Os Cavaleiros do Zodíaco: A Lenda de Seiya escrita por Masei


Capítulo 54
Shaka Abre os Olhos


Notas iniciais do capítulo

A luta entre Ikki e Shaka avança, os tormentos de Virgem não derrubam Fênix, portanto Shaka decide usar sua técnica máxima. O Tesouro do Céu.



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A Casa de Virgem está silenciosa e sob os pés de Shaka estão os quatro Cavaleiros de Bronze apagados de suas consciências. A destruição causada por seu enorme Cosmo dourado havia sido muito mais do que aqueles Cavaleiros poderiam suportar.

— Fênix deve ter caído no Inferno ou no Mundo de Asura. Já está tudo acabado.

Não estava, pois Ikki aproveitou-se de que Shaka estava muito próxima ao seu corpo e levantou-se repentinamente com seu Cosmo aceso para atingir o cérebro de Shaka com seu Golpe Fantasma. À queima-roupa, a Cavaleira de Ouro não teve como desviar, terrivelmente surpreendida; a técnica da Fênix varou seu cérebro e arrancou o elmo da Armadura de Virgem.

Ela tremeu alguns segundos sem seu elmo e sua voz parecia surpresa.

— Não posso acreditar que ainda esteja viva mesmo depois de ser atingida pelo Ciclo das Seis Existências. — falou Shaka. — Será possível que você é imortal como a Ave Fênix?

— Nem o Inferno, muito menos o Mundo dos Asuras me suportaram e por isso me enviaram de volta. — falou Ikki com deboche. — E agora é a sua vez de visitar o Inferno. Diga-me Shaka, qual dos Seis Mundos você prefere?

Mas Shaka começou a rir dela.

— Infelizmente, os Seis Mundos são apenas para os tolos. Eu sou Shaka de Virgem, a Cavaleira mais próxima dos deuses e meu caminho é outro. — sua risada continuava. — Essa sua técnica mental é realmente ridícula, Fênix. Ela depende de algo que está muito distante de meu coração. Coisas como o medo, a dúvida, a hesitação ou preocupações são coisas que estão curadas em meu peito. 

A mente sem mente. A mente esvaziada.

— Nada pode fazer para me deter. — falou Shaka, finalmente.

Ikki virou-se para encarar Shaka, que estava de costas para ela, quando escutou novamente Shun gemer, agora mais ao seu lado. Viu que aos poucos ele recobrava alguma consciência.

— Shun! — gritou ela, correndo até o irmão que estava ao lado de Seiya e Shiryu, ainda desacordados.

— Ikki, Ikki é você? — emocionou-se ele abrindo os olhos com muita dificuldade. — Você veio mesmo nos ajudar?

— Sim, Shun. Estou aqui agora. Ei, Shun, fique comigo, tenha forças. — falou ela, pois Shun parecia oscilar entre sua consciência. — Eu pude sentir o seu cosmo brilhar enquanto eu repousava na boca do vulcão. Seu cosmo é brilhante como você não imagina, Shun.

O Cavaleiro de Andrômeda abriu novamente os olhos um pouco que fosse e viu que Ikki sorria brevemente para ele.

— Descanse, Shun. — pediu Ikki.

— Não podemos. — falou Shun com a voz embargada. — A Saori. Ela… ela está ferida na Casa de Áries, precisamos chegar até o Camerlengo, Ikki. Só ele pode tirar a flecha do peito de Atena.

— Uma flecha no peito?

Ela então olhou para as costas de Shaka, que continuava parada como uma estátua, quando poderia tê-los matado todos ali. Era desconcertante sua postura, mas Ikki percebeu que Shun aos poucos parecia apagar-se novamente, por mais que ela tentasse mantê-lo acordado, suas forças pareciam ter sido sugadas para dentro de si. Shun foi capaz de falar uma última coisa para Ikki. Um alerta.

— Não deixe que Shaka abra os olhos.

Os olhos de Shaka.

