O Amanhã escrita por Nahy


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Voltando depois de uma longaaa pausa, espero que perdoem os errinhos ;)
Vou tentar atualizar uma vez por semana!



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— O que você falou?

Talvez eu estivesse ficando louca ou talvez eu simplesmente tivesse escutado errado. Eu tinha que ter escutado errado, isso não podia ser verdade.

Por favor, não.

— É um carcinoma ductal invasivo – falou calmamente como se não tivesse acabado de jogar uma bomba na minha vida, literalmente “Ah merda, você tem câncer”. – Nós vamos precisar realizar uma biopsia e mais alguns exames o mais rápido possível para saber se existe a possibilidade de metástase e para determinar o grau em que se encontra, mas ao que tudo indica está em um estagio mais avançado...

Não.

Não.

Não!

— Você não pode estar falando serio – o interrompi sentindo o desespero tomar conta de mim. Não pode ser verdade... – Tem certeza disso? Talvez esteja errado, talvez...

— Srta. Swan... – ele me interrompeu e, pela primeira vez desde que entrei por aquela porta, ele me olhou de um modo diferente.

Eu não gostei do seu olhar, tinha visto muito esses tipos de olhares na minha juventude quando minha mãe estava doente. Eu sabia o que era aquilo.

Pena.

— Não é melhor a senhorita contatar um familiar ou até mesmo um amigo? Eu posso explicar melhor a situação... – ele pegou um lencinho em uma caixa branca a sua frente e me ofereceu.

Não tinha percebido que estava chorando até ele me oferecer o lenço e eu odiei aquele gesto. Eu nunca choro, eu nunca dependo de ninguém, quem era aquele homem para me dizer algo? Ele não sabia nada sobre mim, não sabia nada sobre a minha infeliz e patética vida.

Então não.

Não vou deixar ninguém olhar assim para mim de novo.

Nunca mais.

— Sinto muito doutor – enxuguei as lagrimas com o dorso da mão e juntei toda dignidade que ainda me restava e levantei da cadeira. – Mas eu não preciso da ajuda de ninguém.

Peguei minha bolsa e me virei para ir embora daquele maldito quarto sufocante.

Não me virei de volta quando ele me chamou e segui em frente, sai daquele maldito hospital o mais rápido possível.

Eu me sentia sufocada, como se houvesse um bolo preso a minha garganta e eu não conseguisse respirar, talvez por isso meu coração estava acelerado... Eu não sei, só queria ficar longe dali e de todos.

Entrei no carro e sentei no banco de motorista. Minha respiração ainda estava acelerada e cansada, por isso fechei os olhos e deixei minha cabeça descansar no volante do carro. Respirei fundo uma, duas, três vezes, mas ainda sim não consegui me acalmar.

Como conseguiria?

Alguém consegue ficar calmo diante dessa situação?

Eu sabia o que iria acontecer, já havia passado por isso antes, quimio, radio, cirurgias intermináveis... Eu tinha visto minha mãe morrer durante todos os anos em que lutou contra isso e mesmo que ela sempre forçava o sorriso e dizia que estava tudo bem, eu sabia... Sabia o quanto ela estava sofrendo e eu não queria passar pela mesma situação.

— Droga... – murmurei e abri os olhos. As lagrimas voltaram com força total e as senti se derramarem pelo meu rosto. – Droga, droga! DROGA! – soquei o volante com força e solucei em agonia.

Por quê?

Por que eu tinha que passar por isso?

Por que logo eu?

Já não tinha tido bastante na minha vida?

Meus soluços se tornaram mais altos e a dor no meu peito só crescia. Eu me sentia quebrar, meu coração sangrava, me sentia frágil e perdida como há muito tempo não sentia.

Eu não era mais aquela mulher forte e independente que fugiu de casa e nunca mais voltou, agora eu era só... Uma garota, perdida, confusa e assustada e eu só queria minha mãe.

Mas ela não estava mais aqui.

Eu a abandonei, ela me abandonou, nós nunca mais nos veremos, mas eu precisava vê-la, precisava dela aqui comigo, para me dizer o que fazer, para me guiar e me fazer escolher o certo.

Eu precisava da minha família.

— Alice, Emm... – disse seus nomes pela primeira vez em muito tempo.

Eles eram a única família que me restava e, mesmo que me odiassem agora, eu precisava vê-los. Meu chão estava desabando e eles poderiam ser as únicas colunas que me sustentariam.

