The beauty in the snow escrita por Liudi


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Oi gente voltei, essa ideia ficou um bom mês guardada e agora que tenho a apresentação do TCC pra fazer meu espirito procrastinador me obrigou a termina-la.


Essa vai pra Ana que também tá nessa reta final de TCC. Fanfiqueiras sim e graduadas também. Obrigada por todo o apoio de sempre, te amo migs.



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Era apenas mais um dia de neve comum. As crianças corriam adoidadas, concentradas demais em suas brincadeiras para prestar atenção ao seu redor. Pessoas iam e vinham animadas. O deus dos mares perdeu as contas de quantas guerras de bola de neve havia desviado.

  Afinal, de onde vinha toda aquela gente? Deviam estar durante algum feriado humano qualquer.  Enquanto caminhava sem um rumo certo o deus dos mares se perguntou o que havia de errado com toda aquela gente pra estar tão feliz no frio, o verão era muito melhor.

  A neve e a baixa temperatura inviabilizavam a realização de qualquer coisa realmente divertida. Como ficar feliz quando não se podia surfar, nadar ao ar livre ou até mesmo usar bermudas?

  Os mortais eram estranhos, aquilo era um fato do qual Poseidon já estava ciente a séculos. O verão era MUITO melhor, resmungou pra si quando outra criança esbarrou nele pela terceira vez seguida.

  Decidiu então procurar um lugar mais afastado.

  O Central Park era enorme e mesmo com todos os seus milênios de idade o deus não conhecia nem metade do parque. Talvez porque gastasse todo seu tempo na superfície passeando por pelas costas ao redor do mundo.

  As cidades não faziam seu estilo. Cheias demais de pessoas ocupadas demais para prestar atenção nas coisas boas ao seu redor.

  Sem prestar atenção a qual caminho tomou Poseidon se viu de frente para um grande lago completamente congelado.

  O lugar era bem escondido e talvez por isso houvessem tão poucas pessoas por ali. Duas garotinhas completamente empacotadas conta o frio vibravam a cada novo movimento da moça patinando no gelo.

  A moça estava vestida totalmente de preto, desde ao gorro escondendo o cabelo dourado até a roupa térmica que se ajustava muito bem ao seu corpo. Em alta velocidade ela dava saltos e piruetas no ar de forma tão precisa e perfeita que chegava a ser um pouco sobrenatural.

  As duas garotinhas estavam eufóricas e com toda a razão, ela era magnífica. Toda aquela agilidade não parecia humana. E não era.

  Chegando um pouco mais perto, mas não o suficiente para ser notado por ela que estava muito concentrada, Poseidon reconheceu a aura de poder que a cercava. Só não acreditou no que via. Desde quando Atena patinava tão bem?

  Decidiu se aproximar um pouco mais, para ver melhor, mas não o suficiente para que a deusa o notasse ali. Não queria que ela parasse o que fazia estava, não agora que ela também dançava lindamente entre as acrobacias.

  Sentiu-se hipnotizado, seus olhos estavam presos nela, em toda a sua graça e magnitude.

  Com uma posse pra lá de teatral, digna do próprio deus do teatro, Atena encerrou sua apresentação. As garotinhas aplaudiram afobadamente.

  Uma delas, a menorzinha, saiu correndo em direção a deusa.

  A menina já estava perto da deusa quando o gelo fez sua primeira rachadura.

    – Lilly não se mexe. – Mesmo assustada a garotinha ficou imóvel. – Eu vou te tirar daí só preciso que fique paradinha.

  Poseidon podia ver a mente de Atena maquinando a mil por hora. Ela se mexeu um pouquinho, como se testando o terreno. O gelo estalou devagarinho.  Se preparou bem, pois só teria uma chance.

  Lançou-se em alta velocidade em direção a garota a empurrando pra fora do gelo. Foi rápida o suficiente para evitar a queda da garota mas não a sua própria.