Ikki sentiu o peito pesado, mas levantou-se para lutar contra a Cavaleira de Virgem. Ela caminhou para mais próximo da figura imponente de Virgem.

— Diga-me, Shaka, se é tão iluminada como diz, como pode se opor a tudo isso? Por que não quer ajudar Atena? — perguntou ela.

— Atena está ao lado do Camerlengo. — disse ela, estóica novamente.

— Está enganada! — tentou Ikki. — E ainda que isso fosse mesmo verdade, uma garota ferida mortalmente não deveria ser motivo suficiente para que a ajudassem?

— Ela é uma traidora. — falou Shaka muito duramente, sem se virar. — Assim como são esses inúteis caídos ao seu lado.

Ikki cerrou os punhos de ódio.

— Não vou permitir que fale assim de nenhum deles! — vociferou ela. — Não deixarei que fale assim de meu irmão ou de seus amigos que me acolheram!

— Que bonita fraternidade. — debochou Shaka.

— Inferno. Nesse caso eu já entendi que você já está perdida dentro do seu enorme ego, de nada vai adiantar falar com você. Vou acabar com a sua vida aqui e permitir que meus amigos sigam em frente.

De costas, a voz de Shaka era resoluta.

— Tem certeza disso, Fênix?

— Absoluta. — respondeu ela com fúria.

— E se você voltar ao Inferno?

— Quem verá o Inferno é você! — ameaçou Ikki.

— Tem mesmo certeza disso, Fênix?

Seu Cosmo levantou-se na Casa de Virgem quando suas mãos adotaram novamente o gesto da roda de Dharma.

— Ainda sinto os resquícios do Ciclo das Seis Existências em seu Cosmo.

O Cosmo da Cavaleira de Virgem era muito forte e Ikki sentiu-se terrivelmente atraída para seu corpo, atraída como se a gravidade a puxasse na direção daqueles cabelos escuros que lhe caíam pelas costas. Ao seu redor a realidade se distorceu e se apagou.

 

—/-

 

As batidas secas e distantes na madeira, como um pequeno tambor agudo de rituais. Era o único som que ouvia Ikki em uma imensa colina escura, de terra acidentada e cinza; muitos espinhos espalhados pelo chão e centenas de milhares de pequenos montes de pedra empilhada como um enorme cemitério de guerra.

— Aqui é a Margem da Penitência. — ouviu a voz de Shaka lhe falar pelas costas.

Olhou para trás e viu também que ela estava ali. Sua fabulosa Armadura de Ouro era a única coisa naquele lugar que vibrava em cor, de forma que mesmo suas mãos, sua armadura e o sangue que lhe escorria dos ferimentos eram todos ou brancos ou pretos e muitos tons entre eles. 

— Esse é o Rio Sanzu, que leva ao Submundo. — completou Shaka. — É o lugar onde as crianças que morreram prematuramente vêm para construir uma torre de pedra para os seus pais. 

Ikki olhou e viu que aquelas pequenas torres de pedras cobriam toda a planície e as elevações adiante. Eternamente, o pequeno tambor agudo soando no horizonte. Deserto. Um deserto terrível.

— Diga-me, não é você que vem lá andando, Fênix?

Quando a garota olhou para a direção que Shaka apontava viu uma criança muito sofrida vestida em farrapos aproximando-se. Era mesmo ela. Quando tinha ainda quatro ou cinco anos. Trazia no colo um enxoval escuro com um bebê. Se era ela quando mais nova, aquele bebê só poderia ser uma pessoa. Procurou na colina o rosto de seu irmão, mas então não estavam mais na Casa de Virgem. Era Shun, pois era mesmo seu irmão querido dentro daquele enxoval.

Era ela a criança que vinha, uma garotinha com os cabelos armados carregando seu irmão menor e caminhando de pés descalços pelos espinhos pontiagudos daquela planície. Um caminho difícil e terrível, que Ikki não lembrava-se nunca de ter feito antes.

