O Amanhã escrita por Nahy


Capítulo 7
Capítulo 7




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/800728/chapter/7

Um câncer invasivo.

Potencialmente maligno.

Alto risco de metástase.

E uma cirurgia... Para retirada as mamas.

As últimas palavras de Tânia não saiam da minha cabeça. 

Ela tinha me convencido a realizar alguns exames. O resultado, no entanto, não foi o mais animador.

Ela me pediu para não tomar uma decisão agora e que eu pensasse bastante nas minhas escolhas.

Mesmo que as chances de sobreviver fossem baixas, havia a possibilidade de tratamento. 

Havia uma chance de sair desse problema.

Uma chance de viver.

Mas a que custo?

Eu teria que retirar as mamas, fazer quimioterapia, radioterapia e Deus sabe o que mais...

Eu seria mutilada e exposta a todos os tipos de substâncias. Assim como mamãe, passaria os meus dias em hospitais, perderia minha vida, meus momentos preciosos por uma possibilidade.

Talvez eu ficasse viva, talvez não. 

E eu não queria isso.

Entregar a minha vida ao "talvez", viver com essa incerteza sobre a minha cabeça...

Eu poderia abandonar tudo isso e viver o tempo que me restava como eu queria, viajando para lugares que sempre quis, fazendo loucuras que nunca tive coragem de fazer, eu poderia ser feliz.... Eu poderia morrer feliz.

Eu não sabia o que fazer.

O que eu deveria escolher?

Qual decisão não poderia me fazer me arrepender?

Só havia uma chance, apenas uma... A escolha que eu fizesse seria isso e não poderia voltar atrás. 

— Bella?

Levantei a cabeça ao escutar a voz de Edward. Ele tinha ido resolver uma papelada para mim e eu estava esperando na recepção do hospital.

— Podemos ir?

Assenti e levantei da cadeira como se estivesse ligada no automático, fui andando sem olhar para frente, meus olhos estavam grudados ao chão.

Eu não conseguia me concentrar em nada, alheia ao meu redor, nem mesmo percebi quando Edward me ajudou a entrar no carro, nem mesmo quando ele o ligou e manobrou para fora do estacionamento.

Edward não falou comigo, o que eu agradecia. Não conseguia pensar em qualquer resposta para dar a ele, eu não tinha uma resposta para as minhas perguntas e tudo que eu mais desejava no momento era poder esquecer tudo isso e apenas... Descansar.

Como se fosse um sonho, eu queria acordar.

Mas, ao mesmo tempo, eu queria poder dormir e sonhar, porque sei que isso é real. Sei que todos os meus problemas não vão desaparecer como um passe de magica, sei que isso é impossível... Então só me restava desejar, sonhar... E nunca mais acordar.

Sentindo as mãos da minha mãe no meu cabelo, embalada em seu colo como um bebê – o seu bebê – eu queria poder dormir.

Eu a queria aqui.

Dando-me as respostas que eu queria.

Abraçando-me.

Consolando-me...

Eu só a queria aqui.

Aperto minha mão em meu peito, sinto-o queimar e queima tanto a ponto de me sufocar. Eu estou acostumada a essa dor, a dor do abandono, a dor da solidão e do vazio que sinto na minha alma, mas hoje ela parece pior, é demais para mim.

É tão sufocante.

Tão dilacerante.

Como se houvesse algo entalado na minha garganta e tudo que mais quero é apenas... Respirar, mas até isso parece algo impossível.

Por quê?

Por quê?

Por quê?

Minha alma grita em busca de respostas, mas esta nunca chegou aos meus ouvidos.

Sinceramente é como se faltasse um pedaço de mim, mesmo quando as lagrimas escorrem pelo meu rosto, mesmo que grite e coloque para fora toda a raiva e dor que sinto, mesmo assim, aquele vazio, aquele buraco enorme no meu peito nunca foi capaz de se fechar.

Estou torcendo para que Edward não perceba o meu choro silencioso, talvez eu seja um pouco masoquista, mas eu não quero que ele me veja assim, mas assim que o primeiro soluço escapa dos meus lábios, ele se vira para me olhar, os olhos arregalados de surpresa e rapidamente para o carro no acostamento da estrada.

Ele não me faz perguntas.

Ele não me diz para não chorar.

Ele apenas me abraça e me aperta tão forte como se sentisse minha dor.

