Os Cavaleiros do Zodíaco: A Lenda de Seiya escrita por Masei


Capítulo 89
Vultos Misteriosos


Notas iniciais do capítulo

À caminho de Asgard, o Esperança de Atena é chacoalhado nos ares por uma tormenta e a aparição de uma sombra terrível do passado, enquanto o Santuário é atacado misteriosamente.



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A madrugada escura e fria do Santuário guardava um céu muito estrelado e um silêncio pacífico por todas as Doze Casas do Zodíaco. Os dias haviam sido longos e calmos, enquanto os habitantes de Rodório aguardavam ansiosos pelo retorno do Galeão de Atena, cujas histórias já eram inventadas pelos bares e praças, mas cujos feitos também já se espalhavam, pois todos sabiam que ao menos cinco Relíquias dos Mares já haviam sido seladas.

Eram tempos tranquilos, de fato, mas tudo mudaria naquela terrível madrugada.

Na ausência de Mu de Áries, que havia retornado para Jamiel com a missão de encontrar e trazer de volta os registros de seu mestre, o antigo Pontífice Sião, cabia a Aldebarã de Touro a guarda do Santuário de Atena. Missão que ele cumpria à risca, de modo que já fazia ao menos uma semana que havia trocado o dia pela noite, e repousava — quando dormia — apenas algumas horas ao dia quando tinha certeza de que Shaina estava em seu posto no sopé da montanha.

Naquela madrugada, ele estava exausto, pois ainda que fosse o mais portentoso Cavaleiro de Ouro, ainda era um homem por debaixo da Armadura. Exausto, mas nem um pouco menos atento. O frio daquela noite não o incomodava, pois ele fazia questão de ficar na entrada de sua Casa olhando para o horizonte. E mesmo naquela altura em que se erguia a Casa de Touro, uma brisa gélida na madrugada soprava de vez em quando.

Um sopro gelado, no entanto, fez Aldebarã descruzar os braços, pois era infinitamente diferente da brisa da noite; com efeito, era um vento terrivelmente gélido seguido de uma cosmo-energia ameaçadora que varreu a entrada da Casa de Touro e imediatamente a congelou. Aldebarã olhou para suas costas e viu no canto dos olhos um vulto que o atacou à Velocidade da Luz e atingiu o enorme Touro com garras afiadíssimas, como um enorme felino da madrugada.

Aldebarã foi lançado de volta para a entrada de sua Casa de Touro, onde levantou-se para batalhar contra seu oponente, a quem podia ver apenas a silhueta;  mais uma vez foi atingido terrível e quase que mortalmente pelo punho daquele atacante, que surpreendeu o gigante gentil e o levou ao chão com seu elmo dourado partido ao meio.

Estava caído o Cavaleiro de Touro.

 

—/-

 

Tortuga parecia ainda um barril de pólvora de tanta gente que convergia naquele porto antiquíssimo e lendário. Após selar a Relíquia do Mar, Geist foi escoltada por Barba-Negra e Capellirossi até seu barco auxiliar, para onde retornaria ao Galeão de Atena.

— Deu sorte dessa vez, Caveira.

— Argo. — corrigiu ela. — Argo Geist.

— Você fica tão diferente assim sem a máscara. — comentou Capellirossi. 

— É mais fácil para respirar. — respondeu ela, apenas.

— Te veremos outra vez? — perguntou a mulher.

— Sim.

— Droga. — reclamou Barba-Negra.

Ela olhou para aqueles dois de maneira muito séria.

— Sei que podem sentir o sal no vento que sopra do norte.

— O Vórtice. — adivinhou Capellirossi.

— E você vai navegar direto para ele. — comentou o Barba-Negra.

— Não. É ele que irá nos engolir. E depois virá para cá. — respondeu Geist olhando para os dois. — O Vórtice está se aproximando.

Os três piratas entreolharam-se adivinhando a enorme tragédia que poderia se instalar dali a algum tempo se os humores do oceano não se acalmassem. Ao Norte, nuvens escuras assomavam na distância; o destino de Geist.