Mas lembrava-se perfeitamente de que, embora não tenha estado antes naquele lugar terrível povoado de pequenas torres empilhadas de pedra, sem dúvida havia feito aquela mesma caminhada dolorosa com seu irmão no colo. Buscou no peito o pingente de Shun, mas então lembrou-se de que o havia devolvido ao seu querido irmão, agora distante dali. Encontrou no lugar a ponta de flecha, que Helena havia lhe dado na Ilha Canon.

— Veja, Fênix, algo está acontecendo.

Ikki olhou outra vez para a garotinha que era ela, cada vez mais perto, e percebeu que aos poucos a garotinha foi tendo dificuldades para seguir, como se o peso da criança aos poucos fosse crescendo mais e mais, tornando sua travessia muito complicada.

— O que está acontecendo, Shun, por que está tão pesado? — ouviu Ikki sua própria voz de criança naquela garotinha.

Os pequenos pés daquela garota afundavam-se cada vez mais nos espinhos da travessia, fazendo com que seu sangue se espalhasse por todo lugar. E a cada passo que dava, a pequena Ikki chorava e junto dela chorava também o bebê que vinha dentro do enxoval. Era como se carregasse uma enorme pedra.

— Ikki. — ecoou a voz de Shaka, sugerindo: — Se ele está pesando tanto, deveria soltá-lo. 

A garotinha olhou para todos os lados procurando quem lhe falava.

— Eu jamais vou soltar ele. Jamais! — respondeu a voz da criancinha.

— Se você não soltar, vocês dois vão cair aqui. — tentou Shaka. — Livre-se do fardo que é seu irmão e salve-se, Ikki. O que está esperando? Sem o seu irmão, você será livre para voar por esse campo de espinhos. 

E riu, mas a risada, Ikki percebeu, somente ela com sua Armadura e mais madura pôde ouvir. A criança não podia ouvir aquela maldade.

— Não, eu tenho certeza que existe um futuro melhor para nós! — gritou a garotinha outra vez para o vento. — Tenho que levar o Shun até lá de qualquer jeito! Não importa o que aconteça. Não importa!

E assim voltou a marchar com seus pés sangrando e o enxoval tornando-se cada vez mais pesado. Deu alguns passos, mas o peso era tanto que a garotinha caiu apoiada em seu joelho, o corpo inteiro tremendo de dor. 

— Ikki. — voltou a falar a voz condescendente de Shaka. — Eu posso salvá-la, mas apenas se estiver sozinha.

— Não! — gritou a garotinha para o ar.

Talvez para deus.

A pequena cambaleou para trás com o peso da criança e, ainda assim, buscou forças dentro de si e marchou adiante.

— Eu sei que tem um futuro melhor lá na frente. — balbuciava a garotinha Ikki para si.

Seus pés sangrando, seus braços cansados, seu rosto encharcado de lágrimas.

— Largue essa criança depressa, Ikki! — ordenou finalmente a voz no horizonte. 

Mas ela seguia. 

— Cale a boca, Shaka! — gritou finalmente Ikki ao ver-se de volta para a Casa de Virgem.

A verdade é que nem por um segundo ela havia parado de gritar, implorando para a garotinha seguir em frente, vociferando contra Shaka. Mas assim como as cores de seu corpo, sua voz também havia se calado naquela ilusão.

Shaka riu. Ikki, desesperada, procurou no templo o corpo de Shun e encontrou-o deitado ao lado de seus amigos, inconsciente.

— Como se sentiu ao ver a si mesma quando criança?

Ikki estava em choque, pois ela atingiu Shaka com seu Golpe Fantasma, mas a ilusão quem experimentou e sofreu havia sido ela própria ao ver seu passado dolorido.

— Está compreendendo agora, Ikki? — perguntou Shaka. — Não importa o quanto você tente, nunca, nunca conseguirá chegar a esse futuro que tanto deseja.