Pela primeira vez desde que eu soube do câncer, um sentimento apavorante lentamente me consumia.

Nunca tive medo de morrer, acho que nunca tinha parado para pensar nisso, o que mais me apavorava era o fato de morrer sozinha, sem minha família ao meu lado, sem as pessoas que eu mais amava estarem presentes quando fechasse os olhos para sempre.

Mas falar com Tânia tinha, de alguma forma, tornado tudo isso mais real.

Isso não era um sonho.

Eu não iria acordar a qualquer momento e tudo isso iria desaparecer.

Eu também não podia voltar para casa e dormir, fingindo que nada disso aconteceu, ignorando a verdade que estava ali na minha frente esse tempo todo.

Não podia mais fugir disso.

Eu estou morrendo.

E o mais apavorante de tudo isso tudo não era saber disso, o mais apavorante era que eu não sabia... Não sabia se queria realmente viver.

...

A agua escorria livremente pelas minhas costas, tão quente que minha pele começava a ficar avermelhada.

Fazia uns vinte minutos que estava parada na mesma posição e talvez eu devesse me preocupar em estar desperdiçando tanta agua assim na casa de alguém, mas não conseguia encontrar qualquer pingo de culpa em mim.

Depois do que aconteceu no carro, Edward resolveu ficar na cidade e me levou para sua casa em Seattle. Ele me entregou uma muda de roupa e me disse para tomar um banho quente, pois eu estava tremendo de frio pela chuva forte que pegamos no breve espaço de tempo entre sair do carro e correr para entrar no prédio em que ele morava – aparentemente a garagem estava em reforma ou algo assim, então tivemos que deixar o carro do outro lado da rua.

Vinte e cinco minutos já haviam se passado.

Estava na hora de sair.

Desliguei a agua e me enrolei na toalha branca e macia. Parei em frente ao grande espelho em frente a pia, o vapor da agua quente havia embaçado o espelho totalmente, limpei o espelho com uma mão e depois apoiei ambas as mãos na pia enquanto encarava meu reflexo.

Eu estava horrível.

Meus olhos ainda estavam vermelhos e inchados pelas lagrimas, minha expressão como se tivesse sido atropelada por um caminhão.

Tentei forçar meus lábios a se curvarem para cima - eu poderia ensaiar um sorriso - mas foi uma tentativa fracassada.

Suspirei e decidi sair do quarto, encarei a muda de roupa que Edward havia me entregado. Claramente não caberia em mim, mas a vesti mesmo assim. O moletom cinza dele quase se tornou um vestido e as mangas eram tão cumpridas que ultrapassavam minhas mãos, mas a calça com certeza foi a pior.

Eu nem conseguia ver meus pés!

Bom, eu não podia sair pelada e vestir minhas roupas molhadas estava fora de cogitação.

Arregacei as mangas do moletom e respirei fundo. Abri silenciosamente a porta do quarto em que estava, olhei para fora, mas não vi Edward em qualquer lugar.

Com um suspiro aliviado sai e fechei a porta atrás de mim. Olhei o espaço ao meu redor e me balancei nos meus pés sem saber o que fazer. Seu apartamento estava perfeitamente organizado, muito diferente dos outros homens que conheci, mas eu deveria saber, Edward sempre foi muito organizado.

Havia um grande sofá negro no meio da sala, então decidi espera-lo lá, mas algo mais chamou minha atenção. Caminhei em direção à parede de vidro, coberta por grossas cutinas marrom, e as puxei para o lado.

A vista me deixou sem folego.

Estávamos no decimo segundo andar, então boa parte da cidade era visível de onde estávamos. O prédio havia sido construído no lugar perfeito para observar o por do sol, que se aproximava lentamente. Ainda estava claro, mas podia apostar que seria uma visão ainda mais espetacular pela noite com as luzes da cidade acessas.

— É bonito, não é?

Virei-me surpresa ao escutar a voz de Edward atrás de mim. Ele também tinha tomado banho e a agua ainda pingava nas pontas do seu cabelo indomável.

Ele meio que parecia o sonho quente de qualquer garota.

Seus olhos me observaram da cabeça aos pés e seus lábios se curvaram para cima, ele também vestia um moletom cinza como eu, o que deixava a situação ainda mais engraçada.

— É lindo – comentei e voltei meu olhar para vista abaixo de mim.

