O Despertar Infernal- Interativa escrita por Lady L


Capítulo 6
VI- Caça às Bruxas


Notas iniciais do capítulo

Olá! Essa semana, teremos um POV da adorável Atlanta! Ficou um pouco maior do que o de costume, mas espero que gostem. Boa leitura :)



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07 de Dezembro de 2022; Centro, São Paulo

 

                                                        Atlanta->

 

Eu não esperava que nossa missão para salvar o mundo incluísse uma parada no McDonald’s.

Estar em uma cidade de verdade novamente era uma sensação estranha, após tantos meses sem sair do Acampamento. Ver tanta gente desconhecida e tanto movimento, e ouvir tanto barulho era ao mesmo tempo estranho e revigorante. Especialmente porque São Paulo era uma cidade enorme, e tinha quela atmosfera apressada e elétrica que só cidades grandes tem.

A ideia de parar para comer havia sido de Tony, que afirmava estar com fome, mesmo que não se fizessem tantas horas desde que Cat havia feito mistos para todos nós. Ao mesmo tempo, já havia passado um pouco do meio dia, e o lanche havia sido por volta das oito e meia, então não pareceu uma ideia tão ruim, afinal.

Nós deixamos a kombi no estacionamento do parque, e caminhamos por uns dez minutos até acharmos um McDonald’s, onde nos encontrávamos no momento, assentados ao redor de uma mesa redonda, comendo e discutindo o plano. Bem, nem todos estavam comendo, mas a maioria sim. Pietro havia afirmado que “McDonald’s te mata mais rápido”, e se recusado a pedir qualquer coisa; e Laiza que “gente como ela não tocava comida como aquela”. Eu não desgosto das pessoas facilmente, mas eu admito que não nutria muita simpatia por esses dois.

—Perdi alguma coisa importante?- Celina se assentou à mesa, carregando uma sacola do Subway.

—Não- Cassandra respondeu, mordendo um nugget de frango- Eu só estava falando um pouco sobre o meu pai.

—Seu pai?- Celina perguntou, começando a tirar seu lanche da sacola.

—É...-Cassandra concordou, um pouco desconfortável- Acho que ele pode saber onde essa tal de Vigília está.

—Mas ela não quer ir atrás do papai, porque é uma garotinha muito ressentida- Pietro zombou, e Laiza riu alto. Eu vi Cassandra parecendo realmente vulnerável pela primeira vez desde que eu a conhecera, com sua postura normalmente tão altiva murchando na cadeira.

—Ei!- Celina cortou, com um olhar firme e atipicamente agressivo- Cuidado com o que diz. Se o pai dela é um idiota, não é culpa dela, então não ouse falar asssim.

Pietro pareceu pego de surpresa. Todos fomos, na verdade. Celina parecia apreciar algum nível de caos e discórdia, então vê-la defendendo a paz foi decerto um pouco estranho.

—Bem- Cassandra murmurou, recuperando a compostura- Um idiota ou não, meu pai é um místico notável. E, se alguém nessa cidade sabe onde Virgília Andrade está, esse alguém é ele.

—Então nós vamos achá-lo. E vamos fazê-lo dizer onde ela está- Tony disse, mordendo seu Big Mac.

—Não é tão simples assim- Cassandra disse, dando de ombros- Eu não falo com ele há anos. E, mesmo que ele saiba, não acho que ele me contaria por livre e espontânea vontade. Por isso que precisamos de um plano.

—E o que você sugere?- Luciano perguntou, impaciente- Que arranquemos a informação dele à força?

Cassandra arqueou uma sobrancelha,

—Sim, na verdade- ela respondeu, com um sorrisinho ligeiramente maléfico- É isso mesmo que estou sugerindo.

E essa foi a primeira (e provavelmente última) vez que eu vi Luciano e Cassandra concordando.

Nós terminamos de comer em meio a palpites e estratégias. Eu acabei deixando algumas batatas para trás, mas comi meu quarteirão sem picles inteiro. Cora e Catarina, assentadas ao meu lado, terminaram as batatas por mim.

—Posso ficar com seu brinquedo?- Cat perguntou, indicando o Mac Lanche Feliz de Cora com a cabeça, com uma cara de pidona.

—Claro- Cora concordou, e Cat sorriu.

—Obrigada! Agora só faltam dois pra fechar a coleção- e colocou o brinquedo (de Star Wars, creio eu) junto ao que viera em seu próprio lanche dentro da mochila.

