Invisible String escrita por airotivs


Capítulo 3
Losing My Religion


Notas iniciais do capítulo

Oi, terceiro capítulo postado. Achei legal a ideia de explicar as músicas escolhidas para cada capítulo e, portanto, farei isso a partir dessa narração. “Losing my religion” é uma antiga expressão do sul dos Estados Unidos, usada quando você esta perdendo a fé em algo ou em alguém. Aqui, ela cabe em dois contextos. O primeiro, é a perda de fé dos nossos personagens principais com o rumo da guerra. A segunda, é a perda de fé de James em conquistar Lily, acreditando que tê-la apenas como amiga é melhor que não tê-la de forma alguma.
Eu disse que demoraria uma semana.... mas estou incrivelmente atoa por conta das férias da faculdade. O próximo capítulo, no entanto, nem começou a ser planejado, então eu não acredito que postarei semana que vem.



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Losing my religion 

That's me in the corner 
That's me in the spot-light 
Losing my religion 
Trying to keep up with you 
And I don't know if I can do it 
Oh no I've said too much 
haven't said enough 

A guerra estava se agravando, todos sabiam disso, ainda que muitos optassem por ignorar os acontecimentos dos últimos meses. A verdade, entretanto, é algo curioso. Podemos ocultá-la, mascará-la ou fugir da mesma, mas, como um lobo perseguindo a ovelha, a verdade sempre se empenha em explodir na cara de quem a ignora. Não foi diferente naquele outubro de 1976.  

Não obstante a tentativa do Ministério de mascarar os assassinatos e desaparecimentos de famílias trouxas – os quais cresciam consideravelmente com o passar dos dias, foi impossível não noticiar o massacre do dia anterior. Cinco famílias trouxas, todas contendo algum bruxo ou bruxa que frequentou a escola de magia e bruxaria de Hogwarts, foram encontradas, mortas, na noite de 18 de outubro.  

As aulas foram cancelas.  

...  

Lily Evans era uma pessoa forte. Sabia que era. Desde que adentrara o mundo bruxo, vira e vivenciara coisas demais para uma jovem de pouco menos de dezoito anos. Em primeiro lugar, no momento em que havia recebido sua carta, percebera sua irmã, Petúnia, se afastar, insistindo em apontá-la com a culpada pela desintegração da família. Aberração, era como a chamava. Quando, finalmente, chegou em hogwarts, tinha apenas seu amigo, Severus Snape, para lhe servir de apoio. Esse apoio, entretanto, se mostrou uma corda bamba, especialmente quando o (ex) amigo se aproximou de um tipo de magia que a ruiva abominava. O episódio do quinto ano fora apenas a dota d’água. A morte de sua mãe, um ano depois, coincidiu com a explosão de uma série de casos de perseguição à famílias trouxas, e a ruiva percebia claramente a animosidade crescendo entre as casas da escola. Percebia por excelência, na verdade, posto que os comentários de ódio eram, geralmente, direcionados a ela. E, sinceramente, odiava a ideia de ficar sentada a espera de um milagre, enquanto o mundo desabava do lado de fora.  

Foi pela manhã que havia descoberto sobre o assassinato das famílias trouxas. Sentada no Salão Principal, enquanto conversava com Mary Macdonald, recebeu sua coruja, a qual carregava consigo um exemplar do Diário do Profeta. Do momento que pousou seus olhos sobre a notícia, o mundo ao seu redor pareceu andar em câmera lenta. Seus olhos, que pinicavam com lágrimas que ameaçavam ser derramadas, tentavam focar no nome de cada uma das vítimas daquele massacre, mas apenas um conseguiu ficar marcado em sua mente. Auror Alfred Potter, bruxo que havia lutado com os comensais e, por acaso do destino, o único a sobreviver, ainda que se encontrasse em estado grave no hospital. Inconsciente. 

Os olhos de Lily, como por reflexo, vasculharam o Salão Principal, a procura de James. Como de se esperar, o jovem bruxo não havia comparecido para a primeira refeição do dia. A ruiva concluiu que, como membro da família, Potter havia sido avisado da tragédia previamente à publicação da história nos jornais. Uma parte de Lily a impelia a levantar da mesa e ir ao encontro de James. Eles não eram, de fato, amigos, mas raiva e ansiedade consumiam o interior da bruxa e, ainda que seu consciente tentasse convencê-la de que, indo atrás do colega de casa, estaria apenas tentando se agarrar a qualquer nova informação que Potter pudesse lhe der, uma parte da garota sabia que queria procura-lo para averiguar como o moreno estava.  

Sem tomar plena consciência de seus atos, Lily Evans levantou-se do seu assento na mesa da Grifinória, deixando uma falante Mary Macdonald levemente confusa, e retirou-se do Salão Principal. Suas pernas comandavam seus movimentos, mais que sua cabeça. 

...

A verdade era que James Potter era uma pessoa bastante previsível e, portanto, mesmo Lily, que o conhecia apenas precariamente, acertou com facilidade o esconderijo à luz do dia do bruxo. Arquibancada do campo de quadribol. Lily conseguia ver uma figura, vestida com um suéter vermelho, estirada no banco de madeira. Aproximou-se vagarosamente, sentando-se ao lado de James.   

James, por sua vez, estaria mentindo se dissesse que a presença de Lily não era, pelo menos levemente, surpreendente. Não ousou reclamar do fato, entretanto. Havia escolhido ir ao campo para ficar sozinho com os seus pensamentos, mas havia algo em Lily, algo como uma aura melancólica e calma, que o fazia relaxar, de forma que nenhuma quantidade de cigarros no mundo fazia. Por isso, apenas aproveitou a companhia da ruiva, que era, no caso de Potter, rara de ser adquirida. O casal permaneceu calado por bons minutos.     