 Escutei seus passos se aproximarem lentamente e ele parou ao meu lado, observando a vista como eu.

— Você deveria ver quando o sol se por. O céu fica com algumas faixas de luz, bem alaranjadas, bem ali – indicou com a mão. – enquanto o resto é azul claro e vai gradualmente escurecendo.

— Deve ser lindo – murmurei imaginando a cena.

Eu nunca tinha parado para observar o céu, meus olhos sempre estavam focados no que havia a minha frente. Nunca pensei em olhar ao redor, olhar de uma perspectiva diferente.

— Você está com fome? – perguntou de repente e neguei. Não tinha cabeça para pensar em comida agora.

Eu me perguntava o porquê ele não estava me perguntando nada.

Isso não era normal?

As pessoas sempre bombardeiam de perguntas às outras em situações como essa.

Por que ele não me perguntava nada?

— Por que você não me perguntou nada? – expressei meus pensamentos em voz alta, virei à cabeça para olhar para ele e percebi que ele também olhava para mim.

— Você quer que eu pergunte? – perguntou e me vi sem resposta.

— Eu... Não sei – confessei baixando meus olhos, de repente sentindo-me tímida.

Eu queria?

Eu devia pelo menos uma explicação a ele, não devia?

— Pois bom... Vamos comer – ele disse abrindo um sorriso. – Estou morrendo de fome e você também precisa comer alguma coisa.

Eu estava perto de protestar quando ele me puxou delicadamente pela mão em direção à cozinha.

Edward me colocou sentada no banco em frente ao balcão e começou a procurar alguma coisa nos armários. Fiquei sentada em silencio enquanto o observava se mover pra lá e pra cá preparando, ao que parecia ser, panquecas doces.

Quando ele finalmente terminou e colocou o prato na minha frente, foi então que percebi que realmente estava com fome e comecei a salivar ao sentir o cheiro delicioso da comida.

Ele cozinhava bem.

E foi só colocar a primeira garfada na boca que comprovei isso, o sabor estava delicioso e não pude deixar de gemer de satisfação.

— Você gostou? – ele perguntou com um sorriso satisfeito com os olhos presos em meu rosto e claro que ele sabia que eu adorei, mas Edward parecia ser do tipo que amava elogios e resolvi atender seus desejos.

— Está uma delicia – garanti e seu sorriso se tornou maior, se possível.

Comemos o resto das panquecas em silencio, um silencio confortável e acolhedor, e pude perceber seu olhar completamente satisfeito ao ver meu prato vazio.

Depois fomos nos sentar no sofá e Edward sugeriu que assistíssemos a algum filme qualquer. Ele se sentou perto de mim, mas depois de alguns minutos de filme estava quase esparramado no sofá, completamente à vontade, enquanto eu não podia deixar de me sentir um pouco desconfortável.

Ele não ia mesmo me perguntar nada?

Eu praticamente o tornei meu lencinho de papel enquanto chorava uma cachoeira de lagrimas e ele não ia mesmo me perguntar nada?

Ele não fazia ideia do que Tânia me disse, não fazia ideia da gravidade da situação e ele... Simplesmente estava aqui deitado no seu sofá enquanto assistia um filme sem graça.

Olhei-o e quis socar seu lindo rosto, mas pensei melhor. Um sorriso cresceu em meus lábios e aproximei lentamente minha mão da sua orelha, rocei levemente meu dedo indicador na sua orelha e rapidamente a tirei quando ele se moveu para olhar para olhar para mim.

Continuei a olhar para frente, fingindo interesse no filme e fiquei assim por alguns minutos.

Olhei rapidamente para baixo e percebi que ele tinha voltado a assistir o filme, sorri e novamente aproximei minha mão da sua orelha, mas mal eu tinha encostado meu dedo e ele de repente agarrou minha mão com rapidez.

Meus olhos se arregalaram e ele se sentou de frente para mim, ainda segurando meu punho.

— O que você está fazendo? – ele murmurou com o cenho franzido e senti meu rosto esquentar.

— Te provocando – zombei, apesar da minha evidente vergonha em ser pega e seus lábios se curvaram.

— Por que você quer me provocar?

— Por mi irritar – resmunguei tentando puxar meu braço, mas seu aperto era firme.

Sua outra mão veio de encontro ao meu queixo, me surpreendendo. Ele puxou delicadamente meu rosto para cima e meus olhos se encontraram com os seus.

