Xeque-Mate escrita por Dani, Sannybaeez, Braguinhah


Capítulo 8
Fabrício - O dia que o bronzeado me salvou


Notas iniciais do capítulo

Quero agradecer a Ivy por ter betado a história, e ao chalé mais maravilhoso do mundo pelo carinho ♥



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Eu não aguentava mais ficar de pé.

Meu corpo tremia de exaustão, manter o aperto firme no cabo de minha espada estava se tornando uma tarefa difícil. Ainda não havíamos tido um único dia de paz, meu corpo ainda precisava se recuperar da luta contra os lestrigões e a noite na cadeia dormindo sobre o chão frio e áspero da cela.

Aquela galinha-dragão atacava sem piedade, mal conseguíamos nos aproximar dela, Bela atirava flechas brilhantes certeiramente por toda a extensão de seu corpo, mas absolutamente nada parecia machucá-la, na verdade parecia apenas irritá-la cada vez mais.

Ela cacarejava enlouquecida, enquanto o homem, ou criatura, ou sabe-se-sei-lá-o-quê em suas costas, gritava a incentivando enquanto ria de nós.

Olhei ao redor, procurando meus irmãos e orando para que estivessem bem. San ainda mal conseguia se manter de pé, Lucas estava inconsciente, Mikha havia acordado mas estava desnorteado sendo escondido por João dentro da sala onde estávamos, já Laís parecia exausta usando o pouco de força que lhe restava para que nem Lucas nem San fossem atingidos pelas penas anormalmente afiadas que eram jogadas sem pudor por aquele monstro. Bela, Webs, Paulo e eu pareciamos ser os únicos que podiam lutar.

Apertei novamente o cabo da minha lâmina, fazendo meus dedos adormecerem momentaneamente e ataquei. Eu havia perdido minha velocidade, mesmo tendo me alimentado bem e conseguido alguns bons minutos de sol, não foram o suficiente para recarregar minhas energias e acabei sendo acertado violentamente no estômago por sua cauda.

O mundo começou a girar e senti algo quente rasgar e subir pela minha garganta, e em um segundo estava olhando para o meu café da manhã. Ouvi ao longe alguém gritar o meu nome, para logo em seguida ser arrastado bem na hora que um bico gigante fez um buraco na parede onde eu estava.

— Fabrício!  — A voz que reconheci ser da Bela, gritava comigo, e mesmo assim parecia estar distante.

Eu me sentia quase anestesiado. Meus sentidos haviam me deixado na mão, meu coração estava batendo tão alto que eu podia escutá-lo ecoar ritmicamente em meus ouvidos, minha respiração falhava e eu mal conseguia encher os pulmões, enquanto uma dor fina começava a latejar em meu abdômen, talvez uma ou duas costelas haviam se quebrado. 

Por um breve segundo, me vi novamente no acampamento, machucado, desesperado, tendo de ser carregado enquanto assistia impotente meus amigos serem mortos um a um.  

Tudo parecia acontecer em câmera lenta. Aquela ave imensa parecia se mexer devagar, se debatendo no lugar, as flechas voavam em direção a ela, salpicando suas penas com o que mais parecia ser glitter dourado, Webs avançava empunhando sua lança, enquanto tentava desviar das navalhas que aquela coisa chamava de unhas. 

Mas então eu escutei algo, um grito agudo sendo seguido por um outro mais brutal e feroz, para ver então pela primeira vez aquele monstro hesitar ao ser jogado violentamente contra uma das paredes de concreto do estabelecimento quebrando boa parte da estrutura e deixando aquela galinha monstruosa levemente desorientada. 

E então fechos dourados voaram em direção ao basilisco, por um segundo pensei ser Bela atirando suas flechas, mas eu ainda conseguia sentir seus braços em volta do meu corpo, me segurando e me protegendo contra os estilhaços da parede que explodiam pelo lugar sempre que um dos clarões dourados atingia o monstro. 

O monstro cacarejava desesperado, enquanto uma nuvem fina de pó subia ao seu redor, até que as flechas pararam. 

Vasculhei a loja procurando a fonte daquilo, meu coração não havia se acalmado, ainda podíamos estar correndo perigo, o basilisco ainda estava vivo — e mais irritado do que nunca —  e a última vez que alguém nos salvou de um monstro assassino fomos presos e traumatizados por dois deuses mimados.

