Os Cavaleiros do Zodíaco: A Lenda de Seiya escrita por Masei


Capítulo 39
O Milagre Ao Lado de Atena


Notas iniciais do capítulo

Assombrados pela força magnânima do Cavaleiro de Ouro, Seiya e Shaina são salvos por um milagre que esteve sempre ao lado de Saori. Ao lado de Atena.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/800469/chapter/39

 Em um escritório recheado de estantes cheias de livros, manuscritos e até mesmo pequenas estatuetas e relíquias antigas, sentava-se um velho  homem de barba já muito branca atrás de uma enorme mesa. À sua frente, sentava-se uma garotinha que mal podia alcançar o chão com seus pés.

A porta do escritório abriu e dela veio correndo outra menininha chamando por seu vovô.

Ela deu a volta na mesa e abraçou o velho Kido.

— Mandou me chamar, vovô? — perguntou ela, contente.

— Sim, pequena Saori. Gostaria de te apresentar alguém.

A pequena Saori olhou curiosa para a garotinha sentada na cadeira à sua frente, ela tinha o semblante sério e um pouco desconcertado.

— Essa é Alice. — apresentou o velho Kido. — Ela vem de outro país e vai passar um tempo estudando em sua escola. Na sua classe, Saori.

— De outro país?

— Exatamente. Eu tenho certeza de que serão grandes amigas, ela pode lhe contar dos castelos que você tanto gosta de seus livros.

Saori olhou para Alice om um pouco de desconfiança, talvez movido pela vergonha de quando se encontra com alguém desconhecido pela primeira vez. Pois Alice realmente estava ali para fazer um curto período de intercâmbio.

Assim como naquela sala, as duas não se falaram imediatamente e nas primeiras semanas de aula, Alice percebeu que aquela garotinha parecia ser muito evitada por todas as crianças do colégio. Quase como se tivessem medo dela. Por vezes, a pequena Saori obrigava algumas meninas e meninos a fazerem coisas por ela, ou até mesmo para ela. Outras vezes, até juntava-se um grupo ao redor dela, quando ela dedicava-se a mostrar algo novo em sua mochila, alguma modernidade que sequer existia para ser comprado, uma roupinha nova, um sapatinho diferente.

Mas Alice também podia ver que, na verdade, a pequena Saori era muito solitária.

Como ela era também. Primeiro, por conta da língua, já que nem todos ali dominavam sua língu natal, ainda que fosse matéria obrigatória na escola, segundo porque Alice também era muito reservada, uma criança mais calada.

Talvez por isso tenham se encontrado.

Pois Alice dali a algumas semanas começaria uma linda amizade com aquela garotinha solitária.

 

—/-

 

Shaina desmaiou nos braços de Seiya.

Fez-se silêncio na noite escura daquele bosque.

— Seiya. — falou-lhe Aioria, gravemente. — Vou lhe poupar a vida hoje em respeito ao coração de Shaina.

— Não, Aioria.

Seiya cuidadosamente deixou o corpo da garota desacordado deitado na grama e levantou-se, furioso. Tirou a camisa rasgada do hospital que ainda balançava de seu corpo e jurou o Cavaleiro de Ouro à sua frente.

— Por que não deteve seu punho? — perguntou ele entre os dentes. — Você pôde vê-la saltar na minha frente, por que não parou o seu ataque?

Ainda que o cosmo do Cavaleiro de Ouro não estivesse manifestado, a Armadura dourada parecia carregar um brilho leve e próprio.

— Aioria. Não vou te perdoar por isso! — falou Seiya, furioso, aparentemente esquecendo-se de que se tratava de um Cavaleiro de Ouro à sua frente, em missão de puni-lo por seus pecados.

Mas então aquilo não era sobre o Cavaleiro de Pégaso e o Cavaleiro de Ouro, ou os pecados do Santuário de Atena. Era sobre Aioria, sobre Marin, sobre Shaina e sobre ele. Sobre pessoas. Seiya esqueceu-se por um momento do abismo que havia entre eles e tinha em mente à sua frente apenas o homem que conhecera no Santuário.

