Eu não me considero uma pessoa ciumenta.

Especialmente depois de tudo que eu passei até poder enfiar um anel no dedo dessa mulher. Era Sasuke-kun para cá, Sasuke-kun pra lá, e isso nunca foi estopim para nenhuma cena de minha parte. Até porque eu queria mesmo era vê-la feliz (ainda que eu soubesse que ela não seria nada feliz ao lado daquele egocêntrico, eu torcia para que fosse) mas, contrariando meio mundo de expectativas e para alegria geral da nação (ou só minha mesmo) Sakura-chan me escolheu!

Então eu não vejo motivos para duvidar da lealdade dela. Sempre foi muito íntegra e honesta, então sou capaz de colocar minha única mão boa no fogo por essa mulher.

Claro que não vou ficar feliz se alguém der em cima dela, mas Sakura-chan tem o pulso firme e a mão pesada. Uma excelente e mortífera combinação. Na verdade, quem se arriscar a se engraçar com ela corre um sério risco de parar no hospital. Eu que o diga! É um lembrete constante na minha mente o de não a aborrecer, por mais tentador que possa ser.

Porém, surpreendentemente, alguém morre de ciúmes do idiota aqui.

Acredite se quiser, Sakura-chan tem uma maneira discretíssima de demonstrar ciúmes. Discreta como um elefante numa loja de cristais. Já chegamos ao ponto de que, em determinado evento, ela jogou bebida na cara da esposa do Kazekage. Sorte a minha ser amigo dele, senão Konoha sofreria as consequências dessa ceninha patética.

Acha que ela liga? Que nada! Ficou com uma história de “Eu vi o jeito que ela estava te olhando, Naruto” e não teve quem tirasse isso da cabeça dessa mulher. Quando eu digo que não tenho um segundo de paz na vida, as pessoas ainda duvidam. As guerras ninjas não são nada se comparadas à braveza da Sakura-chan.

Se tem uma coisa que eu sempre soube é que, como diria o Shikamaru, ciúmes é muito problemático. Então eu procuro não alimentar ou dar crédito quando a Sakura-chan começa com essas histórias, ainda que eu fique um pouquinho feliz em saber que ela se importa. Melhor prevenir do que remediar, certo? Especialmente quando se trata de uma pessoa tão nervosinha.

Então, não se pode nunca esquecer de:

1 _ Faça com que ela saiba que você a ama;

2 _ Não deixe que esses assuntos se prolonguem;

3 _ Não provoque a fera;

4 _ Tire os objetos cortantes de perto quando ela se exaltar;

5 _ Às vezes, somente às vezes, uma piada pode resolver. Mas tem que ser muito boa.

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As festas da vila eram realmente o momento favorito de Sakura.

Era uma infinidade de coisas interessantes para fazer! Jogos, comidas, itens decorativos e ainda havia a celebração com fogos de artifício no encerramento. Não era todo dia que havia alguma festividade e, por isso, aproveitava sempre até o último segundo de evento.

Como aspirante a próximo Hokage, Naruto era sempre requisitado para esses eventos. Kakashi estava preparando-o para o cargo e, como os Kages das outras vilas eventualmente apareciam nas festividades, era interessante que ele já se adaptasse às cortesias de sua função. Isso incluía Sakura, que ia como sua acompanhante aos eventos e desfrutava dos fogos de encerramento do ponto mais privilegiado da vila.

Por isso, estava especialmente entusiasmada aquela tarde e não havia uma alma no mundo capaz de estragar seu bom humor.

Separou seu melhor kimono e estava já terminando de arrumar os cabelos quando Naruto chegou em casa. Colocou os olhos nele e o viu todo sujo e suado, do jeito que chegava após seus treinamentos. Os olhos cansados e abatidos lhe sorriram ao vê-la bonita e quase pronta para o festival.

— Cheguei, Sakura-chan.

Deu logo um beijo na testa da noiva, que permitiu o gesto, mas lhe fuzilou com o olhar durante alguns segundos.

— Você está atrasado.

— Desculpe, desculpe! Eu estava treinando com Kakashi-sensei e acabei ficando além da conta.

Sakura suspirou e apontou para o banheiro.

— Ande, vá logo tomar seu banho. Não podemos nos atrasar para o festival.

— Sim, sim!

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Assim que chegaram ao festival, os olhos de Sakura reluziram com as luzes nas barraquinhas.

Se pudesse, teria passado mais tempo se divertindo com Naruto em sua busca por degustar todas as guloseimas do evento. No entanto, tinha de fazer uma social e recepcionar alguns convidados importantes, como o Kazekage e sua esposa. No geral, Sakura sempre achara excelente essa amizade com Gaara. Era um importante ponto de inspiração para o noivo, que sempre se mirava nele ao tentar melhorar. No entanto, o ruivo tinha um péssimo gosto para romance, visto que, dentre todas as mulheres de Suna, tinha de escolher logo a mais atirada.

Mal se lembrava do nome da mulher. Mas também, tão pouco se importava. Ela que não ficasse esperta e levaria mais que bebida no meio da cara.