Eu gostava de como Cora era gentil, eu refleti, observando seu gesto de generosidade. Gentil e tranquila. A companhia dela era agradável e descomplicada, o que era um alívio no meio de tantas pessoas difíceis de lidar. Eu já passara por algumas quedinhas-relâmpago dentro daquele grupinho durante os meses no Acampamento anteriores à missão, com destaque para meu encantamento de uma semana por Luciano, que acabou assim que ele abriu a boca; minha paixonite por Cassandra logo nos primeiros dias, quando ela me serviu de guia, e que morreu assim que ela se mostrou completamente irresponsiva a qualquer flerte; e a rápida admiração por Celina, que murchou assim que alguém me contou que as Caçadoras fazem um voto de castidade. Mas eu sentia que Cora não me daria nenhum motivo para não gostar dela, o que me deixava apreensiva com a iminência de uma nova quedinha.

—Você quer dividir um Mac Flurry?- ela perguntou, interrompendo meus pensamentos- Acho que estou com vontade de alguma coisa doce.

—Claro- eu respondi, sorrindo- Quer que eu vá até o balcão com você?

—Só se não for incômodo.

—Imagine! Vamos lá!

Esperar na fila com Cora trouxe uma sensação de familiaridade, de normalidade, até, que eu não sentia há tempos. Tomar um sorvete com uma garota bonita, há quanto tempo eu não fazia isso desde que toda aquela loucura de semideusa havia começado?

—O que achou do plano?- Cora perguntou, enquanto esperávamos nossa vez.

—Achei bom- eu respondi, forçando um sorriso- Vai dar certo.

Cora me encarou, analítica, e então colocou a mão no meu ombro, com um sorriso gentil.

—Você pode conversar comigo, se estiver nervosa. É sua primeira missão, é normal se sentir assim. Mas você vai arrasar, tenho certeza.

Eu sorri, dessa vez sem precisar forçar, aliviada e feliz com o apoio.

—Obrigada- eu agradeci- Tenho fé que vai dar certo, mas ainda não consigo deixar de sentir como se eu fosse estragar tudo.

Cora riu.

—Acredite, Atla, você não vai ter problema nenhum com sua parte do plano. Você tem um daqueles sorrisos que conseguiria convencer qualquer um a fazer qualquer coisa por você, não vai nem precisar se esforçar- ela me encorajou, e eu senti meu rosto esquentando.

Naquele momento, eu tive certeza que a minha mais nova quedinha já estava completamente consolidada, e que eu não tinha esperança nenhuma de superá-la tão cedo.

—Valeu- eu agradeci, com um sorriso sem graça- Acho que já é quase nossa vez. Vai querer qual sorvete?

—O com calda de chocolate.

—Excelente escolha.

Eu realmente estava nervosa com o plano, até porque grande parte do sucesso dele dependia de mim. De acordo com Cassandra, o pai dela tinha uma loja ali mesmo no Centro de São Paulo, onde ele realizava consultas místicas e outras coisas desse tipo (eu ainda estava me acostumando com a noção de magia, então não me culpe por não saber o nome de todas essas “coisas”). Contudo, ele atendia apenas a um público seleto, e o local era todo protegido por runas e rituais, de modo que não poderíamos simplesmente invadir, e sim entrar apenas com a autorização dele, até que esses rituais fossem todos quebrados. Cassandra explicou que ele retirava a maior parte de seus poderes de um livro encantado que sua mãe, Hécate, havia presenteado a ele, e que apenas se esse livro fosse retirado de dentro da loja os rituais seriam quebrados.

A escolha óbvia para a tarefa era Catarina. Contudo, ela precisaria de uma distração para trabalhar. E essa distração seria eu.

A história era que nós duas éramos duas garotas ricas querendo fazer uma leitura de tarô ou algo do tipo para descobrir o futuro. O livro ficava dentro da sala onde aconteciam os atendimentos, e, enquanto minha leitura individual era feita, Catarina entraria sorrateiramente e o levaria para fora. Os rituais de proteção seriam quebrados assim que ela saísse, e Cassandra, Celina e Luciano poderiam entrar para concluir o plano. Uma estratégia assinada por Tony Carreiro, com a colaboração e os palpites do restante do grupo.

