Os Cavaleiros do Zodíaco: A Lenda de Seiya escrita por Masei


Capítulo 12
Algo Para Acreditar


Notas iniciais do capítulo

Shiryu aparece para ajudar Shun; muito debilitada, ela vai precisar se agarrar a sentimentos importantes para continuar lutando.



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O vale despencava em um precipício profundo; à metade dele estava o corpo desacordado de Seiya que Shun tentava resgatar com sua Corrente. O Cavaleiro Negro de Dragão observava de um rochedo mais acima. Shiryu soube que Seiya estava muito ferido e precisava de ajuda imediata; Shun começou a descer pela corrente, mas o Dragão Negro tinha outra idea. E do alto do rochedo, ele saltou para atingir os dois com uma voadora.

Shiryu bloqueou com seu escudo e Dragão Negro teve de se afastar.

— Cuide de Seiya, Shun. Eu vou lutar contra ele.

— Que tolice. O que ganham se esforçando tanto por alguém que já deve estar morto? É inútil.

— Não é tolice se houver qualquer chance dele estar vivo. É isso que fazemos pelos amigos. — disse Shiryu e o Dragão Negro debochou com um sorriso irônico.

A luta começou entre os dois e o som do metal das Armaduras se chocando ecoava no vale. Era um combate muito igual em que, conforme avançavam um no outro, na verdade, acabavam por se empurrar caverna adentro.

O Dragão Negro então atraiu Shiryu para um canto onde a luz era mais fraca e a acertou pelas costas, fazendo com que Shiryu caísse em uma reentrância onde se viu completamente cega. Novamente foi acertada, agora no rosto.

— Onde está ele?

Era uma escuridão profunda e embora Shiryu pudesse ouvir Dragão Negro e adivinhar sua localização, a escuridão da caverna a confundia demais. Foi atingida com força no peito e caiu de uma altura até uma outra plataforma. Estava confusa, pois o ataque havia sido certeiro.

Pressentiu uma nova investida e conseguiu saltar de volta para onde havia caído, apenas para ser alvejada novamente no estômago.

— Não é possível! — Shiryu sentia-se como se estivesse cega e lutando contra alguém que podia vê-la perfeitamente.

— Você não tem chance, Shiryu. Posso ver todos os seus movimentos na escuridão. — disse o Dragão Negro, curiosamente de uma direção que ela não esperava.

Virou-se para o lado da voz e foi novamente atingida do lado oposto, indo ao chão. Passou a mão no rosto e sentiu que sangrava. Os golpes não eram necessariamente fortes, mas como ela estava desprevenida, acabava por se cortar na pedra da caverna ou em um tombo sem preparo.

Na escuridão ela tentou dar mais atenção ao que ouvia e ao movimento do ar, mas sempre quando achava que sabia onde estava seu inimigo era surpreendida novamente. E então começou a apanhar no escuro da caverna.

Até que algo mudou: uma voz forte soou na caverna e quem gritou de dor não foi Shiryu. Alguém havia apanhado no escuro e não tinha sido ela. Os ataques cessaram enquanto alguém sofria e então a caverna se iluminou quando uma esfera subiu do chão ao teto.

Shiryu viu claramente o Dragão Negro à sua frente e, ao olhar para trás, outro Dragão Negro, caído. O mesmo elmo, o mesmo escudo, o mesmo semblante de seu oponente, como se fossem duplicados. Mas um sofria e o outro estava de braços cruzados à sua frente.

— Está bem, Shiryu?

— Senhorita Saori? — perguntou Shiryu, percebendo, ainda mais ao longe, que era Saori que estava ali.

— Só Saori. — sorriu ela.

Ela usava uma Armadura Branca e tinha um elmo na cabeça com um visor nos olhos.

— Eu acho que esse Cavaleiro Negro também pode ver no escuro e estava te atacando sem que você tivesse chance. — disse ela.

— Ele é cego. — disse Dragão Negro para Shiryu.

— Cego? — Shiryu olhou para o rapaz no chão aos poucos se levantando.

— Muito bem, não há mais necessidade disso. Eu mesmo vou acabar com Shiryu. — disse Dragão Negro.

— Não irmão, eu posso te ajudar! — disse o que sofria no chão.

Mas Dragão Negro avançou em Shiryu com toda sua força e a atingiu terrivelmente, jogando-a para o teto da caverna. Ele então pegou Shiryu pelo colarinho da Armadura e a arrastou para fora daquela caverna escura. Shun ainda não havia retornado à superfície.

— Assim está melhor, posso te ver perder. — disse ele. — Levante-se, Shiryu. Não é possível que seja só isso. Eu ouvi dizer que você é capaz de mudar o curso de uma cachoeira.

Ao se levantar, Shiryu foi logo surpreendida pelos ataques ferozes do Dragão Negro e, uma série de golpes depois, ela estava novamente no chão, sangrando. Era impressionante a força do Dragão Negro; Shiryu pensou que não havia qualquer necessidade daquele truque todo de levá-la para a caverna.

