Os Cavaleiros do Zodíaco: A Lenda de Seiya escrita por Masei


Capítulo 21
Hyoga, o Cavaleiro de Cisne


Notas iniciais do capítulo

O Cavaleiro de Cisne, Hyoga, terá de enfrentar uma provação terrível em sua terra natal, pois algo misterioso está acontecendo com seu povo e com sua Mestre.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/800469/chapter/21

O Cavaleiro de Cisne resgatou o garoto e o segurou no colo, enquanto Seiya abriu a porta de uma casa indicada por ele. Entraram os dois e Seiya viu como a única cama do aposento estava cheia de folhas e galhos, portanto ele fez questão de limpar o máximo que podia e tirar o cobertor para que Cisne pudesse colocar o menino deitado confortável. Seiya o cobriu com a coberta grossa e Cisne, com muita habilidade, colocou fogo em uma lareira iluminando e esquentando o casebre.

Seiya segurou a mão gelada do menino e ascendeu seu cosmo para deixá-lo mais confortável com o calor de seu universo. Não viu, mas Cisne o olhou curioso enquanto preparava um samovar antigo para esquentar a água.

O menino Jacó ainda tremia de frio, mas parecia mais calmo com o calor do cosmo de Seiya e a presença de seu amigo. Cisne trancou a casa e buscou em um armário algumas ervas que ele rasgou com as mãos e moeu em um pilão caseiro.

Quando a água já estava morna o suficiente, ele embebedou um pano branco na água morna e quando tirou, jogou as ervas no samovar. Depositou com cuidado o pano na testa do menino, que sentiu-se melhor aos poucos.
— Jacó, Jacó… — chamou ele, pois o garoto parecia delirar um pouco.
— Hyoga… — respondeu sua voz frágil.
— O que aconteceu, Jacó? — perguntou Cisne, preocupado.

O garoto desatou a chorar e levantou-se na cama para abraçar Cisne, pego de surpresa. Seiya viu como Cisne o afanou os cabelos desgrenhados e cuidadosamente o deitou outra vez, a boca do menino muito seca.

Hyoga levantou e encheu uma caneca com o chá que reduzia no samovar. Jacó bebeu com tranquilidade, mas com muita sede. Sua garganta aliviada e seu peito esquentado.
— Diga-me, Jacó, onde estão todos?
— Hyoga… Eles… Estão todos nas minas. — a voz do menino gaguejava.
— Nas minas? — perguntou Cisne, confuso.
— Sim. Estão todos trabalhando e morando nas minas. Eu consegui fugir graças ao meu avô que me ajudou. — disse a criança, com a voz quebrada.
— E como está Dedushka?
— Mal, Hyoga. Muito mal. As crianças também estão sendo forçadas a trabalhar. Estão todos doentes. Eu fugi para tentar chegar à estrada e procurar ajuda, mas...
— Já está tudo bem Jacó, não se preocupe. — reconfortou Cisne. — Mas por quê? O que aconteceu? O que o povo quer nas minas?
— Não somos nós, Hyoga. Alguns homens e mulheres chegaram aqui e nos forçaram a trabalhar nas minas. Todo mundo. Sem conseguir dormir e comendo muito mal.
— Esses idiotas. E os Mestres, onde estão os Mestres? — perguntou Hyoga, incrédulo.
— O Mestre Camus não voltou mais. — disse Jacó, e então sua face amuou-se de tristeza e dor. O garoto voltou a chorar.

Havia algo mais ali, Cisne sabia.
— Diga-me, Jacó. — pressionou Hyoga.
— Cisne, tenha calma. — disse Seiya ao lado dele. — Deixe ele chorar.

Seiya se aproximou e sentou na cama também.
— Ei... Jacó, não é? — começou Seiya falando com o garoto em seu idioma, de maneira um pouco enrolada, mas o garoto o compreendia. — Segura minha mão. O Hyoga aqui vai resgatar todo mundo e logo esse vilarejo estará com toda a sua família. Não é verdade? — perguntou Seiya para um Cisne surpreso.
— Sim, não tem por que se preocupar, Jacó. Eu irei agora mesmo para as minas. — anunciou ele se levantando. — Pégaso, preciso te pedir que fique aqui e cuide de Jacó.

