Fenêtre de l'âme escrita por nywphadora


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Esta fanfic pertence ao projeto Delacours Month do Twitter (@delacoursmonth), que vai durar todo o mês de abril, nos presenteando com fanfics sobre a Fleur, Victoire, Dominique, Louis e outros integrantes da família Delacour :)



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Mesa para Dois conta a história dos amigos Ethan Clarke (Roger Davies) e Casey Birdwhistle (Fleur Delacour), que decidem tirar um ano sabático após a formatura do colégio para viajar pela Europa antes de entrarem em uma nova fase das suas vidas: a universidade. É um filme interessante para os fãs da fórmula friends to lovers e para espectadores que não se incomodam com romances conhecidos como água com açúcar cheios de clichês, mas para aqueles que esperavam uma comédia romântica um pouco mais inovadora, é no mínimo decepcionante. A atuação de Fleur Delacour, como sempre, promove o ator que faz o seu par romântico — no caso, o iniciante Roger Davies —, mas sem apresentar novidades. Basta você ver um único filme de Delacour e terá visto basicamente todos de sua filmografia, já que sempre entrega o mesmo tipo de papel. A fotografia e a trilha sonora não merecem um comentário muito detalhado, já que não foram grandes destaques na obra”— Bertha Jorkins, Evening Standard.

 

“Feições e um corpo de acordo com os padrões de beleza impostos pela sociedade, dignos de uma modelo da Victoria’s Secret desfilando na Fashion Week de Paris, Fleur Delacour não cansa de tentar atuar em filmes de romance com roteiros extremamente ultrapassados, específicos para o público juvenil, que é o único público que ela consegue agradar com sua atuação mediana — e na crítica fazemos uso de uma figura de linguagem conhecida como “eufemismo” quando dizemos isso. Quando o público clama por um elenco que apresente maior diversidade nos filmes — como, por exemplo, atores racializados —, os diretores e roteiristas insistem em escalar atrizes como Delacour: sem um pingo de talento, mas loiras dos olhos azuis e com um corpo magérrimo capaz de causar inveja até em uma criança de cinco anos de idade. Mesa para Dois engana em sua sinopse, pois depois de ver tantos filmes de romance é difícil de se lembrar de um em que o enredo seja “amigos que viajam após a formatura pelo continente”, mas não precisamos esperar nem meia hora de exibição para nos lembrar de pelo menos dez filmes diferentes. Como se diz no mundo da arte: nada se cria, tudo se copia”— Rita Skeeter, Daily Mail.

 

— Eu juro que se você não largar esse celular agora, eu vou tacar pela janela.

Fleur bloqueou o aparelho e o pôs em cima da mesa de plástico, cruzando os braços e pondo todo o seu peso contra o encosto da cadeira. Olhou para o lado só para não ter que encarar outra "sessão de terapia" com Tonks, mesmo sabendo que não teria outra escapatória.

— Você não pode...

— Se deixar guiar pelas críticas — completou Fleur, sabendo que soava como uma criança mimada.

— Nem todas vão ser... — ela tentou outra vez.

— Positivas e você vai passar muito por isso porque é assim que ser atriz funciona.

A mulher de cabelos pintados de roxo fechou a expressão.

Pourquoi? — era uma das únicas palavras em francês que ela sabia.

Não foi nada fácil para Fleur — por mais que isso pudesse soar como um "white girl problem" — fazer os primeiros testes depois que se mudou para a Inglaterra. Muitos diretores de elenco e produtores reclamaram do seu forte sotaque francês e ela parecia que ia ser aquela típica atriz que só faz filmes com personagens franceses, o que seria uma vez na vida e outra na morte. Então ou ela aprenderia inglês fluentemente, ou teria que voltar para a França, que raramente tinha filmes valorizados.

E ela tinha conseguido perder ou pelo menos disfarçar ao máximo o seu sotaque ao falar, o que lhe rendeu mais oportunidades. Como as críticas gostavam de jogar na sua cara, ela era linda e por isso era escolhida para os papéis, mas não era só beleza — e simplesmente odiava sempre fazer o papel da mocinha que precisava que um homem lhe mostrasse o quão linda ela era. Ela não precisava, tinha espelho em casa, esse tipo de papel não convencia ninguém —, ela tinha talento. Sabia que tinha. Ela só precisava de um papel que a ajudasse a explorar isso, apesar de amar interpretar filmes de romance.