— Está por acaso hesitando em lutar? — perguntou ele. — Assim você não terá a menor chance. Veja. — e apontou para Shiryu com seu dedo. — Um dedo. Somente esse dedo vai acabar com você. É tudo que eu preciso para te vencer nessas condições.

— Não me subestime! Deve ter ficado louco se acha que pode vencer uma Cavaleira de Bronze com apenas um dedo. Está louco porque seus amigos e seu irmão foram derrotados? — perguntou ela, colocando-se de pé.

— Está errada. Eu não ligo para quem foi derrotado.

E o cosmo do Dragão Negro se levantou no vale e com aquele único dedo ele fez uma onda de choque poderosa avançar contra Shiryu. Ela apenas percebeu se formar o olho do furacão à sua frente, sem tempo para se esquivar ou evitar aquele golpe. Ela institivamente levou o Escuro para o rosto, mas acabou sendo envolta pela onda poderosa do Dragão Negro e foi afundada contra a parede do vale.

Caiu aos pés de Dragão Negro, coberta de sangue; Shiryu refletiu que talvez não estivesse mesmo em condições de lutar aquela batalha.

— Estou impressionado. — disse o Dragão Negro enquanto Shiryu sofria aos seus pés. — Não com você, é claro, mas com sua Armadura que continua intacta apesar de meus golpes.

— Não deveria se espantar, Dragão Negro. — era a pequena Andrômeda que acordava aos poucos de seu nocaute, embora com muita dificuldade ainda. — A mestre Mu é realmente incrível e o seu poder de restauração é a melhor que existe. Seus golpes dificilmente vão fazer um arranhão nela.

— A restauração? — refletiu ele. — Quer dizer então que…

O Dragão Negro então pegou Shiryu novamente pelo colarinho e ajoelhou-se diante dela.

— Agora eu já entendi. Você perdeu muito sangue para que pudesse restaurar essa Armadura, não foi? É por isso que está lutando tão mal. Porque você veio para a luta com um corpo assim?

Shiryu no chão puxava a respiração e ao abrir os olhos viu na pedra do precipício a corrente de Shun balançando, ao longe o som do sino dourado muito fraco soando. A pequena Andrômeda Negra também o olhava, surpresa.

— Pela amizade. — respondeu ela.

O vento do vale uivou entre eles.

— Mesmo sabendo que não adiantaria nada. Não pôde deixar de vir? — perguntou Dragão Negro. — Essa é a amizade em que você acredita?

— É exatamente isso. — respondeu Shiryu.

— Mas que coisa ridícula.

— Eu não acho que seja ridícula. E também não acho que você acredita no que diz. — falou Shiryu, à mercê do Dragão Negro. — Você me atraiu para a caverna para que seu irmão também pudesse lutar ao seu lado, não é isso, Dragão Negro?

— Agora é você quem está delirando.

Ele, então, levantou Shiryu pela Armadura, ela estava indefesa e quase sem forças.

— Vá para o inferno com essa tal de amizade.

E largou a garota no ar para acertar um gancho em seu queixo poderoso que fez Shiryu voar pelo vale e cair adiante na pedra. Vencida.

Shiryu, deitada no chão de pedra, percebeu que seus dedos e mão dentro da proteção de Dragão estavam encharcados de sangue. Ela lentamente tirou o Punho do Dragão e percebeu que seus pulsos, cortados para o sacrifício da Restauração da Armadura, haviam reaberto suas feridas. Era seu fim, mas ainda tinha no coração a esperança de que Shun salvaria Seiya e seus esforços não seriam em vão.

Dragão Negro a deixou para morrer e caminhou até a Corrente de Andrômeda, que balançava sozinha presa à rocha; no fundo, Shun tinha Seiya no colo. A pequena Andrômeda Negra estava encostada na entrada da caverna, ainda se recuperando do choque que havia levado.

— Desista, Andrômeda. Vou arrebentar a sua corrente para que você possa morrer junto de Pégaso e com essa besteira que vocês chamam de amizade.

— Espere, Dragão Negro!

Shiryu levantava aos poucos. Sabia que precisaria vencer o Dragão Negro e isso significava usar toda sua força, apesar de estar muito fraca. Significava usar sua Cólera do Dragão, que exigia tudo dela e ainda a deixava extremamente vulnerável. Mas não era hora para dúvidas, ou tanto Shun quanto Seiya poderiam morrer naquele precipício. Ela precisava fazer algo.

— Desista, Shiryu. Você não está em condição alguma de salvar ninguém. A amizade não vai te ajudar. — disse o Dragão Negro.

Mas Shiryu levantou-se com seu cosmo de Dragão ascendendo e iluminando o vale. O fluxo do sangue que lhe escorria pela armadura, de seus ferimentos, começou a aumentar conforme ela se esforçava para fazer seu cosmo queimar ao infinito. Sentiu uma tontura tomar conta, fechou os olhos e continuou se concentrando, imaginando o universo dentro dela.

