Encontros de Líridas - KakaSaku escrita por LoreyuKZ


Capítulo 7
Porque nós amamos clichês e caras com pinta de surfista


Notas iniciais do capítulo

SHOW TIME!



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Foi no terceiro pigarro que o ninja abriu seu olho assustado e pulou para o lado em uma pose atrapalhada de combate. Sakura arqueou a sobrancelha em resposta enquanto o pensamento de que um ninja deveria estar sempre preparado lhe rondava a mente.

Talvez isso não servisse para os ninjas de Kirigakure, mas não era da conta dela.

Kakashi estava com as mãos nos bolsos em sua postura relaxada de sempre, esperou que o ninja recém desperto percebesse a situação com um arregalar de seus olhos castanhos.

— Hatake Kakashi-sama! Haruno Sakura-sama! – Se apressou em dizer antes de fazer uma breve reverência — Eu sou Tanaka e estou encarregado de recebê-los em Kirigakure. Sejam bem-vindos!

Sakura e Kakashi se entreolharam por um instante e não precisaram dizer nada. O ninja Tanaka se empertigou diante do silêncio da dupla, que parecia esperar por uma continuação.

— Bem, eu normalmente levaria vocês ao encontro da Mizukage-sama agora, mas como é madrugada, acho melhor levá-los até o hotel de uma vez para que possam descansar e amanhã Mei-sama poderá receber vocês.

— Certo. – Kakashi disse naquele tom de voz habitual enquanto levava uma mão solitária para a cintura de Sakura, olhando para ela por um momento — Vamos?

Sakura o olhou por um segundo mais longo do que normalmente faria, concordou com a cabeça sem perceber o sorriso satisfeito do ninja Tanaka antes de falar um animado por aqui. Começaram a andar e a mão de Kakashi se sustentou na sua posição por um momento mais longo enquanto a conduzia com aquele toque suave por cima do tecido de seu suéter verde claro.

Por algum motivo, daquela vez, o toque de Kakashi era sentindo de uma forma muito mais clara pela mulher. Era como se os dedos dele fizessem sua pede quase formigar apenas pelo simples apoio. Quando se foi, Sakura sentia falta do breve calor que se espalhou pelo contato, e o frio naquela região a deixava mais consciente de que ele a havia tocado.

Suas bochechas estavam rosadas, mas talvez fosse apenas pelo frio noturno das lufadas de vento que vinham do mar.

O porto era longo, e naquele horário estava quase vazio. As poucas almas que passavam por ali pareciam estar se preparando para voltar para casa ou esperando pelo sol nascer. Haviam todo tipo de barcos ancorados, passarelas de desembarque, cabos de aço, caixas e mais caixas... Era tão extenso e caótico mesmo no marasmo da madrugada solitária.

Seus passos eram audíveis enquanto faziam aquela curva para finalmente deixarem o porto para trás. Kirigakure, em toda sua glória, se revelava diante dos olhos dos ninjas de Konoha, e até mesmo Kakashi, que já havia estado ali algumas vezes, se impressionou com a tamanha mudança que estava presenciando.

A Vila Oculta da Névoa Sangrenta não existia mais, ele sabia, mas ver prédios cheios de cores, ruas iluminadas, e todo um clima de paz era estranhamente satisfatório. A Kirigakure que Kakashi conheceu era sombria e densa, até o vento parecia ser mortal se você se descuidasse, mas aquele lugar... O ninja sorriu enfiando as mãos nos bolsos um pouco mais tranquilo antes de olhar para Sakura pelo canto do olho.

Ele estava intimamente feliz que ela não fosse conhecer a Kiri de outrora, mas sim um lugar bem mais convidativo, afinal era para isso que estavam ali. Férias felizes.

Tanaka fazia questão de explanar brevemente sobre alguns lugares que ambos não podiam deixar de visitar, como uma casa de banho ao final de uma larga rua adjacente, ou um restaurante da esquina que tinha uma placa chamativa. O ninja também explicou que, oficialmente, o festival duraria apenas três dias, mas que a população e comércio já estava cheio com as barracas e serviços que só existiam naquela época.

Sakura olhou para Kakashi animada e ele sabia que a moça já estava planejando todo o itinerário sem nem mesmo conhecer a cidade. Ele piscou para ela sem interromper o discurso de seu guia, que falava com orgulho de tudo o que Kiri havia se tornado sob a administração de Godaime Mizukage, começando pela arborização da vila, abertura das fronteiras e melhora nos serviços públicos essenciais.

Mas eles só estavam tendo uma visão superficial de tudo, afinal, era de madrugada e as ruas estavam desertas. Ambos sabiam que sentiriam melhor a cidade quando as pessoas estivessem acordadas, na rua, se mexendo e fazendo daquela vila um lugar que eles pudessem se orgulhar em viver. Sakura mal podia esperar para desbravar as ruas de Kirigakure.

E logo se aproximaram do grande prédio no meio da cidade, pintado de azul com detalhes em branco, com uma fachada pomposa em madeira rústica com os caracteres entalhados à mão: Hotel Tohoku Godon, cinco estrelas.

A moça soltou um ruído animado de alguém que estava impressionada e Kakashi deu uma pequena risada diante daquela reação divertida de Sakura. Tanaka os olhou com satisfação antes de adentrar pela porta larga que levava a um lindo saguão decorado com elementos da cultura do país da Àgua, enquanto Kakashi apenas apoiou vagarosamente a mão na cintura da moça afim de conduzi-la pela passagem num movimento automático.

— Olha. – Ele sussurrou em seguida ao indicar a direção com a cabeça.

Havia um quadro de avisos com um cartaz pregado bem no centro, chamando os turistas para um super passeio nas grutas mágicas de Kirigakure. Sakura sorriu animada, virando para Kakashi com seus olhos ansiosos.

— A gente pode ir amanhã.

— Vamos ver se vamos ter tempo. – Ele disse voltando a andar ainda com a mão apoiada tranquilamente em Sakura — Acabamos de chegar afinal.

— Ora, nós temos que ter planejamento.

— Mas nós temos planejamento, só que ele é um tanto... flexível.

Sakura revirou os olhos.

— Desse jeito você vai me enrolar e eu nunca vou ver as grutas mágicas. – Ela riu — Por que grutas mágicas? – Perguntou aleatoriamente com sua expressão divertida e Kakashi deu os ombros, afinal, nem ele sabia.

— Porque elas são mágicas!

Se viraram para ver Tanaka perto do balcão juntamente à jovem que parecia ser a funcionária do local.

— Sejam bem-vindos ao Hotel Tohoku Godon! – A moça falou daquele jeito polido — Os senhores têm uma reserva?

Kakashi e Sakura se entreolharam antes de se virarem para Tanaka, que se empertigava num frenesi, como se acabasse de lembrar sua função ali.

Oh, sim. Chika-chan, a Mizukage-sama disse que acertou tudo. Veja se tem alguma reserva no nome dela.

— Já falei pra você não me chamar assim no trabalho – A menina resmungou baixinho enquanto vasculhava os registros.

— Bah, desculpe. Kobayashi-san, pode ser que esteja no nome da Hokage. Veja Senju Tsunade-sama também.

— Não tem nada aqui, Tanaka. – A menina soltou — Estamos lotados por conta do festival, se não houver uma reserva não consigo acomodá-los. – Completou enquanto o olhava de maneira séria.

A dupla olhou para os ninjas estrangeiros que estavam parados diante dos dois e haviam escutado absolutamente tudo. Tanaka riu sem jeito passando a mão pelo cabelo castanho e a recepcionista tinha um sorriso amarelo no rosto. Kakashi suspirou.

— Vejam em nome de Hatake Kakashi.

Chika olhou seus registros mais uma vez.

— Nada.

— E Haruno Sakura?

