Os Cavaleiros do Zodíaco: A Lenda de Seiya escrita por Masei


Capítulo 96
Um Segredo na Neve


Notas iniciais do capítulo

Aldebarã desperta e compartilha com Shainasuas impressões do ataque que o derrubou, enquanto Freia abriga em seu retiro os corpos cansados de June, Geist e Seiya.



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Dias atrás.

O Santuário seguia tenso, mas boas notícias foram espalhadas da clínica de Rodório, onde Aldebarã, o enorme Cavaleiro de Ouro, passava seus dias e noites internado sob os cuidados de Kiki e de Alice. Ele finalmente havia despertado e haveria revezamento na guarda do Templo de Áries para que ele pudesse ser visitado por todos que o adoravam. E eram muitos. A primeira visita que recebeu, no entanto, já sentado na cama, de bandagens por toda a cabeça por conta de seus ferimentos e tomando uma cratera gelada de qualquer coisa foi a da Mestre de Armas do Santuário, Shaina.

Afora as amenidades acerca de seus ferimentos, Shaina foi direto ao ponto.

— Touro, preciso que me conte o que aconteceu na Casa de Áries. Ainda é inacreditável que você tenha sido posto a nocaute com apenas um golpe.

O enorme guerreiro tomou de outro gole da sua cratera e finalmente falou.

— É como eu disse à Mu. — começou ele. — Talvez essas pareçam as palavras de um mau perdedor, mas, Shaina, eu ainda acho que não fui derrotado por apenas aquele Guerreiro Deus.

— Um Guerreiro Deus? — perguntou Shaina, que ouvia o relato pela primeira vez.

— Sim. Assim ele se apresentou: era um Guerreiro Deus de Asgard. Mas à essa atura nós já estávamos lutando na Casa de Áries, pois ele me surpreendeu na noite. — confirmou Aldebarã. — Era um exímio guerreiro do gelo, e que a alma de Camus me perdoe, mas tão habilidoso quanto o Cavaleiro de Aquário. Mas, pior ainda, pois parecia ser capaz de mover-se através do gelo. Eu nunca vi nada igual.

— Shaka estava certa. — comentou Shaina ao lembrar-se do Conselho há muitos dias atrás na Casa de Escorpião. — Disse que acha não ter sido derrotado apenas por ele.

— Sim. — falou Aldebarã, muito sério. — Eu tenho certeza de que fui capaz de dar a ele uma boa luta na Casa de Áries, ainda que fosse surpreendente a forma com que se movia. Eu fiz frente a ele. O sangue que se espalhou pela casa não era o meu, mas o do Guerreiro Deus.

— Mas então?

— Havia mais alguma coisa. — falou Aldebarã, sorumbático. — Alguma coisa impossível de detectar, cuja cosmo-energia parecia não existir, mas que estava lá. Nas sombras. E quando eu menos esperei, fui atingido de um lugar em que o Guerreiro Deus jamais poderia estar. E assim caí, derrotado.

— Outro invasor? — perguntou Shaina.

— Não posso ter certeza. Uma sombra, sem dúvidas.

Shaina ponderou pesadamente sobre aquela informação e agradeceu ao enorme Cavaleiro de Touro, desejando a ele breve recuperação. Nos dias que se seguiram, ele recebeu tantas visitas quanto presentes, pois era querido por absolutamente todos no Santuário, fosse nas Casa do Zodíaco ou mesmo entre os mais simples de Rodório. 

Shaina, no entanto, precisava cuidar das estratégias do Santuário, e a confirmação de um ataque direto de Asgard, sem qualquer propósito, era mau agouro para as missões destacadas para o Norte, afinal de contas já há muitos dias e semanas que não tinham notícias do Galeão de Atena e não fazia tanto tempo que os Cavaleiros de Bronze haviam partido para o Norte. Mayura concordava plenamente com sua Mestre de Armas.

— Se foram capazes de enviar dois Guerreiros Deuses para derrubar um de nossos principais Cavaleiros de Ouro, talvez não devêssemos confiar tão cegamente nas cartas que recebemos. — falou Shaina. — Assim como Aldebarã foi golpeado na escuridão, também pode haver algo escondido na intenção dessas cartas.

— O que sugere, Shaina?

— Devemos alertar o Capitão Kaire, assim como Ikki e os outros. Irei pessoalmente para Asgard.