  O gelo se partiu. Atena ficou muito confusa quando não sentiu a água gelada na própria pele. Abriu os olhos desconfiada. Lilly e a irmã a encaravam de bocas abertas.

  Também pudera, Atena flutuava sobre a água do lago. Ela só conhecia uma pessoa capaz daquilo. Procurou ao redor e o viu se aproximar correndo.

    – Você está bem? – Estendeu a mão para puxá-la do lago.

  Atena agradeceu mentalmente. Suas pernas estavam bambas depois daquela susto.

    – Sim. Obrigada.

  Soltou da mão dele para se certificar de que Lilly estava bem. A garota parecia um pouco assustada, mas nada mais que isso. Atena pegou a menina no colo, que envolveu seus bracinhos no pescoço da deusa de forma firme.

  Aquela cena parecia ainda mais estranha do que a da deusa deslizando angelicalmente pelo gelo. A deusa que com ele sempre foi tão fria acalmava carinhosamente a menininha em seus braços.

  A maiorzinha também se juntou ao abraço. O abraço foi rápido. A pequena se jogou nas pernas dele, o pegando completamente desprevenido.

    – Obrigada.

  Sem saber o que fazer direito deu alguns tapinhas nas costas da garota. Seu olhar curioso encontrou o de Atena.

     – Ela vê através da névoa. – Aquilo explicava muito. – Aliás, obrigada pela ajuda.

     – Não há de quê.

     – Eu acho que já deu por hoje. Que tal um chocolate quente?

—--

  Poseidon observou bem o local. A cafeteria era pequena e ao mesmo tempo aconchegante. O zumbido das outras pessoas e o cheiro de comida fresquinha era muito reconfortante.

  Lilly e Lucy tagarelaram o caminho todo, encheram-no com várias perguntas sobre seus poderes. E ele respondeu todas, mesmo as mais esquisitas.

  Os três sentaram-se numa mesa no canto perto de uma das janelas enquanto Atena fazia os pedidos.

    – Você fala com os peixes que nem o Aquaman?

    – E o Bob esponja, você sabe onde ele mora? – Lilly estava tão entusiasmada quanto a irmã.

    – Ok, chega meninas. Ele já deve estar tonto com tantas perguntas.

    – Tá bom tia Atena. – Disseram em uníssono.

    – Tudo bem Atena, sério. – Voltou-se para as garotinhas que o olhavam em expectativa. – Sim, eu posso falar com eles. E não, ainda não me encontrei com ele, mas se um dia o encontrar mando lembranças suas.

  Lilly sorriu grande deixando a falta de alguns dentinhos a mostra. Poseidon achou a cena adorável. Ele sentiu Atena o observando enquanto ouvia Lucy falando sobre seu peixinho de estimação.

  Uma outra mulher chegou um pouco antes da garçonete trazer seu pedido.

  Claire, a mãe das garotas. Ela lecionava literatura na universidade Brown e estava em reunião naquela tarde, por isso Atena estava com as meninas.

  O olhar que ela deu a Atena quando soube que aquele era O Poseidon foi no mínimo interessante.

  Os cinco se envolveram na conversa fazendo a refeição muito interessante.

    – Obrigada de verdade por hoje. – Claire abraçou a deusa calorosamente e as meninas fizeram o mesmo.

    – Não foi nada. Se você precisar de algo é só me ligar.

  A moça acenou antes de sair com as duas meninas.  Lucy acenou novamente para a deusa já do lado de fora e Atena retribuiu alegremente.

  Agora estavam só os dois ali. Atena tinha uma atitude serena enquanto tomava sua segunda caneca de chocolate quente.

  Poseidon jamais viu Atena assim tão calma e sossegada. Parecia até outra pessoa.

  Parando pra pensar só naquela tarde Poseidon já havia visto mais versões da deusa do que em todos aqueles milênios de convivência forçada. Ele era a última pessoa com quem ela se abriria e ele entendia totalmente.