Já a sua vida amorosa era um completo fracasso. Existe um tipo de ator que sempre acaba namorando com os atores que contracenam. Ela era essa atriz. E não era por causa de divulgação de filme, Fleur era completamente incapaz de separar os sentimentos das personagens que interpretava dos seus próprios sentimentos. Então chegava um momento em que ela acordava do transe e percebia que não estava namorando Ethan Clarke, que não tinham atravessado o continente juntos nem vivido nada daquilo de verdade. Estava namorando Roger Davies, que tinha se provado um completo babaca na première depois de algumas taças de champagne — que na verdade não era champagne porque não foi extraído da província de Champagne, mas os britânicos chamavam de champagne mesmo assim. Foi um prato cheio pros tablóides e ele ainda teve a coragem de ligar para ela no dia seguinte.

— Eu queria atuar em outra coisa e a minha vida amorosa é uma merde — ela resumiu, já que já deviam ter discutido esse assunto várias vezes.

— Romance sempre pinta as coisas, não fica esperando um Edward Cullen aparecer — disse Tonks, tomando um gole do seu milkshake.

Fleur fez uma careta para a amiga.

— Você sabe o que eu penso sobre Crepúsculo.

— É, eu sei. É uma obra machista que romantiza relações não muito saudáveis, mas cá entre nós, é só ficção e tem coisa muito pior por aí.

E como tinha.

Ela realmente não precisava que a lembrassem do primeiro filme que atuou — "Como Roubar um Coração", não era no sentido figurado. Pelo menos ela não era a protagonista, então isso não pesava tanto.

— Eu não vou te cancelar, crepusculete — tentou ficar séria ao dizer isso.

Tuejyeo!

Mostrou a língua para ela.

Tonks poderia falar qualquer coisa em coreano que ela não entenderia.

Batucou as suas longas unhas na mesa, lentamente arrastando as mãos para perto do celular, que continuava em cima da mesa. Sabia que não era saudável ficar revirando críticas, mas ela não podia evitar. Tinha que ter alguém falando bem dela, certo?

— O que te incomoda tanto na sua "vida amorosa"? Você tenta e não dá certo, a vida funciona assim.

Fleur finalmente deu um gole no seu milkshake de maracujá e achou o gosto muito melhor do que esperava, já que não era muito fã de frutas azedas.

— É que parece que eu nunca realmente senti alguma coisa, sabe — ela disse.

— Como assim?

— Bom, eu me senti atraída por eles, mas o sentimento de amor mesmo eu não acho que tenha sentido.

— Atração como? — Tonks se pôs no modo psicóloga.

Ela deslizou a mão até o celular e o puxou para mais perto de si, despretensiosa.

— Eu não sei. Achava eles atraentes fisicamente.

— E sexualmente?

— Obviamente — Fleur desbloqueou a tela do celular — Eu não sou santa.

— Mas nada no espectro romântico?

— Não, só uma paixonite talvez, eu sei lá — ela entrou no Instagram para ver se tinha alguma novidade e talvez postar alguma foto que ela tivesse tirado mais cedo.

— Mas você sentiu alguma vontade de ter uma relação com eles. Tipo, morar junto.

Realmente não precisava ser lembrada dessa parte. Depois de Viktor Krum, ela tentou ser menos afobada nos relacionamentos e não simplesmente decidir morar junto com a pessoa do nada, embora isso fosse bem comum de acontecer no mundo das celebridades.

— É, mas isso é meio como amizade, sabe.

— Talvez você seja arromântica — disse Tonks casualmente enquanto tomava um gole no seu milkshake de morango.

Fleur ignorou a tela do celular, desviando o olhar para a amiga, a expressão séria.

— Eu só estou dizendo — ela levantou as mãos, como se estivesse se rendendo — Isso é algo completamente normal.

— Mas eu não posso ser arromântica! — saiu como um choramingo e ela se sentiu a ponto de chorar.