— Cuidem dos Mares que eles cuidarão de vocês. — falou ela finalmente despedindo-se.

— Que o seu lindo navio afunde! — desejou Barba-Negra, que era seu modo de rogar por sorte, talvez.

E assim Geist retornou de Tortuga para o Galeão de Atena, onde encontrou uma tripulação extremamente ansiosa e pronta para a guerra. June e Seiya trajavam suas Armaduras de Bronze e mesmo Lunara tinha suas correntes enroladas no braço; mas Geist lhes contou tudo que havia acontecido e como tinham conseguido passagem livre para o norte.

— Selamos a sexta Relíquia do Mar e agora partiremos ao nosso último porto. — anunciou ela para sua tripulação. — Asgard.

 

—/-

 

À primeira hora da manhã, o Conselho de Atena foi convocado às pressas. Na Casa de Escorpião, Miro caminhava de um lado para o outro, incapaz de ficar sentado à mesa do segundo andar de seu templo, onde teve a honra de receber Aioria, o único Cavaleiro de Ouro que compareceria, pois Mu estava em Jamiel, Aldebarã acamado e Shaka nunca esteve em nenhuma delas. Shaina veio junto dele e sentaram-se cabisbaixos à mesa.

Da saída do templo chegaram Nicol, Mayura, Alice e Saori, consternadas; sentaram-se todos, menos Miro, impaciente, e Mayura tomou a palavra.

— Obrigada, Miro, por nos receber.

— Como está Aldebarã? — perguntou ele, imediatamente.

— Vai ficar bem. — falou Alice. — Está sendo cuidado na enfermaria de Rodório.

— Eu e Alice cuidamos dos garotos quando estiveram na mesma condição. Cuidaremos bem dele. — falou Saori, tentando acalmar o coração de Miro.

— Como é possível um ataque desse tipo no Santuário? — perguntou-se ele, incrédulo.

Shaina socou a mesa, pois ela não estava em seu posto no momento do ataque, mas Aioria, que estava ao seu lado, tentou apartar sua ira.

— Não se culpe tanto, Shaina. Perdoe-me a franqueza, mas se este oponente foi capaz de derrubar alguém como Aldebarã, dificilmente qualquer um de nós poderia ter feito qualquer coisa para evitar. — e então virou-se para todos. — Tudo que encontrei foi o corpo estendido do Touro ainda usando sua Armadura de Ouro. Não havia mais ninguém. Seu elmo destruído de um lado e o corpo de Aldebarã desacordado do outro.

— Disse que havia gelo. — comentou Miro.

— Sim, é verdade. A temperatura da Casa de Touro era gélida como a Casa de Aquário; quem quer que seja esse oponente, deve comandar o frio tal qual Camus ou mesmo Hyoga.

— Acha que pode ser alguém da Sibéria? — perguntou Saori.

— Ou de Asgard. — interrompeu Miro.

Todos olharam para ele de tal maneira incrédulos, mas Mayura interrompeu aquele pensamento imediatamente antes que se descarrilhasse diante daquela crise.

— Não há razão para acreditarmos ser alguém de Asgard. Recebemos do Norte a carta de Jamian e Hyoga: eles estão bem e o Reino de Odin ajudará com a Relíquia do Mar. — falou ela, relembrando os eventos dos últimos dias. 

— Além do mais, nós acabamos de retornar do Cabo Súnion e a sexta Relíquia do Mar já foi selada. É questão de tempo para que Seiya e os outros cheguem em Asgard e selem Poseidon de uma vez por todas. — falou Saori, confiante.

— A verdade é que devemos considerar esse o prelúdio da verdadeira Guerra Santa que nos aguarda.

O silêncio agourento pairou sobre eles quando Nicol deixou escapar o nome que ocupava a mente de todos ali.

— Hades.