Mayura calou-se, pois compreendia que não se poderia enviar qualquer outra pessoa se quisessem ter certeza de que aquele plano se cumpriria. E assim Shaina partiu para o Norte, enquanto Mayura via mais e mais os Cavaleiros abandonarem o Santuário, deixando-o vulnerável a qualquer ataque do Submundo. Parte de si considerava que aquele era o grande propósito.

 

—/-

 

A porta entreaberta do casarão deixou que parte da neve que caía do lado de fora invadisse a sala principal onde ainda resistiam algumas chamas que queimavam na lareira. Com muita dificuldade, a Princesa Freia conseguiu trazer o catatônico Hagen de volta para seu recanto novamente. Se Hagen conhecia aquelas reentrâncias subterrâneas como a palma de sua mão, Freia também sabia que ao menos uma de suas saídas era exatamente um pouco acima daquela casa, motivo pelo qual Hagen sempre estava por perto.

Em um grande sofá próximo da lareira, ela deixou que o corpo de Hagen caísse para descansar. Ele nada dizia, mas tinha os olhos abertos, como se vidrados; suas duas mãos ainda estavam muito queimadas por ter tentado conter a fúria da lava para que não matasse sua amada. Assim que caiu no sofá, no entanto, Freia notou como ele respirou profundamente e seus olhos finalmente se fecharam.

Ela desesperou-se por um momento, mas então notou que seu coração ainda batia. Ele apenas descansava. Ela o cobriu com um lençol branco e procurou naquele casarão qualquer coisa que pudesse fazer por ele, por suas mãos. Mas ali nada havia, pois no inverno rigoroso em que viviam, tudo que havia ali foi levado para o Palácio. Ela precisava ir à cidade-baixa trazer algo para o rapaz. 

Trocou de roupa com algumas peças que ainda havia naquele local e arrumou como pôde os cabelos antes de sair. Fechou bem a porta dessa vez e dali para alguns bons minutos entrou na cidade-baixa por uma das ruas laterais. Havia poucas pessoas na ruas, pouquíssimas, pois muitas fugiam do frio e outras tantas morreram nos meses que antecederam. Próximo ao centro do pequeno vilarejo ainda funcionavam os poucos estabelecimentos, entre eles uma botica em que Freia entrou fazendo soar um sino acima da porta.

— Bjorn. — chamou ela.

E do fundo da escura botica, um homem de barba hirsuta por detrás de um balcão lhe respondeu de volta.

— Princesa Freia? — parecia assombrado. — Princesa Freia, o que faz aqui?

— Preciso de comida e de alguns medicamentos, o Hagen está com algumas queimaduras nas mãos.

— Mas que inferno de rapaz que vive com as mãos no magma. — reclamou Bjorn, procurando em suas estantes. — Eu já perdi as contas, esse menino parece que não tem jeito. Leve esses bálsamos.

— Muito obrigada, Bjorn.

E na meia-hora que se seguiu, ela escolheu algumas frutas secas, ervas e tanto o mais que precisasse para um dia ou dois naquele casarão. Ao encerrar tudo em uma sacola que trazia, voltou ao balcão novamente quando foi chamada por Bjorn.

— Princesa… — falou ele, todo cuidadoso. — Desculpe-me, sei que não devo me meter em nada, mas ouvi dizer que foi presa novamente ontem à noite.

Freia deixou escapar um sorriso, como se para aliviar o velho homem.

— Lorde Siegfried estava particularmente severo na noite passada. Eu posso ter exagerado um pouco nos versos da noite.

— Tome cuidado, Princesa Freia. Nenhum de nós quer que você tenha problemas. Temos ouvido algumas histórias de estrangeiros entre nós. Hoje mesmo, pela manhã, o violinista levou um desses para o Palácio Valhalla. São tempos estranhos.

— Um estrangeiro? — perguntou ela, curiosa.

— Sim, um garoto muito novo, deve ter se perdido na estrada. E a Val da loja de baixo falou que viu uns cinco estranhos na entrada de Asgard.

Freia quedou-se pensativa, mas agradeceu os remédios todos que levava além dos bálsamos e das comidas.

— Não se preocupe, Bjorn. Vou ficar bem. Agora deixe-me ir ou Hagen acaba por queimar também os pés.

Despediu-se, saiu da botica e viu um certo vozerio e uma movimentação anormal na praça central; ali não havia nenhum guarda palaciano, pois ela imaginava que estavam todos cuidando do Palácio Valhalla na cidade-alta, pois era costume deixar que Asgard-baixa cuidasse de seus problemas, principalmente durante aquele inverno em que o destacamento de guardas era terrivelmente baixo.