— Mesmo que eu morra aqui, eu vou vou acertar um murro na sua cara, Aioria!

Correu de peito aberto para aquele Cavaleiro de Ouro e, com efeito, Seiya acertou o mais forte de seus socos de forma seca e direta no rosto de Aioria; mas era como se ele tivesse acertado uma parede macia, mas terrivelmente resistente. Seu punho parou na lateral do rosto de Aioria e o garoto viu um filete de sangue escorrer de sua boca.

— Satisfeito agora, Seiya? — perguntou Aioria.

Seiya recolheu o punho dolorido.

— A culpa foi minha. Eu deveria imaginar que ela faria isso. — disse ele. — Perdoe-me, Seiya.

Aioria então deixou Seiya com sua mão dolorida para buscar o corpo de Shaina.

— Levarei Shaina de volta ao Santuário. — anunciou ele. — Guardarei em segredo seus sentimentos.

Seiya olhou para aquele homem e viu retornar para ele olhos confusos e desapontados. Ele parecia desapontar a todo mundo.

— Lembro de ser um garoto valente, Seiya. Por que quebrou o Juramento de Cavaleiro? — perguntou Aioria, e Seiya não teve qualquer dúvida em responder de coração aberto.

— Fiz o que fiz, pois queria encontrar a minha irmã! E faria tudo igual novamente. — falou Seiya, pois conhecia a história de Aioria.

E, de fato, as palavras o incomodaram.

— E agora está ao lado daqueles que desafiam e pilham o Santuário de Atena? — perguntou sem compreender.

— Está enganado, Aioria. — falou Seiya, corajoso. — O Santuário que você tanto defende está invadido por uma terrível força do mal.

— Que bobagem! — protestou Aioria veementemente. — Graças ao Santuário é que as pessoas podem viver em paz nesse mundo.

— Tentaram matar Atena. — acusou Seiya, quase sem perceber a gafe na madrugada

— Eu sei muito bem da história. — tornou Aioria, raivoso.

— Como pode defender o Santuário? — perguntou Seiya.

— Cuidado com o que vai insinuar. — ameaçou a voz do trovão ameaçadora, pois Seiya não titubeou.

— Você nasceu no berço do Santuário e ainda assim é tratado como nós, estrangeiros sujos e sem dignidade. E tudo porque...

— Eu nada tenho a ver com os crimes de meu irmão. — interrompeu Aioria imediatamente, como se tivesse passado a vida inteira rebatendo aquela acusação.

Pois ali, Seiya não fazia uma acusação.

Entre eles, no entanto, tanto um como o outro ouviram risadas abafadas na escuridão da noite. Mais de uma. Uma voz odiosa finalmente se revelou, acusatória.

— Era mesmo de se esperar. — falou.

— Por que não os mata aqui mesmo? — disse outra voz.

— Shaina quis proteger o assassino de Misty. — falou uma terceira.

— A estrangeira Corsara. — tornou a segunda voz, para as risadas abafadas do primeiro.

— Quem são vocês? — perguntou Seiya.

Desceram das árvores escuras três figuras que espalharam-se à frente de Seiya. Três sujeitos usando Armaduras de Prata das mais diversas; um deles tinha correntes enroladas nos dois braços, outro era enorme e extremamente musculoso e o último era mais mirrado e atlético.

— O que significa isso? — perguntou a voz de Aioria para as três figuras. — Por acaso foram enviados para me vigiar? 

— Como irmão do Traidor do Santuário, há sempre uma preocupação de que você não irá cumprir com sua missão. — falou o homem mirrado. — É realmente lamentável, pois que não me ouçam no Santuário, mas aqui me parece que dão Armadura de Ouro para qualquer um.

Aioria tinha ira nos olhos, o que Seiya pôde ver, mas nada falou.

— E que bom que estamos aqui, afinal de contas você ia mesmo deixar vivo dois traidores do Santuário. — falou o homem com as correntes. — Chama isso de cumprir com sua missão?