  A relação entre os dois era caótica, mesmo que nos tempos atuais não estivesse tão ruim quanto antes. Ainda faltava uma coisa essencial para eles: intimidade.

  Sua curiosidade lhe instigava a agir, porém uma outra parte de si pedia novamente que não perturbasse a deusa. Momentos como aquele, de pura paz entre os dois eram tão raros e ao mesmo tempo tão preciosos que deveriam ser prolongados ao máximo.

  Tratou então de observá-la melhor enquanto bebia sua própria caneca.

  Seu rosto não estava mais corado pelo frio e pelo esforço. Sua expressão serena suavizava suas feições de um modo que ele nunca havia visto antes. Reparou então em como ela ficava ainda mais linda sem todo o peso de suas infinitas obrigações sobre os ombros.

Aquela visão admirável merecia muito ser preservada. Ele se imaginou apanhando dela ao tentar bater uma foto daquele momento, bufando uma risada.

    – O que foi? – Só então ele percebeu que agora ela o observava quase da mesma maneira.

    – Nada, só pensei em algo engraçado.

    – Certo.

  Caíram em um silêncio desconfortável. Nenhum dos dois sabia o que falar, geralmente suas “conversas” aconteciam com o tom das vozes mais elevados e algumas palavras menos elegantes sendo distribuídas.

  Poseidon tentou capturar na memória algum outro momento em que tenha estado cara a cara com Atena sem toda a discussão habitual, mas esse momento não existia.

  Aquilo era uma coisa totalmente inédita entre os dois.

    – Hum... Então como você nos encontrou hoje. – Foi cautelosa.

  Sabia muito bem como ele ficava quando se sentia ofendido. O dia estava agradável demais para ser destruído por uma tempestade qualquer causada pelo ego ferido de um dos deuses mais temperamentais de todo o panteão.

    – Eu não sei. – Deu de ombros. – Eu só tava andando por aí e acabei chegando até ao lago. A propósito, não sabia que você patinava tão bem.

    – Obrigada. Na verdade, obrigada outra vez por ter me impedido de cair.

  Suas bochechas se iluminaram de vermelho vivo. Poseidon se pegou admirado. Como a mesma pessoa que quase lhe arrancou a cabeça a dentadas mais de uma vez podia ser tão fofa?

  Deveria ser um crime.

    – Não foi nada. Achei legal você ter empurrado a Lilly. – Sorriu meio de lado.

  Atena sorriu de volta, um sorriso de verdade. Não o velho sorriso de escárnio que ele já estava acostumado. Que sorriso bonito, pensou consigo.

    – As chances de eu morrer de hipotermia são muito menores. – Também deu de ombros.

    – Claire não vai se importar da filha dela quase ter virado um cubo de gelo hoje?

    – É claro que vai, porém depois nós conversamos. – Acenou como se aquilo não fosse grande coisa. – Ano passado o gelo do lago tava mais firme. Provavelmente a culpa é de todas essas mudanças climáticas.

  Poseidon sentiu uma sensação um pouco estranha na boca do estômago que não soube bem identificar.

    – Vocês estão juntas? – Arriscou a perguntar.

    – Quê? De onde você tirou isso?

    – Sei lá, você disse que depois vocês conversam e as meninas são loiras.

  Atena franziu o rosto como se aquilo fosse o maior absurdo que ela já ouviu. Poseidon conhecia muito bem aquela cara, a deusa a usava muito, muito mesmo.

    – Não seja tolo. Claire é só uma amiga. Não sou a mãe das filhas dela. Cerca de 2% da população mundial é loira e nem por isso todos são meus filhos. Lilly e Lucy puxaram isso da Julie, a outra mãe delas.

  Poseidon se sentiu meio idiota depois da explicação. Ela tinha razão, como sempre.

    – Tem razão acho que exagerei nessa. É que eu senti um pouco da sua áurea quando cheguei perto delas.

