Four Sun — Ecos do Inconsciente escrita por Haru


Capítulo 1
Ecos do Inconsciente - I




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Four Sun — Ecos do Inconsciente

Existem dois mundos: O 'real' e o 'imaginário'. Nós não notamos, mas grande parte de nossas vidas, vivemos a fazer planos, a sonhar, a idealizar coisas que no fim das contas, em alguns casos, jamais se tornarão reais.

Em ambos os mundos certas vezes vivemos situações que não queríamos viver, e todas são frutos da realidade. Só sonhamos com aquilo que acreditamos que pode vir a ser.

Por outro lado, há sonhos e planos que se realizam, o que nos leva a crer que um não é mais que o complemento do outro, fazendo assim com que sejam peças de somente um quebra-cabeça, mas nem todos tem as peças certas.

Este modo único de enxergar a vida pertencia ao ser que como um gato preto faz nas noites, encobria-se inteiro nos lençóis da escuridão. Mas seus olhos... esses possuíam brilho tão intenso que nem a mais generalizada escuridão ocultaria.

Santsuki...

Seu próprio nome era clamado em sua mente, mas a voz não era dele. Não era nem mesmo uma voz masculina. Mas conhecia muito bem aquela voz. 'Inesquecível' não é a palavra para descrever a importância dela em sua vida.

O homem de terno negro não estava solitário naquele imenso calabouço escuro. Sua única companhia era quem emitia os gritos animalescos que no local se ouviam. Fecha os olhos, concentrando-se na fera.

A terra treme, sacudida pelos passos da criatura, tamanha era a brutalidade com a qual ela fazia as coisas. No entanto, um só golpe do retalhador bastou para derrubá-lo.

A queda do bicho gigantesco faz todo o solo balançar e rachaduras abrirem-se acerca dele.

— Seres iguais a você são exemplos de porque não se deve tomar atitudes com o coração ensandecido pela fúria. — um sorriso doentio se estende por seus lábios — Aprendi mais uma lição no dia vinte e cinco de dezembro...

Saltou sobre o ser golpeando-o no rosto novamente, escutando em seguida os gemidos deste. O segundo golpe fez com que ouvisse o que assemelhava-se a choros.

Satisfeito, apalpa as próprias roupas e diz:

— Sei que não entenderá uma só letra do que vou lhe dizer, mas estou escutando vozes dentro da minha cabeça. Elas não param de gritar o meu nome... Gritam tão alto... tão alto que eu não consigo nem pensar. Sinto que estou a ponto de enlouquecer. Fecho meus olhos e tento desligar a minha mente, parar de pensar, mas elas continuam lá...

"— Santsuki. Não pode me derrotar, pare com isso, eu não quero ter que matar você!"

Quando o monstro se reergueu, ele repetiu a fala em sua cabeça:

— Não pode me derrotar, pare com isso, não quero te matar... Vou precisar de sua ajuda. Você não passa de um monstro estúpido que só vive para fazer em pedaços tudo o que está a sua volta, portanto deve sujeitar-se a nós, os seres racionais. Nós podemos dar um propósito a sua vida. Pra começar, ajoelhe-se diante de mim.

Intimidada, a criatura nada diz. Mantém-se estática e em silêncio.

— AJOELHE-SE! — Esbravejou o homem, apavorando a besta, que prontamente o obedeceu. — Excelente. Quero que permaneça onde está e que fique em silêncio. Espere-me pois já volto, vou fazer uma visita a um velho amigo.

Hizashi estava no Gabinete Presidencial, assentado a sua cadeira quando ele, como se emergisse das sombras, teletransportou-se para o canto inferior de sua sala.

Seu sublime controle sobre cada um dos movimentos de seu corpo permitiram-lhe aquietar-se ali sem ser muito rapidamente notado.

Perspicácia também não faltava ao rapaz bem trajado e de alta estatura que ali antes dele se encontrava. Ao percebê-lo ali ele naturalmente se assusta, beira o desespero. No instante em que ele se pôs de pé, o inimigo saiu da escuridão.

— Olá, Hizashi, eu gostaria de-

Instintivamente o atacou, impossibilitando o mesmo de concluir a fala. A força empregada no golpe permitiu-os arrombar a parede.

Ileso, Santsuki sorria enquanto aterrissava.

— Poupe suas forças, senhor presidente.