Aioria não respondeu.

Seiya estava impressionado com a falta de respeito daqueles Cavaleiros de Prata para com o Cavaleiro de Ouro. Sua presença não era menor do que quando havia aparecido; era sem dúvidas um homem imponente e ainda mais incrível com aquela maravilhosa Armadura de Ouro.

Mas ele também lembrava-se muito bem da fama de Aioria no Santuário, pois era ainda mais conhecida e recontada, por toda a região e além, a história sobre como Aioros, seu irmão, um espião dos Gigantes, havia tentado assassinar a Deusa Atena ainda criança, desencadeando uma batalha feroz entre os povos das montanhas e o Santuário. Aioros foi morto, mas seu irmão herdou toda a fúria que o Santuário nutriu pelo traidor por todos esses anos. A história era sempre contada nas praças e tavernas; alguns detalhes adicionados, outros aumentados, alguns esquecidos, mas em todas elas Aioros era um traidor. E em todas elas, Aioria era seu irmão.

Por isso Aioria nada fazia contra aquele desrespeito. Tinha contra ele uma história pesada demais. E cada vírgula sua dirigida ao Santuário era, sem dúvidas, tomada com muita desconfiança.

Ainda era um assombro para Seiya que esse homem desacreditado do Santuário fosse o poderoso Cavaleiro de Ouro.

— Nós iremos dar um jeito em Seiya e Shaina. — falou a voz do homem enorme.

Ele pisou adiante e tinha quase o dobro da altura do Cavaleiro de Prata mirrado.

— Vou vingar a morte de Misty. — e então olhou para o Cavaleiro de Ouro antes de perguntar de forma debochada. — Ou vai tentar nos impedir?

Ele não respondeu. 

O Cosmo prateado do Cavaleiro iluminou Seiya, e seus enormes braços como troncos ergueram-se com violência. Seiya sentiu seu corpo ser sugado para o céu, como se a gravidade se houvesse invertido com força desproporcional respondendo à voz gutural daquele terrível homem. Uma única palavra que demorou-se em sua boca enquanto conjurava sua técnica; Seiya sentiu seu corpo bater contra muitos galhos, antes de cair novamente quando o fôlego do Cavaleiro de Prata acabou de dizer:

— Hércules!

Seiya caiu na sua frente. 

Vencido.

— Muito bem, Algethi. — falou a voz do homem mirrado. — Ao menos a punição você já recitou, portanto não vejo sentido em repeti-la novamente. Muito obrigado, Aioria. — comentou o homem, debochado, aproximando-se do corpo ferido de Seiya.

Ajoelhou-se diante do garoto e sorriu; seu elmo prateado iluminou-se e seu punho desceu no peito de Seiya, mas foi parado antes de atingi-lo. Alguém o segurava. Uma garota.

O Cavaleiro de Prata soltou-se dela, mas ela colocou-se entre eles e Seiya.

— Terão que me vencer se quiserem colocar um dedo nele! — falou ela.

— Ah, mas isso é maravilhoso. — falou atrás deles o Cavaleiro de Prata que usava correntes. — Assim daremos cabo de três traidores e ainda traremos de volta o Báculo de Ouro.

Seiya abriu os olhos com dificuldades e viu Alice à sua frente, muito valente. E do outro lado, próximo ao maravilhoso Cavaleiro de Ouro, estava Saori com um Báculo de Ouro.

— Não tocarão nela! — ameaçou Alice.

Ela saltou uma voadora na direção do Cavaleiro de Prata mais próximo, mas viu-se enforcada com as correntes do outro. Foi ao chão com as correntes prendendo seu pescoço. Sentiu seu corpo sendo arrastado pela grama até ser levantada pelo queixo por uma mão enorme.

— Eu não consigo compreender como insetos que nem vocês foram capazes de vencer Misty e os demais. — falou o dono das correntes.

Ela aproveitou o momento e o acertou no estômago com uma joelhada.

— Ora, ela tem fibra, Dante. — falou Algethi para o colega.