Ela abaixou a cabeça mais uma vez e então levantou com um sorriso.

— Aqui está! Haruno Sakura-sama! Foi feita uma reserva para sete dias, e... uh... – A menina puxou um par de chaves de detrás do balcão e parecia estar vendo algo estranho — Pacote completo! Vocês têm acesso a nossa sauna, e suas três refeições estão inclusas no pacote!

— Tsunade-sama é mesmo generosa— Sakura sorriu satisfeita fazendo uma nota mental para agradecer sua mestra assim que tivesse oportunidade.

— Vocês podem subir por essa escada. O quarto é o 506, com vista para a cidade. – Sorriu.

Chika deu mais algumas instruções breves sobre o serviço de quarto, horários das refeições e funcionamento da sauna antes de simplesmente agradecer pela preferência. Antes que pudessem subir, no entanto, Tanaka se adiantou em avisar que iria estar às 10 horas no saguão do hotel, esperando a dupla para um almoço com a Mizukage. Kakashi e Sakura apenas anuíram, agradeceram pelo bom trabalho e finalmente se despediram.

Começaram a subir as escadas sob a luz branca das arandelas.

— Sabe, esse hotel deve ser mesmo muito bom – Sakura começou daquele jeito aleatório — Porque Ino me contou que na última missão que ela teve com time 10, Tsunade-sama reservou quartos individuais para cada um deles. Acho que quando ela fez nossas reservas, o hotel já deveria estar lotado.

— Em missões diplomáticas, os Kages geralmente gostam de ostentar um pouco. Nós viemos por férias, mas receber o futuro Hokage ainda é um ato político. – Ele respondeu ocultando o motivo real de estarem ali — Talvez as regalias tenham sido cortesia da Mizukage-sama em boa fé nas futuras relações políticas.

— É... Talvez. – Sakura deu os ombros — Mas estou feliz que vamos ficar num hotel bem chique como esse sem ter que tirar um ryō do bolso.

Kakashi sorriu. Ele também estava.

— Sinto muito por ser um quarto duplo.

— Tudo bem, Kakashi. É até bom porque assim eu posso garantir que você não vai se atrasar pros nossos passeios turísticos – Ela girou no corredor apontando para ele com os dedos enquanto sua expressão divertida o contagiava.

— Você sempre pode tentar.

— Ah, não me subestime – Ela disse ainda virada para ele, andando de costas pelo corredor enquanto os quartos passavam lentamente. 502, 503...

— Jamais o faria. Você sabe que eu confio no seu potencial.

Sakura o olhou em desafio e Kakashi estava tão tranquilo como sempre. Ele sabia que Sakura provavelmente conseguiria fazê-lo se adiantar um pouco mais, mas não tanto quanto ela planejava. Seria um meio termo, e o homem estava disposto a ceder se ela também estivesse.

Pararam de frente à porta do 506 e Sakura enfiou a chave no local enquanto resmungava que ele não perdia por esperar. Tudo bem, ele pensou, vamos ver o quão cedo ela o conseguiria fazer chegar para o almoço com a Mizukage.

E assim a porta se abria, e Sakura adentrou ao quarto espaçoso com luzes amareladas dispostas em abajures de piso, que decoravam o ambiente num estilo rústico. Tudo era feito de madeira, assim como o lustre bonito no centro do local. Havia uma mesa próxima à uma janela ampla de cortinas pesadas, as cadeiras eram acolchoadas em um couro de tom bege bem trato.

Tapetes com padronagens sofisticadas traziam um tom mais chique para o local, assim como os puxadores do armário em um tom dourado envelhecido. Havia uma porta de madeira que provavelmente levaria ao banheiro, e mesinhas de cabeceira que eram um primor de tão charmosas, sustentando mais abajures. Era lindo, iluminado... Era perfeito.

— Deve ter havido algum erro.

Foi a única coisa que Sakura conseguiu dizer quando colocou os olhos naquilo.

Uma cama enorme que cabia umas três pessoas com conforto. O colchão alto tinha lençóis convidativos naquele mesmo tom de bege das cadeiras, e pareciam ser tão caros. Sakura encarou os travesseiros largos, a dobra cuidadosa do cobertor, o jeito fino da fibra do tecido; e à medida que seus olhos analisavam a cama, a moça apenas deixava seu rosto assumir aquele tom vermelho de maneira inevitável.

O silêncio pairou no quarto, porque Kakashi também precisou de um tempo para assimilar aquilo enquanto a imagem de Fumiko surgia em sua mente dizendo todas aquelas coisas sobre como camas de casal eram a melhor opção.

Ele não ia ficar numa cama de casal com Sakura.

— Eu vou na recepção. – O homem disse de maneira prática, pronto para resolver um problema.

— Não vai adiantar – Sakura disse — A recepcionista disse que não haviam mais vagas.

Ah, sim...

Kakashi pensou em sugerir que ficasse em outro hotel, ele não se importaria em pagar, mas se o hotel mais caro do lugar estava lotado, então os menos caros também deveriam estar, afinal... Havia o festival para movimentar Kirigakure. No final das contas, ele não tinha muita saída além de aceitar o que estava lhe sendo oferecido.

Sakura o olhou completamente vermelha, e ele também estava sentido que se abaixasse sua máscara, ela veria o mesmo tom rubro em seu rosto.

— Yare-yare – Se forçou a dizer quando ela desviou o olhar — Não tem muito o que fazer, então você fica com a cama e eu durmo no chão.

— O quê? Não. – Sakura disse rápido demais, e estava pronta para citar todos aqueles motivos pelos quais ele não deveria dormir no chão, mas o homem apenas maneou a mão ao vento enquanto cruzava o espaço para por sua mochila em cima da mesa.

— Não se preocupe com isso, Sakura – Ele disse pegando seu velho saco de dormir — São só algumas noites.

O tom de voz dele era tão tranquilo como nos outros dias. Não era uma escolha difícil para ele deixar que Sakura ficasse com a cama, ela sabia, mas ela odiava o fato de que ele simplesmente não se importava nenhum pouco a ponto de resolver isso num mísero segundo.

Depois de uma longa viagem, eles finalmente tinham chegado à Kirigakure e não era justo que ele continuasse dormindo no saco de dormir surrado enquanto ela aproveitava a luxuosa cama do hotel que cabia umas cinco de si mesma com conforto.

Sakura olhou para a cama e havia tanto espaço ali, o suficiente para que os dois pudessem dormir sem sequer encostar um no outro. Além disso, eles eram dois adultos que se conheciam a muito tempo e ela sabia que Kakashi jamais seria inapropriado com ela. Olhou para ele, que estava de costas tirando algumas coisas da sua bagagem, e inevitavelmente lembrou-se daquela aula de anatomia. Fechou os olhos e era como se ela pudesse voltar no tempo.

Oh, céus...

Ela não devia pensar nele desse jeito, pelo menos não quando estava prestes a simplesmente dizer o que tinha pra dizer. Passou a mão entre os cabelos como um gesto de preparação antes de tirar sua própria mochila e ir na direção daquela mesa.

— Kakashi, guarde isso – Ela disse quando alcançou a mesa, colocando sua bagagem ali em cima.

O ninja virou o rosto na direção dela um tanto confuso, e então seus olhos se encontraram.

— A cama é grande o suficiente para nós dois. Apenas escolha um lado e... – Deu os ombros com suas bochechas coloridas em vermelho — Vamos só dormir.

— Sakura... – Ele disse com aquele tom.

— Kakashi, eu não vou deixar você dormir no chão quando temos uma cama desse tamanho, e eu não ocupo nem um terço dela. – E o olhou de maneira muito sincera — Se insistir em dormir no chão, então eu vou dormir também e a cama fica aí pros fantasmas.