    – Julie era uma das minhas filhas.

    – Era?

    – É, ela morreu já faz algum tempo. – Seu olhar se tornou melancólico.

    – Agora eu estou realmente chocado. Quem diria que a senhorita certinha seria capaz de quebrar as regras?

  Atena revirou os olhos pra sua gracinha.

    – Diz o homem que não consegue cumprir uma regra nem se sua existência dependesse disso. As coisas funcionam melhor quando não existem testemunhas, se ninguém viu então eu não fiz.

    – Oh, parece que temos uma rebelde entre nós. Se teu pai te ouve falando assim acho que ele tem um infarto.

    – Não tem porque ele se magoar com uma coisa que não sabe. Nossa, olha só a hora. Eu preciso ir.

    – Certo. Só toma cuidado com os lugares por onde você patina, vai que eu não tô por perto pra te salvar da próxima vez.

    – Idiota. – Bateu de leve em seu ombro ao passar por ele. – Nos vemos por aí.

  No momento em que ela se foi sua cabeça começou a repassar o dia todo várias e várias vezes.

  Se alguém lhe dissesse pela manhã que ele passaria a tarde toda com a deusa da sabedoria, tomaria um café e até dividiria a conta depois, tudo isso sem uma briga sequer ele com toda a certeza ele teria apostado seu castelo do contrário com toda a certeza do mundo de que iria ganhar.

  Agora, analisando tudo o que aconteceu até que tudo tinha sido muito agradável. Atena até que sabia ser uma companhia decente quando queria.

—--

  Na próxima vez que se encontraram, na semana seguinte, Poseidon ainda não entendia muito o porquê. O dia estava frio como da outra vez, porém havia muito menos pessoas nas ruas.

  Poseidon se viu refazendo o caminho até o lago que nem sabia que havia decorado.

  Atena estava sozinha dessa vez, mas nem por isso menos animada. Saltava e rodopiava com agilidade ao mesmo tempo que incrementava movimentos fluidos a coreografia.

  Poseidon assistia encantado para depois distribuir palmas entusiasmadas quando ela terminou. Atena não se assustou com o barulho repentino, já havia sentido a presença dele a um bom tempo.

  Estava um pouco envergonhada com os aplausos, normalmente não tinha plateia quando dançava.

    – Achei que tivesse deixado claro que não estaria aqui pra te salvar da próxima vez.

    – Resolvi me arriscar. Não esperava te ver por aqui tão cedo.

    – Você acreditaria se eu dissesse que me perdi de novo?

    – Talvez. – Sorriu – Seria mais fácil do que te fazer assumir que gostou de me ver dançar.

    – Eu não tenho ideia do que você tá falando. – Piscou se divertindo. – Acho que ainda não vi o suficiente pra decidir se gosto ou não.

    – Não seja por isso. – Com muita graciosidade Atena voltou-se para o meio do rio.

  Iniciou agora outra coreografia, muito mais técnica do que a outra. Poseidon prendia a respiração a cada salto.

  O deus não entendia muito daquilo mas se fosse um jurado com toda a certeza Atena teria conquistado nota máxima com todos aqueles movimentos perfeitos.

   – E agora? – Tinha as mãos na cintura meio sem fôlego.

  Seu rosto corado pelo frio lhe dava um ar juvenil, inocente e também muito fofo.

    – Isso foi bom e é só o que estou dizendo. Não vou alimentar seu ego hoje.

  Atena inclinou a cabeça de lado rindo junto com ele.

    – Não precisa, seu olhar diz tudo.

  Um pio ressoou. Poseidon pôde ver um pássaro vindo a toda velocidade.

  O pássaro deu um rasante sobre o deus e fez com que ele só tivesse tempo de proteger o rosto das garras pequenas mais afiadas.