Seiya assentiu, mas Jacó levantou-se e puxou Cisne pela camisa.
— Hyoga… a Mestre Cristal. Ela já não é a mesma de quando você partiu. Ela quem trouxe essas pessoas más. Ela está muito mudada, Hyoga.
— A Mestre Cristal? — repetiu Cisne sem acreditar.
— Tome cuidado, Hyoga. Por favor.

Seiya viu no rosto de Cisne que ele estava incrédulo, como se a possibilidade de sua Mestre estar ao lado de pessoas más não fizesse qualquer sentido para ele. Seiya sabia que não faria qualquer sentido se fosse Marin.

Ele ajoelhou-se na cama de Jacó e deu-lhe um beijo na testa; olhou uma última vez para o garoto, pediu a Seiya que cuidasse dele com os olhos e finalmente saiu da casa com o passo e o coração pesados.

A porta bateu atrás dele e ficou o silêncio do casebre, exceto pelo crepitar do fogo na lareira e a respiração do jovem que Seiya tinha para cuidar. Seiya olhou para ele e seu coração apertou, pois viu naquele olhar triste e desesperançoso os sentimentos que tantas noites sozinho ele sentiu. Talvez seu olhar também fosse exatamente aquele.

Certamente era o olhar que sua irmã via quando ele, novo, chorava nos seus braços. Como também era o olhar que ele mesmo via nas crianças do orfanato que choraram em seus braços em noites menos aventurosas.

Seiya ainda tão jovem. Nas viagens e traslados pelo mundo, ainda era uma criança. E ali era uma criança cuidando de outra criança. Ele viu perto da porta uma pedra que cabia na palma de sua mão e teve uma ideia.
— Quer ver um truque? — perguntou Seiya.

O garoto olhou para Seiya e tomou um gole do seu chá ainda morno.

Seiya mostrou a pedra para ele e, perto da lareira, esmagou-a na sua mão como se fosse isopor. Mas o garoto não pareceu nem um pouco impressionado.
— O Hyoga sabe fazer isso. — disse ele. — E ele também congela as pedras. — contou vantagem o pequeno Jacó.

—/-

A floresta de pinheiros siberianos que escondia o vilarejo terminava em outra planície irregular coberta de branco naquela estação do ano. E não muito longe dali ficava uma mina abandonada, já muito explorada de suas riquezas e invadida pela neve. Normalmente um lugar que os mais velhos apenas pediam às crianças para ficassem longe, por conta da altura da queda, mas que não havia mais motivo de ser visitada.

Uma estradinha estreita descia em círculo por uma cratera até a base de uma pedreira enorme, o piso totalmente branco invadido pela neve. Muitas tendas espalhadas de diversos tamanhos e pessoas entrando e saindo de uma caverna empurrando carrinhos em trilhos cheios de pedra.

Um velho de cabelos muito brancos foi ao chão vencido pelo cansaço nas pernas e nos braços; aqueles mais próximos dele foram ao seu socorro, dividindo um cantil de água e o ajudando a se levantar. Muito debilitado, ele foi novamente ao chão. Um guarda aproximou-se dos mineiros, ajudando o mais velho.
— Liberem o caminho. — pediu o guarda.
— Ele não consegue andar. — disse um homem ajudando o velho.
— Liberem o caminho que vocês estão atrapalhando. — repetiu o guarda.
— Não vê que ele não está conseguindo? — retrucou uma mulher muito suja das cavernas das minas.

O homem apoiou o rifle que tinha nas costas e adiantou-se para levantar o velho à força e tirá-lo da linha dos trilhos que impedia aqueles que vinham atrás de sair da mina. De maneira ríspida, ele levantou o velho e o arrastou para a entrada da mina sob protestos dos demais.
— Atentem aos seus carrinhos! — ordenou ele quando largou o velho sem muita cerimônia ao lado da entrada.
— Seu desgraçado! — disse a mulher empurrando o guarda.