Ela aproximou-se de uma meia-dúzia de aldeões que revezavam-se para acossar um trio de miseráveis em pleno dia-cinza. Ela aproximou-se e viu três figuras sofridas: vestiam sobretudos rasgados e velhos, tinham os olhos cansados e, mais do que isso, a língua distante dali. Eram estrangeiros.

— Chega, parem! — pediu a Princesa Freia, e sua posição no Palácio Valhalla fez com que todos de fato cessassem a gritaria.

— São estrangeiros, Princesa Freia. — falou um desses. — Estão a nos invadir.

— Deixem comigo. — falou ela. — Os levarei ao Palácio Valhalla. Veja que já não podem fazer nada.

— Eu a acompanho, Princesa Freia. — ofereceu uma brava mulher, mas ela negou ajuda.

— Não. Voltem para casa. Os levarei até o destacamento do passadiço e logo eles cuidarão deles. Confiem em mim. Vão, fujam desse frio.

 

A Princesa espalhou a multidão e aproximou-se do grupo com os olhos ternos para o trio que pareciam ratos amedrontados da multidão.

— Confiem em mim. — falou ela, em idioma comum.

Colocou a sacola nas costas com o que precisava e os escoltou cidade afora para longe dos olhares curiosos; os levando como um guarda escolta mesmo seus prisioneiros. Mas uma vez longe dos olhos curiosos, mas também esfomeados e com frio, Freia falou-lhes pela primeira vez.

— Vocês estão com Fênix? — perguntou ela.

— Conhece ela? — perguntou Geist, pois June ainda ajudava Seiya a caminhar com enormes dificuldades.

— Sim, estive com ela. Vamos, não falem mais nada. — pediu Freia.

E em silêncio, Geist e seus comandados escolheram confiar naquela estranha, porém respeitada garota. Saíram pela lateral da cidade-baixa para onde a neve cobria a planície e, então, subiram ligeiramente pela encosta da montanha até seu casarão, onde Hagen a esperava. 

Ela abriu a porta e todos entraram rapidamente, com June levando Seiya até mais próximo da lareira para que se aquecesse de alguma forma, quando finalmente notaram a figura deitada e desacordada no sofá. June imediatamente sobressaltou-se em guarda.

— Esperem! — pediu Freia, colocando-se diante de Hagen.

— Nós o conhecemos. — falou June. — Ele foi um dos Guerreiros Deuses que nos atacou no porto.

— Ele já não pode fazer nada. — falou Freia. — Fênix o derrotou.

— Ele ainda vive? — perguntou Geist. 

— Sim. Mas parece um pouco fora de si…

— O Golpe Fantasma. — balbuciou Seiya.

— Como assim? — perguntou Freia para ele.

— Ikki deve tê-lo atingido com o Golpe Fantasma. É uma técnica que destrói a mente de seu oponente, fazendo-o reviver seus piores pesadelos.

— Ah, por Odin, Hagen…

— Ele ficará bem. — tentou acalmar Seiya, que tinha um dos olhos fechados. — Apenas tomará algum tempo até que se recupere.

Freia olhou para Hagen e imediatamente tirou os bálsamos que havia trazido para tratar de suas mãos; e, enquanto cuidava de seu amigo, falou àquele trio de desalentados:

— Fiquem à vontade. Aqui não serão procurados. Todos os guardas devem estar no Palácio Valhalla.

— Disse que esteve com Fênix. — lembrou-se Geist, enquanto June ajudava Seiya a deitar-se em um enorme tapete felpudo no chão. — Foi você quem lhe contou sobre as Safiras e a Caverna de Surtr?

— Sim. — confirmou ela. — Ela partiu com a Safira de Hagen.

— Eu preciso de bandagens. — falou June, interrompendo-as, e Freia mostrou à ela onde ficava o pouco que ali havia, mas que, com sorte, havia trazido também muito da botica para cuidar de Hagen. E ela podia usar como quisesse.

Geist observou que haviam cuidados imediatos que precisavam ser tomados para com Seiya, que oscilava a consciência até que desmaiou de vez, enquanto June trocava as bandagens de suas feridas por novas. O garoto havia perdido muito sangue, mas estava relativamente bem; apenas precisava de descanso, embora ela soubesse bem que assim que ele voltasse a si marcharia para fora daquela casa e para dentro da batalha.