    – Cuco, não! Ele é amigo. – O  pássaro, uma coruja, chirriou agressivamente. – Não ele não está me aborrecendo. – Cuco chirriou novamente. – Sim, eu prometo que te falo se acontecer.

  Poseidon desprotegeu o rosto bem ao tempo de ver Atena, agora com uma luva de falcoaria, empoleirar a pequena coruja em seu braço.

  O animal com penas em tons variados de marrom e olhos tão cinza quanto os da deusa o olhava ainda desconfiado. Atena acariciava sua cabeça de leve, o bichinho muito satisfeito se inclinava a procura de mais carinho.

    – É impressão minha ou sua coruja me odeia?

    – Mais ou menos. – Atena respondeu no mesmo momento em que Cucu chirriou o que parecia muito ser um sim. – Digamos que ela já me ouviu reclamar muito de você, então não tem uma das melhores imagens sobre você.

    – Ok, mas dessa vez eu vim em paz. – Ergueu as mãos em rendição.

  Os olhos cinza de Cuco eram tão expressivos quanto os da dona e a coruja o encarava como se perguntasse qual era o problema dele. A coruja se virou novamente para Atena, ignorando totalmente a presença do deus, voltando a chirriar.

    – Tudo bem. Te vejo em casa.

  A coruja alçou voo, sumindo no horizonte logo em seguida.

    – Achei sua coruja adorável. – Foi extremamente sarcástico.

    – Ela só precisa ser conquistada. Se você se deixar mostrar pra ela, ela vai se aquecer pra você. Alguns petiscos também ajudam.

    – Certo, vou começar a andar com ratos nos bolsos, só por precaução.

  Atena revirou os olhos enquanto sorria. Tinha aprendido a muito tempo atrás a não duvidar do deus dos mares.

—-

  Papo foi o que não faltou na cafeteria. Sentaram-se na mesma mesa da outra vez, a conversa fluiu leve e divertida.

  Agora que Poseidon descobriu como era bom ter uma conversa civilizada com Atena se viu fazendo o possível para manter as coisas assim. Sem contar o fato de que ela estava realmente disposta a manter aquela amizade que vinham formando.

  Acabou que as saídas para um café se tornaram um hábito semanal, sempre depois de ver Atena dançando. Cuco também aparecia, levando a sério o que disse naquele dia. Sempre tinha algum “petisco” para a pequena coruja.

  Ela já nem estranhava perto dele. E de vez em quando até deixava que ele lhe acariciasse. Segundo Atena, dentro dos parâmetros de Cuco ele estava a um passo de conquistar a feição máxima da ave.

  Atena até tentou convencer o deus a patinar junto de si, contudo ele estava muito mais confortável apenas observando de longe e berrando palavras de incentivo mesmo sabendo que ela não precisava delas.

  Poseidon se via cada vez mais encantado por Atena. Jurava para si mesmo que era só porque ela dançava tão bem e de forma tão linda. No fundo ele sabia o que significava aquilo que surgia em seu peito cada vez que escutava a sua risada ou via seu sorriso.

  Andava fugindo de Afrodite como quem fugia da cruz. Entendia que pra admitir a verdade pra ela teria primeiro que admitir pra si mesmo e se o fizesse não conseguiria lidar com sua amizade com Atena.

  Só ele mesmo pra se apaixonar em tão pouco tempo por uma deusa casta. Atena jamais retribuiria seus sentimentos românticos.

  Então ele se contentou apenas com a amizade. Estava muito orgulhoso do que eles conseguiram construir juntos e em como eles realmente se empenhavam para que desse certo.

—-

  O inverno foi progredindo. Junto com o frio intenso veio também o fim de ano. Com as nevascas casa vez mais frequentes patinar ao ar livre não era mais uma opção.

  Passaram então a trocar seus encontros no parque por tardes inteiras falando sobre tudo e nada se aquecendo em frente a lareira e tomando quanto chocolate quente pudessem aguentar.