Tinha toda a sua vida planejada desde que era criança. Ela ia crescer, se tornar uma atriz famosa, ia conhecer o amor da sua vida em um filme que gravassem juntos, começariam a namorar e os tablóides iam simplesmente adorá-los, e então eles se casariam e seria uma cerimônia linda, e por fim teriam filhos ou adotariam — essa parte do plano ela nunca conseguiu decidir. Não sabia se teria coragem de engravidar e parir uma criança, e tinha tantas sem família por aí.

— Mas não significaria necessariamente que você é arromântica estrita, a arromanticidade é um espectro! — Tonks apressou-se a acrescentar, talvez tentando consolá-la, mas ainda provando um ponto, sem dar o braço a torcer ou mudando de assunto — Talvez você só consiga sentir amor por uma pessoa depois de estabelecer um vínculo com ela, ou talvez seja do período da sua vida, e agora você simplesmente não está aberta para isso.

— Eu estou aberta, super aberta. Se tem uma coisa que eu estou, essa coisa é aberta — deixou o celular em cima da mesa, inclinando-se para frente, quase que ameaçadora.

— Já considerou que está atrás do gênero errado?

Se ela não namorasse, Fleur consideraria que estava dando em cima dela por causa do seu tom de voz.

— Eu acho que eu saberia se eu fosse bi — respondeu.

— Nossa, você é mesmo uma michin nom...

— Para de me xingar! — ela chutou a sua perna por baixo da mesa.

A coreana apenas sorriu, puxando a apostila com partituras de guitarra de cima da mesa. Nunca conheceu uma pessoa que soubesse tocar tantos instrumentos, mas sua coordenação motora era reservada unicamente para as suas mãos, porque suas pernas sempre se recusavam a obedecer seus comandos.

— Se você quer viver um romance de novela, talvez devia tentar recriar alguns clichês — ela comentou, abrindo a sua apostila para dar uma olhada nas notas musicais.

— Como qual? Eu já me envolvi em vários relacionamentos por causa do trabalho, isso não deu certo. Eu já voltei para a casa dos meus pais durante uma folga nas gravações e não dei de cara com nenhum vizinho charmoso. Já fui em muitas cafeterias e ninguém derrubou café em mim...

— Ainda bem, né? — Tonks a interrompeu — Eu não me apaixonaria por quem derrubasse café em mim.

Fleur levantou uma sobrancelha e voltou a cruzar os braços.

— É, até porque você é a pessoa que derruba café nos outros.

A ficha dela pareceu cair.

— Isso foi completamente diferente — retrucou, tentando manter a sua dignidade — Não foi café, café é quente e machuca, foi um drambuie.

— Café machuca? — ela perguntou, divertida.

— Sim, café queima, então machuca.

— Claro, porque drambuie não mancha a camisa.

— Em minha defesa, a culpa foi dele. Quem é que usa camisa social em uma balada? — Tonks tentou se defender.

— Bom, deu certo, não deu? — tentou impedir uma risada de sair.

— Bom para ele, porque se fosse ao contrário, eu não me apaixonaria — ela disse com mais certeza do que as duas sentiam.

— Certo — decidiu deixar o assunto de lado, não as levaria a nada mesmo.

— Você já tem algum papel a vista? — Tonks entrou no segundo assunto da discussão — Aquele diretor, Lockhart, ama te colocar nos trabalhos dele.

— Sofreu um acidente — respondeu Fleur.

— Mentira! — ela exclamou surpresa.

— Saiu em tudo quanto é revista de fofoca. Boatos até que tinha ficado com amnésia.

— A sorte não está mesmo ao seu favor.

— Ou talvez esteja — deu um leve sorriso — Eu vou continuar fazendo outros testes, ver no que dá.

Ela não perdia nada por tentar.

— Você podia aproveitar o tempo livre e entrar no Tinder — sugeriu a coreana.

— Sério? — ela fez uma careta com a sugestão.

— É um bom clichê moderno — deu de ombros — E é bom para pegar no sono também, ficar pulando os perfis que aparecem.

— Você ainda tem Tinder instalado? — expressou sua incredulidade — Remus não acha isso estranho não?

— Eu não estou traindo ele! — Tonks ficou indignada — Eu só me divirto vendo os perfis bizarros, tem até Reddit sobre isso. Tipo "as pérolas do Tinder".

Um celular vibrou na mesa, mas não era o seu.