Havia um peso no peito de Ikki ao escutar aquelas duras palavras.

— Agora eu vou acabar com o seu sofrimento. — anunciou Shaka, mudando a postura da mão.

De tal modo que Ikki sentiu seu corpo inteiro torcer-se contra sua vontade. Os pés fincados no chão, mas o quadril terrivelmente torcido no seu eixo, assim como os braços virados contra as cartilagens e o queixo praticamente tocando as espátulas das costas. Ela tremia com o corpo terrivelmente errado.

O Cosmo de Shaka iluminou a Casa outra vez e os olhos doloridos de Ikki reconheceram aquela postura. Ia ser enviada para os Seis Mundos e, paralisada como estava, nada poderia fazer. Ela esforçou-se o máximo que pôde e endireitou seu corpo a muito custo, queimou seu Cosmo e rezou para que suas asas a levassem longe dali. Ikki simplesmente virou as costas e correu, tentando fugir do Cosmo de Shaka. A voz da mulher anunciou para toda a Casa de Virgem o seu destino.

— O Ciclo das Seis Existências.

Ikki correria para o mais longe que pudesse com suas asas de Fênix. Voaria até onde o Ciclo das Seis Existências não pudesse atingi-la. Até onde o Cosmo de Shaka não pudesse alcançá-la. Cruzaria todo o Universo se fosse possível. Seu Cosmo de fogo brilhava poderoso no Universo de imagens infernais que se formavam ao seu redor enquanto ela tentava fugir de todos os Mundos de Shaka.

Milhares e milhares de anos-luz se precisasse e, com efeito, foi o tanto que sentiu suas asas de fogo a carregarem para o mais longe que podiam. Até que a luz dourada do Cosmo de Shaka desaparecesse.

E assim tudo se apagou e Ikki sentiu-se em segurança na escuridão.

Mas o piso irregular em que estava aos poucos revelou-se a palma de uma mão gigante, pois uma luz dourada iluminou aquela sua realidade e Ikki viu-se de pé na palma da mão de Buda.

— Seu poder é semelhante ao de um macaco na mão de Buda. — falou Shaka, calmamente, e sua voz soava outra vez de todos os lados. — Achou que tinha escapado fugindo tão longe do meu alcance? Mas veja que na verdade você mal se moveu.

Quando Ikki outra vez olhou para seus pés, estava a poucos blocos de pedra de onde estivera antes. Novamente na Casa de Virgem. Novamente à mercê de Shaka de Virgem.

Seu peito ofegava, pois de fato havia corrido léguas e léguas infinitas sem mover-se quase nada. Não adiantava fugir de Shaka. Era impossível fugir de Shaka, compreendeu Ikki.

— Já entendi. — falou ela, virando-se para encarar a Cavaleira de Virgem. — Não adianta tentar fugir, eu vou ter que te acertar. Te atacar quantas vezes forem possíveis. Cem vezes, milhares de vezes se for preciso. E vou tentar e tentar e tentar até que eu vença. Assim como fazem as crianças que nunca desistem de levantar pedras na Margem da Penitência!

— Não seja tola. Não lhe resta poder algum para me atacar. O fogo do Inferno já lhe apanhou por completo e agora consumirá a sua Armadura.

Da mão estendida de Shaka, Ikki viu que feixes dourados tomaram as partes de sua Armadura de Fênix, incendiando-a por completo, de tal forma o fogo era violento que o bronze sequer derretia, mas evaporava-se em cinzas imediatamente.

A Armadura de Fênix estava destruída.

O ciclo de desesperança parecia terrível, pois Shaka tirava tudo de Ikki. O erro de Shaka, no entanto, foi ter dado cinzas para a Fênix, pois seu Cosmo de fogo revigorou-se ainda mais forte do que antes, mesmo que sua Armadura já não existisse.

— Você pode tirar a minha Armadura, pode tentar tirar a minha esperança, mas de nada vai adiantar. Eu vou continuar voltando e vou te atacar milhares de vezes até que você morra!