 

—/-

 

"Diário de bordo, dia quarenta e dois de viagem. Deixamos Tortuga em segurança, como haviam nos prometido; e, como haviam nos alertado, os mares do norte estão terrivelmente revoltos. Decidimos ascender o Galeão de Atena para escapar das ondas terríveis que chacoalham o oceano, enquanto rumamos em direção ao nosso último destino antes de retornar para casa: Asgard. Ao nível das nuvens, no entanto, descobrimos que a tormenta que chacoalha as águas do mar não é menos poderosa no reino dos céus. Eu deveria ter previsto isso antes. E agora é tarde demais."

O Galeão de Atena chacoalhava com os sopros violentos dos ventos que no mar formavam vórtices e pequenos tufões; Lunara havia recolhido as velas, para que o navio voasse à mercê do oricalco mágico que o protegia, e não à vontade dos ventos terríveis acima das nuvens. O barco ainda estava muito avariado da batalha no Caribe, de tal maneira que talvez fosse até mais prudente que voasse magicamente do que se tentassem navegá-lo nos mares.

Aquela intersecção ao norte do Caribe era conhecida por vitimar embarcações e até mesmo aviões, que afundavam no famoso triângulo de ouro. Mas para chegarem em Asgard, era imprescindível que atravessassem aquela tormenta, para vencerem o tempo que haviam perdido ainda na Amazônia. E assim estavam no ar lutando contra aquela breve tormenta.

Se havia uma sensação de maior segurança por navegarem pelos ares, ela logo se destruiu, pois o que antes eram ventos cujas lufadas os assustavam no céu, rapidamente alteraram-se para um estado de tormenta que em poucos minutos transformou-se em uma terrível tempestade na qual o Galeão de Atena viu-se em seu centro.

Não havia necessidade de qualquer trabalho no convés ou mesmo com as velas, de forma que apenas Geist, Seiya e June estavam no tombadilho, enquanto toda a tripulação protegia-se da tormenta nas galerias inferiores. Além de não ter qualquer motivo para a tripulação colocar-se em risco, a violência dos ventos agora era tanta que nenhuma ordem gritada no convés seria ouvida, soterrada pelos uivos da tempestade.

Era mesmo um caminho sem volta e, adiante da tempestade, Seiya podia ver que uma escuridão lentamente parecia engolir os ventos; trovões relampejavam, raios cortavam o horizonte dos dois lados do Galeão e alguns deles, com efeito, atravessaram o casco, levantando lascas da madeira e colocando fogo em um dos mastros, o qual Pégaso apagou com as mãos nuas, ajudado pela chuva horizontal que passou a varrer o Galeão. Geist gritava qualquer coisa do leme, lutando contra a força dos ventos, tentando alertar June e Seiya, mas sem ser escutada.

A escuridão que antes assomava-se adiante da tempestade finalmente engoliu também todos eles em uma imensidão negra, de lampejos rápidos iluminados por trovões, até que Seiya teve a certa impressão de que tanto ele como o navio haviam sido esticados contra sua natureza, como se estilingados pelo universo. Pois foi justamente o universo que viram assim que a tormenta foi vencida e deixada para trás, pois a escuridão que imaginaram terem engolido o Galeão, e que retornaria à claridade assim que aquela tempestade passasse, manteve-se mesmo quando tudo se acalmou naquele barco.

Um imenso tapete cósmico de todos os lados: estrelas, planetas, asteróides, cometas e toda sorte de evento cósmico ao redor deles. Era como se navegassem de fato na Via Láctea, tal era a beleza do que viam seus olhos. A calmaria fora tão abrupta depois da tempestade que lentamente a tripulação abriu o alçapão das galerias e, um a um, foram todos surgindo, boquiabertos com o que seus olhos vislumbravam.

Mas entre todos eles, Seiya percebeu que havia alguém diferente. Um novo tripulante parado no meio do convés com uma túnica e um capuz escondendo-lhe o rosto.

— Quem é você? — perguntou Seiya, e Geist imediatamente colocou-se ao lado dele.

A tripulação que surgia maravilhada finalmente afastou-se da figura escondida e alta que havia simplesmente materializado-se entre eles. Seiya podia, sem sombra de dúvidas, sentir um Cosmo ameaçador e colocou-se em guarda; June e Geist ficaram ao lado dele, prontas para batalhar, caso aquilo fosse mesmo uma invasão.