O homem olhou para cama e depois para Sakura, ainda hesitante, ainda incerto. Não é que ele não concordasse com ela, afinal a cama era grande o suficiente para que os dois dormissem tranquilamente, mas dormir na mesma cama era algo... Complicado. Havia muitos significados nisso, muitas insinuações, e ele tinha sempre que ter em mente que Sakura era sua aluna quatorze anos mais jovem, e tudo bem que ela já não fosse mais sua aluna e que já fosse uma adulta, ainda assim...

Ainda assim ela o olhava daquela maneira dizendo que tudo bem dividir a cama, mesmo depois do que aconteceu horas antes, quando aquele dedo desenhando um caminho tortuoso pelo seu corpo lhe causou todas aquelas coisas. Era como se ela não tivesse percebido ou não tivesse lhe afetado.

Mas por que ele estava sequer pensando naquilo? Nada tinha acontecido. Nada a afetou porque não havia nada para ser afetado. Aquelas sensações, coisas, eram meramente um reflexo natural do que estava acontecendo. Não tinha nenhum significado.

Se negasse, que mensagem estaria passando?

— Eu quero o lado esquerdo.

Sakura sorriu satisfeita com a vitória.

— Logo o lado que eu durmo?

— Você quem disse para eu escolher.

— Oh, céus... – Ela resmungou dando os ombros — Tudo bem, fica com o lado esquerdo. O direito parece mais confortável de toda forma.

Kakashi riu antes que ela declarasse ir usar o banheiro primeiro. Não demorou muito para que ela voltasse num pijama improvisado com aquele blusão largo escrito “Floricultura Yamanaka, as melhores flores estão aqui” com um short listrado em azul claro e branco.

— Pensei que você usasse conjuntos de pijama.

Kakashi disse no automático, externando o pensamento sem sequer pensar sobre ele. Sakura o olhou, e então olhou para sua roupa, e olhou para ele novamente com um tom rosado no rosto.

— Eu compro conjuntos, mas acabo só usando os shorts. – Explicou parecendo desconfortável?

Onde ele estava com a cabeça? Mais inapropriado impossível.

— Eu vou usar o banheiro agora – Comunicou antes de seguir.

Sakura viu a porta se fechar e novamente olhou para sua roupa, lendo os kanjis da blusa que havia ganhado de Ino a anos. A loira sempre lhe disse que ela se vestia que nem mendiga para dormir, mas Sakura nunca se incomodou. Durante a viagem, eles dormiam com sua roupa de viagem, mas uma vez no hotel, Sakura achava que teria um quarto só para si, e então... bem.. Talvez ela devesse ter levado um conjunto completo ao invés de blusões velhos e shorts fofinhos.

Se enfiou debaixo da coberta do lado direito da cama após desligar as luzes principais. Os abajures das mesinhas de cabeceira permaneciam ligados com sua iluminação baixa, e a cortina pomposa impedia que grande parte das luzes noturnas da vila adentrassem o cômodo. Sakura sentiu o travesseiro fofo lhe acolher e fechou os olhos brevemente podendo dormir a qualquer momento, afinal, estava cansada de verdade.

Abriu o olho apenas quando ouviu o levíssimo bater da porta do banheiro para ver Kakashi em calças largas e naquela camiseta ligada à máscara. Revirou os olhos no automático fechando-os novamente com um resmungo mental enquanto ele apenas buscava seu espaço no lado esquerdo da cama, fazendo o colchão se mexer naturalmente no processo.

Ela abriu os olhos novamente, muito mais consciente de que ele estava bem ao seu lado, virou o rosto de modo discreto para vê-lo sob a penumbra suave. Kakashi a olhava também e havia esse espaço neutro entre eles, espaço esse que não deveria ser cruzado por nenhum deles, já que estavam dividindo até mesmo o cobertor.

— Não te incomoda dormir com isso? – Sakura perguntou com a voz mais pra lá do que pra cá, numa tentativa de esquecer um pouco todo o contexto antes de se deixar adormecer.

— Eu estou acostumado – O homem respondeu dando os ombros.

— Você pode tirar se quiser, eu não vou olhar.

Ele riu.

— Certo.

E foi a vez de ela rir.

E quando suas vozes se foram no discreto silêncio noturno, Kakashi se empertigou para apagar a última luz dentro do quarto. A escuridão pairou e ele ouviu o ruído mudo dos lençóis se atritando quando Sakura se moveu um pouco mais, se arrumando para cair confortavelmente no mais profundo sono. Ela bocejou, e logo em seguida Kakashi também o fez, escutando uma risadinha grogue da garota que obviamente estava prestes a embarcar no melhor dos sonos.

Não demorou muito e Sakura parecia estar dormindo.

Ele ficou em silêncio olhando para o teto no meio daquela escuridão, ainda se sentindo esquisito pela presença dela bem ao seu lado. Suspirou antes de bocejar e acabou dando uma risada semelhante à dela, meio grogue, meio sonolenta. Certo... Fechou os olhos de maneira inevitável, e quando não se deu conta, estava dormindo.

...

O lance de ser um ninja era que dormir em lugares que não fossem sua casa era complicado. Kakashi estava acostumado a deixar o corpo num estado onde ele pudesse estar atento aos arredores e ainda assim conseguisse algum tipo de recarga. Não importava se ele estava numa floresta densa ou num hotel de luxo, se não fosse sua casa, Kakashi apenas descansava nesse modo de sempre alerta, e assim acordava com facilidade diante de qualquer coisa mínima.

Foi só por isso que o homem viu quando Sakura girou na cama com um resmungo, e jogou uma perna sobre a sua. Não só a perna, mas um braço também; e a cabeça feminina, de alguma forma, veio parar em cima do peito dele de maneira aparentemente muito confortável.

Como se não bastasse, Kakashi abriu os olhos um tanto grogue, percebeu que era Sakura e sua mente relaxou, entrando naquele modo automático de vamos voltar a pseudo-dormir. Só por isso ele se ajeitou conforme o corpo dela, e a abraçou com aquele braço que estava por baixo da moça sem sequer perceber que estava fazendo.

Talvez eles passassem o resto de noite daquela maneira não fosse um resmungar indistinto e o manifestar suave do chakra curativo que Sakura enviou para a ponta de seus cinco dedos, aqueles que estavam em cima do homem e o fez abrir os olhos de maneira mais desperta.

O que...?

Kakashi se perguntou quando percebeu a situação de maneira completa. Oh, céus... Sakura estava dormindo, com certeza, e seu controle de chakra era tão absurdamente perfeito, que até mesmo sonhando ela conseguia executar seu jutsu de cura com maestria. O homem sentia a região de seu abdome ser estimulada pelo chakra que ela emitia tão suavemente, quase como um carinho.

Mas isso não era o problema.

O problema era ter uma Sakura praticamente em cima de si quando eles não deveriam estar daquela maneira.

A primeira coisa que o homem fez, foi estender sob o colchão aquele braço que a envolvia. Ele não iria abraçar ela enquanto dormia. Olhou para ela, o topo da cabeça e parcialmente seu rosto, completamente assustado. Deveria acordá-la, não é? Primeiro porque ela estava gastando deu chakra à toa, e isso a faria acordar cansada provavelmente, e segundo porque... Era inapropriado.

Totalmente inapropriado.

O homem, por mais que tivesse certa urgência em tirá-la de cima de si, sabia que se o fizesse, a moça acordaria. Sim, tinha sido pego desprevenido diante do ato inconsciente de Sakura, mas ele tinha que pensar bem antes de fazer qualquer coisa, ainda que estivesse sentindo seu rosto quente pela repentina vergonha. Oh, céus... Ele soltou olhando para o outro lado, o lado que não havia Sakura.