Eu precisava ir para Forks.

Precisava ir para casa.

...

Só havia uma única pessoa em Nova York que eu poderia considerar meu amigo.

A única pessoa que ficava ao meu lado independente das escolhas que eu tomava.

Jake.

— Você o que? — ele gritou quando o informei que estava voltando para Forks.

— Preciso ir para casa, falar com meus irmãos e resolver algumas pendencias...

Jake estreitou os olhos. Ele sabia que havia algo de errado, Jake sempre sabia quando eu estava escondendo algo, talvez ele fosse a pessoa que mais me conhecesse no mundo, se não a única.

— Você está escondendo algo de mim – não era uma pergunta e eu não precisei confirmar suas suspeitas. Ele suspirou e me olhou seriamente. – O que aconteceu Bells?

Eu engoli em seco e mordi o lábio com força.

Talvez vir a sua casa a essa hora da madrugada não tenha sido uma boa ideia, não quando ele me chamava assim, exatamente como papai me chamava.

De repente tudo que eu queria fazer era chorar e me jogar nos braços dele, contar toda verdade e esquecer de tudo. Mas eu sabia que ele me arrastaria até o primeiro hospital que encontrasse e me faria fazer todos os tipos de exames e tratamentos.

— Nada... – menti e ele semicerrou os olhos, eu não conseguia mentir com ele me olhando assim, por isso desviei os olhos e lhe disse o que vinha ensaiando no carro antes de entrar aqui. – Eu só pensei que estava na hora de concertar as coisas e seguir em frente, já fazem 8 anos...

Jake sabia da minha historia, eu havia contado a ele alguns meses depois que terminamos. Nós havíamos namorado por poucos meses, ele era um cara legal e me fazia sentir mais viva e como eu era antes da mamãe ficar doente e morrer. Mas não durou muito, Jake era tudo que uma mulher poderia sonhar, mas não era pra acontecer, nós éramos mais como amigos que namorados e ele se tornou quase um irmão pra mim depois que terminamos.

— Bells... – ele se aproximou e me puxou para um dos seus famosos abraços carinhosos. – Você sabe que pode contar comigo, não sabe?

Aquilo doía, doía mentir para ele, doía à possibilidade de nunca mais vê-lo de novo, mas eu tinha que seguir em frente.

— Sei... Eu sei muito bem disso.

Envolvi meus braços ao seu redor e o apertei. Senti algumas lagrimas caírem dos meus olhos, mas não me importei.

Uma parte de mim queria ficar, queria enfrentar isso tudo e contar com a ajuda dele, quem sabe viver por alguns anos... Mas eu não podia fazer isso com ele, não quando sabia o que isso fez comigo.

— Papai?

Nos afastamos ao escutar uma voz baixinha e sonolenta. Olhei para trás e sorri ao ver Selene arrastando um coelhinho de pelúcia azul e esfregando os olhos com sono.

— Sim, meu amor? – Jake foi ao encontro dela e a pegou no colo. Imediatamente ela se encostou a cabecinha no ombro dele e fechou os olhinhos, cochilando.

Ri divertida ao ver a cena.

— Ela não parava de chamar por você – Nessie apareceu pelo mesmo corredor que Selene e olhou para mim. – Oi Bella.

Nessie era a melhor pessoa que existia, depois de Jake. Pensei que ela ficaria com ciúmes de mim por eu ter namorado com Jake antes, mas assim que nos conhecemos ela se tornou uma grande amiga minha. Ela e Jake foram feitos um para o outro, os dois se casaram pouco tempo depois que se conheceram e eu tinha achado muito apressado, mas sabia que eles eram para sempre.

— Oi Nessie – ela veio na minha direção e me abraçou rapidamente. – Como está J.J? – olhei para sua barriga redonda e levemente crescida e ela sorriu.

— Energético como sempre – disse com uma careta e ri. – Está tudo bem com você?

Ela me olhou com aqueles mesmos olhos questionadores que Jake e forcei um sorriso.

— Sim, eu só vim me despedir. Viajo para Forks amanhã ou hoje... Daqui a algumas horas e eu tinha que me despedir de vocês.

Ela franziu o cenho.

— Assim do nada? – perguntou e assenti. – E seu trabalho?

Eu tinha enviado uma mensagem para meu chefe me demitindo antes de vir aqui, algo como “Eu me demito, seu babaca de uma merda!” que não o deixou muito feliz devo dizer.