Outros homens e mulheres também abandonaram seus carrinhos e funções para protestar contra o tratamento daquele guarda. Amontoaram-se ao redor do homem gritando e protestando.

Ele levantou e apontou o rifle para a turma que começava a se revoltar. Deu alguns tiros para o alto para que todos o levassem a sério.
— Voltem aos seus postos! Voltem a trabalhar! — esbravejou ele, apontando o rifle para os trabalhadores furiosos, mas incapazes de fazer nada a mais.

O guarda, no entanto, percebeu que seus movimentos estavam paralisados, ele não conseguia se mover, o que trouxe a ele uma sensação de desespero. Quando conseguiu olhar para baixo, viu que seu corpo estava rodeado de anéis brancos e frios tremulando ao seu redor.

Por entre os revoltosos, um jovem apareceu trajando sua Sagrada Armadura de Bronze.
— Qu… Quem é você? — perguntou o guarda, paralisado.
— Sou Hyoga, o Cavaleiro de Cisne.

O rosto dos trabalhadores se encheu de brilho com o retorno de seu jovem herói.
— Hyoga… — chamou o velho no chão.
— Dedushka… — ajoelhou-se Hyoga diante dele. — Jacó está em segurança em casa e esperando o senhor.
— Que bom ouvir isso, meu jovem. — disse o mais velho.
— Reúnam todos, convoquem quem estiver nas minas e voltem para casa. — pediu Cisne.
— Nã… Não vão a lugar nenhum. — ameaçou o guarda rangendo os dentes.

O Cavaleiro de Cisne levantou-se e foi até o guarda paralisado por seu círculo de gelo. Colocou a mão no bocal do fuzil que o guarda carregava e congelou a arma, quebrando-a em seguida.
— Seu trabalho aqui está acabado. Volte para o lugar de onde você veio. — ordenou Hyoga liberando o círculo de gelo.

O guarda foi ao chão.

Atrás deles, outros quatro guardas que estavam mais longe e perceberam a confusão finalmente se aproximaram.
— O que está acontecendo aqui? — perguntou um deles, com o rifle já em riste. — Quem é você?

Cisne não respondeu, ascendeu seu cosmo e, com um gancho, fez emergir uma parede de gelo protegendo-os a todos, pois, como ele adivinhara, os quatro guardas abriram fogo com seus rifles. As balas não conseguiram penetrar o escudo de gelo de Cisne a ao finalizarem as balas do pente, a parede explodiu em lascas finas, que bailaram ao redor de Cisne seguindo seus movimentos delicados dos braços e das pernas, até que ele lançou seu punho adiante ordenando o gelo fino contra aqueles guardas.

Apenas o suficiente para desarmá-los e afastá-los daquele lugar.

Cisne levantou o guarda mais próximo dele e ameaçou.
— Saiam daqui. — disse ele. — Leve seus amigos de volta para casa.
— Cristal vai dar um jeito em você. — ameaçou ele.

Cisne não respondeu, mas sua face encheu-se de dúvida ao ver aqueles homens marchando rápido pela cratera branca, subindo em um único caminhão e enfim saindo pela estrada na direção oposta à do vilarejo. Cisne sabia bem para onde eles estavam indo.

— Dedushka, Alíona, juntem todos e voltem para casa. — pediu Cisne.
— Hyoga… Cristal não ficará feliz. — disse o mais velho.
— O que aconteceu, vovô? — perguntou Cisne.
— Foi pouco tempo depois que você partiu, Hyoga. Cristal saiu em uma peregrinação e quando voltou já não era mais a mesma. Junto dela vieram esses homens. Cristal tornou-se obcecada pelo segredo da mina.
— O segredo… — refletiu Cisne.
— Tome cuidado, jovem Hyoga. Eu não sei o que aconteceu com sua antiga Mestre, mas ela não é mais a mesma.
— Eu falarei com ela.
— Torço para que a traga à razão novamente.

Mas o rosto do mais velho não parecia trazer muita esperança.