Sem dar-lhe ouvidos, Hizashi atacou-o com socos em uma sequência de diretos rápidos o suficiente para driblar os olhos humanos, embora fosse indiferente para quem se limitava a apenas esquivar-se.

Forçando-o a parar o invasor, segurou firmemente seu punho direito, pegando seu último ataque. Em seguida, lhe puxou para perto e lhe encaixou um direto no estômago, o desorientando de dor. Depois disferiu em sua face quatro diretos com a única mão restante, fazendo sangue jorrar de suas narinas e lábios.

— Eu não estou aqui para te matar, mas não vou ter problema nenhum em fazer isso se me causar problemas. — Avisou, finalmente soltando-o.

— O que faz aqui? — O indagou, enxugando o sangue que saía de seu rosto. — Você deveria estar morto!

— Vamos pular a parte em que te conto como eu saí de lá com vida, porque não quero dar satisfações a você. — Retrucou, recuando vinte metros em apenas um salto. — E eu não sei se você se lembra, mas eu não sou o único que deveria estar morto. Todos os habitantes deste mundo mereciam a morte, mas principalmente você. Veja quantos anos se passaram... e você continua impotente em minha presença. É como uma criança.

— Calado...! — Enraivecido, o outro dizia, negando-se a escutar o que ele falava.

— Você é fraco. Todos vocês o são. Não há graça em destruí-los, por isso eu os deixo vivos.

— Tsc! Será que isso também não se aplica a você? Não precisa dizer porque está vivo, sei perfeitamente bem a razão. Ela poupou sua vida. — o silêncio do acusado foi a prova de que precisava para incrimina-lo — Eu já sabia. Aquela megera... Benévola demais para matar até alguém como você. Se te faz sentir melhor, eu não teria poupado a sua vida, o teria assassinado da forma mais dolorosa que conseguisse. Teria feito bem lentamente para ver a vida se esvaindo de seu corpo. Odeio você com todo o meu ser.

— Você me lembra a mim mesmo na sua idade. Sou capaz de ver as chamas do ódio queimarem em seus olhos... ela quase me contamina. Mas sei que toda essa raiva não é de mim que você sente... Agora você tem alguém para odiar mais do que a mim. Agora que descobriu que ela me deixou viver.

— Chega de enrolação e diga porque voltou. Já não suporto mais ouvir sua voz.

— Ao meio-dia trarei para cá um grande amigo meu, mas não sou idiota para acreditar que ele daria conta de um dos quatro presidentes de Áries, por isso virei junto. Serão vocês quatro contra mim e todos os retalhadores da Elite Ariana contra o meu companheiro. Avise aos outros. — Pediu, dando-lhe as costas. — Antes que tentem alguma gracinha do tipo levar a população da Terra para qualquer outro planeta: eu saberei se fizerem isso e irei em pessoa atrás deles. Não vou permitir que nenhum continue vivo.

— Entrou aqui, me humilhou e saiu ameaçando... — Refletiu, após ele sumir diante de seus olhos. — MALDITO! Maldita seja a minha falta de força! Maldita seja sua alma por poupar a vida deste desgraçado, Yume!

Desconsolado, Hizashi se lança em terra. A vergonha que passou entrou para a coletânea de memórias ruins de sua carreira como retalhador desde que ele se rebelou. A sua angústia era tanta que agora desejava não estar vivo, desejava não ter sido salvo por Yume.

Mas um dia eles pagarão por tudo isso. Pagarão caro. Essa era a promessa de um sociopata declarado.

Uma das razões que levou Santsuki a decidir visitar a Terra foi acreditar que isto melhoraria a sua saúde mental, mas estava errado, o que só percebeu agora que voltou a sua nave.

Uma crise repentina de tontura o enfraqueceu, o fez apoiar-se nas paredes. Em sua cabeça chovia memórias do dia em que viveu seu último encontro com a guerreira mais poderosa que já enfrentara em toda a sua vida.

Seu cérebro mostrara-se forte o suficiente para fazê-lo experimentar novamente aquelas dores. Sua face perde a cor, a boca torna-se seca.

''— Não, eu não vou te matar. Você me conhece, eu não seria capaz disso. Não é que eu nem ao menos pense em fazer, mas é que toda vez que eu tento, eu... eu... eu não consigo. Mas se você não parar... Se não parar com o que faz..."