As tochas das colunas próximas a elas tiveram suas chamas intensificadas e a Fênix de fogo formou-se nas costas de Ikki quando ela queimou seu Cosmo furiosa e lançou seu bater de asas.

— Voe, Fênix!

A Fênix de fogo poderosa voou rasante e parou no braço direito de Shaka, sem fazer qualquer diferença para ela.

— O seu poderoso bater de asas é como uma delicada brisa para mim. 

Ikki voltou alguns passos atrás e tentou novamente. Outra vez bateu suas asas de Fênix para jogar-lhe outra ave rasante de fogo. Shaka agora usou sua outra mão para deter a técnica de Ikki. 

— Eu já lhe falei, mesmo que uma vez não funcione, continuarei centenas de vezes até eu cair exausta enquanto eu ainda tiver vida!

A garota retornou em posição e, ofegante, outra vez buscou conjurar sua Fênix.

— Nesse caso, só me resta apagar a sua vida.

Fênix queimou outra vez seu Cosmo e lembrou-se de seu irmão, mas também de Seiya e de Shiryu, caídos naquela Casa de Virgem. Tinha de vencer, custasse o que custasse. Outra vez levantaram-se os fogos daquele templo e sua Ave Fênix voou com ainda mais fúria quando seu grito ecoou pelo templo.

— Ave Fênix!

Shaka experimentou deter aquela Ave Fênix com apenas um dedo e assim o fez com sucesso, não sem antes calcinar seu sari branco, que usava como capa, destruindo o tecido e fazendo com que o dedo estendido de Shaka efetivamente fumegasse com aquela potência toda.

Shaka olhou daquele dedo que parecia um fósforo queimado para Ikki diante de si, buscando ar.

— Ikki, você é uma mulher cuja vida até agora foi como ver o fundo do Inferno. — começou a Cavaleira de Ouro. — Admito que tenha sido um grande erro meu ao tentar fazê-la cair em um dos Seis Mundos sem te matar primeiro. 

— Onde quer chegar com isso, Shaka? — perguntou Ikki, ofegante.

— Terei que te enviar aos Seis Mundos do jeito certo.

Shaka pisou adiante para colocar-se frente a frente com Ikki.

— Você não terá a mínima condição de voltar mais, pois vou lhe mostrar a maior sabedoria de Shaka.

Suas mãos colocaram-se paralelamente uma em frente a outra na altura de seu peito. E o seu Cosmo, como Ikki sentiu, tremeu de uma maneira que até então não havia feito. Mas então não era como se diminuísse ou vacilasse, pelo contrário, era como se começasse a aumentar ainda mais terrivelmente. Como uma pequena onda que retrocede no oceano antes de um tsunami.

Sua voz soou muito calma.

— O Tesouro do Céu.

Dos pés de Shaka pulsaram ondas de energia dourada que, pouco a pouco, começaram a tingir a Casa de Virgem do chão ao teto com vitrais e mosaicos desenhados com a imagem de diversos budas e rosas de Dharma. Cada onda tingia de cores mais fortes, feito um tsunami devastador.

A voz de Shaka reverberava de todos os lados daquele infinito.

— Saiba que o Tesouro do Céu é a verdade do Universo. — falou ela. — Este tesouro é o mundo de perfeita harmonia.

Seus cabelos negros esvoaçavam com seu Cosmo de Ouro.

— O Tesouro do Céu é a suprema arte. A perfeita união de ataque e defesa.

A mão de Shaka estendeu-se na direção de Ikki.

— Veja, Fênix, agora o Tesouro do Céu vai acabar com os seus Cinco Sentidos.

 

—/-

 

Assombrou-se finalmente a Cavaleira de Fênix ao ver que, detida em sua postura, o rosto de Shaka levantou-se lentamente e seus olhos começaram a se abrir. E todas as imagens dos inúmeros Budas inscritos naqueles vitrais pintados na Casa de Virgem, todos eles, junto de Shaka, também abriram seus olhos, em um espetáculo desconcertante.