Se tentasse tirá-la de cima de si e ela acordasse, Sakura ficaria constrangida, ele sabia, e tal evento poderia prejudicar o resto do dia, podendo até mesmo perdurar durante toda a semana numa estranheza envergonhada por parte dela, e Kakashi não queria isso. Ele queria o equilíbrio que eles tinham construído, afinal, tinha que admitir que estava aproveitando a companhia dela de maneira integral.

Oh, sim.

Ele olhou para ela novamente em seu rosto adormecido, ainda com a mão enviando seu chakra colorido em verde para seu peito com uma serenidade única. Era estranho, não é? Ter vontade de tocar o rosto dela? Afastar aquela mecha de cabelo para ter uma visão melhor do que podia ver dali de cima? Mas ele não pensou muito e apenas o fez. Estava evitando pensar desde... Semanas atrás.

Demorou dois segundos olhando para ela antes de sentir aquele misto de necessidade e urgência em desviar seu olhar, como se estivesse ficando exposto demais ainda que só houvesse ele como testemunha daquele ato. Era inapropriado. Ela estava dormindo e qualquer coisa que fizesse, por mínimo que fosse, soava errado.

Ele deixou o ar escapar pela boa com um ruído que preencheu o quarto, e nesse momento o chakra dela aumentou sua intensidade, fazendo com que ele se sentisse preenchido por ela.

Engoliu seco ao passar sua mão livre nos cabelos, ainda sem querer acordá-la por medo de sua reação, mas ao mesmo tempo sabendo que precisa muito tirá-la de cima de si. Bem... Se eles superaram facilmente a aula de anatomia, provavelmente superariam aquilo.

— Sakura...?

Ele sussurrou um pouco alto, um pouco suave. Esperou e ela não parecia reagir em resposta. Chamou novamente o nome da mulher, um pouco mais alto, mas ainda um sussurro, e então a viu soltar um ruído mínimo do fundo de sua garganta, enquanto seu chakra lentamente se acalmava, cessando aquele jutsu involuntário que estava fazendo.

Novamente o silêncio.

Sem a luz breve daquele jutsu, Kakashi perdia um pouco mais de visão, mesmo assim ainda conseguia ver a silhueta dos móveis e um pouco de Sakura por conta dos primeiros raios de sol que escapavam pelas laterais da cortina pesada. O sol estava nascendo e logo Sakura acordaria naturalmente, ele imaginava.

Se sentia um covarde, mas achava que o melhor a se fazer era apenas fingir que estava dormindo e deixá-la acordar primeiro, assim ela poderia simplesmente sair de cima dele sem acordá-lo e fingir que nada tinha acontecido naquela noite.

Quer dizer, nada tinha acontecido naquela noite, de fato, mas... Enfim.

Ele fechou os olhos, mas a presença dela era absoluta. Sua respiração, o cheiro, o toque... A sensação calorosa de tê-la dormindo praticamente em cima de si era estranhamente acolhedora. Não pensar era difícil quando a tinha desse jeito, tão perto, e por isso abriu os olhos na tentativa de sumir com aquelas ideias que flutuavam na vastidão de sua mente.

Até pensar soava errado naquela situação.

Estava tudo errado.

Ele não deveria ter cedido. Dormir na mesma cama que sua jovem aluna era uma transgressão moral bem grave, uma das piores, principalmente quando aquela parte de si estava apreciando cada segundo daquilo.

E não era só o fato de Sakura estar dormindo sobre ele, mas sim tudo. A companhia, os silêncios, as conversas, as risadas, os olhares... Ele gostava de como seu nome soava interessante na voz dela. Gostava das mãos dela, to toque um tanto áspero, mas completamente confortável. Sakura era um tanto aleatória também, o que deixava tudo mais surpreendente.

É, ele estava mesmo apreciando cada segundo daquilo.

Principalmente quando ela parecia se importar demais sobre ele estar transando com alguém aleatório, ainda que ele soubesse que não se tratava disso, não é? Mesmo assim, lá no fundo, Kakashi desejava que fosse exatamente isso.

Aquela voz irritante surgia no fundo de seu ser apenas para dizer ela está com ciúmes, quando na verdade era apenas Sakura curiosa sobre a vida do seu velho professor e puta com o tratamento que estava recebendo da recepcionista atirada.

Estava tudo errado.

Tudo.

Ele se forçava a pensar que a aula de anatomia tinha sido toda sobre criar uma oportunidade para que ela pudesse arrancar aquela máscara dele. Aquela tensão foi apenas sobre isso, sobre o jogo de ver ou não seu rosto e o desafio implícito nisto. Não era sobre o toque mínimo dela em seu corpo e sobre como ele queria poder tocá-la também, não era sobre a vontade de calá-la apenas para conseguir ouvir sua voz não articular nenhuma palavra.

Sakura era sua aluna. Sua aluna 14 anos mais jovem.

Era seu novo mantra.

Toda vez que sua mente cedia e quase conseguia nomear o que estava acontecendo com o homem, aquela frase caia como uma bala de canhão destruindo tudo a sua volta. Não podia nomear aquele sentimento, porque no instante em que fizesse, então tudo se tornaria real, e era tudo que ele não precisava, afinal...

Sakura era sua aluna. Sua aluna 14 anos mais jovem.

Agora o homem estava ali, com Sakura dormindo o sono dos justos sobre ele enquanto resmungava num transparecer de seus sonhos um breve “e daí?”

E então sorriu.

A olhou por um longo momento e, em seus sonhos, Sakura parecia zombar dele. O homem sorriu sem saber porque o tinha feito, e então soube que precisava se ocupar até a moça despertar, porque pensar era perigoso de diversas maneiras. Diversas.

Catou Laranjeiras que estava na mesa de cabeceira ao seu lado, a iluminação baixa o fazia forçar a vista, mas era melhor do que deixar a cabeça por conta de seus pensamentos. Abriu o livro com a maestria de quem fazia aquilo o tempo todo, ler com uma só mão era algo tranquilo para ele, principalmente livros pocket como aquele, e então começou sua leitura.

“Não faça isso!” Doko gritou entre risadas. “É sério! Eu tô rindo, mas é sério!”

“Se você não quer que eu faça, então venha me parar!” Respondeu em seu tom de voz divertido. “Olhe, eu vou contar até cinco....”

“Eu não consigo chegar ai em cinco segundos!” Choramingou enquanto a contagem se iniciava.

“3... 2....”

“Ei, você vai se machucar!” Ele disse desmanchando o sorriso.

“Vou estar te esperando lá embaixo” A moça disse dando os ombros “Quando estiver pronto, se jogue também.”

E antes que ele pudesse retrucar, a mulher apenas pulou daquela enorme cachoeira. O homem correu até a beirada completamente assustado. Olhou para o final da queda d’água procurando algum sinal da moça, seu coração batendo acelerado em preocupação, até que viu os loiros cabelos emergindo e a risada dela ecoando.

“É maravilhoso!” Ela gritou “Pula!”

Suas pernas viravam gelatina só de pensar em jogar daquela altura.

“Eu não acho que eu consigo.” Respondeu “Vou te esperar aqui em cima.”

“Nããããoo... Pula aqui! Eu não quero voltar para onde estávamos.”

“Mas...”

“Chaaaaa-tooo” Ela disse naquela voz de zombaria, ainda aos berros.

Ele queria ir, genuinamente queria, e o fato de ela ter pulado o encorajava, mas... Talvez ele não fosse como ela. Talvez ele não aguentasse a queda.

Olhou para a amiga lá embaixo novamente, medindo sua coragem em contraponto com a distância da queda. Até onde estava disposto a ir? Ele não sabia. Nem sabia que estava disposto a ir de verdade.

“Eu tô com medo! Você sabe!” Reiterou o que vinha dizendo à moça desde que a encontrou. Era um covarde.