 – Bela — Eu murmurei, gemendo de dor ao tentar me levantar, sendo imediatamente apoiado pela garota — O Paulo… — Era difícil respirar e consequentemente falar, felizmente não precisei, Bela rapidamente entendeu e fomos sorrateiramente ajudar nosso irmão.

 Ao chegar perto o suficiente da cama d’água onde a um momento atrás Paulo estava sendo afogado, Bela hesitou, apertou um pouco os olhos, tentando enxergar melhor uma fraca luz tremeluzente que saia da nuvem de pó, e logo um sorriso tomou conta de seus lábios, e quando a nuvem se dissipou, meu coração errou uma batida, aliviado.

 – Gus! Céu! — Bela gritou, não escondendo a alegria.

 Dois garotos estavam parados na nossa frente. Um, com camiseta regata mostrando braços grossos e trabalhados segurava uma espada firmemente com as duas mãos, olhando de forma feroz em direção aonde a galinha monstro havia sido jogada, enquanto que o outro garoto, um pouco mais magro e de curtos cabelos claros tinha um arco brilhante jogado ao seu lado no chão, e estava ajoelhado ao lado de Paulo, ele fazia compressões ritmadas e contadas no peito de nosso irmão, mas não havia resposta, o garoto continuava incessantemente, determinado a obter uma resposta.

 1, 2, 3, 4, 5. Nada.

 Gus, o garoto moreno, que segurava a espada, nos defendendo, olhou para trás, preocupado.

 1, 2, 3, 4, 5. Nada.

 Bela me carregou até perto de Paulo, enquanto Céu continuava as compressões. Eu não podia fazer nada a não ser olhar.

 1, 2, 3, 4, 5. Nada.

 1, 2, 3, 4, 5…

 1, 2, 3…

 1…

 E então Paulo tremeu, se virando rapidamente de lado para vomitar o que pareciam ser litros de água.

 Meu corpo inteiro desabou, aliviado, ouvi Bela suspirar alto, deixando seu corpo cair em tranquilidade e até mesmo Gus que estava um pouco mais distante pareceu aliviado, ajustando sua postura.

 – Paulo? — Rastejei até ele — Você está bem?

Podia ver em sua face que ele ainda estava recuperando o fôlego, sua cor estava voltando ao normal, porém mesmo assim consegui ouvi-lo murmurar algo que me fez sorrir.

 - Maldita galinha…

Célio levantou Paulo com cuidado e com a ajuda de Webs, que havia corrido ao ver a chegada de nossos irmãos, o levando para longe, o escondendo dentro da cabine onde havíamos estado antes, Webs voltou imediatamente para o campo de batalha, sendo seguido por Céu, que pude notar se posicionar mais afastado e de forma estratégica.

Agora um pouco mais tranquilo, eu consegui acordar do meu torpor, novamente vasculhei o amplo estabelecimento com colchões revirados e rasgados, salpicando o lugar inteiro com o forro que pareciam mais bolas de pelo seco. Consegui ver Lucas e San caídos perto da cabine, sendo vigiados por Laís e um João assustado, Céu estava um pouco mais a frente deles, escondido em uma das pilastras de sustentação enquanto seu arco brilhava forte em suas mãos, Webs estava ao meu lado juntamente com Bela, ambos com armas em punho enquanto eu me mantinha de pé me apoiando em um pedaço de colchão atrás de mim, e por fim conseguia ver Augusto a alguns metros na nossa frente, andando devagar até o monstro que agora conseguimos ver claramente.

O enorme basilisco estava preso por cordas brilhantes e se debatia irritado, a parede a qual estava confinado rachava um pouco mais a cada movimento. O mendigo que estava preso em suas costas gritava palavrões em grego em meios a rosnados, mas pelo menos nenhum dos dois parecia estar conseguindo se soltar.

— Quem mandou vocês? — Bela falou, alto o suficiente para que aquela criatura escutasse.

O homem riu com desdém, seus dentes podres podendo ser vistos até mesmo a alguns metros de distância.

— Eu não devo respostas a vocês — Ele cuspiu — Semideuses.