Cora me desejou boa sorte antes do nosso pequeno grupo de ladrões bem intencionados sair para a primeira fase daquela missão, e eu fui à luta com a reminiscência do beijo dela em minha bochecha.

—Então, como vamos chegar até essa tal loja?- Luciano perguntou, conforme andávamos pelas ruas.

—Vamos à pé mesmo- Cassandra replicou- Não é muito longe. Quinze minutos no máximo.

—Acho que as meninas não vão parecer mais tão ricas depois de quinze minutos caminhando debaixo do sol- ele provocou, e Celina soltou uma risada.

—Laiza vai ficar doida quando ver as manchas de suor nas roupas dela- ela completou, e Luciano riu.

—Bem, podemos caminhar devagar, então- Cat sugeriu- Assim nos cansaremos menos.

—E ficar o dobro de tempo no sol? Seria estúpido. Aperte o passo e chegaremos mais rápido- Luciano retrucou.

As roupas chiques que Laiza havia nos emprestado (mesmo que sob protestos e ameaças) para compor a imagem de “garotas ricas e mimadas, com dinheiro sobrando o suficiente para gastar em um médium” eram um pouco desconfortáveis, principalmente aquela saia, que havia ficado um pouco curta em mim em razão do bom palmo de altura que eu tinha a mais que a dona das roupas. Cat também parecia ligeiramente desconfortável em sua blusa de babados, e ficava coçando o pescoço o tempo todo. Felizmente, a caminhada realmente não era longa, e logo estávamos na frente de uma grade de metal negro.

—Chegamos- Cassandra anunciou, com uma expressão indecifrável- Vocês já sabem o que fazer, certo?

—Claro!- Catarina respondeu, com um sorriso animado.

—Estaremos esperando aqui fora. Boa sorte.

O portão de ferro estava aberto, guiando até um caminho que levava à uma porta madeira escura. A atmosfera daquele ambiente, em geral, parecia bem mais densa do que a da cidade lá fora, e eu sentia uma energia poderosa emanando lá de dentro.

—Vai tocar a campanha?-Cat perguntou, quando me viu encarando a porta.

Eu balancei a cabeça para me livrar daquela sensação incômoda.

—Claro- eu respondi, estendendo a mão para o interruptor à minha direita.

O barulho da campainha soou, um silvo baixo e melódico, até que pudemos ouvir passos, e a porta finalmente se abriu.

O homem que nos atendeu era alto, como Cassandra, e tinha os mesmos grandes olhos escuros que ela tinha. Ele se vestia de preto, e tinha aquela postura intimidante, como a filha, e, por alguns segundos, me peguei um pouco desarmada com o quanto eles se pareciam. Entretanto, ele exibia um sorriso que tentava ser gentil, mas que era misterioso e afiado, o que tornava a semelhança com nossa colega um pouco perturbadora.

—Entrem, minhas jovens- ele disse, com uma voz grave e séria- Sua chegada estava sendo esperada.

Um calafrio passou por minha espinha, e, por mais que Cassandra tivesse nos avisado sobre as maquinações dele, eu ainda estava ligeiramente assustada.

—Então vocês querem conhecer o futuro? Vieram ao lugar certo. Posso sentir coisas grandiosas em seus destinos- ele continuou, conforme nos guiava por uma sala de espera até a porta de um escritório. O ambiente era todo decorado com cortinas escuras e pesadas, e itens místicos diversos- Qual das duas damas gostaria de ser a primeira?

Eu e Cat nos entreolhamos, e então eu forcei um sorriso e dei um passo à frente.

—Eu gostaria- respondi, e ele me encarou por um segundo antes de abrir a porta do escritório para mim.

—Muito bem, jovem- ele disse, e fechou a porta atrás de nós- Vamos ver quais segredos as estrelas guardam para você.

O escritório era ainda mais escuro e carregado que a sala de espera. Um ambiente pequeno, mas intrincadamente decorado, tinha prateleiras com vários livros grossos e velhos, e itens diversos pendurados por suas paredes. Uma mesa ficava mais ao fundo, com duas cadeiras uma de frente para a outra. Percebi, com horror, que ambas as cadeiras ficavam de perfil para a porta, o que dificultaria imensamente o trabalho de Catarina.

—Por favor, assente-se, senhorita- ele disse, puxando uma cadeira para mim- E conte-me o que seu coração deseja.