“Bobagem! Quando você estiver aqui em baixo nem vai se lembrar que teve medo um dia.” Ela respondeu daquele jeito tão dela. “Puuulaaaa.” Berrou mais alto, mais divertida.

É mesmo, não é? Ter coragem significa ter medo também, mas quando você o vence, ninguém lembra do medo.

Ele inspirou profundamente, enchendo seu peito de ar. Fechou os olhos com força e os abriu, determinado. Suas pernas ainda eram como gelatinas, mas ele conseguiu dar passos para trás antes de sair em disparada, correndo a curta distância para finalmente, com um grito enorme, jogar seu corpo cachoeira a baixo.

Poderia ter estourado os tímpanos das aves – elas tinham tímpanos? – mas o importante foi que em dois segundos, seu corpo estava em plena queda, e eu coração parecia querer sair pela boca a qualquer momento. Afundou na água cristalina, abriu os olhos enquanto submerso e se impulsionou para cima, submergindo.

“Você conseguiu!” A menina disse, se jogando das margens para dentro da água novamente, abraçando-o com entusiasmo “Eu sabia que você ia conseguir!”

“Eu ainda estou tremendo!”

“É o frio!” Ela disse rindo e ele apenas riu com ela, completamente atordoado pelo feito tão simples.

“Você teve medo?” Ele perguntou ofegante, seu coração ainda batendo tão rápido “Antes de pular, você teve medo?”

A garota, com seus braços em torno do menino, sorriu divertida diante da pergunta.

“Eu te falei, você nem lembra que teve depois de pular!” Ela respondeu encolhendo os ombros “Mas eu confesso, estava apavorada.”

Sorriram cúmplices.

...

Abriu os olhos se sentindo um tanto grogue. O quarto já estava meio claro, o que significava que tinha dormido demais. Sim... Ela estava cansada de verdade e se permitiu dormir como se estivesse em sua própria casa, afinal, o único compromisso inadiável que tinha era aquele almoço com a Mizukage, que seria apenas de meio-dia, então poderia dormir o quanto quisesse.

Esfregou o rosto no travesseiro de maneira breve enquanto sua mão alisava o tecido da fronha na qual se agarrava. Bocejou enquanto forçava seus olhos a abrirem com mais determinação, e foi quando percebeu que seu travesseio estava... esquisito.

Não lembrava do tecido da fronha ser escuro e tão grosso.

Na verdade, ela não lembrava do travesseiro emitir um cheiro próprio tão característico, além de um calor suave como aquele que ela sentia.

Oh, merda.

Ela sabia o que tinha acontecido.

Engoliu a seco quando ouviu o passar de página suave perto de seu ouvido, e seu rosto pegava fogo enquanto ela se dava conta do que tinha acontecido de verdade.

Hatake Kakashi era o seu travesseiro.

Muito confortável, por sinal.

Ficou parada, estática. Queria se fingir de morta para tentar pensar em alguma desculpa.

Como se ele não já soubesse que ela havia acordado.

Diacho de ninja de elite atento a todos os detalhes!

Não que ela tivesse sido muito discreta.

A moça se moveu cuidadosamente, levando seu rosto para uma posição que pudesse ver o rosto do homem no qual estava deitada em cima. Não foi uma surpresa quando seus olhos se encontraram, ele com aquele livreto repousado na mão e semblante tranquilo.

— Yo.

É claro.

— B-bom dia.

Ela não imaginava que seria capaz de articular qualquer palavra, mas aquele bom dia tinha saído até que decente, e só por isso ela se encorajou um pouco mais.

Ficaram em silêncio, se olhando. Sakura completamente escabreada diante do olhar neutro de Kakashi.

Mas que porra.

— Dormiu bem?

De todas as perguntas, Hatake Kakashi resolvia quebrar o silêncio com aquela.

— S-sim. – E Sakura respondeu rapidamente, sem dar chances para pensar demais. — E você?

— Muito bem.

Mais um momento de silêncio foi feito.

— Eu acho que eu... vou... – Ela dizia em pausas, seu olhar desviando do dele a cada palavra.

— Tudo bem.

Ele a sentiu concordar com a cabeça antes de sair de cima de seu peito um tanto desajeitada. Sakura até tentou esconder o rosto por trás de seu cabelo, mas ele viu a vermelhidão desde o momento em que seus olhos se encontram. Será que ela havia notado que ele também estava vermelho? Por sorte, não.

Então ela apenas rolou para o lado direito percebendo que ele estava com o braço estirado o tempo todo. Não a tocou, o que só deixava as coisas mais esquisitas. Provavelmente tinha sido uma merda de noite, o braço dormente, o desconforto, o calor...

Se bem que estava na temperatura certa, pelo menos pra ela.

Ficou um momento olhando para o teto enquanto tentava encontrar alguma coragem.

— Sakura?

Mas é claro que Kakashi não estava disposto a esperar, e só por isso ela virou com um pedido de desculpas em seus olhos.

— Kakashi, eu não sei o que houve. Eu não lembro de ter... rolado pra cima de você. Eu não------

— Sakura – Ele chamou percebendo o atropelo das palavras — Tá tudo bem. Não foi nada demais.

O olhar dela era cauteloso, mas ainda havia aquele pedido de desculpas nos olhos dela.

Desculpar pelo quê? Ele quem deveria se desculpar.

— Eu tô tão envergonhada. – Ela disse finalmente, desviando o olhar no processo com seu rosto apreensivo. — Eu devo ter te incomodado a noite toda.

— Eu já disse que está tudo bem. – O homem ressaltou dando os ombros de maneira mínima — Quando eu acordei, você já tinha se mexido, e aí eu só... Esperei você acordar. Então não se preocupe, eu dormi muito bem.

Tudo mentira, mas ela não tinha como saber. Kakashi só queria que ela se livrasse logo daquele sentimento de embaraço para que pudessem seguir em frente. Quanto mais rápido ela esquecesse, mais rápido ele poderia esquecer todos aqueles pensamentos noturnos.

Sakura o olhou novamente, e ele já não sabia o que ela estava pensando.

Um momento de silêncio se fez.

— O que você estava sonhando?

Ele perguntou em seguida, fugindo daquela estranheza. Ela franziu o cenho confusa, ainda parecendo constrangida demais, e aquela coisa no fundo do seu ser queria apenas confortá-la.

Pff...

— Hã... Eu não sei. – Ela respondeu depois de um momento, seu olhar pendendo pensativo antes de retornar para ele — Aconteceu alguma coisa?

— Você usou jutsu de cura na ponta dos dedos— Ressaltou com humor — Sério, cada dedo seu estava emitindo seu jutsu de cura individualmente. Você é assustadora com esse controle tão fino de chakra.

Sakura riu parecendo um pouco mais a vontade.

— Eu não lembro o que sonhei. Desculpe pela cura? – Riu um pouco mais, desviando seu olhar para o canto antes de retornar — Acho que era algo com um gato de rua.

— Será que ele estava ferido?

— Talvez. – Sakura deu os ombros e mais um momento de silêncio pairou. — Que horas são?

— Acho que dez.

— Oh, céus... – Ela resmungou passando a mão entre os cabelos antes de por os pés para fora da cama e se sentar de costas para ele — Estamos atrasados – Disse olhando por cima do ombro com humor.

— É... – Kakashi soltou olhando cúmplice para a moça, seu bom humor estampado nos olhos.

— Você é inacreditável – Ela riu enquanto se levantava, esticando o corpo no processo para se livrar da preguiça.

Kakashi a acompanhou com os olhos, o jeito que ela jogou os braços para o alto e a blusa enorme se acomodou em meio aos movimentos. Ela soltou um longo ruído característico do espreguiçar e finalmente deu alguns passos para contornar a cama.

O homem se empertigou.

— E esse seu livro? Já terminou? – Perguntou quando alcançou a janela.