Quando o invasor tirou o capuz revelando seus longos cabelos, o peito de Seiya pareceu ter congelado e a cor desapareceu de seu rosto.

Era Saga.

 

—/-

 

O sinal sonoro metálico e agudo apitando em um pulsar frequente; o corpanzil enorme de Aldebarã ocupando duas camas juntas e ainda uma terceira para que lhe coubesse o resto das pernas; fios colados em suas têmporas, para que fosse monitorado pelo moderno sistema clínico que Mu havia herdado naquele casebre.

— Ah, meu amigo. Espero que me perdoe. — disse ela ao lado do enorme Aldebarã, desacordado.

Mu havia retornado de Jamiel e, ao saber da terrível notícia, imediatamente abateu-se de culpa e exigiu ver o enorme amigo, para o protesto de Shaina, que queria a Cavaleira de Áries para proteger o primeiro templo do Santuário, pois ao que tudo indicava eles estavam sob ataque e poderiam sofrer a qualquer instante um novo atentado como aquele. Mas Mu era também a melhor curandeira que tinham em todo o Santuário e, se quisessem Aldebarã outra vez de pé, Mu era a melhor chance que tinham de fazê-lo o quanto antes.

Rodório continuava a viver seus dias tranquilos sem a menor ideia de que a Casa de Touro havia sido atacada. Um claro sinal de que, quem quer que fosse o responsável pelo ataque, poupou os civis e ainda por cima cobriu bem seus rastros, pois nenhum sentinela viu qualquer movimentação estranha naquela madrugada terrível. Na Casa de Áries, Miro de Escorpião caminhava de um lado ao outro enquanto Aioria mantinha-se encostado em um dos pilares que antecediam o templo de Mu.

— Vai me enlouquecer desse jeito, Miro. — falou Aioria, mas o Cavaleiro de Escorpião não deu por ele.

— Um Cavaleiro de Ouro derrubado. Tem algo muito estranho em tudo isso, Aioria.

— Tem razão, Miro.— concordou o Leão. — Ainda que Shaina não estivesse em seu posto, os sentinelas da noite deveriam ter visto algo. Não é possível que quem quer que tenha feito esse ataque tenha se materializado na Casa de Touro.

— Será possível que se teleportou como a Mestre Mu?

— Não. — falou Aioria. — Não é possível se teleportar pelas Doze Casas do Zodíaco quando Atena está presente no Santuário.

— Ela ainda está fraca. — comentou Miro, um pouco sem decoro.

— Mas ainda é Atena.

— O gelo…

Os dois Cavaleiros de Ouro escutaram uma voz surgir de dentro da Casa de Áries. Era Shaka de Virgem, trajando sua maravilhosa Armadura de Ouro. Miro não escondeu o sorriso debochado que lhe escapou.

— A excelentíssima finalmente saiu de dentro de seu templo, é?

Shaka nada respondeu e Aioria a manteve sob olhares desconfiados.

— O gelo na Casa de Touro não é comum. — falou apenas.

— O que quer dizer com isso? — descruzou os braços Aioria.

— Cavaleiro de Leão, você lembrará da notável capacidade de Ikki de Fênix em viajar pelas Doze Casas apenas pelo calor do fogo.

E Aioria realmente lembrou-se de como Ikki desapareceu entre as chamas, para só encontrá-la outra vez nas escadarias do Templo do Camerlengo.

— Acha que esse oponente pode transportar-se pelo vento como Fênix pelo fogo?

— É uma possibilidade. — disse Shaka. — Existe outra.

Miro então encarou Shaka longamente.

— A morte de Camus é inexplicável. — falou a Cavaleira de Virgem. — Ele jamais deveria ter sido vencido por seu discípulo, um Cavaleiro de Bronze muito mais fraco do que ele.

— Eu não posso acreditar que semanas enterrada em sua Casa de Virgem e o dia que escolhe ver a luz do sol é para duvidar da capacidade daqueles garotos. — bradou Aioria.