O que se seguiu foi sanguinário. Pois Alice tentava atacar os três Cavaleiros de Prata, mas de todos os lados não apenas não tinha sucesso algum em acertá-los, como cada um a atingia de forma determinante. Sua Armadura de Bronze rachava-se e o sangue começava a jorrar por seu corpo.

— Mii!!! — gritou Saori, adiantando-se para a amiga, mas viu-se barrada pelo corpo enorme do Cavaleiro de Ouro.

Ela observou que o maravilhoso Cavaleiro de Ouro tinha ainda o corpo de Shaina nos braços. Saori continuava a escutar com assombro o som terrível do metal entortando, quebrando, os ossos estalando. Chamava pela amiga de todos os jeitos, mas o Cavaleiro de Ouro continuava à sua frente.

— Esse é o destino dela. — falou ele.

— Cale a boca! — respondeu Saori, ríspida, correndo até a amiga.

— Não, Saori! — pediu ela para não se aproximar. — Não venha até aqui.

Ela ofegava, sua Armadura de Bronze estava em pedaços, tinha sangue vertendo de seu olho, escorrendo por sua boca. Saori ajoelhou-se em desespero apoiada no Báculo de Ouro.

Ele brilhou soando um sino distante no bosque.

Era o fim de Alice. Primeiro sentiu seu corpo envolvido pelas correntes de Dante, e então ouviu terrível a voz de Algethi.

— Hércules! — anunciou ele, jogando o seu corpo para o céu.

Ao cair, encontrou o punho iluminado de Sírio de Cão Maior, o terceiro Cavaleiro de Prata, que acertou Alice no ar e a jogou para espatifar-se contra uma árvore ao lado de Saori.

 

—/-

 

Saori nunca havia visto de tão perto os horrores das lutas entre Cavaleiros. Alice tossia sangue ao seu lado e, ainda assim, se levantava para continuar lutando.

— Pare, Mii. — pediu Saori.

— Nunca. — respondeu ela.

Não aguentava mais perder. Não aguentava mais deixar Saori desprotegida. Não era possível que não fosse capaz de realizar milagres como faziam os demais. Por que justo ela? Não esteve com Saori contra os Cavaleiros Negros, não resistiu ao ataque do Corvo e não esteve com ela quando fora raptada pelo Cavaleiro de Ouro. 

Seu cosmo novamente se ascendeu muito mais fortemente. Saori olhava-a admirada.

E ela se levantou novamente.

Foi envolta pela Corrente de Prata e puxada com violência até os três; outra vez arremessada por Algethi para o alto com seu urro gutural. Sem galhos no caminho dessa vez, no entanto, o corpo de Alice alçou vôo acorrentado para além da copa das árvores. Quando sentiu que as correntes a libertaram, seu corpo começou a cair. Cair infinitamente. Não sabia precisar por quanto tempo caiu.

Pareceram minutos, horas, dias. 

Uma estrela de ouro brilhou no céu escuro e só Alice viu como ela se abriu à sua frente, como se o sol raiasse na madrugada. Em chamas, um centauro alado brandia um arco no céu. Talvez tivesse morrido, pensou.

E não mais caía.

Seu corpo flutuou ainda acima das árvores e ela sentiu-se atraída terrivelmente na direção daquela figura mitológica, sendo engolida por suas chamas e por seu cosmo.

Saori olhava para o espetáculo dourado no céu sem compreender que fenômeno de luz havia engolido Alice. Ao seu lado, o Cavaleiro de Ouro estava assombrado olhando na direção da luz.

— Afastem-se! — gritou ele para os Cavaleiros de Prata tentando alertá-los de um perigo terrível.

Mas os Cavaleiros de Prata dariam cabo de seu plano e seguiriam adiante: saltaram os três na direção da luz de ouro para darem o golpe fatal em Alice. Quando sumiram no alto das árvores, um lampejo brilhou mais forte no céu e seus corpos, vencidos e destruídos, caíram um de cada lado ao redor deles com suas Armaduras despedaçadas.

E, finalmente, o brilho de ouro no céu pousou ao lado de Saori.

