Be Close - ShigaDabi escrita por Taimatsu Kinjou


Capítulo 1
Oneshot


Notas iniciais do capítulo

Esse é mais um surto da madrugada que tive! Só uma coisinha que deu vontade de escrever e... é isso.



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Tomura se mexe inquieto na cama, tenta encontrar uma posição confortável e puxa o travesseiro sob a cabeça, mas não consegue pegar no sono. Bem, isso não é inédito. Insônia é uma constante na sua vida, seja por causa dos pesadelos que o assombram, a ansiedade que não deixa sua mente se calar ou mesmo virando a noite na companhia dos seus jogos. Isso faz da insônia uma velha companheira inconveniente que aprendeu a suportar.

Entretanto, ter um corpo a menos de um braço de distância do seu é enervante, não consegue relaxar por mais que seus ossos cansados e doloridos supliquem por descanso. Suas pálpebras se sentem pesadas de sono, mas um sinal de alerta na parte de trás do seu cérebro o mantêm acordado e bastante ciente da presença do outro lado da cama. Tão próximo que pode sentir o calor emanando do corpo inerte em ondas agradáveis e convidativas.

Agitado, passa a língua pelos lábios secos e inspira fundo. Não, não é uma insegurança da sua parte, longe disso, confia no controle que têm do seu poder. Foi difícil e trabalhoso aprender a lidar com Decay até se sentir confiante, mas chegou até aqui sem incidentes graves por anos. Ainda assim é cauteloso, ele é consciente do poder que tem, mas as outras pessoas não.

O incomoda ter seu espaço pessoal invadido descuidadamente, sem nenhum receio da outra parte, seja intencional ou não, ter de se vigiar sobrecarrega sua mente. Se ele vai destruir algo ou alguém com suas mãos, quer ter o total controle disso, não por causa de um acidente estúpido. Ele é melhor que isso, ele tem o controle sobre Decay, mas é um porre.

E Dabi parece não se importar com nada disso, se aproximando desse jeito, se mantendo perto mesmo que Tomura se afaste. Lamentaria se o desintegrasse no meio da noite só porque baixou a guarda, por enquanto não o quer morto, mesmo que diga o contrário com as ameaças constantes e discussões acaloradas, que as vezes se tornam físicas demais e o tentam a realmente tocá-lo com todos os dedos só para ter o prazer de assistir aquele sorriso irritante se desfazer em nada além de poeira sob seus pés.

Por mais que lhe cause um gosto amargo na boca admitir, não quer perder Dabi, não assim. Seria uma morte estúpida demais para o usuário de fogo.

Claro, nada disso é por causa de qualquer besteira sentimental ou idiotice piegas que Toga continua tagarelando. Se for preciso, se Dabi foder com os seus planos e o obrigar a chegar neste ponto, não vai hesitar em lhe dar o toque mortal, mas por agora ele é útil para a LOV. Tomura, como líder, sabe que seria um desperdício de poder ofensivo se o matar por um descuido seu, Dabi ainda é uma parte importante do seu grupo e não está ansioso para se livrar dele, por mais irritante que ele seja.

Respirando pelo nariz ele se vira na cama só para encontrar o rosto remendado à apenas alguns centímetros do seu, tão perto que consegue ver as perfurações mais antigas dos grampos na pele saudável e as linhas irregulares de todo o resto crocante. A visão dos grampos segurando tudo junto não é bonita à meia-luz, eles têm um brilho que torna a aparência grotesca, mas para a sua completa surpresa não detesta tanto quanto devia. Na verdade, acha que se encaixa bem ao idiota chamuscado.

Isso o faz se perguntar, às vezes, como Dabi era antes da pele ceder ao poder das suas chamas? Sim, porque deduz que o idiota não nasceu assim, feito um pedaço de bacon queimado, ele devia ter uma aparência normal e agradável aos olhos. Ou talvez já era tão arruinado quanto Tomura sempre foi?

Essa linha de pensamentos faz sua expressão se contrair numa careta e, voltando a si, se afasta o quanto a cama permite; de uma distância segura observa a forma adormecida dele e puxa as mãos contra o peito nu. Seus dedos se contraem ansiosamente, as unhas arranham linhas vermelhas na pele muito clara e ele precisa enrolar as mãos em punhos para não coçar, seu pescoço já maltratado arde pedindo por atenção que ele teimosamente se recusa a dar.