— Tenho que ir, ensaio — disse a musicista, simplesmente, ao dar uma conferida nas notificações.

— Desculpa, eu não quis insinuar nada — disse Fleur — Eu sou careta, você sabe.

Isso fez ela sorrir.

— Tá de boas.

A mulher de cabelos roxos recolheu as suas coisas, deu um último gole no milkshake e deixou uma cédula em cima da mesa, mesmo que a atriz sempre dissesse que ia pagar.

— Quebra a perna — disse a francesa.

— Que Deus não te ouça — ela fez uma careta — Capaz de levar ao pé da letra.

Observou a amiga sair da lanchonete, conseguindo identificar até mesmo um paparazzo tentando disfarçar dentro de um carro estacionado no meio fio. Suspirou e voltou sua atenção para o celular, esperando para ver se seu assessor tinha mandado alguma novidade para ela, e resistindo à tentação de continuar lendo as críticas do Rotten Tomatoes.

A sua rotina pós gravações era entediante para dizer o mínimo. O máximo de agitação na sua agenda era comparecer a premières e entrevistas, mas não era como se filmes românticos fossem blockbusters dignos de uma CCXP, então era mesmo entediante. Nunca gostou de fazer média com críticos que, assim que virasse as costas, meteriam uma faca nela, julgando a sua personalidade mais do que sua performance.

Mas com certeza quem sofria mais pressão da mídia era Gabrielle, sua irmã mais nova. Ela não tinha chegado nem a maioridade e já era uma modelo da agência Le Casting Parisien, que já tinha feito várias campanhas para a Saint Laurent e L’Oréal, e que iria se apresentar na London Fashion Week dali a algumas semanas. Seria bom revê-la pela primeira vez desde o natal.

— Você vai me buscar no aeroporto, não vai? — perguntou Gabrielle.

Estavam conversando pelo Skype. Podia ver pela tela do computador que ela estava em um quarto que não era o da casa em que cresceram, devia ser algum apartamento que ela compartilhava com outras modelos mais jovens da agência. Em cima da cama estava cheio de roupas estendidas e ela estava decidindo quais colocaria dentro da mala. Provavelmente levaria uma mala vazia para comprar algumas roupas na Harrods e outras lojas de departamento exclusivas, isso se não fosse receber mais roupas de graça dos estilistas.

— Eu posso? — perguntou Fleur — Você não vai chegar com as outras garotas?

— Bom, você sabe, os fotógrafos vão acampar no Heathrow, mas talvez a gente desembarque no Gatwick, nunca dá para saber — ela deu de ombros, dobrando um vestido floral da Dolce Gabbana — Eles acham que seria bom para nós duas se fôssemos vistas juntas.

— Você ia ficar profissional se pusesse aquele vestido de botões ali com uma calça jeans embaixo e o cabelo preso em um coque — opinou.

Quando moravam juntas, uma sempre ajudava a outra a se vestir quando fossem sair.

— Os fotógrafos gostam quando eu mostro as pernas e deixo o cabelo solto — comentou Gabrielle.

— Você tem dezessete anos, Elle — disse, mesmo sabendo que isso não importava para o mundo da moda.

Ela só podia ficar por perto e torcer para que a sua irmã não seguisse maus exemplos, tudo em nome da sua carreira.

— Aquele vestido prateado que você usou na première estava lindo — a mais nova desviou o assunto — Uma pena que eles não nos deixam repetir roupas.

— Fale por você, eu já repeti até em figurino de filme.

Teve a sua atenção desviada pelo seu celular vibrando em cima da mesa do computador.

 

Tonks

Online

 

Eu vou casar (14:22)

 

Oh la vache! — deixou escapar.

— Mamãe vai odiar saber que você está me dando mau exemplo — comentou Gabrielle.

— Ela só vai saber se você contá-la. Tenho que desligar. Até terça!

Deixou a irmã arrumando suas malas em paz enquanto desviava sua atenção para a outra notícia.