— Eu dei um jeito – sorri amarelo.

— E você já vai? – perguntou com tristeza e a culpa me bateu.

— Isso é algo que ainda não concordamos  – comentou Jake secamente e Nessia logo compreendeu que ele não estava nem um pouco contente com a decisão.

— É melhor eu deixá-los a sós – ela pegou Selene dos braços de Jake. – Não esqueça de mandar mensagens Bella. – disse antes de sumir pelo corredor.

Jake e eu ficamos sozinhos, um silencio tenso se instalou e ninguém disse uma palavra por um tempo.

— Você não pode ir lá sozinha Bells – ele finalmente disse e suspirei.

— Eu sei que não vou ser bem recebida, mas eu tenho que ir.

— Por quê?

— Porque eu preciso disso, porque eu quero ver minha mãe, porque eu tenho que pedir perdão a Alice e ao Emm, porque eu preciso reconstruir minha vida – desabafei e finalmente o olhei nos olhos.

— Mas por que agora? Por que não depois? Por que está com tanta pressa?

— Porque... – porque eu não tenho tempo! Queria lhe dizer, mas tudo que fiz foi mentir novamente. – Porque eu passei oito anos evitando isso, porque eu não quero mais fugir e não aguento mais viver assim.

Jake tem uma vida, uma família para cuidar e eu era apenas mais um extra na vida dele, uma amiga que não poderia ficar sozinha, alguém que ele se sente obrigado a cuidar porque eu não tenho ninguém. Então não, eu não posso envolver ele nisso.

E mesmo que Alice, Emm ou até mesmo Carlisle não me perdoassem... Mesmo assim eu não deixaria Jake se preocupar por mim. Se fosse preciso eu iria viajar, visitar todos os lugares do mundo e ter uma morte digna, mas eu não faria isso com ele.

Então me desculpe Jake.

— Eu poderia ir com você, mas... – ele ainda está se sentindo angustiado.

— Mas você não pode, eu sei disso – abri um sorriso e toquei seu ombro. – Não se preocupe, eu sei me cuidar e, de um jeito ou de outro, tudo vai dar certo no final.

Eu me odeio por mentir pra ele, mas é preciso, é necessário, eu o amo, mas não quero que ele sofra ou se sinta incapaz.

Puxo-o para um abraço, não sei quanto tempo me resta, mas quero que ele seja feliz, quero ver J.J nascer e me despedir de todos eles com um sorriso, mas se essa for a ultima vez que nos encontramos, espero que ele se lembre de mim do jeito que sou agora.

Então me desculpe Jake.

Me desculpe por não escolher viver.

Me desculpe por abandoná-lo.

Me desculpe por mentir pra você.

Mas obrigada por ter sido meu amigo e ter me ensinado a viver novamente.

— Volte logo – ele avisa com os olhos estreitos e meu sorriso vacila por um segundo.

Eu ia voltar?

— Não fale com estranhos e se sua família fizer alguma coisa para machucar você... – ele fecha os olhos por um segundo e balança a cabeça, como se quisesse espantar um pensamento. – Me ligue e eu vou chutar a bunda deles.

Eu o puxo para mais um abraço e meus olhos queimam pelas lagrimas que querem sair, havia tanta coisa que eu queria dizer, tanto que eu queria agradecer...

— Vou sentir sua falta – sussurro e ele acaricia meus cabelos.

— Eu também Bells.

Me afasto e me viro para ir em direção a porta.

— Tenho que ir, ainda preciso fazer as malas – digo sem olhar nos olhos dele e ele suspira.

— Tudo bem.

Jake me acompanha até a porta da entrada e desço os degraus da varanda para entrar no meu carro e partir, mas nem coloco um pé dentro do carro quando Jake grita meu nome. Olho para trás e lá está ele acenando com um grande sorriso.

— Se cuida, vai dar tudo certo!

Meu corpo paralisa por um segundo e eu não sei o que dizer.

Tento sorrir, mas meus lábios não se movem, tento falar, mas as palavras não conseguem sair.

Levanto o braço e aceno de volta para ele enquanto rezo para que ele não veja as lágrimas que escorrem pelo meu rosto.

Adeus Jake.


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Notas finais do capítulo

Então, o que acharam desse primeiro cap?
Eu sou estudante de saúde e entendo muito isso que Bella tá passando, me inspirei nessa fic com a história de muitas mulheres que passam por esse processo.