Os Cavaleiros do Zodíaco: A Lenda de Seiya escrita por Masei


Capítulo 19
A Armadura de Ouro


Notas iniciais do capítulo

Alice e Seiya recuperam a Armadura de Ouro das mãos de Geist e retornam em segurança. Entre muitas dores e mistérios, Saori finalmente revela a verdade por trás daquela relíquia.



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Outra vez de volta.

Outra vez os bipes dos aparelhos hospitalares.

Novamente eles todos machucados.

Ela não.

Eles todos deitados recuperando-se. Ela sentada ao lado velando suas dores.

Alice era quem, mesmo deitada, tentava confortá-la. Devolveu a bússola intacta para Saori, mas Saori pediu que ela ficasse com ela, como se fosse uma lembrança.

— Eles são fortes, Sa. Nós todos somos.

Um bipe sonoro no quarto.

— Mas ainda se machucam por minha causa.

— E vamos nos machucar muito ainda. — disse Alice.

— Se eu pudesse lutar ao lado de vocês. — comentou Saori.

— Você lutando ao nosso lado não mudaria nada.

— Eu dividiria as dores. Dividiria essas camas de hospital.

— E isso vai mudar a dor que você sente quando nos machucarmos?

Saori ficou calada, pois não ia mudar nada.

— E as suas dores? Quem divide com você? — perguntou Alice.

Saori olhou para ela aliviada de que alguém pudesse compreender um centímetro do que sentia, pelo menos. Sentiu a mão de Alice quente sobre as suas.

— Eu divido. 

 

—/-

 

A porta da sala comunal abriu e dela veio Saori e Alice silenciando a bagunça de Seiya e Xiaoling, cobertos de esparadrapos e curativos pelo corpo. Seiya e os demais odiavam ter de ir ao hospital da Fundação e decidiram dali em diante receberem os cuidados dentro da Mansão Kido; o que Saori concordou, pois era o que menos chamaria atenção da imprensa local, dado os eventos da Guerra Galática e a corrente tensão e boatos sobre seu encerramento.

Os boatos tornaram-se ainda mais fortes, pois enquanto os guerreiros lutavam no Caribe, o Coliseu em que o Centro de Inteligência se encontrava foi consumido por fogo. Pelo menos a metade da sua estrutura externa foi incendiada; não fosse a pronta resposta dos bombeiros, talvez o edifício inteiro tivesse sido destruído e reduzido a cinzas. Mas metade do Coliseu se salvou e nenhum dano chegou até o esconderijo reforçado onde o Centro de Inteligência se instalava.

O noticiário deu que havia sido um vandalismo fora do controle de alguns fãs ardorosos depois de uma madrugada de bebedeira. Dois sujeitos foram presos. E logo foram soltos, pois a Fundação sabia que não haviam sido eles. As imagens de câmeras internas antes de terem sido consumidas pelo fogo deixou claro que o trabalho havia sido muito mais elaborado do que o resultado da bebedeira de sujeitos inconformados.

— Estão melhor? — perguntou ela a todos.

Xiaoling de boca cheia respondeu por todos que estavam. Ela sorriu para eles.

— De acordo com o Centro de Inteligência da Fundação, nós devemos ter algumas semanas de tranquilidade. — começou ela mais leve, sentando-se perto deles.

— Mas Senhorita Saori… o Coliseu foi todo incendiado. — disse Xiaoling, preocupada.

— Eu fico me perguntando quem será que está por trás disso tudo. — perguntou-se Seiya.

— São os Renegados do Santuário. — disse Shun.

— Sim. Ao que tudo indica, as pessoas que querem a Armadura de Ouro são aquelas que um dia foram banidas do Santuário. Juntaram-se para se apoderar da Armadura.

— E também das nossas Armaduras, Shiryu. — completou Seiya, lembrando que eles também eram alvos.

— Talvez essas pessoas acreditem que serão perdoadas se trouxerem nossas Armaduras como punição ao Torneio e a própria Armadura de Ouro de volta à Grécia. — ponderou Shun.

— E se não quiserem perdão algum? — começou Shiryu. — Podem querer se vingar do Santuário.

— Isso seria loucura. — comentou Seiya.

Seiya então se levantou do sofá e dirigiu-se até Saori com uma expressão séria no seu rosto jovem. Como se finalmente tivesse criado coragem para forumar uma pergunta que lhe agitava as entranhas.

— Seiya… — pediu Shun, tentando impedi-lo.

— Tem algo que eu gostaria de entender. — começou ele mesmo assim.

Saori o olhou e Seiya encontrou naqueles olhos jovens uma força imensa; ela mesmo era mais velha que eles, mas ainda não tinha a profundidade dos anos que afundava a cor dos olhos adultos.

— A Armadura de Ouro… — adivinhou ela e Seiya concordou.

— A Armadura de Ouro é um dos maiores legados da Grécia e do Santuário. Como pode ela estar aqui?