  Poseidon descobriu que poderia passar horas apenas observando Atena falando com empolgação sobre tudo aquilo que gostava (ela gostava de muitas coisas!).

  Atena também parecia gostar de ouvi-lo falar, já que o instigava a contar algumas de suas histórias.

  Na verdade, ela parecia muito mais interessada nele no geral. Os dois acabaram gastando uma tarde inteira só falando sobre Atlântida.

  Com o fim de ano veio o aniversário de Dionísio. O deus do vinho compartilhava com o messias cristão a data de aniversário.

  Naquele ano ele foi presenteado com uma grande festa, forma de agradecer por todo o trabalho dele em cuidar do acampamento e até recebeu permissão para beber vinho, de forma moderada é claro.

  As exigências eram claras. Todos deveriam participar da festa.

  Por isso Poseidon não se surpreendeu quando encontrou com Hades e Perséfone e nem quando viu Ártemis e Héstia em suas formas adultas curtindo a festa. Ele próprio estava bem arrumado para seus próprios padrões. Sua camisa de manga comprida tinha a estampa lisa ao invés das estampas hediondas que ele estava acostumado.

   O cabelo e bem penteado e a barba bem feita deixavam claro que ele queria impressionar alguém.

  Por falar nesse alguém, seus olhos vasculhavam a multidão a procura dela. Atena chegou quase por último, com Zeus a tira colo. Ignorando o irmão, Poseidon se focou somente nela, que estava linda.

  O vestido vermelho vinho era de tecido grosso, propício para o inverno. Era justo no busto, remarcava perfeitamente a cintura fina da deusa e terminava solto.

  Com os cachos loiros trancados em forma de coroa no topo da cabeça a deusa esbanjava uma beleza tão cativante que Poseidon não era o único olhando.

  Atena também parecia procurar alguém no meio da multidão. Assim que seus olhos capturaram os de Poseidon seus lábios se dividiram em um sorriso tão angelical que Poseidon se viu derretendo por dentro.

  Estava mesmo irremediavelmente apaixonado e não se arrependia nem um pouco.

  Atena vinha até ele, seus olhares conectados e sorrisos trocados eram uma prova daquilo. Poseidon até se aprumou ao vê-la se aproximar, já ensaiava empolgado o que diria quando Dionísio cruzou o caminho da irmã a arrastando para a pista de dança.

  Sem poder negar o pedido do aniversariante Atena apenas murmurou um pedido de desculpas se deixando ser arrastada.

  O deus dos mares observou Atena conversando serena com um deus do vinho extremamente empolgado. Assim que a música acabou Atena até tentou retornar pra ele mas outro lhe tirou para dançar.

  No início Poseidon esperou pacientemente. Atena parecia estar se divertindo então não tinha porque ele intervir, mesmo que ele quisesse que ela se divertisse com ele.

  Depois da sexta vez ficou irritante. Poseidon já estava no meio do caminho para interromper, Atena o viu chegando e até se animou novamente. Finalmente conseguiriam conversar. Os dois só não contavam com um fator muito importante, a deusa do amor.

  Afrodite apareceu do nada puxando Poseidon para dançar com ela.

    – O que você tá fazendo sua doida?

    – O que você tem adiado a tempos. Conversando com você.

    – Logo agora? Eu tô meio ocupado aqui. – Atena não ficou sozinha por muito tempo. Zeus veio e tirou a filha pra dançar. – Droga, você tá me atrapalhando.

  Afrodite riu daquela sua maneira afetada.

    – Na verdade quem se atrapalhou foi você, não estaríamos aqui agora se você não estivesse me evitando.

    – Eu não tava te evitando. – Retrucou.

    – Tem certeza? – Ergueu a sobrancelha. – Não foi o que pareceu.

    – Tá bom. – Revirou os olhos. – Eu fugi um pouquinho.

    – Awnn que lindinho. Já tá adquirindo as manias dela. – Deu tapinhas com o indicador no queixo dele.