Pois estivera sempre ao lado de Atena.

Ela sempre ao lado de Saori.

A Armadura de Ouro no corpo de Alice.

 

—/-

 

Saori viu diante de si como Alice estava, dos pés à cabeça, coberta por uma maravilhosa Armadura de Ouro; mas essa era uma Armadura de Ouro diferente. Em suas costas abriam-se imponentes asas enormes de penas douradas.

— A Armadura de Ouro. — falou Saori, maravilhada. — Ela retornou.

Alice parecia revigorada e sorriu para Saori, com  seu orgulho recuperado. Sentia-se digna, digna de estar ao lado de Atena como sempre estivera ao lado de Saori.

— A Armadura de Ouro. — repetiu Aioria para si.

 

Seu rosto encarando Alice era como se ela fosse um fantasma.

Ele caminhou calmamente até uma árvore próxima e delicadamente deixou o corpo desacordado de Shaina encostado. Caminhou novamente em silêncio até Seiya, esparramado no chão; o tomou também no colo e o colocou ao lado da garota desacordada.

Demorando-se em seus pensamentos, finalmente virou-se para encarar aquela assombração.

— Quem é você? — perguntou Saori.

Sem tirar os olhos da Armadura de Ouro de Alice, ele respondeu.

— Sou Aioria de Leão. — falou gravemente. — E essa é a Armadura de Ouro de meu irmão.

Não sabiam precisar se o que havia em sua voz era uma força vingativa ou um desgosto enorme. Mas havia algo poderoso dentro daquele Cavaleiro de Ouro ao ver Alice trajando aquela Armadura em especial.

— Eu não posso compreender porque a Armadura de Ouro escolheu te proteger, mas já não posso ficar sem fazer nada. À minha frente há duas relíquias Sagradas saqueadas do Santuário de Atena e as duas eu levarei de volta comigo.

Seu Cosmo dourado iluminou o bosque.

— Se o que diz for verdade, então você é irmão de Aioros. — falou Saori.

O Cosmo de Aioria apagou-se imediatamente com o nome proferido.

Talvez tenha até parado de respirar.

Saori não sabia, mas o nome de Aioros era proibido de ser falado. De tal modo que talvez aquela tenha sido a primeira vez em quinze anos que Aioria escutava em voz alta o nome de seu irmão.

— A Armadura e o Báculo de Ouro não foram saqueados. — falou Saori, seriamente. — Mas foram um presente do Santuário para minha missão. Um presente de Aioros, seu irmão, e do Camerlengo do Santuário.

Outra vez o nome ao vento. A loucura estava fora de controle, pensou Aioria.

— Está delirando!

— Saori, afaste-se. — pediu Alice.

Precavida, no entanto, ela mesma se afastou de Saori, colocando-se na lateral do Cavaleiro de Ouro, adivinhando que queimava dentro dele um fogo que poderia colocar Saori em perigo. E, com efeito, das duas relíquias naquela noite, era a Armadura de Ouro que mais o tirava de si.

— Eu não sei que tipo de delírio ou feitiço ou maldição todos vocês estão compartilhando, mas não me interessa. Essa Armadura de Ouro pertence ao Santuário e ao Santuário ela retornará!

Seu Cosmo inflamou e Alice teve de se preparar, pois o Cavaleiro de Ouro dessa vez não usaria apenas seu dedo para punir; seu punho rasgou o ar e retalhou as árvores por muitos metros atrás de Alice. Mas não a atingiu, pois, dotada de asas douradas, a garota alçou voo no céu e caiu rasante na direção de Aioria, com suas poderosas pernas adiante, atingindo o Cavaleiro de Ouro de maneira determinante.

Ele foi ao chão.

Levantou-se imediatamente e Alice viu seu ombro brilhar em um lampejo forte junto de sua poderosa voz.

— Relâmpago de Plasma!

Alice viu-se envolta de relâmpagos, obliterando seu corpo em uma fração de segundo.

Caiu.

E logo levantou-se com dificuldades, para cair novamente.