Imediatamente uma flecha dourada, como se repleta de glitter amarelo, acertou a parede bem ao lado da cabeça do homem, raspando por sua orelha, e ao invés de rosnar ele soltou um gemido assustado.

— V-você errou… — O monstro tentou esconder o medo na voz, falhando de forma miserável.

— Acredite — Bela respondeu, e pude ver ela puxar novamente uma flecha do arco — Eu não errei.

                                           [...]

 

O delicioso sabor de lasanha de strogonoff descia por minha garganta e eu podia me sentir revigorado a cada vez que mastigava aquele pequeno pedaço de ambrosia. A dor começava a deixar meu corpo, meus ferimentos se fechavam deixando algumas cicatrizes claras, quase invisíveis, sob minha pele.

Não estávamos livres de riscos ainda, o monstro ainda se mantinha preso na parede, porém decidimos aproveitar essa vantagem para cuidar de nossos feridos. Sim, Célio e Augusto conseguiram imobilizar nosso inimigo, mas se ele por acaso conseguisse se soltar precisaremos de toda ajuda possível.

Caminhei até nosso prisioneiro, com minha arma em punho, no caminho toquei o ombro de Gus que o vigiava.

— Chegamos bem na hora ein? — O garoto sorriu brilhante com uma certa arrogância.

— Sim — Sorri — Obrigado Gus.

Meu irmão apenas respondeu com um aceno de cabeça e eu segui adiante. Cheguei perto o suficiente do monstro para conseguir ver todo o seu corpo e comprovar como, mesmo com todos os nossos ataques ele não parecia demonstrar um arranhão sequer. Andei mais um pouco, era uma criatura enorme, forte e estranhamente ameaçadora com seus olhos esbugalhados de galinha.

— Você devia vê-la rasgando a carne dos ossos de semideuses — Uma voz pesada e rouca como a de um fumante soou por detrás do corpo da ave, o homem, mendigo ou seiláoque que controlava aquela coisa, ria sufocado — Ah, não vai precisar esperar muito, logo vai poder ver por si mesmo hahaha.

Apertei o cabo da minha espada, até que os nós dos meus dedos ficassem roxos.

— Deimos e Phobos mandaram vocês?

Ele riu novamente.

— Para um morto você é bem curioso, jovem projeto de semideus, você acha que realmente importa saber isso? Você acha que seus lindos irmãozinhos realmente precisavam saber quem abriu as portas do acampamento enquanto um ciclope quebrava seus pescoços.

E em um movimento rápido, a ponta da minha lâmina já estava na garganta daquele homem podre. Minha mão tremia de raiva, fazendo com que minha lâmina desenhasse riscos superficiais em sua garganta.

— O quão fácil seria cortar sua garganta agora, te cortar de uma forma a demorar que você se desfizesse em pó — Levantei um pouco minha arma, firmando a posição e agora mirando bem abaixo de seu maxilar — Te fazer sofrer, pelo menos um terço do que nos fez sofrer.

O sorriso do homem sumiu, e ele engoliu em seco.

— Quem. Mandou. Vocês?

E quando ele estava preste a falar algo, um estrondo ecoou pela loja, a parede logo à minha frente explodiu em uma fumaça branca, novamente concreto voava por todos os lados, senti braços fortes me agarrarem pelo abdômen, se jogando para longe junto comigo enquanto um ruído abafado de algo batendo contra o metal nos seguia, levei um tempo para entender que Augusto havia novamente me salvado.

Em um rápido reflexo, ele conseguiu convocar seu escudo e me puxar para longe evitando ferimentos mais sérios, infelizmente não havia tempo para agradecer.

Logo atrás de nós, o basilisco havia se libertado, mais raivoso e feroz do que nunca, ele gritava enquanto o homem às suas costas parecia ainda estar se recuperando do choque, o que não durou muito, pois logo senti seu olhar sedento por sangue em minha direção.

Novamente flechas douradas começaram a voar pelo recinto, mas aparentemente nossos inimigos estavam mais espertos e conseguiram fazer com que as mesmas ricocheteassem pelo lugar, puxei Gus quando uma delas voou em nossa direção.