Já devia haver uns dez minutos que Gaara e Naruto conversavam sobre uma suposta linha de trem que facilitaria a troca de mercadorias entre Konoha e Suna. Era uma ideia revolucionária, que provavelmente seria estendida para as outras vilas da região e facilitaria a integração entre os povoados. Tudo muito interessante, não fosse o olhar intenso que aquela loira de araque lançava na direção do Uzumaki. Aquilo fazia o sangue de Sakura ferver e ela se viu enroscando o braço no do noivo em determinado ponto da conversa, como se estivesse marcando um território.

Sentia-se ridícula agindo assim, mas era muita audácia daquela sem vergonha de olhar daquele jeito para seu noivo bem na sua frente e dentro da sua vila!

Não demorou muito para que a conversa entre os dois se encerrasse. Ela pediu a Naruto que voltassem para o festival e ele concordou. Enquanto caminhavam, Sakura reparou que os olhos azuis a acompanhavam a cada passo. O braço que antes estava enroscado ao dela se desvencilhou e contornou seus ombros, de uma maneira carinhosa e que fez suas bochechas apimentarem.

— Você está muito bonita, Sakura-chan.

Aquilo foi inesperado. As bochechas de Sakura ficaram num vermelho fogo intenso, que chamou a atenção de Naruto e o fez achá-la a menina mais linda de todo o mundo. Por mais que já não fossem mais crianças, sabia que sempre a veria assim. Como uma menina.

— Verdade?

Ela perguntou, querendo fazê-lo falar mais. E Naruto assentiu.

— Claro! Coloca a mulher do Gaara no chinelo!

Foi aí que as coisas degringolaram. Sakura estreitou os olhos na direção do noivo, ficando um pouco menos vermelha de vergonha e tornando-se roxa de raiva. A famosa carranca se formava gradativamente e o perigo tornou-se iminente para o Uzumaki.

— Ah, é? E ela é algum exemplo de beleza agora?

Percebendo que havia dito alguma besteira, Naruto engoliu seco e ficou observando-a, tentando decidir se devia sair correndo ou não. Uma veia começou a saltar na testa de Sakura e seus olhos verdes estavam tão apertados que mal dava para ver a cor deles.

— Han?

— Não se faça de sonso! Está me dizendo que acha que ela é bonita, Naruto?

De repente, pareceu que o local estava abafado. Ele sacudiu a gola da roupa, tentando se arejar. Sentiu uma gotinha de suor brotando em sua testa e teve certeza que, se dissesse a coisa errada, talvez não vivesse tempo suficiente para se tornar Hokage.

— Bom, mas ela…

— Pense bem antes de me responder, Naruto.

Então suspirou, meio cansado daquela situação. Não interessava muito o que fosse dizer, sabia que Sakura daria um jeito de levar aquilo a mal. E, além disso, também não era de seu feitio mentir. Era inegável que a esposa do Kazekage era sim, muito bonita. Não era exatamente o tipo que faria Naruto virar a cabeça, mas, ainda assim, bonita.

Sacudiu os ombros, meio que se dando por vencido. Já que era para acontecer uma briga, que fosse então por algum motivo. Até porque não dava para ficar contornando essas ceninhas da noiva o tempo todo. Ela tinha que aprender a viver em sociedade.

— Ela é bonita, assim como uma porção de mulheres por aí.

O queixo de Sakura caiu. Durante cerca de um segundo ou dois, ela ficou parada, apenas o observando com aquela expressão de incredibilidade. Então rapidamente sua mão desceu até a altura das coxas e ela puxou uma kunai que estava escondida sob o kimono. Aquilo teria deixado Naruto fascinado, se ela não tivesse colocado a ponta da arma bem na testa dele.

— O quê?!

Os olhos azuis de Naruto apenas se ergueram, observando a mão trêmula da noiva que lhe ameaçava ali, diante da vila da folha inteira. Talvez não houvesse sido lá uma ideia tão boa assim a de simplesmente falar a verdade naquela situação, mas decidiu que continuaria fiel ao plano original e voltou a encará-la.

— Mas você é a única que me interessa, Sakura-chan.

E isso pareceu ser suficiente para desarmá-la um pouquinho. O suficiente para fazer um sorrisinho meio vitorioso brotar nos lábios do Uzumaki, que sabia que já havia encontrado a chave certa para o coração de Sakura. Ela lhe observava em silêncio, com os olhos oscilantes, como se esperasse que Naruto concluísse seu raciocínio. Então continuou falando.

— Você pode até furar meus olhos com sua kunai, mas eles já são seus de qualquer forma.

E piscou um dos olhos para ela, sorrindo abertamente.

— Vai. Me deixe cego de amor.

Os lábios de Sakura tremeram, tentando segurar o riso. A kunoichi baixou a kunai e guardou na bolsinha sob o kimono, sacudindo a cabeça negativamente. Enroscou o braço no do noivo e eles voltaram a caminhar no festival enquanto ela resmungava:

— Naruto idiota.