 

Tonks

Online

 

Aaaah parabéns! (14:24) ✔️✔️

 

Você vai pro jantar de noivado (14:25)

Vai ser hoje daqui a umas 5 horas (14:25)

 

Você realmente gosta de avisar em cima da hora (14:26) ✔️✔️

 

Da próxima vez eu peço pra ele avisar com antecedência (14:26)

 

Debochada (14:26) ✔️✔️

 

Charlie está na cidade (14:26)

Isso vai ser ótimo (14:27)

A família dele é praticamente agregada (14:27)

 

Gabrielle chega na terça (14:27) ✔️✔️

Tô com saudades dela :( (14:27) ✔️✔️

 

Putz, acabei de perceber que vou ter que chamar meu primo (14:28)

Cancela o jantar (14:28)

 

KKKKKKKKKKKKK (14:28) ✔️✔️

Tarde demais (14:28) ✔️✔️

Vou tentar não roubar as atenções ;) (14:29) ✔️✔️

 

Boa sorte com isso (14:29)

 

Fleur não conhecia muitas pessoas do círculo social de Tonks. Já tinha ouvido falar sobre todos eles, é claro: seu primo Sirius, seu outro primo Regulus, Kingsley, Charlie que era seu melhor amigo, Penny, Tulip e outras pessoas que foram seus colegas de escola. Os amigos de Sirius, que englobava Remus — que era agora o noivo dela —, James e Lily. Tinha uma outra pessoa, um homem, mas ninguém falava sobre ele. E amigos de amigos, que eram apenas mencionados.

O seu círculo, em contrapartida, parecia bem estreito. Talvez porque ela tinha crescido em outro país, ou porque pessoas famosas pareciam ser sempre mais solitárias.

Isso a fazia se questionar às vezes se o cinema era mesmo o caminho que ela queria seguir, apesar de tudo.

— Só estou dizendo que você é obrigada a pôr drambuie no cardápio — dizia Sirius.

— Você não vai me deixar esquecer isso, não é? — Tonks resmungou e então a viu se aproximar.

Tinha acabado de chegar na casa de Andrômeda, a mãe da amiga, que devia ter reclamado o dia inteiro por sua filha avisá-la sobre as coisas tão em cima da hora.

— É claro que não, eu estava lá — disse Sirius e então assobiou quando virou-se.

— Nem pense nisso — Nymphadora pôs o copo de bebida dela em cima da tampa do piano e então aproximou-se para afastar Fleur — Venha, tenho muitas pessoas para te apresentar. Esse embuste você já conhece.

Foi uma experiência curiosa. Ela sentiu alguns olhares em sua direção, e ouviu até um "De onde eu já vi aquela mulher?". Era quase como se ela estivesse numa adaptação de "Um Lugar Chamado Notting Hill" para teatro. Não julgava porque ela era péssima para decorar nomes e rostos, já tinha pagado uns micos nível Robert Pattinson esquecendo o nome da Emma Watson durante premiações. Às vezes considerava contratar alguém para lembrar por ela, como acontecia em Diabo Veste Prada.

— Esse é o Charlie, você já ouviu falar dele até demais — tagarelava a coreana — Charlie, essa é a minha amiga, Fleur.

— Ela também te paga para andar com ela? — o ruivo brincou, levando um tapa no braço da amiga.

— Acho que eu sou o projeto de faculdade dela — ela respondeu.

— Claro, você é minha musa inspiradora — Tonks deu uma piscadela — Vocês sabem se virar sozinhos ou precisam que a titia vigie?

— Vai se perder em algum corredor com teu noivo — retrucou Charlie, desviando de outro tapa certeiro — Viu? Eu sou o saco de areia dela.

Olhando bem para suas feições, tinha a ligeira sensação de que já o conhecia, mas sabia que era impossível. Tonks falava o tempo todo sobre ele, mas ele esteve fora do país a trabalho por anos.

— Você me é familiar — ele disse o que se passava pela cabeça dela, mas por motivos diferentes.

— Ah, eu sou atriz, faço uns papéis por aí — disse uma meia verdade.

— Legal! Não aguento mais estar cercado de médicos, advogados e engenheiros — Charlie respondeu, fazendo uma careta — A arte está morrendo pelo capitalismo.

— Artista? — ela perguntou.

— É... — ele hesitou.

— Na verdade, Charlie aqui é veterinário — disse uma voz às suas costas.

O homem passou pelo lado dela e pôs a mão no ombro do irmão.