Revigorado, ele ficou ereto, sorriu e falou:

— Se enlouqueceu, se queria dizer alguma coisa mas não conseguiu pensar em nada melhor ou se isso vai, de fato, acontecer, eu não sei... Mas é bom que aconteça. Eu torço por isso, porque se não acontecer eu vou acabar com todos os frutos de seus esforços, tudo o que você construiu e tudo aquilo que você mais ama.

O que ela tinha na cabeça quando "resolveu" morrer? Para onde ela fora? Quem a havia assassinado? Essas são perguntas que corriqueiramente borbulham em sua mente, perguntas que por mais que busque respostas, parecia que elas fugiam dele.

No fim, se julgava incapaz de conseguir e desistia. O seu verdadeiro objetivo, afinal? Não saberia dizer. Esperar por um guerreiro forte o bastante para ter uma batalha de verdade? Conseguir respostas para todas as suas dúvidas acerca da morte de sua rival? Realmente não sabia.

Só o que sabia era que estava vivo, e odiava isso. Ele não se julgava digno de estar vivo, nem um dia de sua vida se passava sem que ele se sentisse assim. Preso em seu próprio corpo, enclausurado em sua própria pele. Ela partiu levando consigo toda a graça de ser um retalhador.

Por alguma razão, voar em queda livre aumentava sua vontade de lutar. Olhar e vê-la na mesma situação era algo com o qual jamais sonhara. O controle sobre seus próprios corpos já não se encontrava mais em suas mãos.

Estavam em posse da gravidade do planeta para o qual escolheram ir a fim de travar a batalha que decidiria o destino não apenas da Terra de Áries, como também o da galáxia inteira.

Cansado de esperar energizou a mão direita, apontou para a rival e a poucos metros do chão a eletrocutou, lhe paralisando da cabeça aos pés, impossibilitando-a assim de proteger a si mesma do choque com o solo.

Ao impactar-se com a terra, uma fenda se estendeu a volta de seu corpo, uma nuvem de poeira se alastrou pela arena de combate. Debilitada pelo choque elétrico que se apossou de seu corpo, ela ainda não podia se mover.

Santsuki não demonstra piedade ao pisar sua cabeça por três vezes seguidas, atolando a face dela no buraco ali cravado pela violência dos golpes.

— Isso é só um grão de todo o ódio que eu sinto por você, Yume. — Disse-lhe ele, ao parar de golpeá-la.

Levando a mão até a garganta dela, ele a ergueu e a arremessou com todas as forças contra a montanha mais próxima, destruindo-a por completo.

Do interior das nuvens de terra que pairavam sobre o ar ressurgiu a lutadora que ele jurava ter enfraquecido com o último ataque; determinada, cheia de força e coragem, correndo em zigue zague até ele.

Ela o confundiu quanto ao seu real destino e o socou no nariz, fazendo sangue espirrar do rosto dele. Em seguida, o esmurrou no estômago, concluindo a sequência com o seu mais forte cruzado de direita.

Pensou em chutá-lo mas ele reagiu a tempo de segurar a sua perna e contra-atacar com o mesmo golpe, porém sem êxito, pôs ela se defende da mesma maneira.

Depois de se soltarem eles recuam, mas logo aproximam-se outra vez quando avançam, tentam socar um ao outro mas seus punhos colidem, gerando ondas de choque que sacodem por inteiro o planeta.

No centro daquela explosão invisível um continuava a tentar golpear o outro em uma troca infindável de golpes, com a conclusão de um atingindo o outro no rosto com um chute que exigia a mesma técnica.

Ofegante, ela recuou para respirar, mas o homem que ameaçara destruir seu lar não lhe deu muito tempo para o fazer, desmaterializou-se e materializou-se outra vez a esquerda dela, socando-a no rosto com um cruzado.

Desviando-se do ataque seguinte, ela se agachou, pôs-se de pé e contra atacou com um cruzado de direita que ele recebeu, revidou com um gancho de esquerda e a forçou a dar um salto mortal reverso para escapar.

A esperou concluir o giro para cabecear seu estômago, golpe que a feriu mas não a abalou, pois ao ignorar a dor ela agarrou os seus ombros e caiu para trás, lançando-o sobre a terra. Eles se levantam ao mesmo tempo, enxugando as feridas e apalpando suas roupas.

Olho no olho. Atenção em cada um dos movimentos do adversário. Um não tinha a menor confiança no outro. Eram como dois lobos alfas se preparando para o combate, aprontando-se para defender suas alcateias.


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