— Estou no último capítulo. – Ele informou tranquilo — Não sei se você vai gostar. Ele não é tão parado quanto o outro que você leu, mas a história é mais sobre... não sei, a vida.

— Sobre a vida? – Ela riu brevemente — Todos os livros não são sobre isso? A vida dos personagens?

Sakura se virou após abrir as cortinas.

— Sim, mas... bem... Alguns são mais centrados em alguns pontos determinantes, como o romance ou algum desafio que o protagonista precisa superar. Esse livro não é sobre romance ou superação, é só sobre... Duas pessoas fazendo coisas e aprendendo sobre elas mesmas.

A mulher ficou em silêncio observando o rosto do homem iluminado pela luz mais intensa do sol. Haviam aquelas sombras de oclusão no rosto dele, e a máscara estava lá muito bem posicionada, mas Sakura não pôde evitar achá-lo particularmente bonito enquanto a olhava daquele jeito.

— E qual o sentido do título? – Ela perguntou depois de um momento, brevemente corada.

— Eu não sei. – Kakashi relevou com honestidade.

Sakura sorriu.

— Certo. – A moça disse se aproximando do homem apenas para por uma mão na cintura e o olhar mais de perto — Se eu descobrir, eu conto pra você.

— Fico te devendo uma.

— Vou me arrumar pro almoço. Não demoro.

— Ok.

E então a moça saia na direção do banheiro, fechando a porta com um ruído minúsculo. Olhou-se no espelho grande por um longo momento, seu pensamento tão em branco, tão flutuante. Soltou o ar como se precisasse renová-lo dentro de seu próprio corpo. Céus... Resmungou para si mesma sentindo seu rosto ficar tão vermelho novamente.

Mas que diabos...

Colocou a mão por cima dos lábios enquanto tentava processar os eventos da manhã, que mal havia começado e já estava lhe tirando a paz.

Se lembrou do rosto dele, tão tranquilo, olhando para ela. Parecia que ele realmente não tinha se importado com o que havia acontecido, e aquilo a deixava um tanto inquieta. Nem mesmo uma reação adversa. Nada. Kakashi parecia o mesmo de sempre, despreocupado e tranquilo. Jogou a cabeça para trás com um pequeno bico, o cenho franzido num pensamento esquisito, porque... Ela deveria estar agradecida por isso. Por ele não se importar.

Mas ela queria que ele se importasse. Queria que fosse relevante o suficiente para trazer algum desconserto ao homem, que mesmo durante a aula de anatomia, ficou parado como uma estátua e não fez absolutamente nada. Uma fortaleza.

Deixou o ar escapar novamente e estalou a língua sem sequer perceber. Se olhou mais uma vez naquele espelho e riu para seu reflexo.

— Certo. – Disse para a mulher de olhos verdes a sua frente — Você também não se importa.

E era uma completa mentira, ela sabia.

Enquanto isso, Kakashi havia se sentado na cama, olhando fixamente para o lado enquanto tentava negar que estava adorando o fato do cheiro de Sakura estar por todos os lugares, inclusive em si mesmo.

Uma fortaleza.

.

.

.

Uma vez prontos, Sakura e Kakashi encontraram o ninja Tanaka no saguão do hotel. Ele os cumprimentou daquele jeito polido antes de pedir um pouco de pressa no andar, já que estavam todos atrasados e assim saíram na direção de onde encontrariam Terumi Mei, a Quinta Mizukage, para um almoço descontraído.

No caminho, Sakura pôde ver o movimento diurno e como Kiri era viva. Haviam pessoas de todos os tipos e pessoas vendendo coisas em feiras à céu aberto. O clima era bom, um tanto úmido, mas bom, e era como se o centro fosse vivo em todas aquelas cores. Pessoalmente, Kiri era fantástica, principalmente em suas diferenças óbvias com Konoha.

Ela apontou para uma loja que vendia chapéus declarando que precisavam parar ali na volta, e Kakashi sorriu em resposta. Pararia em todas as lojas de Kirigakure se ela quisesse e provaria todos os chapéus existentes desde que ela continuasse empolgada daquele jeito. O homem andava com as mãos nos bolsos apenas vendo a mulher ao seu lado observar cada mínimo detalhe das coisas.

O caminho não foi exatamente curto, mas a dupla sequer pareceu notar. Chegaram naquele prédio de aparência antiga antes mesmo que pudessem perceber, e Sakura arqueou a sobrancelha para a bandeira do país da Água naquele mastro alto. O tecido fino ondulava com os fortes ventos, mas ali estava o kanji da água em preto sob o longo azul de toda a bandeira.

Imponente.

Pensou enquanto Tanaka os conduzia para dentro do loca, que era todo tão característico das construções dos feudos. O genkan espaçoso o suficiente para comportar muitos sapatos, depois uma sala que se assemelhava a uma ima com piso de tatame e divisórias de madeira. Parecia o tipo de construção se encontrava em interiores, mas muito mais bonito.

Sakura girava sua cabeça para olhar todos os cômodos, vendo os detalhes perfeitos das mesas solitárias com bonsais bem tratados sob sua superfície. O cheiro de incenso também era presente, assim como o barulho oco dos passos no tatame era audível através do silêncio pacifico. Parecia ser a casa de um monge, mas era central demais para isso.

Passaram por algumas salas até chegarem no espaço aberto do jardim, onde havia coreto delicado adornado por plantas bem podadas e flores. Haviam funcionários em quimonos tradicionais no caminho, e no centro do coreto, Sakura e Kakashi puderam ver Terumi Mei sentada sobre um zabunton pomposo enquanto bebericava o líquido em seu copo, e ao seu lado, um homem de aparência jovial jazia com um sorriso bonito para ela, com seu cabelo longo amarrado no topo da cabeça e olhos claros em divertimento.

... Ok...

— Oh, ai estão eles! – Mei disse antes mesmo que Tanaka pudesse anunciar sua presença.

— Desculpe pelo atraso, Mizukage-sama.

— Conheço a fama de Hatake Kakashi, então não se preocupe com isso – A mulher falou maneando a mão ao vento. — Obrigada pelo seu serviço.

— H-hai – Disse sem resposta se curvando — Com sua licença, Mizukage-sama, Daimyō-sama.

Daimyō?

Kakashi arqueou uma sobrancelha enquanto o ninja Tanaka saia do local sem nem mesmo introduzi-los. Mei, no entanto, apenas sorriu parecendo presunçosa.

— Olha só pra você... Haruno Sakura – Disse dando uma olhada de cima a baixo na mulher — Tsunade fez questão de me dizer pra cuidar bem de você – E riu jogando a mão para o lado — Venha, sente-se conosco. Você também, Hokage-sama.

Sakura parecia extremamente sem graça e Kakashi não entendeu o porquê daquele cumprimento tão estranho. Ele nem era Hokage ainda.

A dupla não fez contato visual um com o outro, ao invés disso, eles apenas se dirigiram à mesa baixa disposta com várias iguarias e se sentaram nos zabutons vagos. O outro homem à mesa parecia tranquilo, esperando pacientemente.

— Ryuuji-sama, esse são nossos visitantes de Konohagakure que lhe falei outro dia – Mei disse apoiando sua cabeça na mão do braço que estava displicentemente acomodado sobre seu joelho — Haruno Sakura, discipula da princesa Tsunade; e Hatake Kakashi, o ninja copiador que tem data certa para assumir o cargo de Rokudaime Hokage.

— Oh, estamos diante de heróis da folha. – O homem disse com um sorriso gentil — É um prazer conhecê-los, Sakura-san e Kakashi-san. Eu sou Rokurō Ryuuji, o Lorde Feudal do País da Água.