— Enfim, a hipocrisia — Charlie deu um sorriso amarelo — Mas eu faço pelos animais e não por dinheiro!

Agora ela conseguia entender o porquê ele parecia familiar. Apesar de diferentes, ele tinha alguns traços parecidos com o do seu irmão mais velho.

— Bill — ela assentiu em sua direção.

— Como vai, senhorita Delacour? — ele curvou a cabeça alguns centímetros, como se estivesse fazendo uma reverência.

Tinha se esquecido de como gostava do sotaque britânico — sim, ela morava em Londres, escutava o sotaque britânico o tempo todo, esse não era o ponto.

Fazia uns anos desde que viu o seu professor de inglês pela última vez.

Quando chegou em Londres e tinha um sotaque muito forte, foi Bill quem ensinou a ela a pronúncia perfeita das palavras. E fazia um bom tempo que não pensava no ruivo. Tonks nunca tinha mencionado que Charlie se chamava Weasley, ou ela teria associado o sobrenome.

— Bem — conseguiu responder depois de alguns segundos — E você?

Charlie de repente pareceu muito interessado no fundo do copo de plástico que estava segurando.

— Também. Parabéns pelos filmes, o seu inglês está impecável — Bill pôs uma mão no bolso da calça.

— Obrigada. Tive um ótimo professor.

Tonks chamou a atenção de todos e pelo resto da noite, eles não voltaram a se falar.

Tinha atuado em filmes de romance suficientes para saber que estava perdida.

— Você é uma mentirosa descarada, Fleur Delacour! — foi a primeira coisa que Tonks disse quando sentou-se na cadeira à sua frente.

Estava em uma cafeteria do aeroporto, esperando dar o horário para o voo de chegada de Gabrielle. Podia ver alguns paparazzi mal disfarçados pelo lugar, trocando a lente das câmeras, preparados para quando as modelos desembarcassem unidas. O bom disso é que eles não percebiam que tinha uma atriz bem ali no meio deles, disfarçada apenas com uns óculos escuros e um chapéu cobrindo seus cabelos loiros.

— Não sei do que está falando — deu um gole no seu mocha.

— Não pense que eu não vi os olhares que você e o Bill trocaram durante o jantar — ela rabiscou no quadrado ao lado da palavra “affogato” da nota fiscal, esperando para chamar a garçonete de um jeito que não atraísse um paparazzo na direção da amiga — Vocês já se conheciam?

— Ele foi meu professor de inglês — respondeu, sabendo que não teria como escapar.

Byeontae — ela resmungou sob a respiração, empurrando a nota para o canto da mesa — E por que nunca aconteceu alguma coisa? É um clássico dos clichês que você gosta, sabia?

— Eu lembro que ele namorava, mas não foi por isso — apressou-se em acrescentar.

— Emily Tyler... — Tonks revirou os olhos de um jeito que por um segundo era como se o nome fosse mais um xingamento coreano que ela proferia a torto e a direita, a garçonete deu uma olhada rápida na nota rabiscada e afastou-se da mesa delas — Mas você disse outro dia mesmo que nunca sentiu alguma coisa como “paixão” antes.

C’est des conneries — respondeu Fleur, ainda sem olhá-la — Eu não senti nada por ele!

— Então o quê? Foi amor à segunda vista? — ela debochou — Porque rolou um clima entre vocês no jantar.

— Não rolou.

— Rolou sim.

Ta gueule!

Shibal!

Fleur sentiu uma comoção do lado de fora e levantou-se, deixando o dinheiro em cima da mesa e a caneca de mocha vazia.

— Eu tenho que ir — ela disse — O avião deve ter pousado.

— Esse assunto não acabou aqui — Tonks retrucou — Você encheu o saco que não conseguia ninguém, aí agora que aparece uma pessoa, você quer fugir?

— Não estou fugindo.

Tirou a alça da bolsa de trás da cadeira e levantou-se.

— Eu não sou arromântica! — exclamou, ao escutá-la murmurar isso e foi atrás da irmã.

Gabrielle passou a maior parte do tempo no seu apartamento durante aquela semana, em vez de ficar no hotel junto com suas colegas de profissão. Ela argumentava que queria se afastar um pouco daquele mundo da moda pelo menos no seu tempo livre, já que passava a maior parte do tempo com elas.