A pergunta ficou no ar alimentada pela curiosidade de todos os demais dentro daquela sala, pois no fundo Seiya vocalizava a dúvida que angustiava a todos.

Saori finalmente decidiu explicar a eles, pois depois de se arriscarem tanto, eles mereciam a verdade.

— Meu avô era um arqueólogo e um estudioso dos tesouros da Grécia. Em uma de suas expedições no Mar Egeu ele encontrou a Urna da Armadura de Ouro nas ruínas mais profundas, totalmente abandonada. — ela pousou delicadamente a mão na Urna que ficava no Salão Comunal. — Somado a isso, há uma extensa pesquisa da Fundação sobre ela. Existem relatos e escrituras que indicam que a Armadura de Ouro sempre se opôs àqueles que tentaram conquistar e satisfazer suas próprias ambições na história. A derrota de Napoleão, a expulsão de Kublai Khan e até mesmo a queda do Império Romano; por trás desses e muitos outros eventos, é dito que há sempre um Cavaleiro usando uma Armadura de Ouro.

No salão, todos estavam atentos em silêncio escutando a voz doce de Saori.

— Assim podemos dizer que a história da humanidade foi sempre protegida pelos Cavaleiros que lutaram no passado. E pela Armadura de Ouro. — completou Saori.

— Você acha que a Armadura reapareceu em nosso tempo porque a humanidade pode estar novamente em perigo? — perguntou Shun.

— Sim. — respondeu ela, decidida.

Ficaram todos pensativos antes de Seiya novamente falar.

— Nesse caso, não seria melhor que a Armadura de Ouro estivesse no Santuário ao invés de…

— De estar aqui com uma garota mimada? — completou Saori.

— Sim. — concordou ele.

— Seiya! — advertiu Shun.

— Ela que falou! — retrucou ele.

— A Armadura foi encontrada abandonada. Se a humanidade está mesmo em perigo, não podemos descartar nenhuma hipótese.

— O que quer dizer com isso? — perguntou Seiya.

— Acha que o Santuário pode colocar a humanidade em perigo? — perguntou Shiryu.

— Como eu disse, não posso descartar nenhuma opção.

— Isso é um absurdo. Eu treinei na Grécia. Recebi a Armadura de Pégaso do próprio Mestre Camerlengo.

A voz de Seiya era incrédula com aquela possibilidade e, do outro lado, Saori reagiu com bastante curiosidade nos olhos ao encará-lo diante daquela revelção. Ninguém viu, mas no fundo do salão, Cisne finalmente deixou sua postura para dar atenção maior àqueles jovens discutindo. Seiya continuou:

— Ele é um homem bom e todos no vilarejo o adoravam quase como a um Deus.

— O Santuário é muito maior que um só homem. — disse a voz de Cisne no fundo.

— Ele é praticamente o Papa! — retrucou Seiya. — Se há mesmo um perigo contra a humanidade, se os Renegados do Santuário realmente estão se juntando, eu tenho certeza que o Santuário poderia nos ajudar!

— Vocês traíram o lema dos Cavaleiros, sequer são bem-vindos no Santuário. — tornou a dizer o Cisne.

— Se levarmos a Armadura de Ouro de volta, talvez nossos erros possam ser perdoados.

— Pois agora já está falando como um Renegado. — finalizou Cisne.

— De que lado você está, afinal?!

— Calma, Seiya! — tentou Shiryu, segurando o garoto que já estava partindo para dar na cara dele.

— A Armadura foi encontrada abandonada. — disse Saori apaziguando os ânimos. — E ela não sairá daqui. — finalizou ela.

Seiya desvencilhou-se de Shiryu, inconformado.

— Não é sobre isso que vim falar com vocês. — voltou Saori a falar. — Como eu disse, teremos paz por alguns dias. Mas acreditamos que após o ataque no Coliseu, a Mansão seja o próximo alvo. Os funcionários foram todos dispensados por tempo indeterminado e nós estaremos em um esconderijo perto das montanhas. Assim como a Armadura de Ouro.

— Não irei. — anunciou Cisne, para assombro de todos novamente. — Voltarei para a Sibéria, onde treinei, para falar com meus Mestres. A Sibéria é o lugar para onde grande parte daqueles que foram banidos pelo Santuário são enviados para cumprirem suas sentenças.

— Acha que pode descobrir alguma coisa? — perguntou Saori.

— Se realmente existe algo acontecendo, eles saberão. — disse ele.

Saori encarou-o naquele salão que tinha uma luz mais baixa e ninguém se atreveu a dizer nada.

— Vou avisar para que preparem o transporte. — limitou-se ela a dizer.

— Senhorita… — começou Shiryu, colocando-se adiante do grupo também. — Nesse caso, eu gostaria de voltar para a China e ver o meu Mestre também. Ele fez parte da Ordem do Santuário por muitos anos como vigia. Talvez ele possa saber de algo.