— Escute-me, Cavaleiro de Leão. — falou Shaka com tranquilidade. — Meu tempo na Casa de Virgem tem sido para compreender os espíritos famintos do Mundo dos Mortos. Tenho meditado adiante sobre nossa Guerra Santa.

— E o que isso tem a ver com Camus? — perguntou Miro.

— Ainda posso sentir o seu Cosmo.

— O que quer dizer com isso? — vociferou Miro. — Nós enterramos Camus junto dos outros.

— Eu não sei ainda o que isso significa, Cavaleiro de Escorpião, mas seu Cosmo se recusa a juntar-se ao esquecimento do Inferno.

— Disse que havia outra explicação. — interrompeu Aioria. — O que Camus tem a ver com o ataque a Aldebarã? Não pode estar sugerindo que ele tenha tentado qualquer coisa contra um amigo de ordem.

— Quem saberá?

Miro então ralhou de impaciência com a Cavaleira de Virgem por sugerir tamanha traição de seu adorado amigo.

— Deveria ter ficado na Casa de Virgem, Shaka.

O clima era desagradável entre eles, mas ao menos a Casa de Áries tinha três Cavaleiros de Ouro para guardá-la contra qualquer invasão e impedir qualquer desgraça de subir a montanha e encontrar a Deusa Atena em seu templo, pois diante daquela crise, Saori compreendeu finalmente que não poderia mais andar livremente por Rodório como tanto gostava.

Na Casa de Touro, Shaina olhava os rastros de sangue e de gelo que ainda manchavam as pedras daquele templo esbranquiçado pelo frio. Ela passou a mão em um rastro de gelo que havia no chão, como se tentasse adivinhar o que diabos poderia ter se passado ali; irada, socou o piso quebrando a pedra, ainda inconformada de não estar em seu posto na hora fatídica.

E além da Casa de Áries e Touro, o outro único templo habitado naquela manhã era o de Aquário, onde Nicol debruçava-se sobre alguns volumes trazidos por Mu de Jamiel, que continham anotações, receitas, recados e observações do antigo Pontífice do Santuário, Sião. Não seria possível reparar a imensa perda que Saga havia causado ao conhecimento do Santuário, mas eram também inestimáveis documentos na ausência de qualquer outro.

Entre tantas crônicas e poemas que mais tinham Jamiel como subtexto do que o Santuário, Nicol achou uma preciosidade ao mesmo tempo inesperada, como também muito curiosa. De todos os volumes que havia recuperado, aquele caderno era de longe o mais simples. Ao folhear, no entanto, Nicol não pode evitar escapar um sorriso no rosto sem poder acreditar no que tinha em mãos. Pois era um simples caderno de chamadas assinado pelos jovens e problemáticos Cavaleiros de Ouro.

Nicol sabia que a educação dos Cavaleiros do Santuário era feita na região, mas não podia imaginar que o Pontífice em pessoa cuidasse tão proximamente dos jovens Cavaleiros de Ouro. E refletindo melhor naquela Casa de Aquário em que estava, Nicol não surpreendeu-se, pois sabia que aquela geração de Cavaleiros era extremamente jovem quando foi trazida para o Santuário e iniciado seu treinamento.

Haviam ali naqueles registros comprovações de presença por diversos anos, em diversas matérias e classes. Da antiga matemática aos mais diversos idiomas. A assinatura de todos eles estava ali, de Áries a Peixes, e conforme as páginas eram folheadas, Nicol via com clareza como as letras, que antes eram infantis, lentamente amadureciam e tomavam a forma de suas próprias personalidades. Afrodite tinha uma assinatura cursiva e belíssima, enquanto Máscara da Morte por muitas vezes assinava com caretas e trocadilhos com seu próprio nome adotado. 

A letra do agora enfermo Aldebarã era desajeitada, a de Camus muito correta e a de Miro quase incompreensível. O que Nicol achou curioso foi como a letra de Saga era, na verdade, muito bela também. 

— Um homem atormentado pelo mal, mas com a caligrafia belíssima.