Ele se assentou à minha frente, e começou a embaralhar algumas cartas do que eu supus ser tarô. Eu aproveitei a distração para procurar pelo objeto a ser roubado discretamente. Logo meu olhar se fixou em um livro de capa de couro negro, com runas em verde escuro, na estante. Se encaixava na descrição que Cassandra havia dado, e tinha uma aparência estranha demais para não ser mesmo o tal livro mágico.

—Eu achei que você já saberia o que meu coração deseja- eu arrisquei dizer, quando ele espalhou as cartas pela mesa, medindo a reação dele. Ele não pareceu irritado, apenas surpreso.

—E eu sei. Mas as cartas precisam ser informadas, para acharem exatamente o aspecto do futuro que você almeja saber- ele explicou, e eu pensei que ele era até bom para um charlatão- Mas deixe-me dizer o que sei sobre a senhorita, como um ato de boa fé. Você tem um passado de luxo, mas também de instabilidade, e sofreu de desequilíbrios em seu lar. É uma pessoa cheia de amor, mas também de desconfiança. E, atualmente, está em uma jornada de autodescobrimento, mas também deseja achar sua alma gêmea. Estou errado?

Eu sabia que aquelas eram palpites genéricos baseados em coisas que ele assumira através da minha aparência, mas ele era eloquente, e eu conseguia ver porque alguém acreditaria nele. Cassandra havia avisado sobre isso, e também que ele não tinha nenhum poder de premonição sem o livro em mãos, mas eu deveria admitir que todo aquele ambiente e aquela voz, que parecia de tudo saber, estavam me deixando tensa.

—Você não está errado- eu admiti, o encarando. Eu precisava mantê-lo distraído, Cat entraria a qualquer momento, e ele não poderia olhar para porta- Mas deixou uma coisa de fora: eu preciso descobrir de algo muito importante. Preciso descobrir se aquela garota lá fora foi o motivo do meu namorado ter terminado comigo. Acho que eles estavam tendo um caso pelas minhas costas.

O homem mal conseguiu esconder seu choque. Acho que eu havia conseguido fisgá-lo em minha historinha, afinal.

—As cartas vislumbram o futuro, Senhorita- ele disse, aparentando ligeiramente confuso- Temo que não há muito o que eu possa fazer sobre o passado.

“Ok, hora de começar o drama, então”- eu pensei, e imediatamente forcei uma expressão triste teatral.

—Você não está entendendo- eu lamentei, em uma voz esganiçada e chorosa- Eles destruíram a minha vida! Eu preciso saber se ela é a vagabunda que causou toda a merda que eu vim passando nos últimos meses!

Até eu estava chocada comigo mesma, foi supreendentemente fácil acessar aquele estado emocional que, ainda que falso, era bastante convincente e intenso.

O homem se levantou da cadeira e foi pegar uma caixa de lenços de papel para mim. Lágrimas grossas rolavam pelas minhas bochechas, e eu podia sentir meu rosto quente, como se eu estivesse no meio de um ataque de ira.

—Eu entendo o quanto uma traição pode ser dolorosa- ele disse, com uma voz um pouco mais gentil que a anterior, mas ainda assim perigosa- E eu posso te ajudar a descobrir. Mas não será fácil.

“Pronto, mais um golpe para tentar cobrar mais caro”- eu pensei, secando meus olhos com os lenços. Ele estava abaixado ao lado da minha cadeira, de costas para a porta e de frente para mim, e eu queria mantê-lo ali, então resolvi continuar meu teatrinho de surto e confusão.

—Não será fácil?- eu me fingi de boba, colocando uma expressão vulnerável no rosto- O que exatamente precisa ser feito?

Ele sorriu, satisfeito de me ver aparentemente caindo tão facilmente em sua armadilha. Foi nesse momento que vi uma sombra se mexendo atrás dele.

Catarina se movia como um espectro, e eu não ouvi som nenhum conforme ela abria a porta (que eu tinha certeza que estava trancada) e deslizava para dentro da sala. Nossos olhos se encontraram por um segundo, e ela deu um sorrisinho travesso antes de entrar e se esconder atrás de uma poltrona.

—Bem, eu teria que falar com os espíritos. Somente eles seriam capazes de dizer a verdade- ele disse, e eu fingi uma expressão assustada.