Assustada. Apavorada.

Era como se tivessem arrancado seus pulmões e derrubado uma montanha em cima dela. Nunca havia sentido nada parecido. Seu peito parou de respirar e, quando levantou-se no susto, ela finalmente buscou o ar, deixando escapar um grito de pavor.

Pavor, porque era para estar morta. Simples assim. Não fosse a Armadura de Ouro, ela não teria voltado à respirar. Alice sentiu a morte.

— Não adianta apenas vestir a Armadura. — falou Aioria. — Jamais será páreo para um verdadeiro Cavaleiro de Ouro.

De Alice, no entanto, uma aura dourada manifestou-se além de seu corpo. Aioria assombrou-se novamente. Seu rosto lívido, pois tinha a mesma sensação que tivera quando aquela Armadura apareceu e protegeu Alice pela primeira vez. Era uma familiaridade terrível.

Da parte de Alice, ela sentia algo dentro de si que era inexplicável. Puxou o punho direito para perto do quadril e a mão esquerda naturalmente abriu-se na altura de seu seio direito. Ela puxou o ar e disse duas palavras que jamais havia dito, mas que pareciam tão certas quanto a noite era escura. Lançou adiante seu punho com força e coragem.

— Trovão Atômico! — soou sua voz de menina pelo bosque.

Aioria foi engolido.

Pelo poder, pelo ouro, pela saudade.

E caiu de joelhos.

— Como… — gaguejou ele. — Como isso é possível?

— Aioria… — Seiya levantava-se próximo a ele. — Você está terrivelmente enganado.

O Cavaleiro de Ouro olhou para o garoto acordando, ainda com suas calças hospitalares e seus ferimentos pelo corpo.

— Aioros não era um traidor. — disse Seiya, finalmente.

Aioria fraquejou diante daquelas palavras, como se estivesse sem ar.

— Escute-me, Aioria de Leão. — falou Saori, aproximando-se, e o homem olhou para ela. — Seu irmão se sacrificou para salvar a minha vida quinze anos atrás. Existe um mal instalado no Santuário, mas ele conseguiu me salvar da morte. E junto com a minha vida, me presenteou também com a Armadura de Ouro, para que eu estivesse protegida em minha missão.

— Não. — negava-se Aioria. — Não, não.

— Eu sou a Deusa Atena. — falou Saori, altiva, com seu Báculo de Ouro ao seu lado.

— Não pode ser. — negava ele. — Atena está no Santuário. Ela está no Templo Sagrado.

— Não está. Há uma mentira no Santuário criada para enganar a todos vocês.

— Não, é aqui que jaz a mentira! — acusou ele. — Lutamos ao lado do Pontífice. Lutamos ao lado do Camerlengo, seu irmão. Lutamos e vencemos guerras juntos e restauramos a paz nesse planeta!

— Pois agora a guerra será comigo. — falou Saori altiva. — Eu sou a Deusa Atena e vou erradicar o mal do Santuário.

Seu báculo soou. Seu vestido tremeluziu na noite. Seu cosmo divino finalmente ascendeu, espalhando-se por todo o planeta, iluminando de luz aquele bosque, pacificando a noite e o peito de todos. Sua presença era um mistério para Aioria, porque reconfortou as dúvidas que havia em seu peito. Não era ameaçador como o cosmo de tantos guerreiros que combateu, mas era a presença mais inabalável que havia sentido. Impossível não se dobrar à ela.

O cosmo amainou-se de volta ao corpo de menina de Saori.

E suas dúvidas retornaram, com menor força, mas estavam novamente em seu peito. Ele finalmente se levantou. Seu Cosmo forte e dourado, feito um leão. Queria lutar, queria punir, queria apagar as dúvidas que se criavam depois de tantos anos enterrando-as em sua mente.

Alice colocou-se novamente à sua frente, mas algo terrível passou a acontecer com ela. As partes da Armadura de Ouro lentamente flutuaram para fora de seu corpo, abandonando-a e remontando a figura do centauro alado à frente deles todos.