Adiante no simples caderno haviam notações do desempenho de cada Cavaleiro nas diversas matérias através dos anos e, nas últimas páginas, havia mesmo um recado de cada um deles escrito quando ainda eram pequenos garotos e garotas, muito provavelmente quando o caderno foi usado pela primeira vez. Era adorável e encantador ver o que cada um havia colocado, mas principalmente a nota de Saga foi aquela que mais despertou a curiosidade do estudioso.

"Quero ser o Cavaleiro mais forte de todo o mundo."

A eloquência inocente e até adorável, se imaginarmos na boca de um garoto de cinco anos, consumiu talvez todo o Santuário na loucura do homem que ele havia se tornado. Mas ao refletir sobre aquela profecia autorrealizável que era a nota de Saga, Nicol foi tomado por um calafrio terrível, e então folheou as últimas páginas do caderno com os olhos preocupados. E quando seus olhos notaram o que havia lhe causado tanta estranheza, ele fechou o caderno e levantou-se sobressaltado da mesa.

 

—/-

 

O fôlego havia lhe escapado e Seiya jamais sentiu tamanho frio nos ossos como aquele quando Saga revelou-se o homem de túnica que agora havia invadido o Galeão de Atena.

— Saga.

Seiya não era o único ali a reconhecer aquela face, pois entre os marujos haviam aqueles que lembravam-se do homem comparado a um deus que caminhava por entre os mortais em Rodório antes de seu desaparecimento. E se o nome de Aioros era amaldiçoado e, portanto, reconhecido por toda a região, assim também era o de Saga, elevado à condição de culpado pela crise que havia afundado o Santuário.

Geist e June nunca haviam visto o homem, talvez para sua sorte, mas a hesitação e choque de Seiya, bem como os rostos apavorados da tripulação, não deixaram dúvida para as duas de que, naquele infinito onde estavam, levantava-se um dos piores mortos da recente história do Santuário.

Ele nada disse.

E após o instante de choque, Seiya imediatamente colocou-se em guarda e o encarou, pronto para lutar.

— Eu não posso acreditar que esteja vivo, Saga. — falou ele ao notar a expressão séria do homem que havia atentado contra a vida de Saori.

E só então os olhos pesados de Saga caíram sobre Seiya.

— O que está fazendo aqui? — perguntou Seiya, confuso.

— Vim mostrar a todos vocês o que os espera. — falou, e sua voz era inconfundível para Seiya. — Vim mostrar a todos vocês porque não deveriam ter me derrotado.

E então seu Cosmo de Ouro revelou-se, magnânimo, exatamente como Seiya lembrava-se da terrível batalha no Santuário. As estrelas que luziam no horizonte do universo como pontos brancos transformaram-se em rabiscos fortes no escuro do infinito, enquanto todo o Galeão parecia ter sido esticado de forma impossível e chacoalhado com violência como se o barco singrasse com velocidade impossível todo o universo.

O madeirame do Galeão rangia alto, como se o barco estivesse sendo sofrendo uma imensa pressão; a tripulação segurava-se como podia e Seiya mantinha Saga em sua visão tanto quanto conseguia, mas em um piscar de olhos notou que aquele enorme homem simplesmente desapareceu da sua frente e da visão de todos. 

Assim como o Galeão finalmente parou de acelerar, navegando lentamente em suspensão animada por um mar de estrelas do universo. Não flutuava pela Via Láctea, como antes, mas havia, de fato, um rio escuro que refletia as estrelas do céu enquanto o navio rumava para uma noite eterna que se descortinava no horizonte.


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Notas finais do capítulo

SOBRE O CAPÍTULO: Introduzindo mistérios pra preparar o terreno para o futuro. Aquele típico capítulo de amarrar algumas coisas, revelar algumas outras e preparar pontas para resolver lá na frente. Vem comigo! =)

PRÓXIMO CAPÍTULO: A FOME ETERNA

Geist e seus comandados têm uma amostra grátis das ameaças que estão por vir, enquanto a Colina das Estrelas é testemunha de uma descoberta mortal.



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