Depois de permitir que Cisne voltasse aos seus Mestres, dentro de Saori ela sabia que não poderia negar nada para Shiryu. E como poderia? Havia prometido a si mesma deixar que vivessem suas vidas, mesmo que ela se preocupasse com eles.

— E eu vou com a Shiryu! — disse Xiaoling, alegre, para um olhar confuso da amiga. — Estou com saudades de casa, poxa. Você vai me fazer um bolinho?

Shun e Seiya entreolharam-se antes dele anunciar.

— Então está decidido. Shiryu e Xiaoling voltam pra casa, Alice e Shun ficam com você nos bosques da montanha e eu o Cisne aqui vamos passar frio na Sibéria.

— Seiya? — Saori não entendeu o que ele queria com aquele plano e Cisne deixou escapar um sorriso debochado.

— Por acaso você não confia em mim, Pégaso? — perguntou Cisne devolvendo a tensão na sala.

Não houve resposta.

— Eu não preciso que você confie em mim. — disse ele. — Ela confia.

E então Cisne saiu do Salão pela porta deixando todos com a sopa de climão para trás. Seiya quis sair e socar a cara dele, mas Saori cortou o clima anunciando que se retiraria para organizar as partidas. Não sem antes pegar o último pudim do prato. Xiaoling ficou revoltada.

Assim que saiu a senhorita, Shun foi direto em Seiya.

— Você tá maluco?

— Eu preciso entender qual é a desse idiota. Ou a gente se entende ou se mata. — disse Seiya, respirando fundo. — E além do mais, eu não sei mesmo se ainda confio nele como confio em vocês.

— Você vai acabar é morrendo de frio. — disse Xiaoling.

Shun e Shiryu riram dele.

 

—/-

 

A noite desceu junto do frio das montanhas.

Shun abriu a porta de vidro que dava para a varanda e experimentou o frescor de uma noite enluarada. A lua refletindo enorme no espelho de água que tinha ao lado do refúgio nas montanhas em que foram se recolher. Uma casa confortável de andar único, extremamente afastada da civilização e de difícil acesso. Coberta pelas copas de árvores, a casa fica escondida. E apenas o espelho de água fica a céu aberto.

Um espetáculo noturno para um Shun, pesado de coração, e também cansado da loucura que eram os dias dentro da Mansão. O silêncio o reconfortava.

Seu olhar estava adiante das árvores, onde uma cadeia de montanhas se levantava. Um horizonte familiar que lhe trouxe um frio na espinha além da baixa temperatura da noite. Era onde havia sido a batalha com os Cavaleiros Negros e onde Ikki havia caído. Shun procurou o pingente no peito e lembrou que o havia deixado em seu túmulo como presente.

— Essa é a vida de um guerreiro. — disse ele, ao notar que Saori estava buscando palavras para iniciar uma conversa com ele. — Machuca, mas é a vida que temos.

— Não foi a vida que escolheram. — disse Saori.

— Já não interessa mais. Agora temos que fazer o melhor com a vida que temos. — retrucou Shun, com um sorriso leve no rosto. — Agora, eu sugiro voltar logo lá pra dentro, senão ela não vai ficar tranquila.

Alice estava sentada com a postura completamente ereta na poltrona, claramente fingindo não prestar atenção em Saori, mas preocupadíssima com ela estar fora da casa. Saori olhou para Shun e sorriu. Ele não entendeu nada.

Ela entrou de volta para a casa, Alice olhou para ela e voltou sua atenção para um livro que fingia ler. Saori sorrateiramente pegou uma almofada super fofa de uma poltrona próxima e jogou no rosto de Alice, que levantou, revoltada.

— Saori!

O rosto de Saori era impagável, Shun nunca havia visto um sorriso tão grande em seu rosto.

Alice pegou a almofada em que estava sentada e tacou-a na cara da amiga. Logo veio outra, que Saori desviou e as duas trocaram almofadas uma na outra para desespero de Shun. Saori ria e Alice tentava conter o riso, com vergonha dele ali, mas claramente à vontade com sua amiga.

Elas entreolharam-se entre risos contidos e se Shun estivesse com sua Armadura, as suas Correntes vibrariam naquele instante.

Pois no momento seguinte foi atacado pelas duas armadas de almofadas felpudas.


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Notas finais do capítulo

SOBRE O CAPÍTULO: Mais um capítulo de 'descanso' onde os protagonistas refletem sobre os acontecimentos. Saori conta sobre a descoberta da Armadura de Ouro e Seiya sugere devolver ao Santuário, foi curioso criar esse diálogo para tirar da frente algumas inconsistências. Manter o clima tenso entre Cisne e os demais também é importante para que o grupo se construa aos poucos. E foi uma delícia escrever Shun com Saori e Alice. O Shun é ótimo!

PRÓXIMO CAPÍTULO: AOS MESTRES COM CARINHO

Shiryu e Hyoga chegam à seus locais de treinamento para encontrarem-se com seus Mestres.



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