pelos alunos da instituição e depois debateriam a respeito da história.

Enquanto os minutos foram passando, logo os universitários também foram enchendo o recinto, que se tornou frenético devido o falatório e a quantidade de corpos.

Ela estava derivando sobre a capacidade de alunos que era suportada naquele ambiente quando seus olhos esbarraram em outros verdes, verde absinto.

Isabella pôde sentir sua boca se abrindo e secando ao encarar o garoto da biblioteca e, para piorar sua situação, ele não fez nada para disfarçar que também a tinha visto e que lembrava dela.

Agindo por puro instinto, ela recolheu suas coisas, levantou-se e saiu do anfiteatro quase correndo, atravessando as portas duplas abertas que um grupo de alunos falantes mantinha aberta.

Saiu andando pelo corredor, tentando manter um ritmo no seu andar que a tirasse dali, mas não o suficiente para alarmar alguém.

Ela nem sabia porque estava fugindo, na verdade. Vergonha de ter quase estapeado o garoto por um livro que nem sequer gostava? Timidez tardia? Medo do que ele a fazia sentir quando a olhava como quando haviam discutido na biblioteca?

Com certeza, era a timidez.

Estava quase convencida de que poderia se refugiar na grama do campus até o horário de ir embora, mesmo que não soubesse o motivo de estar sentindo aquele frio clichê na barriga, quando sentiu seu braço ser tocado.

Teve um sobressalto e virou imediatamente, encontrando aquela confusão de cabelos indefiníveis e um corpo muito bem planejado que pertenciam a brilhantes e divertidos olhos verdes que a encaravam de volta. 

— Conheço você — disse o garoto.

Ela balançou a cabeça, descontraída enquanto estalava a língua no céu da boca como se ele falasse uma grande besteira. Voltou a andar, mas pôde senti-lo a seguir.

— Não conhece não — negou.

Ele semicerrou os olhos, mas acompanhava facilmente o andar dela. Parecia decidir se ela estava mentindo ou não.

— Conheço sim!

— Não conhece.

— Você é a garota bonita e impaciente e mal-educada da biblioteca — Ele sorriu de lado daquele jeito que sugeria que ele estava fazendo uma piada interna consigo mesmo. — Não necessariamente nessa ordem, claro.

Isabella fez o possível para que um sorriso nervoso não se abrisse em seu rosto, mas foi impossível. Parou de andar e olhou para ele com as sobrancelhas franzidas.

— Meu nome é Isabella.

— Como eu disse, é um nome bonito para uma garota bonita. Origem italiana?

— Minha avó era italiana, mas o nome na verdade é de origem hebraica e... — Interrompeu-se ao perceber que estava dando informações demais. — Quer saber, eu não deveria estar falando com você. Não converso com estranhos.

— Se não conversa com estranhos, como chega a conhecer as pessoas? A não ser, é claro, que você seja uma daquelas garotas antissociais que não tem amigos e uma família de três pessoas.

Na verdade, ela tinha uma família de três pessoas mesmo, se incluísse Phineas, seu gato que não falava e parecia que estava bolando a morte de alguém o tempo inteiro, mas achou melhor não confirmar as palavras dele.

Como não respondeu, ele continuou:

— Então, você vai usar uns óculos e dizer para mim que esconde coturnos pavorosos? Eu estou preparado. Não tenho nada contra.

— Eu não uso coturnos! — negou com veemência antes de fazer uma careta. Ela tinha, sim, uns coturnos. Mas eles eram muito bonitinhos e combinavam com tudo. — Não que houvesse problemas se eu usasse, mas...Meu Deus, eu quis dizer que...

Ele expôs ainda mais aquele sorriso estupidamente bonito e caloroso.

— Eu sei o que você quis dizer, garota que não fala com estranhos. Para nossa sorte, eu sou muito bom em ler as pessoas.

— Perdão, deixe-me retificar, eu não converso com estranhos que tem como obra literária favorita Orgulho e Preconceito — Enrugou o nariz, ofendida. — E eu tenho amigos.

Ele deu de ombros. 

— Não posso negar que Orgulho e Preconceito é muito bom, mas não é minha leitura preferida.

Isabella arqueou uma sobrancelha, sentindo sua flor do sarcasmo desabrochar.

— Razão e Sensibilidade, então?

Ele fez um barulhinho com a boca que deveria ser um muxoxo. 

— O Menino do Pijama Listrado. Esse é meu livro preferido.

Por essa, ela não esperava. Lera aquele livro no colegial e também era um de seus preferidos. Tinha ficado pensativa e chorosa por dias com a história.

Ela inclinou a cabeça, avaliando-o. 

— Certo, Mr. Darcy, você é sempre comunicativo assim com as pessoas?

— Só com quem me desperta a curiosidade.

— Sua curiosidade deve ter um sono muito leve, então.

Ele deu de ombros de novo. 

— Você vai ter que sair para um café comigo se quiser descobrir. Não saio contando as coisas para garotas estranhas, por mais bonita que elas sejam.

Isabella sentiu suas bochechas pegarem fogo e pelo modo como ele sorriu, sabia que tinha ficado evidente. 

— Pode me elogiar quantas vezes quiser. Você ainda é um estranho. 

Isabella voltou a caminhar, de repente bastante ciente que estava agindo como uma estúpida se fazendo de difícil quando tudo que queria era uma droga de encontro à luz de velas com aquele protótipo de James Bond universitário. Como se fosse um leitor de mentes, entretanto, o garoto da biblioteca voltou a se colocar no caminho dela, decidido a não a fazer perder o que, ela sabia, seria uma das melhores oportunidades de sua vida totalmente fora dos padrões clichês românticos.

— Me chamo Edward. Edward Cullen, se quiser me pesquisar na internet quando chegar em casa, mas você não parece o tipo que se daria ao trabalho de fazer isso, então antes que perca o interesse, preciso dizer que tenho vinte e um anos, moro em um pequeno apartamento aqui em Baltimore, estudo Língua Inglesa no campus da Maryland e tenho um hamster que se chama Lorde Voldemort.

Ela pigarreou, mas ele não se deixou interromper e prosseguiu, enumerando nos dedos as coisas que contava sobre si mesmo. 

— Sou vegetariano também, embora tenha uma queda por carne quatro ou cinco vezes por ano quando vou visitar a minha mãe em Washington. Por sinal, não me masturbo lendo livros de época. Isso seria doentio.

Isabella não pôde evitar rir. 

— Isso é uma conquista, Edward — Ela ergueu o punho no ar em comemoração e continuou seu caminho, para onde, ela não sabia.

— Minha conquista será se eu conseguir que você saia para um café comigo.

Ela sorriu e ergueu as sobrancelhas, fitando-o com interesse.

— Pode ser desnatado e com creme?

Ele sorriu de volta.

E ela esqueceu completamente que estava em uma expedição com a escola ou que ele podia ser um maluco psicótico.

Bem, quantas vezes uma garota tem a chance de viver o roteiro de You, não é mesmo?

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

'You é uma série da Netflix que conta a história de um homem que fica obcecado por uma mulher e começa a persegui-la para todos os cantos, fazendo seus encontros e romance parecerem casuais e inesperados.

Beijos imensos >>>



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "A ironia em amar você" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.