June ainda ajudou Freia nos cuidados com as mãos de Hagen, cobrindo-os também de bandagens para que o creme fosse mais efetivo. E foi só quando finalmente sentaram-se todas com os rapazes atados, cuidados e inconscientes que olharam-se umas às outras.

— O que aconteceu com ele? — perguntou Freia.

— Fomos atacados na floresta por lobos. — respondeu Geist.

— Fenrir. — comentou Freia, que conhecia a garota, e logo perguntou, preocupada. — O que houve com ela?

— Voltou para a floresta com seus lobos. Deixou-nos com a Safira. — confirmou Geist.

A expressão de Freia parecia extremamente aliviada, mas então foram todas surpreendidas por batidas secas na porta do casarão. Olharam-se todas muito preocupadas, quando Freia pediu que as duas se escondessem enquanto ela atenderia à porta. E com June e Geist escondidas nas sombras, Freia abriu a fresta da porta sem encontrar ninguém do lado de fora; e então abriu-a ainda mais para ter certeza de que ali não havia alguém. Pois não havia.

Mas quando baixou a guarda para retornar para dentro, um vulto desceu do telhado e a atacou, levando-a ao chão do casarão. Acima dela uma figura de túnica escondendo o rosto, mas de unhas afiadíssimas apertando-lhe o pescoço.

— Shaina! 

A figura virou-se para o lado e encontrou uma velha amiga chamando seu nome.

 

—/-

 

Enquanto Hilda caminhava de um lado para outro impaciente em seu enorme Salão, Sid e Siegfried estavam ajoelhados e tensos diante de sua governante tão fora de si. O fogo de chão continuava quente e forte atrás deles e moveu-se brevemente quando a porta dupla do salão foi aberta com grande alvoroço por dois guardas palacianos anunciando a entrada de Alberich no recinto.

Ele também ajoelhou-se e trouxe logo a má notícia para todos.

— Hagen caiu.

A face de Siegfried crispou-se e seus olhos perderam-se no mármore à frente dele; Sid também olhou para as colunatas do salão mais distantes, deixando transparecer seu desagrado. Mesmo Hilda, sempre tão austera, sentou-se como se deixasse cair em seu trono; o rapaz era mesmo muito próximo dela e de sua irmã e, mesmo que por um momento, Hilda pensou em Freia e na tristeza que sentiria.

— Mas o que está acontecendo? Primeiro Fenrir deserta e agora Hagen… — perguntava-se incrédulo o enorme Siegfried.

— Onde está Freia? — perguntou Hilda do alto de seu trono e Alberich lhe respondeu.

— Foi vista pela última vez em sua casa nas montanhas.

Imperou certo silêncio consternado entre todos, quando a voz de Sid falou entre os três.

— Isso prova que não devemos subestimar os Cavaleiros de Atena. — Siegfried olhou para ele duramente.

— Sid, você esteve na Grécia, no coração do Santuário, quando foi atacado, mas foi capaz de derrubar um dos famosos Cavaleiros de Ouro, a guarda máxima de Atena.

— Não sem travar uma terrível batalha. — adiantou-se Sid, que lembrava-se ainda dos ossos quebrados, bem como do sangue que deixou para trás. — E é dito que esses garotos foram capazes de vencer todos os Doze Cavaleiros de Ouro. Não devemos subestimá-los em hipótese alguma.

Siegfried parecia fazer uma enorme força para conter sua cólera dentro de si; só não quebrou o piso daquele salão, pois era um lugar demasiado sagrado onde, nos tempos de glória, banqueteavam os maiores Deuses do Norte.

— Não creio que estejam ilesos. — adicionou Alberich. — Os guardas reportaram muito sangue na floresta. E embora Hagen tenha caído, não acredito que tenha sido vencido sem ter dado algum trabalho ao seu oponente.

— Alberich tem razão. — falou Sid. — Ainda que sejam incríveis, mesmo a eles haverá um limite.

— Não chegarão em condições de nos enfrentar. — concluiu Siegfried, levantando-se.

— Mime está nas ruínas. — adicionou Alberich. — Um dos Cavaleiros caminha para sua armadilha.

— Não passarão por Mime. — falou Sid, confiante.

— Acha que podemos confiar nele? — perguntou-se Alberich.

— Fomos obrigados a confiar em Phecda, Mime ao menos é um Asgardiano. — falou Siegfried, com dureza para com ele.