Seus olhos são bonitos, eu sabia disso, mas eles pareciam especialmente mais bonitos agora, quase hipnóticos. A cor verde em seus olhos me lembrava da floresta, só que mais clara, como em um dia de sol, e eles pareciam me hipnotizar.

Eu não consegui me mover, nem mesmo o impedi quando ele se inclinou para frente e não recuei quando seus lábios encostaram nos meus.

Fechei os olhos involuntariamente e ele soltou meu punho para levar a mão ao meu rosto.

Não havia nada de hesitante no modo como seus lábios se moviam sobre os meus. Eu gostei disso, do beijo intenso e quase exigente, de sentir suas mãos desceram para minha cintura e puxar meu corpo para mais perto do seu.

Minhas mãos foram automaticamente para seus ombros largos e me inclinei para cima. Ele me puxou para seu colo e pude sentir a tensão se construindo em seus ombros, deslizei minhas mãos para suas costas e pude sentir seus músculos se contraindo sobe o meu toque.

Fazia tanto tempo que eu não beijava alguém assim.

Podia sentir meu coração acelerar, meus pulmões reclamarem em busca de ar e um calor gostoso se espalhar por meu corpo.

Quanto tempo eu não me sentia assim?

Tão viva...

Seus lábios se separaram dos meus, quando o ar se fez realmente necessário, e ele apoiou a testa na minha, tão ofegante como eu e isso me deixou em extasse.

Os segundos se passaram e nossas respirações foram se normalizando, mas antes que voltasse ao normal, ele plantou mais um beijo demorado nos meus lábios e mais outro e mais outro...

Seus lábios encontraram a pele exposta do meu pescoço e ele depositou um beijo, me fazendo arrepiar. Usei a ponta do meu nariz para acariciar sua garganta e sentir seu cheiro amadeirado fresco. Seu pomo de adão me atraia de uma forma anormal e sinto-o se mover quando ele engoliu em seco.

Seus braços de repente me apertaram com mais força. Eu podia sentir o medo silencioso em seu gesto, à preocupação que ele tentava esconder de mim.

Eu queria tanto que esse momento durasse para sempre.

Apenas fingir que estava tudo bem e não tivesse o peso da decisão recaindo sobre minhas costas.

Mas não estava tudo bem.

— É um câncer invasivo – murmurei e senti seu corpo endurecer. Fechei os olhos com força e apertei meus braços em volta do seu corpo. – Eu vou ter que fazer uma cirurgia, quimio e radio... Vou ter que passar muito tempo no hospital e há uma chance de que eu não sobreviva a isso.

— Bella...

— Eu não sei se quero fazer isso – o impedi de falar. Eu precisava colocar isso para fora. – Não sei se quero passar o resto da minha vida no hospital e talvez nem mesmo sobreviver. – abri os olhos e deixei as lagrimas escorrem livremente. – Eu já vi isso acontecer Edward, eu vi minha mãe passar por isso, eu sei como é doloroso e como vou sofrer.

— Mas você tem uma chance – disse, sua voz quase desesperada.

— Uma chance pequena.

— Mas é uma chance! – argumentou ferozmente e me afastou delicadamente para olhar meu rosto. – Bella... Você consegue passar por isso.

Eu balancei a cabeça e baixei meus olhos para minhas mãos.

Eu também achava que minha mãe conseguiria.

Eu achava que ela iria ficar bem.

— Você não sabe disso.

— Sim, eu sei – ele segurou novamente meu queixo e puxou meu rosto para cima. Seus olhos eram firmes e determinados. – Você é uma mulher forte, você é capaz de fazer qualquer coisa.

Eu não era.

Eu não passava de uma covarde que fugiu da própria família.

Eu nunca consegui superar a morte da minha mãe.

Como conseguiria enfrentar isso?

— Eu estou com medo – admiti com um soluço dolorido. – Eu... Eu estou com medo de viver Edward. Eu estou com medo de lutar pela minha vida.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Eu juro, quase, quase mesmo não postava hoje, mas não ia deixar vcs esperando
Estou super empolgada com uma ideia que tive pra uma nova fic e quase não conseguia escrever esse cap, mas ainda bem que saiu.
Mas o que estão achando? Bella finalmente está caindo na real
Próximo cap Edward vai contar um pouco da sua história ;)
Bjusss