    – Eu não sei o que você tá falando.

    – Oh, é claro que não. Vocês nunca sabem. – Deu um risinho zombeteiro.

    – Quer falar logo o que você quer?

    – Ok, chega de joguinhos. – Ficou séria. – Diga logo pra ela.

    – Pra que? Pra ser rejeitado?

    – Você poderia se surpreender se tentasse.

  Afrodite o soltou no exato momento em que a música terminou. Poseidon ficou ali tentando entender o que tinha acontecido. Se frustrou ao perceber que Atena não estava mais ali.

  Vasculhou novamente o local com o olhar, a encontrando no bar.

    – Noite agitada né. – Quase comemorou por finalmente ter conseguido ficar perto dela.

    – Mais do que eu gostaria. – Atena sorriu por detrás da taça em que bebia.

    – Cansou de dançar?

    – Um pouco, é difícil quando não se tem o parceiro adequado.

    – Talvez você tenha um agora. – Estendeu a mão pra ela. – Me concede está dança?

  Ao contrário do esperado por Atena eles não retornaram para a pista de dança.

  O deus dos mares os conduziu até um dos jardins. Aquele em especial possuía um lago. Sua superfície estava totalmente congelada cortesia da nevasca no dia anterior.

    – Porque nos trouxe aqui?

    – Porque vamos dançar. – Declarou a obviedade da situação.

    – Você, no gelo? Sério?

    – Vós sóis de pouca fé. Porque não espera pra ver?

  Os levou até um banquinho estrategicamente colocado na beira do lago. Atena terminou de calçar seus patins primeiro.

  Poseidon xingava baixinho tentando descobrir aonde engatar o cadarço. Nas inúmeras vezes que viu Atena realizando aquele processo tudo parecia tão fácil.

    – Quer ajuda? – Questionou divertida.

    – Só se você parar de rir. – Ficou emburrado.

    – Eu não estou rindo. – Não conseguiu prender a gargalhada. – Ok, desculpe.

  Se inclinou sobre a perna esquerda dele mostrando como se fazia. Teve que repetir o processo duas vezes antes que ele entendesse o suficiente pra fazer sozinho.

  Mesmo com o laço dado por Atena estando mais bonito ele ficou muito satisfeito.

  Poseidon percebeu o olhar de Atena sobre si porém não conseguiu compreender o que aquilo significava então deixou pra lá.

  Atena se levantou primeiro. Deslizou algumas voltas pelo gelo, testando se estava mesmo firme.

    – Parece firme.

    – Não se preocupe, como já disse antes. Não vou te deixar cair.

    – Eu sei. – E lá estava, o sorriso que sempre deixava o deus sem pose.

  Dessa vez foi Atena quem estendeu a mão pra ele. De mãos dadas deram algumas voltas pelo gelo.

    – Você está melhor do que eu esperava.

    – Sua falta de fé é perturbadora.

  Os dois riram juntos.

  Atena deu um pequeno empurrão com o ombro e ele devolveu. Acabaram num jogo de pega-pega, correndo um atrás do outro por todo o lago.

    – Se você sabe patinar porque nunca aceitou meus convites?

    – Porque eu não sabia. Eu aprendi pra poder andar com você. – Confessou envergonhado.

  Atena não conseguiu mais se conter. Avançou sobre ele e lhe tascou um beijo.

    – Você acabou de me beijar? – Poseidon estava totalmente aparvalhado.

    – Sim. – Atena sorriu segurando carinhosamente o rosto dele entre as mãos. – Você não sabe a quanto eu queria fazer isso.

    – Mas, mas e o seu juramento? – Franziu as sobrancelhas.

  Atena passou a percorrer o rosto dele com a ponta dos dedos, com sua barba aparada ela podia sentir toda a suavidade de seu rosto.

    – Sempre existem brechas. – Deu ombros. – Nunca disse que continuaria casta caso me apaixonasse.