O corpo de Ikki imediatamente começou a formigar dos pés à cabeça. Ela tentava se tocar, mas não mais sentia seu toque; suas feridas e juntas que antes lhe doíam agora não mais lhe causavam qualquer dor. Seu peso nos pés e os pés no chão ela também não podia mais sentir. Uma sensação tão desconcertante que Ikki viu-se cair de joelhos. Mas então também nada pôde sentir de sua queda. As mãos no chão também ela não sentia. Era como se fosse uma passageira de um corpo que não era seu.

— Ikki, você perdeu o tato. — anunciou Shaka.

Ela podia escutar e olhou assombrada para a figura da Cavaleira de Ouro à sua frente. Seus olhos escuros abertos e maravilhosos encarando-a. Ikki mexia os braços e pernas tentando colocar-se em algum tipo de posição de guarda para lutar, mas a falta de sentir o ar ou mesmo seus músculos tesos era terrível e ela parecia desengonçada.

Shaka lhe sorriu.

— Agora perderá o olfato. — anunciou Shaka, estendendo sua elegante mão.

Ikki sentiu de tal maneira que seu nariz de fato perdeu a capacidade de sentir o cheiro das cinzas que havia queimado naquele templo, de tal forma que até mesmo respirar para ela tornou-se um desafio no começo, puramente por sentir falta do cheiro do ar, se isso era possível.

Ela cambaleou adiante, caminhando com dificuldade, pois era terrível não poder sentir o chão. Tentou acertar um soco em Shaka, mas então havia sido um soco tão fraco que Shaka apenas a deixou passar diante de si, como quem desvia de um trôpego na noite. Ikki caiu no chão.

Mas nada sentiu, para seu desespero

Com horror, conseguiu outra vez colocar-se de pé e encarar Shaka novamente.

— E agora me diga, qual dos sentidos você gostaria que eu tirasse a seguir, Fênix?

— Espere, Shaka! — falou Ikki com extrema dificuldade e com a fala embolada, pois não podia sentir os lábios se tocando, a língua se torcendo dentro da boca.

— Vai suplicar por sua vida, Fênix? — perguntou Shaka.

— Você que tem o poder tão próximo aos deuses, como pode não perceber que o Santuário está tomado por um terrível mal? Ou será que decidiu servir a esse mal? Será que não é digna de usar a sua Armadura de Ouro?

Pairou um silêncio na Casa de Virgem.

— Agora eu já sei qual sentido perderá. Nunca mais ouvirá as bobagens que saem da sua boca.

Sua mão outra vez estendeu-se adiante e Ikki sentiu com horror como o volume da vida simplesmente reduziu em sua mente. Ela tombou para o lado, perdendo o equilíbrio, pois então nada podia sentir e seu labirinto estava completamente perdido sem poder escutar. Caiu de joelhos, pois não podia mais manter-se de pé.

Agora apenas podia ver.

E viu como Shaka sorriu para ela, mas então aquele sorriso morreu no rosto da Cavaleira de Ouro, pois sua atenção pareceu ter sido chamada para outra direção dentro do templo. Shaka virou-se, deixando Ikki sozinha, e ela viu na escuridão da Casa de Virgem que alguém havia chegado chamando a atenção da mulher.

Um Cavaleiro de Ouro.


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Notas finais do capítulo

SOBRE O CAPÍTULO: Aioria despertaria uma hora ou outra e a melhor forma de trazer ele de volta, era colocar o Aioria lutar contra Shaka, pois eles já haviam se enfrentado antes. Era uma forma do ciclo se fechar. A dificuldade era não deixar a luta terminar com o sacrifício de Ikki.

PRÓXIMO CAPÍTULO: A BATALHA DE MIL DIAS

Uma batalha interrompida entre dois Cavaleiros de Ouro reinicia com contornos dramáticos.



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