— Seu tio é o auror citado no jornal, certo? - Lily iniciou a conversa, porque aquele silencio começava a consumi-la - Ele parece ser um cara legal.  

— Sim, tio Alfred Potter. Cara legal. - Respondeu Potter, após alguns segundos em silêncio -  Mas meio solitário, suponho. Não tem família, nem muitos amigos e nem costuma aparecer nas reuniões lá em casa. Acho que prefere manter uma descrição maior – Conclui o rapaz, seus olhos encarando o horizonte, sem saber exatamente no que que focar.  

— Parece uma forma meio solitária de se viver 

— É, mas parece uma boa forma para não morrer. - Contrapôs James - Ninguém pode te manipular se não souber qual arma usar contra você. 

— Suponho que sim. Mas de qualquer forma, não acho que seria o tipo de vida que eu optaria. - Evans concordou. 

— Nem eu, tampouco  

— Qual seria o tipo de vida que você optaria? - Questionou a ruiva, porque eram poucos os momentos que via essa lado – quase completamente humano – de James Potter. 

— Acho que você imagina que eu diria algo bem grandioso, como ministro ou algo assim. Mas a verdade é que sempre quis jogar quadribol. - Respondeu o moreno, indo em direção ao bolso e retirando um maço de cigarro - Se incomoda? - Questionou James, recebendo uma sinal negativo de Evans.  

— Não posso dizer que não combina com você.  

— Desapontada? - Perguntou James, com o familiar sorriso torto, enquanto acendia a ponta do seu cigarro 

— Na verdade, não. É bom saber que você tem sonhos como nós, meros mortais. - Disse Lily, fazendo com o que James soltasse uma genuína, mesmo que contida, risada.   

— E você, mero mortal? O que gostaria de fazer da vida? - Foi a vez de James questionar, encarando a ruiva no fundo de seus olhos, fato que fez algo no interior de Lily remexer, ainda que ela fosse incapaz de entender o porquê (ainda).  

— Professora de poções, acho. 

— Verdade? - Interviu, novamente, Potter, levantando uma de suas sobrancelhas - Pois me lembro muito bem de você mencionar algo como escrever contos no Profeta Diário quando éramos do quinto ano.   

— Como você lembra disso? - Questionou Lily, genuinamente curiosa pelo fato do moreno ter guardado uma informação tão banal por quase dois anos.  

— Eu tenho uma boa memória. - Disse o moreno, dando de ombros.   

— Bem, sim. Quando mais nova queria ser escritora... hoje em dia enxergo mais como um hobby, acho. - Concluiu a ruiva, optando por não entrar muito na questão, que era, de certa forma, bastante pessoal. Porque, em verdade, escrever era um sonho que compartilhava com sua mãe, um escritora de certo renome na comunidade trouxa inglesa. E, portanto, quando a Evans mais velha veio a falecer, Lily sentiu que aquele sonho havia, também, morrido. E esse era o problema de sonhos compartilhados, a ruiva pensava, pois precisam de dois para florescer.   

— Hobbies podem ser profissões. 

— Suponho que possam. - Concordou a ruiva, sem se delongar naquele assunto. - O que você acha... o que você acha que vai acontecer daqui para frente? Com a guerra, digo. - Questionou a ruiva, após alguns minutos contemplando o céu nublado de outubro. 

— Não sei... eu genuinamente não sei. É apenas... fodido, sabe? Não é como se supremacistas de sangue tivessem surgido apenas agora. Eles sempre existiram, a comunidade bruxa apenas escolheu ignora-los. - Começou o moreno – Imagino que pensavam que eram apenas um bando de velhos ranzinzas apegados à antiga ordem. Estavam enganados, no entanto. Aposto minha vassoura que pelo menos metade dos sonserinos do nosso ano concordam com toda essa merda. Estavam apenas escondidos. Voldemort foi a voz que eles precisavam para sair do casulo nojento que eles se escondiam. 

Lily observou atentamente o rosto de James, o maxilar tenso e os lábios comprimidos, como se faltasse apenas um empurrão para o bruxo gritar. Evans entendia aquele sentimento, ela o sentia quase todos os dias. Havia, curiosamente, encontrado algo que compartilhava com Potter. 

— Eu queria que tivesse algo que eu pudesse fazer. Odeio me sentir presa, como se estivesse esperando a próxima varinha ser apontada para o meu rosto, me chamando de sangue ruim. Sei que o feitiço que sair dessa varinha pode não ser uma simples azaração. - Disse a ruiva – Tudo isso... tudo isso me faz querer revidar, vingar todas as mortes, uma por uma, olho por olho. - Conclui Lily, percebendo, apenas naquele momento, o quão obscuro era aquele pensamento. 

— Bem, eu ficaria extremamente desapontado se você não o fizesse. - Afirmou James, virando o rosto para encontrar o de Lily, oferecendo-lhe um sorriso genuíno, o qual fora retribuído pela ruiva. 

O casal voltou ao silêncio. Dessa vez, entretanto, Lily não se sentiu acanhada. Era um silêncio confortável. James, por sua vez, encontrava-se plenamente imerso em seus pensamento. O apoio da bruxa ao seu lado não era algo que esperava quando despertou naquele dia, ainda que sentisse seu coração se aquecer por tê-la naquele momento. O que era patético, na verdade. Era patético o poder que a ruiva tinha sobre ele. Se Lily fosse um pouco mais observadora, perceberia as engrenagens no cérebro do bruxo rodando aceleradamente, dividido entre agarrar àquela amizade que ameaçava ser construída e tentar, uma última vez, tê-la do jeito que Potter queria desde que pusera os olhos na ruiva. 


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Notas finais do capítulo

É isso ;)



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