“Ele não consegue falar com espíritos”- eu me lembrei do aviso de Cassandra- “Mas ele vai tentar te convencer que sim. E vai custar mais dinheiro”

—Bem, se é necessário- eu concordei, e ele sorriu e se levantou.

—Vou precisar do tabuleiro, então- ele disse, e foi pegar uma daquelas tábuas de filme de terror na estante.

Nesse momento, Cat se aproveitou da distração e saiu detrás da poltrona, engatinhando para mais perto da estante, mas ainda fora de vista.

Enquanto ele colocava o objeto sobre a mesa entre nós e voltava a se assentar, vi Cat se levantando e indo até o livro, se movendo atrás do homem cautelosamente. Ela deu um sorriso vitorioso assim que colocou as mãos nele, e se preparava para voltar para a porta, quando o homem se levantou repentinamente da cadeira.

—Me esqueci do cursor- ele murmurou, e eu reparei que aquele triângulo estranho que vinha com o tabuleiro estava mesmo faltando. Contudo, se ele fosse até a estante, veria Cat, que já estava com a mão na maçaneta. Eu não poderia permitir isso.

Não!— eu falei, e ele estacou no lugar, me encarando como se em transe. Percebi que tinha feito aquilo de novo.

“É um poder raro, mas extremamente valioso”- Héstia havia me explicado, dias após eu chegar ao Acampamento- “Alguns o chamam de charme. Você vai aprender a usar melhor, minha querida, mas, por enquanto, saiba apenas que tem uma grande benção em mãos.”

E lá estava eu, ainda sem saber controlar o tal do charme, mas já o usando novamente.

Olhe para mim— eu dei mais um comando, e ele obedeceu, me encarando com confusão em seu olhar- Agora assente-se. Falaremos com os espíritos sem o cursor.

Ele obedeceu, e continuou o que fazia antes como se nada tivesse acontecido.

—Vamos começar, então. Feche os olhos. - ele orientou, e eu fiz conforme ele pediu.

De olhos fechados, o ambiente parecia ainda mais silencioso, e eu podia ouvir o som do meu próprio coração martelando contra minhas costelas.

—Tem alguém aí?- ele perguntou, após alguns segundos de silêncio denso, e eu quase pulei da minha cadeira quando realmente obtivemos uma resposta:

—Tem sim, papai- abri meus olhos para encontrar Cassandra, Luciano e Celina, armas em punho e expressões pouco amigáveis- Mas, apesar de você ter me tomado por morta, eu não pareço um espírito, pareço?

Eu esperava qualquer coisa nos próximos segundos, menos o que aconteceu. O pai de Cassandra tentou fugir pela janela, e eu ainda não me decidi se essa foi uma cena cômica ou trágica.

—Você não vai a lugar algum- Celina o agarrou pela camisa com brutalidade, o jogando de volta na cadeira- Vamos ter uma conversinha.

O homem engoliu em seco.

—E não vai ser nada agradável se tentar fugir de novo- Luciano completou.

—Por isso, papai, pare de ser um mentiroso uma vez em sua vida, ou pagará as consequências- Cassandra colocou as mãos no encosto da minha cadeira, encarando o homem com intensidade- Só temos uma pergunta muito simples para você: onde está Virgília Andrade?

Eu vi logo que ele não iria resistir muito, o medo em sua expressão o delatava.

—Eu conto- ele disse, tentando esconder o tremor nas mãos- Mas vocês tem que jurar pelo Estígio que me deixarão em paz.

—Acredite, não há nada que eu deseje tanto quanto nunca mais ter que ver você. Eu juro pelo Estígio- Cassandra respondeu, sem vacilar um segundo sequer.

Nós fomos embora menos de cinco minutos depois, com a informação de que necessitávamos e mais alguns souvenires que levamos da loja (o juramento não incluía nada sobre deixar os pertences em paz também, afinal).

—Santos?- Luciano perguntou, conforme trilhávamos nosso caminho de volta para a kombi- Isso é muito longe?

—É perto- Cat, que também era da cidade, respondeu- Só achei o lugar em que a tal Virgília está um pouco... mórbido.

—Bem, não é todos os dias que se tem a oportunidade de fazer uma visitinha a um mausoléu- Celina replicou, dando de ombros.

E, mais uma vez, eu segui aquele grupinho inusitado até um destino inusitado.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado! Qualquer erro na retratação dos personagens, favor puxar minha orelha kkkk! Obrigada por ler, vejo vocês nos comentários.