Homens e mulheres buscaram aqueles que estavam mais fundo na mina, ainda trabalhando e sem saber da mudança de sorte que haviam tido. Não demorou muito para que, com suas coisas nas costas, aquela pequena população começasse a marchar para fora da mina e de volta às suas casas.

Cisne ajudava como podia as pessoas a juntarem suas coisas; era muito cumprimentado, ganhava sorrisos de alguns, abraços de saudade de outros, os olhos contentes e livres de um trabalho forçado como aquele.

Do alto da mina, com a pedreira nas suas costas, Hyoga viu a população marchar junta na direção da floresta e do vilarejo próximo.

Aquele era seu povo, sua família mais próxima desde que havia perdido a sua mãe não muito longe dali. Cresceu com muitos daqueles jovens e foi cuidado por muitos daqueles velhos. Havia um alívio imenso ao vê-los se distanciando mais e mais na neve.

Fechou os olhos, pois seu peito encheu-se de angústia e o que estava frio naquela planície tornou-se ainda mais gélido dentro dele.
— Hyoga.

Era a voz da mulher que cuidou dele desde que era uma criança abandonada.
— Mestre. — disse Cisne, olhando para trás.

Aquela Mestre estava trajando sua Sagrada Armadura, um revestimento que assemelhava-se à rigidez e o esplendor do gelo eterno da Sibéria. A cada linha sinuosa daquela Armadura, Cisne sabia de cor de tantos e tantos anos admirando e aspirando ser como sua Mestre. Ela era Cristal, da constelação de Coroa Boreal.

—/-

Aos poucos, os habitantes do vilarejo foram chegando e cada um cuidando de suas casas abandonadas; o gelo sendo varrido para fora, as lareiras começando a queimar novamente.

Jacó foi direto em seu avô quando ele chegou; Seiya ficou no batente da porta feliz de que Cisne havia cumprido com sua promessa. Foi quando percebeu que Cisne não estava entre aqueles que haviam voltado.
— Hyoga ficou para falar com a Mestre. — disse o pequeno Jacó para Seiya.

Mas a alegria dos que chegavam logo foi cortada por um homem que, carregando um carrinho com lenha seca para seus vizinhos, foi ao chão sofrendo de dores terríveis na cabeça. Ele gritava, esperneava, sempre com as mãos pressionadas contra as têmporas, sofrendo de um mal terrível.

Homens e mulheres foram aos seus cuidados e tentaram mantê-lo parado para que não se machucasse muito enquanto se debatia.
— O que está acontecendo? — perguntava Seiya de maneira muito simples, dentro do que podia se comunicar naquele idioma, mas preocupado e indo até o socorro do homem.

Ele não entendia as explicações das pessoas desesperadas ao redor. Sua pouca compreensão daquele idioma o fez concluir que haviam três coisas importantes naquela crise que machucava a mente do homem no chão.

Um segredo. As minas. Um grande perigo.

—/-

Cisne tinha dois corações dentro de si, a alegria de rever sua amada Mestre, mas a confusão enorme de vê-la com os olhos tão fundos, vidrados e ao lado daqueles que infligiam tanta dor ao povo que ela mesmo adorava.
— O que aconteceu, Mestre? Por que voltaram a escavar as minas? — perguntou Cisne.
— Não respondo nada a um traidor.

Cisne sentiu como se tivessem atirado em seu peito. Sua Mestre amada o chamando de traidor.
— Não. — adiantou-se Cisne. — Está enganada Mestre, eu…
— Cale-se, Hyoga. Você foi enviado para acabar com aquele Torneio e punir os desertores. — disse Cristal, de maneira ríspida. — E agora retorna à Sibéria para confrontar sua Mestre ao lado de um traidor?
— Mestre… Eu… eu… — Cisne não tinha palavras, porque o que ouvia da boca de sua Mestre era absolutamente impossível de imaginar. O rosto era o mesmo, mas outra pessoa parecia estar naquele corpo. — O que aconteceu com você, Mestre? — tentou ele novamente.
— Não há nada para lhe dizer, Hyoga.