— Fenrir também era filha de Asgard. — instigou Alberich, atraindo um olhar atravessado de Siegfried.

— Mime é filho de um dos maiores guerreiros de nossa história. — lembrou Sid.

— E o matou. — adicionou Alberich. — É um parricida.

— Pois isso dá a grandeza da força de Mime. — encerrou Siegfried, finalmente, antes que fossem interrompidos pela maior mulher de Asgard.

— Não esmoreçam, Guerreiros Deuses. — falou a voz brilhante e decidida de Hilda, que se por um instante deixou-se cair vencida por certa tristeza em seu trono, levantou-se novamente apoiando-se em sua lança de ébano e fazendo brilhar o Anel dos Nibelungos em seu dedo para recuperar o ânimo em seus Conselheiros. — Nossa missão é a missão de Odin e o Anel nos levará à Vitória, eu não tenho dúvidas disso.

E assim calou os corações e humores daqueles preocupados Guerreiros Deuses.

 

—/-

 

Dentro do casarão de Freia, as mulheres dividiram toda a história que haviam passado, seja nos Sete-Mares, as crises no Santuário ou mesmo os desesperos de Asgard. Os homens todos convalescidos na cama sendo cuidados de seus ferimentos do corpo e da mente. Geist e Shaina olhavam a neve que caía pela janela.

— Não acredito que Moisés foi vencido.

— Meko. — corrigiu Geist. — Capitão Meko Kaire.

A amiga olhou para Geist e deixou escapar um suspiro profundo. Geist convidou-a a se sentar junto à June e Freia, pois havia muito o que conversar. Mas assim que Shaina virou nos calcanhares, viu o rosto sujo e machucado de Seiya, embora agora parecesse descansado; ainda era um rosto que calava profundamente seu coração apaixonado, e vê-lo naquela condição era desconcertante, como foi vê-lo por muitos dias também debaixo dos respiradores depois da batalha do Santuário.

June percebeu a breve hesitação e tentou, ao seu modo, acalmá-la.

— Ele vai ficar bem.

Mas Shaina deixou escapar uma risada para esconder seus sentimentos.

— De que me interessa? Por mim ele pode morrer. — falou ela, de maneira ardida.

A Princesa Freia notou a cena de longe e, terminados os cuidados ao seu querido amigo Hagen, também juntou-se a elas, sentadas todas em caixotes ao redor da lareira que ainda queimava. Shaina ficou de pé e não se desculpou pelas marcas que ficaram no pescoço de Freia.

— Então quer dizer que precisamos vencer os Guerreiros Deuses, tirar o Anel dos Nibelungos dessa Hilda e então selar a Relíquia do Mar na Caverna de Surtr.

— Sim. Ikki, Shun e Shiryu já partiram depois que nos encontramos na entrada de Asgard para recuperar as Armadruas deles. — confirmou June.

— Fênix já tem uma das Safiras, aquela que protegia Hagen. — falou Freia para elas.

— E Seiya está com a Safira da garota das florestas. — adicionou Geist, batendo no bolso do sobretudo de Seiya.

— Por que diabos ele está com essa Safira? — perguntou Shaina.

June e Geist entreolharam-se por um instante e foi a Cavaleira de Camaleão quem lhe respondeu.

— Porque ele é um teimoso e um cabeça-dura. E porque a Shiryu é outra desmiolada, que deu a Safira para ele para que ele se juntasse na batalha quando se recuperasse.

— Isso é loucura, ele nem está usando sua Armadura, veja o estado do miserável! — ralhou Shaina, colocando a mão no sobretudo do garoto e tirando a Safira dele.

— Tem certeza disso? — perguntou Geist para a amiga.

— Absoluta. — respondeu Shaina. — Eu me juntarei à batalha e terminaremos antes mesmo dele acordar novamente.

— Tome cuidado. — alertou Freia ao vê-la com a Safira na mão. — As Safiras de Odin são pedras preciosas que contêm um misterioso poder capaz de tomar conta de seu corpo e fazer com que lute de maneira descontrolada. Não deve usá-la em hipótese alguma. Os Guerreiros Deuses a usam dentro de sua proteção para que também lhes dê ainda mais força.

— Mais força? — perguntou-se Shaina. — Entendo. Então deve ter sido por isso que Touro foi surpreendido no Santuário. Ele acreditou ter sido vencido por algo incompreensível, mas na verdade era a força da Safira.

— Disse que ele havia sido vencido, Shaina. — continuou Geist.