Está cansado demais para lidar com essa merda agora, só quer dormir, mas esse pedaço de carne defumada continua alheio aos seus problemas. Tomura quer acordá-lo com um soco, ou chutá-lo para fora da cama, mas se contém, realmente não quer iniciar uma discussão que pode durar horas.

Afundando a cabeça no travesseiro macio pisca lentamente e solta um suspiro, não consegue entender como Dabi é capaz de relaxar dividindo a cama com ele, alguém com o poder de matar com apenas um toque de cinco dedos. Pensando de forma lógica isso é arriscado de tantas formas que chega a ser absurdo. Ou o idiota tem um senso de autopreservação muito baixo, um desejo de morrer ou a combinação de sono e esgotamento o deixa imprudente o suficiente para não se importar se vai virar um monte de poeira.

E, parando para pensar, acha estranho, pra um lobo solitário Dabi aceita muito bem a aproximação do bando de desajustados sem reclamar muito. Já o pegou dormindo espremido e amontoado no sofá do bar com Toga – que tem o habito chato de os surpreender com ataques de faca – e Twice, um de cada lado seu, depois de uma missão ou outra.

Na época os dois loiros barulhentos afirmaram de forma extravagante que Dabi é como um aquecedor humano, quente e aconchegante feito um kotatsu. O que se provou verdade quando tocou seu braço com a palma da mão e quatro dedos frios curiosos. A temperatura dele é sempre alta devido sua peculiaridade, atraente para alguém como o corpo que mal consegue reter calor.

Tomura detesta isso, mas não consegue impedir seu corpo de se inclinar mais perto dele quando tem oportunidade. Um roçar de ombros que dura mais de 5 segundos ou coxas que encostam quando estão sentados no mesmo sofá; se Dabi percebeu isso, nunca comentou. O que Tomura agradece, prefere engolir mil agulhas antes de admitir qualquer merda para o idiota.

Se movendo novamente encara o teto escuro do quarto antes de fechar os olhos noutra tentativa de dormir, se concentra na própria respiração e no silêncio que o cerca, suas mãos são pressionadas no peito. A única coisa imune ao seu poder é seu próprio corpo, então aprendeu a mantê-las perto para não destruir nada, assim como não se mover durante o sono, duas coisas profundamente enraizadas no seu subconsciente e que o tranquilizam.

Mas, infelizmente, ainda não pode ignorar a presença do seu lado. Mesmo criando uma distância entre eles, para o seu próprio conforto, ainda sente Dabi ali e isso é perturbador. Faz algo se agitar na boca do estômago.

Arranhando o pescoço se vira para o outro lado para se levantar e desistir dessa ideia idiota do moreno, é impossível dividirem a cama e, sendo assim, prefere gastar seu tempo com algo mais produtivo do que ficar ali se frustrando. Com um movimento languido empurra as pernas para fora da cama pronto para sair dali, mas um braço pesado e quente pousa sobre seu estômago, o impedindo de se mover.

Sua reação é rápida e brusca, empurra com força suficiente para fazer o moreno rolar de costas e sente a parte de trás da sua mão bater em algo duro que machuca a pele fina, possivelmente os grampos de Dabi. Tomura congela quando sente a mudança no colchão e instintivamente se afasta.

— Ow, o que diabos foi isso? – Dabi resmunga numa voz áspera, franze a testa e pisca confuso na direção geral do azulado, sem realmente enxergá-lo.

— Fique longe, idiota. – Tomura diz entredentes, uma tentativa de ameaça que não soa tão convincente.

Com seu cérebro ainda sonolento demora para Dabi processar as coisas e ligar os pontos; em silencio pisca até se acostumar com escuridão e observa a forma encolhida de Tomura do outro lado da cama. Ele repara nos movimentos ansiosos, consegue escutar o som das unhas irregulares arranhando linhas sangrentas na pele frágil do pescoço e a respiração ofegante. É aí que algo clica na sua mente e ele reprimi o desejo de revirar os olhos, qual o sentido se Tomura não pode ver?