— Não entendo porque segue em frente. Vai acabar morrendo desse jeito. Por que você está fazendo isso, Shiryu? — perguntou ele.

— No mundo pode não existir nada pelo qual valha a pena nos sacrificarmos… — começou ela, de olhos fechados, e seus cabelos esvoaçando ao seu redor.

— Exceto o quê? — perguntou rispidamente o Dragão Negro.

— Exceto pela amizade. — disse Shiryu abrindo os olhos. — Não sabemos o que é amor de pai. Não sabemos o que é amor de mãe. Por isso os amigos que temos são tudo o que nos resta.

Seu cosmo estava imenso.

— Se eu tiver que morrer, que seja pelo que eu acredito.

— Está certo. Vou aplicar meu melhor golpe para acabar com você de uma vez. Morra por sua amizade, Shiryu! — ameaçou o Dragão Negro.

O vale encheu-se da fúria dos Dragões e Shiryu rompeu as estrelas com sua Cólera do Dragão, à qual o Cavaleiro Negro respondeu com sua onda avassaladora. O impacto reverberou nas paredes do vale e Shiryu acertou seu Punho do Dragão no estômago do inimigo antes que ele conseguisse acertá-la. O Dragão Negro varou a parede e, ao cair no chão, foi soterrado por muitas pedras que vieram abaixo com seu impacto contra a rocha.

— Eu… consegui. — disse Shiryu de joelhos.

Ela não lembrava de um teste tão extremo como aquele, mas sentia-se completa por ter vencido e ajudado seus amigos, ainda que sua vida fosse se esvaindo mais uma vez. Outra vez a tatuagem do Dragão em suas costas ia se apagando. Shiryu tombou deitada no chão já perdendo a consciência. Muito sangue ao seu redor.

Mas novamente aquela voz soou no vale chamando por ela.

— Shiryu!

Era Dragão Negro. Ele estava vivo.

O Cavaleiro Negro se livrou das pedras que o soterravam. Se levantou e caminhou na direção de Shiryu que se esforçava, mas não conseguia se colocar novamente de pé. Mesmo de joelhos, tonteava.

— Não é possível...

O Dragão Negro a levantou pelo queixo, firmou suas pernas para que ficasse de pé e recebesse seu golpe final com dignidade. Ele novamente apontou seu dedo indicador para Shiryu, que já havia experimentado o enorme poder que o Cavaleiro Negro podia desferir somente com aquele dedo. Era o fim deles. Os Cavaleiros Negros venceriam.

Mas ele apenas encostou o dedo na proteção peitoral da Armadura de Dragão; Shiryu então sentiu uma enorme pressão em seu peito a ponto de ser arrastado para trás; o ar ao redor se moveu com fúria.

— Shiryu, o meu poder pode tanto destruir como também salvar vidas. — disse o Dragão Negro, seriamente. — Logo seu corpo vai parar de sangrar.

Shiryu olhou para sua mão direita e o sangramento do pulso realmente havia diminuído significativamente só pelo impacto daquela técnica do Cavaleiro Negro. Suas mãos ainda tremiam, mas estava claro que o sangue parava de deixar seu corpo.

— Mas… porque está tentando salvar a minha vida, Dragão Negro? Por quê?

E então viu à sua frente que o Dragão Negro caiu ajoelhado e com a voz embargada ele falou o quanto conseguia.

— Eu achei que não seria uma má ideia acreditar naquilo que você chama de amizade.

Ao ver que Dragão Negro perdia o equilíbrio, Shiryu foi até ele e segurou seu corpo que caía no chão. Dragão Negro então tirou o elmo e olhou para as nuvens do céu.

— Mas agora acho que seja tarde demais para mim, Shiryu. — disse ele com a voz embargada.

— Ah, não morra agora, Dragão Negro. — pediu Shiryu ao seu lado e percebeu que outra pessoa segurou a mão do Cavaleiro Negro que repousava em seu peito.

Era o outro Dragão Negro.

— Irmão!

E, ao seu lado, a pequena Andrômeda Negra, que tinha lágrimas em seu rosto de menina.

Shiryu se levantou com o peito cortado de tristeza por ter causado aquela morte e sentiu profundamente que ele morreria ali diante de seus olhos.

Mas quando levantou o rosto, sentiu um certo conforto ao ver que, no final de sua vida, Dragão Negro estava ao lado de tudo aquilo que lhe restava. De pessoas que o amavam.

E compreendeu quando seu último suspiro se transformou em um sorriso.

 


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Notas finais do capítulo

SOBRE ESSE CAPÍTULO: Eu adoro a ideia do Dragão Cego e não quis abandonar a ideia no Mangá, como o Anime fez. Então eu trouxe para a história para dar algo para a Saori fazer, de modo que a Shiryu confiasse um pouco nela também, mas também para criar uma trama mais profunda sobre o Dragão Negro e seus sentimentos.

PRÓXIMO CAPÍTULO: AQUELA QUE VIU O INFERNO

Qual o tamanho do ódio de Fênix?



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