    – Você tá apaixonada por mim? – Poseidon ainda sentia seu cérebro meio derretido.

  Atena estava achando aquilo tudo muito engraçado. Poseidon conseguia ser muito fofo as vezes.

    – É. Você quer que eu desenhe?

    – Desenhar eu não sei, talvez um beijo seja mais eficiente nesse ca...

  Atena não o deixou terminar de falar, selando seus lábios apaixonadamente. Não precisavam de palavras naquele momento, apenas um do outro.

Alguns anos mais tarde...

   Lá estava Poseidon novamente passeado em uma tarde de inverno, só que ao contrário de todos aqueles anos o deus ostentava um sorriso satisfeito no rosto. Conhecia tão bem o caminho até o lago no Central Park que poderia percorre-lo até de olhos fechados.

  Atena já estava lá, se exibindo como fazia costumeiramente. Foi impossível conter o sorriso ao ver a esposa completar mais um salto perfeito.

  Seu sorriso só se alargou ao observar a segunda pessoa patinando pelo lago.

  A garotinha, de não mais que cinco anos, ainda não tinha permissão para saltar como sua mãe, mas isso não queria dizer que ela não poderia correr de um lado pro outro espalhando toda a sua energia caótica.

    – Papai! – Saiu gritando em disparada na direção do deus. Acabou não conseguindo frear tempo e se esbarrou no pai. Os dois só não caíram porque Poseidon tinha ótimos reflexos.

    – Lena cuidado! – Atena berrou vindo atrás.

    – Desculpa papai. – Fez biquinho. Seus olhinhos verdes se enchendo de lágrimas pela possível bronca.

    – Tá tudo bem amor. A gente nem caiu. – Defendeu rapidamente.

  Helena pediu colo, se escondendo em seus braços. Não era segredo pra ninguém que ela era a garotinha do papai.

  Os dois eram muito parecidos em vários aspectos, a começar pela aparência, Helena tinha os mesmos olhos verdes e cabelo escuro e algumas das expressões icônicas. Principalmente aquela que deixava evidente quando ela aprontou.

    – Você demorou. – Reclamou a deusa.

    – Eu sei. Eu tinha muitos documentos pra assinar. Mas agora eu tô aqui. – Se inclinou para beijar a esposa.

  Ficava bobo toda vez que pensava naquilo, em Atena sendo mesmo sua esposa. Aquele era um sonho que virou realidade.

  Helena que ficou no meio dos dois, abraçou o pescoço de Atena também.

    – Ai, ai eu amo tanto os meus pais. – Berrou feliz quando os dois terminaram o beijo.

  Os dois adultos riram de forma gostosa. E começaram a encher a pequena de beijos. Helena estava se remexendo demais então Poseidon a deixou descer antes que ela caísse.

  Esperta que só ela, no momento em que seus pés tocaram o chão a menina saiu deslizando em alta velocidade pelo gelo.

  Poseidon direcionou o olhar para esposa e ela negou veemente.

    – Sua vez de correr um pouco atrás dela.

  E então ele foi.

  Helena estava ficando cada vez melhor sob os patins, quase nunca vacilava. Para sua própria sorte, Poseidon também teve tempo para se aperfeiçoar e só por isso conseguia manter o ritmo insano de Helena.

  No fim da tarde, quando Helena já estava exausta e bem acomodada no colo de Poseidon e Atena segurava firme sua outra mão foi que Poseidon finalmente percebeu a beleza que todos viam nos dias de neve.


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Notas finais do capítulo

E ai, gostaram? Me contem tudo por favor!

Só pra esclarecer umas coisinhas, a Lena é uma OC que eu criei pra primeira fic do ship que eu escrevi e que nunca postei, como eu tava mexendo num desses arquivos antigos e amo a Lena de paixão resolvi fazer essa pequena "homenagem", quem sabe eu não mude de ideia e essa fic venha ai?



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