E então Cristal colocou-se em guarda e seu cosmo ascendeu com profunda frieza, espalhando-se pela planície. Cisne recuou alguns passos sem acreditar que sua Mestre o estava ameaçando; não era possível que ele tivesse de lutar contra quem tanto amava.

Antes que se decidisse, Cristal avançou e acertou absolutamente todos os golpes que quis dar em seu pupilo, arremessando Cisne para dentro da cratera, por onde foi arrastado pela neve.

Cisne continuava sem acreditar.

Demorou a se levantar, porque dentro de si os sentimentos eram de incredulidade. Sua Mestre era muito severa em seu treinamento, mas jamais, em hipótese e em momento nenhum, Cisne encontrou aquela ira contra ele. Ela queria mesmo matá-lo. Sua Mestre queria matá-lo.

Já de pé, Cisne foi novamente atacado e, talvez por instinto, conseguiu desviar de algumas investidas, mas logo foi novamente arremessado por Cristal, esparramando sangue pela neve.

Cisne então decidiu ficar deitado. Que morresse pelas mãos de sua Mestre; fosse mesmo um traidor, era até uma honra que fosse morto por ela, punido por quem o amava. Tamanha a confusão de Cisne que ele sequer lembrava-se dos motivos pelos quais havia abandonado sua missão.

Ele sabia.

Cristal tinha Cisne levantado pelo pescoço quando o cosmo do Cavaleiro de Bronze ascendeu, livrando-o de ser enforcado. E já no chão, o punho de gelo de Cisne levantou a neve ao redor, mas parou entre as pernas de sua Mestre.
— Idiota. Essa sua ingenuidade vai te levar à derrota! — bradou Cristal atingindo Hyoga novamente.

Só que dessa vez, Cristal o envolveu em uma chave de pernas na altura do pescoço e, com os braços livres, segurou nos pés de Cisne; e assim como seu pupilo havia feito com o gigante na ilha, Cristal passou a congelar suas pernas direto na neve e na planície. Incapaz de impedir a manobra, Hyoga estava sem ter o que fazer, horrorizado.

Viu-se pregado à neve e à terra onde havia sido criado. À sua frente, sua Mestre, de quem estava à mercê.

— Mestre… — começou Cisne, engolindo o sangue que subia-lhe à garganta. — Mestre, eu tenho imenso orgulho de ter sido treinado por você.

Mas sua fala logo foi cortada, pois a Mestre Cristal caiu de joelhos sofrendo de terríveis dores em sua cabeça. Cisne via sua mestre sofrer sozinha na neve, ajoelhada, as mãos apertando as têmporas e a sua voz gritando horrores pela planície de neve, tamanha a dor que lhe afligia.

Cisne teve certeza: havia algo errado com sua Mestre.
— Mestre Cristal!

Estampido de tiros soaram na pedreira de neve e Cisne, ainda que pregado ao chão com as duas pernas, olhou por sobre os ombros para entender o que acontecia. Viu os guardas apanhando de alguém. E esse alguém desceu pela cratera até onde ele estava: era Seiya.
— Cisne! — gritou ele ao vê-lo preso. — Vou te tirar daí!
— Esqueça, Pégaso. Não conseguirá descongelar o gelo de minha Mestre Cristal.
— Essa é a sua Mestre, Cisne?

Seiya olhou para a mulher que agonizava no chão usando uma Armadura Sagrada. Ele já havia visto aquilo antes.

Segredo. Minas. Perigo.

— Cisne, um homem no vilarejo também foi atacado por dores fortes como as de sua Mestre. — Cine olhou confuso para Seiya. — As pessoas repetiam sem parar que havia um segredo nessa mina. Que era perigoso estar aqui.

Cisne então olhou adiante de sua Mestre agonizando no chão, pois depois das tendas abandonadas ficava a entrada da mina antiga. Talvez não fossem apenas histórias o que diziam existir no fundo daquela mina; seria possível que eles finalmente encontraram algo naquelas cavernas? Algo terrível, parecia, ao ver sua Mestre sofrendo tanto.