Ao longe consegui ver Webs atacar, sendo seguido por Lucas que havia se recuperado o suficiente para ajudar, novamente nada surtiu efeito, mas pelo menos ambos conseguiram se proteger dos ataques da feroz criatura. Gus correu para ajudar, colocou o escudo à frente do corpo e correu com tudo contra o monstro, o impacto de seus corpos desestabilizou a enorme ave por alguns segundos, lhe dando tempo o suficiente de desviar das garras enormes e afiadas do monstro.

Céu e Bela continuavam a atirar suas flechas, deixando o monstro confuso sobre quem atacar.

Eu precisava pensar em algo. Nossos ataques não estavam dando certo, mesmo com ambrosia e néctar ainda estávamos recuperando nossas forças, enquanto que aquela galinha pintadinha não parecia ter gasto nem metade da sua energia.

O que fazer? Olhei para os lados procurando respostas, mas apenas conseguia ver destruição e colchões com até 60% de desconto. Alguma coisa tinha que dar certo, alguma coisa…

E então eu vi.

Corri em direção a porta de entrada estilhaçada, e me prostei no meio da rua, bem embaixo da faixa de sol do início da tarde e rasguei minha camisa.

— Ei — Gritei, tentando chamar a atenção do McChicken ambulante.

Quando os olhos vazios e redondos do basilisco se viraram para mim,eu soltei minha espada. O mendigo que a controlava começou a rir histericamente.

— Finalmente aceitou sua morte semideus? — O monstro começou a andar na minha direção — Quer se juntar a seus irmãos? Ou é apenas culpa por ter os assistido morrer? — Ao invés de correr para me atacar, o monstro andava calmamente, se deliciando pelo momento — Ter assistido cada crânio rachado, cada corpo dilacerado — O homem ria a cada palavra.

Meus irmãos correram em direção a porta, sabendo o que iria acontecer, eles atacavam incessantemente o basilisco, mas nada funcionava, o balançar violento das penas da cauda do basilisco os jogavam para longe sempre que aparentavam conseguir me alcançar.

Meus irmãos gritavam desesperados.

— Fafá, isso não é hora de mostrar o shape — Lucas gritou quase que com a voz embargada.

— Você está escutando isso? — O homem parecia se divertir com os gritos de agonia — Essas são mais 9 vidas que você não vai conseguir salvar, pois depois que eu terminar com você garoto, eu vou desmembrar cada um dos seus amigos e vou alimentar a velha guarnizé aqui.

Ele me provocava, e eu podia sentir meu corpo inteiro ser consumido por uma agitação e raiva, mas eu precisava aguentar só mais um pouco, me concentrar só mais um pouco.

E então eu senti.

Um calor familiar começou a correr pelo meu corpo, senti meu corpo aquecer de forma acelerada e ficar mais leve, meus braços, pernas e peitoral começaram a brilhar, e senti como se uma brisa fresca de verão acariciasse meu rosto. Todas as vozes ao meu redor pareciam ficar mais distantes.

Eu tinha uma chance.

O basilisco estava bem acima de mim, o tempo parecia correr em câmera lenta, seu bico estava escancarado, pronto para me abocanhar com apenas uma mordida.

E então…

Eu atravessei o peito do monstro e de seu mestre.

— C-como…

Mas não conseguiu falar, sua voz engasgava, enquanto que seus olhos demonstraram terror e medo e agora era eu que me deliciava com sua dor. Seu peito perfurado subia e descia, enquanto ele buscava inutilmente por ar, me ajoelhei ao seu lado, começando a sentir meu corpo esfriar e meus músculos doerem.

— Quem?

O homem me olhava assustado, um líquido cinza escorria por seus lábios, o basilisco havia começado a se desfazer em pó, sendo carregado por uma brisa fraca. 

— Quem? — Perguntei novamente, começando a sentir uma tontura me atingir.

O homem desviou seu olhar do meu, encarando algo ou alguém atrás de mim e então voltando seu olhar para mim, querendo me dizer algo, entretanto, era tarde demais, seu corpo deu um espasmo violento e com um último olhar de raiva e terror seu corpo se desintegrou.

Olhei para trás, buscando algo de incomum, mas a única coisa que vi foi uma peça de xadrez bem aos meus pés.

Um pequeno peão preto.


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