— Sim, já está livre de qualquer perigo, mas Touro acredita que foi vencido pela sombra do Guerreiro Deus.

— Uma sombra? — perguntou June.

— Disse que um Cavaleiro foi vencido? — perguntou Freia para elas, e Shaina lhe respondeu de maneira ríspida.

— No Santuário, fomos atacados por um de seus Guerreiros Deuses.

A Princesa Freia imediatamente olhou para o lado, incrédula.

— Sid. — comentou ela. — Sid de Mizar foi o Guerreiro Deus que fez a viagem até a Grécia a mando de Alberich para contactar o Santuário. E quando retornou a nós, nos reportou que foi atacado e que o Santuário realmente se levantaria contra Asgard.

— É mentira. — respondeu bruscamente Shaina. — Ele atacou Touro covardemente na madrugada e quase o matou.

A Princesa Freia não lhe rebateu, pois se aquela batalha era mesmo fruto de uma mentira, talvez até mesmo Sid estivesse tramando com Hilda para que toda aquela confusão realmente acontecesse.

— Os Guerreiros Deuses são fortes assim? — perguntou June.

— Sid é. Junto de Lorde Siegfried, são os Guerreiros Deuses mais poderosos que protegem o Palácio Valhalla. — respondeu ela e continuou. — Mas existe algo mais… 

— As sombras. — adivinhou Shaina, curiosa, lembrando-se do relato de Aldebarã. — O que existem nas sombras dos Guerreiros Deuses?

— Não são todos. Apenas Sid. Eu temo que nem mesmo o próprio Sid esteja consciente disso, mas não posso evitar de sentir que ele possua mesmo uma sombra terrível por trás dele. — os olhos ao seu redor eram curiosos, embora calados. — É que Mizar, a estrela guardiã de Sid, possui uma estrela gêmea chamada Alcor, que a acompanha como se fosse uma sombra na constelação de Karlvagn, hoje conhecida como Ursa Maior.

— Então não são todos os Guerreiros Deuses, mas apenas esse. Sid de Mizar.

— Exato. — falou Freia.

— Nesse caso, eu preciso alertar os Cavaleiros desse perigo no Palácio Valhalla. — falou ela, já guardando a Safira e saindo do casarão.

— Espere, Shaina. — pediu Geist, levantando-se. — Eu irei com você. June, quero que você cuide de Seiya e de Freia. Eu e Shaina partiremos juntas para alertar os Cavaleiros.

— Mas Geist, você também não está usando sua Armadura. — falou June, preocupada com sua Capitã.

— Não se preocupe com Geist. — interrompeu Shaina olhando para a amiga, que sabia exatamente o que ela tinha em mente.

— Não deixe Seiya sair daqui. — pediu Geist.

— Sabe que não vou conseguir fazer isso. — respondeu June.

— Idiota. — adicionou Shaina, olhando para o garoto desacordado.

— Vamos, Shaina.

Despediram-se e as duas amigas saíram para a neve que caía levemente do lado de fora. Olharam-se e viram-se mulheres bem diferentes das garotas que eram nos tempos de Santuário: Geist, uma Capitã vestindo aquele sobretudo de motivos dourados, embora muito surrado, e Shaina, a Mestre de Armas do Santuário, com sua Armadura de Prata altiva e bela.

— Como nos velhos tempos?

— Como nos velhos tempos — respondeu Geist.

Shaina queimou fortemente seu Cosmo de Prata e a Armadura de Serpentário que lhe cobria todo o corpo brilhou e separou-se na forma de Asclépio, a figura que a constelação representava. E com um novo clarão separou-se novamente no ar, vestindo tanto Shaina como Geist, que dividiram a Armadura entre si. Uniram os punhos protegidos pela Armadura de Prata e então saltaram para a neve, cada qual em uma direção.


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Notas finais do capítulo

SOBRE O CAPÍTULO: Desenrolando alguns segredos, como na série clássica, fazendo Aldebarã relembrar sua luta contra Sid. Esse capítulo foi bem difícil, pois eu me coloquei o desafio de tentar escrever a história da perspectiva dos personagens de Asgard, sem ficar seguindo os Cavaleiros de Bronze em cada passo que eles dão, revelando seus passos aos poucos.

PRÓXIMO CAPÍTULO: OLHOS TRISTES

Shun chega às ruínas de Asgard onde re-encontra o violinista Mime em uma batalha que o deixará ajoelhado de tristeza.



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