Sakura arregalou seus dois olhos em pura surpresa. O cara era gostoso demais para ser um Daimyō, com aquela roupa tem tons de azul que deixava um peito inteiro de fora, assim como seu ombro. Ele tinha aquela pinta de cara que passa muito tempo no mar, o cabelo desbotado, o brilho dourado do sol, o sorriso branco demais e o rosto meio quadrado.

Ele era muito o tipo de Ino.

Na verdade, ele era o tipo de qualquer uma.

— Oh, é uma honra conhecê-lo – Kakashi disse polidamente, sem entender o que um moleque de... 19? 20 anos? Estava fazendo numa posição tão determinante, e mais ainda, como ele não foi informado disso antes de sair em viagem.

— Devem estar se perguntando pelo meu pai, o antigo Lorde Feudal. – Ele disse percebendo a expressão de Sakura e Kakashi — Papai está muito doente e passou as responsabilidades governamentais para mim. Ainda não é oficial, mas logo emitiremos um comunicado para que todos me reconheçam como o novo guardião do País da Água.

— Desejo melhorar para seu pai. – Kakashi disse de maneira resignada.

— Obrigada, Hokage-sama.

— Não sou Hokage. Me chame pelo meu nome.

— Oh, não é ainda.— Mei interrompeu com humor — Sua nomeação está agendada para quando, Kakashi?

— Daqui um mês.

— Então está são suas últimas férias antes de assumir, hein? – Ela considerou pegando seu copo novamente — Não podia ter escolhido local melhor para visitar.

— Kirigakure mudou bastante desde a minha última visita.

— Ah, nós lembramos da sua última visita – Mei disse com humor — Doze ninjas, Kakashi.

Sakura olhou para o homem que parecia resoluto em sua expressão. Havia algum ressentimento ali? O Daimyō parecia alheio, e apesar de não ter certeza, a moça poderia apostar que estavam falando de quantos ninjas Kakashi deu baixa em sua última visita.

— Ossos do ofício.

Foi a resposta dele, quase indiferente.

Sakura tocou o joelho dele com o dela discretamente como um gesto de solidariedade, e Kakashi respondeu colocando a mão sobre o dela sem nenhum aviso prévio.

— De fato – Ela disse dando os ombros — Mas espero que aproveite bastante a estadia, e tente mostrar a Sakura o melhor que existe por aqui.

— Já temos um plano turístico – Kakashi falou, mas Sakura não fazia ideia de que eles tinham algo assim.

— Vamos nas grutas mágicas – Sakura disse finalmente se divertindo com o nome tão infantil das grutas — Porque chamam de mágicas, Mizukage-sama?

Mei sorriu com humor.

— Eu posso responder, Sakura-san – Ryuuji disse apoiando os talheres na mesa — É por conta dos cristais. Se você for no horário certo, sentirá a magia.

— Ryuuji-sama, nossos visitantes são ninjas treinados... Eles irão perceber assim que colocarem os pés lá. – Mei disse com uma risada – Aliás, sirvam-se! O almoço é para vocês.

— Ah, Mei... Não vamos revelar todos os nossos segredos, não é? – Ele respondeu com aquele sorriso de enorme de tirar o folego.

E Sakura começou a se servir, perguntando discretamente à Kakashi se ele não gostaria que ela fizesse o prato dele como uma piada interna.

— Falando desse jeito, até parece que fazemos algo... Errado.

Kakashi agradeceu brevemente à kunoichi, negando. Ele não ia comer. Não se isso significasse mostrar seu rosto pra todo mundo, e ela sabia disso.

Trocaram olhares divertidos enquanto a conversa se desenrolava.

— Em resumo, nós vamos mesmo ter que ir lá para descobrir porque são mágicas? – Sakura questionou ainda de olho no que estava fazendo.

— Exatamente – Ryuuji disse satisfeito — Vou querer saber o que acharam, então por favor, planejem a visita para antes do final do festival.

— Ah, não se preocupe. Kakashi está intimado a me levar lá o quanto antes – Sakura falava ao fazer seu prato de maneira automática, se servido com um pouco de tudo — Mal posso esperar para conhecer o centro também. Tem tantas lojas fofas!

Ryuuji sorriu para ela.

— Posso fazer uma recomendação?

— Mas é claro.

— Vá à ponte do Grande Dragão de Água. – Ele falou se inclinando na direção de Sakura — A sensação é como estar no topo do mundo. – Completou com um olhar fascinado, e Sakura achou aqueles olhos azuis tão... sedutores.

Se fosse Ino ali, ele não duraria 5 minutos.

— Esse local é muito distante?

— Demais – Mei disse com uma risada — Não sei se valeria a pena com o tempo que vocês têm para gastar aqui.

— No dia que eles forem para as grutas, podem seguir viagem para a ponte. – Ele retrucou.

— Ryuuji-sama... – Mei gesticulou com certo nível de presunção — Quem vai às grutas mágicas gosta de passar um tempo lá.

— É, mas...

— Veremos se dará tempo – Kakashi disse e Sakura notou uma pontada de mau humor na voz dele, o que a fez querer rir. — Por enquanto estamos apenas programando nossas férias de acordo com o festival.

— É claro – Ryuuji disse parecendo entender que as sugestões dele não eram mais bem vindas — Se resolverem ir, posso ceder uma carruagem.

— É muita gentileza de sua parte. – Sakura disse finalmente começando a comer.

O homem sorriu para ela.

— É o mínimo que posso fazer pelos nossos visitantes de Konoha – Ele disse polidamente, mas olhava apenas para Sakura.

— Daimyō-sama, posso lhe fazer uma pergunta?

— .. Sim. Fique à vontade.

— Qual a sua idade?

O homem sorriu.

— Vinte e dois. – Respondeu sem demora — E a sua, Sakura-san?

— Dezenove.

— Então somos duas pessoas com pouca idade e muitas responsabilidades – Ele concluiu de maneira gentil. — Fico impressionado sobre como os ninjas já são aptos com tão pouca idade. Quero dizer, com 19 você já é uma ninja experiente, o que significa que já está na ativa a alguns anos.

— Em Konoha, um ninja se torna apto ao se tornar chunnin. Tudo antes dessa patente é mero treinamento. Então, no meu caso, eu sou uma ninja apta desde os meus quinze.

— Entendo, entendo... Aqui em Kiri, o sistema ninja permitia que genins já atuassem como ninjas aptos, mas nossa nova Mizukage tratou de reformular o sistema de progressão.

Ryuuji olhou para Mei com simpatia, que retribuiu o olhar presunçosamente.

— Adotamos um sistema parecido com o de Konoha, mas ainda estamos estudados a possibilidades sobre a formação ninja. – Ela disse de um jeito profissional e Kakashi apreciou o tom de voz com menos empáfia.

— Eu confesso que acho o sistema bem defasado e cheio de falhas. Crianças não deveriam ser submetidas a treinamento militar. – Disse convicta — Eu entendo a necessidade de familiarizá-las com chakra e cooperação, mas a vida ninja é cheia de situações que crianças não estão preparadas para lidar.

O Daimyō sorriu para Sakura com admiração e isso não passou despercebido por Kakashi.

— Escutando você desse jeito, sinto como se estivesse numa mesa de bar com Tsunade – Mei disse um tanto nostálgica — Ela foi uma excelente professora, sem dúvidas. 

— Eu tive professores incríveis, de fato. – Sakura respondeu com um sorriso trocando um breve olhar com Kakashi, que não evitou sentir-se lisonjeado.

A conversa seguiu animada a partir desse ponto. Mei sempre tinha um olhar afiado, às vezes soava inocentemente rude, algo que Kakashi lidava com seu tom indiferente e respostas vagas. Já o Senhor Feudal se mostrou bastante solicito com a dupla, indicando locais e mais locais dos quais nenhum dos dois tinham real interesse em ir.