Seu cosmo queimou forte e o gelo que o prendia no chão começou a trincar até que Cisne se libertasse por completo. Sua voz falou talvez para ele mesmo, mas Seiya foi capaz de ouvir.
— Dizem que essa mina foi escavada pelo povo rebelde do Santuário que para cá foi mandado para cumprir sua sentença há muitos e muitos anos. E em seu coração esconderam uma Arma capaz de sobrepujar os próprios Deuses.
— Uma arma? — surpreendeu-se Seiya. — Que Arma será essa? As pessoas parecem ter enlouquecido.
— Durante anos... não, décadas sobre décadas, meu povo explorou essa mina e nunca encontrou vestígio de absolutamente nada. — disse ele. — Até que ela fosse abandonada. E o que diziam tornou-se uma história e nada mais.
— Pois a história é realidade. — disse Cristal, levantando-se com dificuldades.
— Mestre! — bradou Cisne. — O que encontraram na mina?
— Eu já disse que não tenho nada a dizer para um traidor.
— Mas Mestre… seja lá o que encontraram nesse lugar, será que você não percebe que isso invadiu a sua mente?!
— Cale-se, Hyoga!

A neve rodopiou ao redor de Cristal evocando seu cosmo gelado; Cisne reconhecia perfeitamente aquela técnica e não viu outra alternativa que não copiar os passos dela. As duas vozes ecoaram juntas na cratera e a neve ao redor lançou-se para chocar-se entre eles.

O Pó de Diamante lançado pelos dois encontrou equilíbrio apenas por um instante, pois o cosmo de Cristal era claramente maior que o de Cisne e a técnica especial voltou-se toda contra o jovem pupilo, arremessado contra a parede da cratera.

Seiya foi à sua ajuda; encontrou partes de seu corpo e Armadura congeladas e Cisne respirando com dificuldade.
— Ela vai te matar, Cisne. Você precisa lutar.

Cisne chorava. Seiya sabia que, por mais que lutasse, ele ainda segurava seu punho, algemado pelos sentimentos.
— Eu sinto muito dizer isso, Cisne, mas nesse momento ela é a sua inimiga. E ela vai te matar. Eu não sei porque você está ao nosso lado, mas seja lá qual for o motivo, de nada vai adiantar se você morrer aqui.

Cisne sofria.
— Eu não vou deixá-lo morrer. — disse Seiya. — Eu lutarei com ela.
— Não, Seiya! — pediu Hyoga.

E com muito esforço se levantou.
— Essa é a minha luta. — disse ele, severo. — Essa é uma luta entre minha Mestre e eu.

Sua voz estremeceu de dor.

Colocou-se novamente diante de sua Mestre, que olhava a cena com ódio em olhos que sequer piscavam. Sua voz soou odienta na planície.
— Vou dar conta de dois traidores do Santuário. — anunciou ela. — Prepare-se, Hyoga!

Seus braços ergueram-se e a neve começou novamente a flutuar ao seu redor; e conforme ela movimentava os braços com muita graça, a neve acompanhava o balé que fazia enquanto seu cosmo ascendia. Hyoga também dançou com a neve de maneira sutil, controlando o fluxo dos flocos que agora caíam ao seu redor.

Seiya sentia o cosmo gélido de mestre e pupilo brilharem e arderem de frio, confrontando-se. Hyoga então uniu as mãos, entrelaçando-as, ergueu-as para o céu e disparou sua voz jovem pela cratera:
— Pó de Diamante!

A rajada de gelo engoliu a neve ao redor e atirou-se com violência contra o corpo de Cristal, que não se defendeu, tampouco atacou. Seu corpo foi atingido completamente pela técnica de Hyoga de Cisne e ela foi arrastada para longe de onde estava, caindo desacordada.

A força do raio congelante de Hyoga havia sido tanta que ele próprio foi arrastado pela força de seu golpe alguns metros para trás. Seiya chegou até ele, que estava ofegante.
— Ela não atacou. — disse Hyoga, desesperado. — Por que ela não atacou?
— Talvez você tenha sido mais rápido do que ela, Hyoga.
— Não. Não… algo aconteceu. Mestre!