O centauro com o arco em mãos moveu a mira de uma flecha que não existia na direção de Aioria. Ele novamente com o rosto atravessado de assombro. Uma flecha de luz zuniu deixando o arco e voou no peito do Cavaleiro de Leão. Só ele viu.

Sentiu-se tomado pelo Cosmo de seu irmão.

 

—/-

 

Naquela noite, fez-se finalmente silêncio. Alice ajudava Seiya a se apoiar, para que juntos ficassem ao lado de Atena. Ela, com seu Báculo Dourado, observava Aioria paralisado à sua frente, catatônico e com os olhos trêmulos. A Armadura de Ouro montada à frente dele.

Aioria finalmente caiu de joelhos. E assim que caiu, imediatamente começou a chorar.

— Irmão… — lamentou-se. — Meu irmão Aioros não era um traidor. E continua ao lado de Atena mesmo depois de morto. 

Olhou então para os olhos de Saori e desviou seus olhos, incapaz de encará-la.

Viu perto de seus pés a barra suja do vestido daquela que era, sem dúvidas, a Deusa Atena. Ajeitou-se, ajoelhado, diante dela, ainda sem coragem de lhe dirigir o olhar.

— Atena. — começou ele com a voz trêmula. — Por favor, me perdoe. Perdoe-me por duvidar e levantar a mão contra você. 

— Aioria. — disse Saori, docemente. — Está disposto a lutar ao meu lado?

A pergunta fez Aioria perder o fôlego, tamanho valor.

— Sim. — respondeu. — Meu pecado só poderá ser perdoado se eu dedicar a minha vida a você.

Saori assentiu.

Dentro de si, no entanto, Aioria tinha uma outra dívida que ele não sabia exatamente como poderia pagar: a de ter duvidado de seu irmão por todo esse tempo. Seu irmão, que o havia treinado, que o havia ensinado o valor de ser um Cavaleiro. Seu irmão Aioros.

Como se respondesse ao coração de Aioria, a Armadura de Ouro brilhou em seu cosmo dourado; abriu as asas de maneira fabulosa e, cavalgando pela abóbada celeste, desapareceu entre as estrelas.

Ele se levantou, acompanhando o cosmo de seu irmão no céu voltando para casa.

— Eu não sei exatamente os desafios que te aguardam a partir de agora. — falou Aioria, de costas para eles. — Mas faça aquilo que tem feito desde sempre. Siga a Armadura de Ouro.

— Sabe para onde ela foi? — perguntou Saori.

— Voltou para casa. — falou Aioria, gravemente. — Para a Casa de Sagitário.

O Cavaleiro de Ouro então buscou o corpo desacordado de Shaina e a tomou pelos braços.

— E eu também voltarei. — anunciou.

— Aioria. — falou Saori. — Tome cuidado. Sua força será necessária.

— Te verei novamente em seu Santuário, Atena.

E, carregando Shaina, desapareceu pela floresta, finalmente. Deixando para trás jovens feridos, cansados e diante de uma terrível missão. 

Ofegante, Seiya estava confuso.

— Sagitário? — perguntou, olhando para as duas.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

SOBRE O CAPÍTULO: Ok, precisamos falar sobre a Alice de Sagitário. Eu sei, o Seiya é o herói que usa a Armadura de Sagitário, mas conforme eu escrevia, ficava claro que a Armadura sempre esteve ao lado da Saori. E Alice também sempre esteve do lado dela. Ao contrário do Seiya. Dentro dessa história fazia muito mais sentido que ela fosse a pessoa a trajar a Armadura. E sim, eu sei que isso vai me complicar pro futuro.

PRÓXIMO CAPÍTULO: AS ARMADURAS DE OURO

O Cavaleiro de Ouro faz também uma visita ao Mestre Ancião dos Cinco Picos Antigos, enquanto Seiya faz uma descoberta impressionante. Somado à tudo isso: uma tragédia que mudará o rumo da batalha.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Os Cavaleiros do Zodíaco: A Lenda de Seiya" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.