— Elas são legais, sabe, mas algumas vezes cansa — ela disse.

— Às vezes eu me pergunto se não devia ter seguido o seu exemplo — desabafou Fleur.

— A irmã mais velha falando sobre seguir o exemplo da mais nova. Isso não é algo que se vê todos os dias — Gabrielle virou-se para olhá-la, estavam jogadas na cama do seu quarto que era maior do que o necessário — Crise da meia idade, sœur?

Pegou uma das almofadas, que estavam espalhadas pela cama, e jogou no rosto dela. Uma das manias que pegou pelos filmes que atuava, pois nunca viu na vida real alguém realmente pegar uma almofada e jogar na direção de outra pessoa.

— É que eu sinto que quando você é modelo ou cantora, você tem pessoas trabalhando com você, mas quando você é atriz... muda com o filme, sabe — disse Fleur, olhando para as unhas recém feitas.

— Você não quer falar sobre o que aconteceu com o Roger Davies, né? — perguntou Gabrielle com um tom de “eu já sei a resposta”.

Apesar disso, ela suspirou.

— Você leu o que aconteceu. Na première, ele ficou bêbado e começou a falar coisas horríveis sobre como era fácil ficar famoso ao meu lado... — ela respondeu — Não, eu não quero falar sobre isso.

— Dora me mandou uma mensagem.

Ela levantou uma sobrancelha.

— Desde quando você e Tonks se falam?

— Desde quando vocês são melhores amigas — a mais nova retrucou — E ela acha que você não sabe me dizer “não”.

Aquela coreana fils de pute...

— É claro que eu sei: não. Viu?

— Por que você não pediu o número daquele garoto?

— Que garoto? — perguntou, sentindo-se derrotada.

— O da festa de noivado. Ele foi mesmo seu professor de inglês? E você nunca sentiu uma quedinha por ele? — Gabrielle insistiu.

Era insuportável ter uma irmã mais nova.

— Me desculpe se eu não sinto atração por caras comprometidos — soltou.

— Mas ele não está mais comprometido, ou está?

— Sabe que eu não perguntei? — não conseguiu evitar ser irônica.

— Deveria — disse a adolescente, não se deixando atingir.

Aquelas duas mulheres iam encher o saco dela pela eternidade, pior ainda se Elle resolvesse falar com a mãe delas, aí seriam três para encher o saco.

— Se eu falar com ele, vocês me deixam em paz? — perguntou Fleur.

Je te promets — ela ergueu o dedo mindinho.

— Mas o que eu vou falar com ele?

— Como se você tivesse problemas para lidar com homens — debochou Gabrielle, levantando-se da cama — Eu pedi o número para a Tonks.

— Gabrielle!

De rien — ela riu, antes de enviar o contato para a irmã.

Fleur ficou olhando para a foto dele várias vezes ao longo da noite. Deveria ligar realmente? pensou, mordendo o lábio inferior. E se depois de todas as reportagens que saíram sobre seus namoros, ele achasse que ela era uma oferecida?

Balançou a cabeça. Era solteira. Tinha todo o direito de sair com quem quisesse.

E ela queria sair com ele.

Fleur prendeu o fôlego ao perceber isso. Então, antes que a coragem acabasse, ela clicou no botão para chamar. Estava quase desligando, quando ele atendeu no terceiro toque:

— Alô?

Voulez-vous sortir avec moi?

— Fleur? — ele perguntou e só então ela percebeu que, no nervosismo, falara inconscientemente em francês, algo que fazia muito tempo não acontecia. 

— Oi, prof... digo, Weasley, digo... — Fleur fechou os olhos. Onde estava sua famosa autoconfiança?

— Pode me chamar de Bill e sim, eu gostaria de sair com você.

Fleur ficou em silêncio por alguns segundos e então sorriu.

— Então nos vemos amanhã, às oito.


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Notas finais do capítulo

Um agradecimento à minha amiga, Rhayane, por ter escrito a cena final da fanfic pra me ajudar. Sem ela, eu provavelmente teria empacado nesse final por uns 6 meses kkkk

Nos vemos de novo na quarta-feira, dia 07/04, com mais uma fanfic do projeto ;)