Hyoga percebeu, com razão, que no momento do ataque, sua Mestre foi atacada por qualquer pesadelo que nublava sua mente com dores terríveis; os olhos ardidos e o grito represado no peito. Não pôde atacar, tampouco se defender.

No meio do caminho, Hyoga parou, pois viu que ela se levantava com dificuldade, armava-se em guarda e novamente crescia seu cosmo.
— Mestre, pare com isso. Você não está em condições!
— O cosmo dela é impressionante. — comentou Seiya.
— Mestre! — tentava Hyoga.
— Esqueça, Hyoga. Defenda-se ou vamos acabar morrendo.

Não deu tempo, pois Cristal usou todo seu cosmo novamente e a técnica passou varando pelos dois, de modo que Seiya pôde sentir o ar tornar-se ainda mais gélido em seu rosto. Mas o cosmo de Cristal atingiu a entrada da mina que estava nas costas dos dois Cavaleiros de Bronze.

A entrada da mina colapsou e desabou por completo; um tremor enorme chacoalhou a planície e Hyoga adivinhou que o complexo inteiro das cavernas escavadas cedia debaixo de seus pés. Quando finalmente os tremores pararam, Hyoga viu que sua Mestre cambaleou e caiu na neve.

Correram até ela.
— Mestre!

Hyoga tomou sua Mestre nos braços e viu como seu rosto era novamente sereno: havia perdido os músculos tensos que retorciam seu rosto de ódio. Era aquela face tranquila e amável que Hyoga conhecia e amava desde que era uma criança.
— Ah, Mestre… — lamentou ele ao ver que sua Mestre estava de volta.
— Hyoga… — começou Cristal com a voz ofegante.
— Por que, Mestre…? O que foi que aconteceu? Por que voltar às minas, Mestre?

Com dificuldades, ela negou com a cabeça e seus olhos buscaram os de Hyoga.
— Não há mais nada nas minas, Hyoga. O verdadeiro mal está instalado no Santuário.
— No Santuário? — espantou-se Seiya.
— Hyoga… Os Guerreiros Sagrados devem usar seu cosmo para proteger o Mundo contra o mal. — tomou ar para continuar falando. — Você hesitou em me atacar, Hyoga. Nunca deve hesitar quando estiver lutando a favor da justiça.

Hyoga tinha lágrimas escorrendo por seu rosto.
— Eu sei que já perdeu muito, garoto. Mas você é um Guerreiro de Atena. Lembre-se sempre disso.

Cristal levantou a mão e colocou no peito de Hyoga.
— Use o amor que você tem dentro de você, o amor que você sente por sua mãe, por seu irmão e por seus Mestres pelo bem da humanidade.
— Ah, Mestre… — chorou Hyoga.
— Nosso Mestre vai ficar furioso comigo. — disse Cristal, experimentando sorrir com lágrimas escorrendo no seu rosto.
— Obrigado, Mestre. Obrigado. — repetia Hyoga.

Cristal estendeu a mão para seu pupilo e a segurou com força.

E assim seus olhos se fecharam, seu rosto se apagou e Hyoga sentiu como sua mão perdeu a força. Hyoga abraçou sua Mestre chorando copiosamente, chamando por ela enquanto o vento frio uivava na planície.

Seiya tirou seu elmo e respeitou o momento de Hyoga no leito de sua mentora, mas não deixou de sentir uma tristeza imensa, comovido com aquela situação terrível. Uma Guerreira Sagrada morta. Será que era para aquilo que eles tinham se tornado Cavaleiros?


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

SOBRE O CAPÍTULO: Gostei de quebrar o gelo do Cisne e finalmente revelar seu nome e o Seiya ver de perto como as pessoas da sua cidade o adoram e como ele cuida de todos. Uma maneira de fazer ele confiar no Cisne. Tem aqui o início de uma trama que é o Segredo da Sibéria que vai continuar. =)

PRÓXIMO CAPÍTULO: CHAMAS

Shun, Alice e Saori são atacadas no refúgio das montanhas e precisam evitar que tomem a Armadura de Ouro.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Os Cavaleiros do Zodíaco: A Lenda de Seiya" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.