Mas Sakura foi perfeitamente educada, sorrindo e conversando como se os conhecesse de longa data. Tsunade havia lhe dado alguns conselhos sobre como lidar com Terumi Mei, mas o galanteador Senhor Feudal foi puro improviso.

Sem dúvidas, Ryuuji era bastante atraente e talvez estivesse achando que Sakura fosse cair no papo dele com tão pouco, mas o fato era que ela não estava interessada. Tudo bem, ele era um Senhor Feudal gostoso pra caralho, mas e daí? Ela não estava disposta a dar papo pra ele, principalmente porque Kakashi estava com aquela cara amarrada bem ao seu lado.

Não precisava ter uma bola de cristal para saber que o mal dele era fome, já que não tinham tomado café da manhã e o homem não queria comer diante de tanta gente.

Bem...

Ele sempre podia tirar a máscara, ela pensou com humor, mas a verdade é que preferia que quando o momento chegasse, eles estivessem à sós por questões de exclusividade, é claro.

Foi quando Mei declarou precisar ir, e Kakashi quase a abraçou nesse momento de pura felicidade. Se despediram daquele jeito polido e casual ao mesmo tempo antes da Mizukage ser a primeira a deixá-los. Sakura se levantou junto à Kakashi em seguida, que tratou de apoiar aquela mão faceira na cintura da moça quase automaticamente logo após a breve reverência que fizeram em sinal de respeito. Já iam embora quando notaram a hesitação de Ryuuji, que se adiantou num surto de coragem para se pronunciar.

— Ah, deixe-me perguntar quais são seus planos para agora. – O homem disse levantando-se também. — Ou vão apenas voltar para o hotel?

— Vou levar Kakashi para comer e depois vamos olhar algumas lojas – Sakura falou dando os ombros.

— Posso acompanhá-los?

Kakashi arqueou uma sobrancelha.

— Na verdade, é melhor não – Sakura disse se encolhendo, com seu rosto evidenciando um pedido de desculpas. Ryuuji hesitou. — Kakashi não come na frente das pessoas, então...

— Oh, sim! É claro, é claro... – O mais jovem se adiantou passando a mão entre os cabelos num misto de alivio e nervosismo — Bem, posso então acompanhá-los até seu destino? Prometo deixá-los assim que chegarmos.

— Fique à vontade, Daimyō-sama – Kakashi respondeu rapidamente, afinal, quanto mais cedo fossem embora, mais cedo o Senhor Feudal sumiria de sua vista. — Agradecemos a hospitalidade.

Pff...

Sem esperar muito, Kakashi se virou para a saída trazendo Sakura consigo com aquela condução breve de sua mão na cintura feminina, no entanto, Sakura andava distraída enquanto falava com o Senhor Feudal, que pediu para ser chamado apenas de Ryū.

Assim, casualmente, por dois ninjas que ele havia acabado de conhecer.

Ryū.

Kakashi teve que se segurar para não revirar os olhos, porque senhores feudais, no geral, tinham o ego frágil e qualquer vacilo poderia desencadear uma guerra.

Continuou ouvindo a conversa animada de Sakura e Ryū sobre as coisas em Kirigakure, e ele parecia tão interessado na opinião político-social que Sakura tinha das coisas que chegava a ser tocante. Também conversaram sobre Konoha, e como os pontos turísticos do País do Fogo eram exuberantes. Sakura destacou as fontes termais e casas de banho, dando a deixa para que Ryū soltasse o clássico movimento de intenções futuras: Quando eu for lá, você pode me mostrar.

Ah, tá bom. Certo. Kakashi iria mesmo deixar a melhor ninja médica da vila perambular com o Senhor Feudal do País da Água quando ele bem quisesse. Ia sim. Pode confiar que ele não a atolaria de trabalho assim que soubesse da visita do cara.

Chegaram num restaurante mais ou menos, aquele tipo que parece ter pratos caros demais e pouco saborosos, mas ele não estava muito exigente naquele dia.

— Acho que esse serve – Sussurrou para Sakura e a viu assentir brevemente.

— Ryū, acho que vamos ficando por aqui – A moça disse com um sorriso — Obrigada pela companhia, foi muito estimulante.

— Não seja tão formal, Sakura. – O homem ressaltou com um sorriso antes que ela pudesse se curvar — Espero ver você mais vezes antes da festa.

— Festa?

— É mesmo! – Ele disse como se tivesse acabado de lembrar de algo — O almoço era para isso! Para convidá-los à minha casa na noite de Líridas. Teremos uma grande festa para ver as estrelas caindo, e vocês são meus convidados.

— Obrigada pelo convite! Com certeza iremos à festa. – Sakura confirmou de um jeito polido.

— Ótimo! Eu espero mesmo que vá. – Sorriu demorando seu olhar em Sakura, e Kakashi sentia como se não existisse. — E quem sabe eu não possa te levar para ver a ponte.

— Quem sabe – A moça disse de maneira vaga. — Obrigada, Ryū! Você é muito gentil.

— São seus belos olhos. – Ele disso sorrindo — Até mais, Sakura. Nos vemos por aí, Kakashi-san.

— Ryuuji-sama, foi um prazer.

E com um ultimo olhar para Sakura, o homem deu as costas rumo a carruagem que o seguiu o tempo todo, e finalmente deixou a dupla de ninjas à sós.

Kakashi olhou para Sakura, e ela parecia extremamente bem humorada.

— Você o odiou, não é? – Perguntou mais baixo, com aquele sorriso zombeteiro no rosto.

— Ódio é uma palavra muito forte.

— Qualé... – Ela disse com humor — Vamos mesmo sentar aqui?

— É claro que não. – Kakashi se adiantou — Tem um restaurante mais para baixo, parece ser mais discreto.

Sakura riu balançando a cabeça brevemente.

— Você é inacreditável.

— O quê? Você queria passar mais tempo com o Ryū?

— Você parece uma criança falando o nome dele desse jeito.

— Ele que pediu para ser chamado assim. – Kakashi deu os ombros minimamente, voltando a andar com Sakura bem ao seu lado.

— E mesmo assim você ainda o chamou de Ryuuji-sama.

— Bem... É bom deixar alguns limites claros. Não sou amigo dele e nem quero ser.

— Ah, que ranzinza. – Sakura riu — Minha mãe diz que mau-humor é fome.

— Talvez seja... Você não me deixou tomar café da manhã.

— Estávamos atrasados.

— E daí?

— E daí que era um almoço com a Mizukage e o Senhor Feudal. – Sakura disse como se explicasse tudo. — Você não tem jeito.

— Yare, yare... – Ele resmungou enquanto ela revirava os olhos apreciando aquele velho suspiro dele.

— Vem, vamos melhorar esse seu humor, senhor mau-humor – Disse segurando o braço dele quando se aproximaram do restaurante, se espremendo junto ao homem para conseguirem passar pela entrada estreita ao mesmo tempo. — Boa tarde! Eu gostaria de um saury grelhado com sal, por favor?

— Eh? Como você sabia que eu ia pedir isso? – Ele perguntou com uma sobrancelha arqueada.

— Estamos num restaurante que só vende peixes, e você nos fez andar um bocado a mais para vir aqui. – Ela disse dando os ombros — Além disso, tem um cartaz na porta dizendo que está em promoção.

Kakashi sorriu.

— Não me subestime, Kakashi. Eu sei que você não resiste a um peixe grelhado.

— Parece que você me conhece bem demais.

— Mais do que você imagina.

E por algum motivo, ele gostou da resposta dela.

.

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Notas finais do capítulo

NEM DEMOREI!
gente, tão gostando?
Aproveitem pq... Faltam poucos capítulos pro fim! XD
Essa foi rápida! E vamos que vamos!

CONTINUEM COMIGO!



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