Ao invés disso bufa e apoia as costas na cabeceira, a madeira dura pressionando seus grampos é desconfortável, mas quem liga? Quando volta os olhos para a figura oculta do seu chefe ele franze o nariz e acende uma chama na palma da mão, um pouco de luz não ia matar nenhum deles agora. Bem melhor, pensa com um sorriso nos lábios e encontra os olhos vermelhos e arregalados o encarando de volta, ele quase pode ver ondas de ansiedade pairando sobre a cabeça amarrotada do outro e isso faz algo no seu peito se agitar.

— Ei, qual o problema, idiota? – pergunta franzindo as sobrancelhas numa expressão preocupada.

— Você me tocou. – Tomura responde entredentes sem nunca parar de arranhar e o olha com raiva sob toda aquela franja azulada.

— Sim. Eu faço isso o tempo todo. – sem hesitação ele agarra os pulsos finos, finos demais para um cara de vinte anos, e os força para baixo, longe do pescoço abusado.

— Você se move durante o sono. – argumenta o olhando com uma carranca e, apesar da pequena discussão, não faz nada para se soltar das garras do moreno. As mãos de Dabi são quentes.

— Todo mundo se move durante o sono.

— Eu não. – diz teimosamente.

— Isso porque você é esquisito. – o usuário das chamas sorri tentando aliviar o clima estranho entre eles, mas Tomura não está prestando atenção. Suspirando cansado, solta os pulsos pálidos quando tem certeza de que o outro não vai se arranhar novamente. – Eu confio que você não vai me matar, chefe. – ele confidencia num sussurro baixo o suficiente apenas para o azulado escutar.

Isso faz um tremor involuntário passar por todo o corpo magro do líder da liga, seus dentes apertam a carne já ferida dos seus lábios quando ele ergue o rosto para encontrar os olhos azuis. Sua expressão ainda é carrancuda. – Mas eu não confio que você não vai se aproximar durante o sono. E isso acabou de provar o meu ponto. Essa é uma ideia estúpida.

Dabi encara o mais novo de perto por um longo instante antes de soltar um suspiro, sem uma palavra se inclina para fora da cama e agarra o seu casaco, procurando por algo nos bolsos internos. Quando volta a se acomodar ao lado de Tomura ele estende um rolo de esparadrapo pela metade.

— Por que você carrega essa merda? – É a primeira pergunta que faz, franzindo o nariz numa careta desconfiada.

— Porque, se você não notou, preciso manter minhas partes juntas e nem sempre tenho grampos. Agora me dê seus dedos. – ele comanda, um sorriso de lado puxa seus grampos quando vê o olhar perplexo no rosto marcado do seu teimoso líder.

Apesar do seu humor Tomura sorri e ergue o dedo médio e, literalmente, o empurra no rosto de Dabi. – Esse? – pergunta com inocência fingida.

— Haha, muito engraçado, cabeça de trapo. Agora se apressa com essa merda antes que eu enrole sua cara com isso.

— Pensei que a sua cara que precisava de remendo. – diz observando Dabi cortar um pedaço do esparadrapo com os dentes e começar a enrolar no seu dedo indicador.

Ele é cuidadoso ao fazer isso, não quer ser tocado pelos cinco dedos por acidente, confia no controle do líder, mas a sala ainda está escura. Surpreendentemente Tomura o obedece sem comentários e, uma vez ou outra, o pegou observando todo o processo com uma atenção quase infantil.

— Feito. Agora podemos dormir.

Estreitando os olhos o azulado avalia o trabalho feito, dois dedos de cada mão foram completamente envolvidos, agora é seguro tocar. Bom o suficiente, pensa se deixando ser puxado para baixo por Dabi. A visão dos seus dedos protegidos pode ser algo pequeno que ele mesmo ou qualquer um da liga podia fazer, mas saber que Dabi preferiu ter esse trabalho do que simplesmente sair e dormir em outro lugar fez algo se agitar no seu peito.

Quando voltou a si percebeu um braço pesado em volta da sua cintura e um corpo quente pressionado no seu.

— O que você está fazendo? – perguntou confuso franzindo a testa.

— Tentando dormir.

— Você é pesado. – resmunga se mexendo até encontrar uma posição mais confortável. – Eu devia ter te chutado pra fora da cama quando tive a chance.

— Mais sorte na próxima vez. Agora vai dormir, idiota.

Tomura revirou os olhos, mas não discutiu. Dabi realmente era como aquecedor e ele não ia reclamar disso.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado!
Quaisquer erros me avisem.
~Kissus da Taimatsu~



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