Sacred New Beginnings escrita por prongs


Capítulo 1
U: we were a fresh page filling in the blanks


Notas iniciais do capítulo

OLÁ QUERIDASSSSSSSSSS feliz fevereiro drastoria!!! tô aqui postando minha humilde historinha cheia de medo porque nunca escrevi sobre esse casal antes e, sendo sincera, também não leio muito sobre eles, então foi um baita desafio fazer algo concreto que me agradasse sobre os dois. é curtinha, romântica, com um pouco de drama, e eu espero que vocês gostem!!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/799559/chapter/1

Astoria sempre soube quem Draco Malfoy era, mesmo que ele não soubesse da existência dela. Ele era colega de sua irmã mais velha, Daphne, e, sinceramente? Achava que ele era um bully mimado, egocêntrico e mesquinho que provavelmente se tornaria um comensal da morte, como todos os amigos de Daphne na época de escola. Astoria não gostava de Daphne, consequentemente não gostando de nenhuma pessoa que se envolvia com sua irmã. 

Ela tornou isso bastante claro após a guerra; Daphne continuava a defender os ideais de Voldemort com sutileza, como se ninguém fosse perceber, mas Astoria percebia. Astoria sabia, também, que ela não dizia aquelas coisas por se identificar com os ideais, mas por querer fazer parte de uma elite morta e destruída que tentava se reerguer. Famílias de sangue puro, com parentes indo para Azkaban a torto e a direito por participarem da guerra pelo lado errado, e Daphne queria mais que tudo salvar o nome Greengrass de uma inexistente humilhação. Teve que continuar morando com os pais e a irmã por dois anos, enquanto terminava seus estudos em Hogwarts, dois anos cheios de brigas, gritos, promessas de fuga e absolutamente nenhum pensamento sobre Draco Malfoy.

Até que ela o reencontrou no verão depois de sua graduação, numa festa na mansão Malfoy para a qual sua família fora convidada; aparentemente, era o aniversário da matriarca da família, e a casa estava coberta de narcisos. Draco passou a noite inteira perto do bar, e Astoria também.

— Achei que você odiava a sua família — Ela ouviu a voz baixa e gélida dele e o encarou. Estava tarde e havia muitos copos vazios perto de onde ele estava sentado.

— Achei que você não sabia quem eu sou — Astoria riu.

— Claro que eu sei quem você é, Greengrass — Draco tomou um gole de sua bebida.

— Bem, os rumores dizem que você e seu pai também não se dão muito bem, Malfoy — Ela retrucou o comentário, engolindo o resto de sua gin e tônica. Draco riu, sem humor nenhum.

— Rumores costumam ser realmente cruéis. — Ele a encarou com seus olhos cinzentos e sem vida. — Pena que na maioria das vezes eles também são verdadeiros.

Draco se levantou e andou pelos corredores escuros e sem vida de sua mansão de pedra até seus aposentos.

Astoria pensou naquela estranha troca de palavras mais algumas vezes, e principalmente três meses depois, quando ela e Daphne explodiram numa discussão depois do jantar sobre Hermione Granger e sua ascensão no Ministério da Magia. Daphne dizia que era vergonhoso que uma sangue ruim fosse vice-chefe de departamento de qualquer coisa, e Astoria deixava claro para sua irmã que os ideais de Comensal da Morte estavam escancarados em cada palavra que ela dizia e que ela a enojava, enquanto Daphne dizia que a caçula era uma vergonha para a família.

Astoria arrumou suas malas e foi embora daquele lugar horrendo. Deixou sua mãe aos prantos e sua irmã aos gritos. Ela achou um prédio de apartamentos antigos para alugar na rua Cornelia, na parte mágica de Londres, e pagou imediatamente pelo apartamento 303. Não dormiu a noite inteira, ainda escutando os gritos humilhantes de Daphne ecoando em seus ouvidos, e ao resolver sair pela manhã para arranjar algo para comer, se deparou com o inesperado.

Draco Malfoy abrindo a porta do apartamento 304, usando seu clássico sobretudo masculino preto e sua expressão carrancuda. Ele também a viu e parou na moldura de sua porta, olhando para Astoria com um olhar curioso.

— Oi… vizinha.

— Oi — Ela respondeu, levantando uma sobrancelha para o homem. — Não sabia que você não estava mais morando na mansão Malfoy. — Draco suspirou e olhou para Astoria fixamente.

— Como eu disse, rumores são terríveis e cruéis, mas na maioria das vezes eles são verdadeiros. Tenha um bom dia, Greengrass.

Draco já não carregava mais o tom amargo em sua voz como nos tempos de escola. Parecia estar cansado, e naquele momento Astoria nem imaginava o quão esgotado e machucado ele estava. Seu relacionamento com Lucius já não era dos melhores, e depois da guerra eles praticamente não se falavam mais. Draco não aguentava mais se sentir sufocado e resolveu sair de casa por alguns dias, que se tornaram semanas, que estavam caminhando para se tornarem meses.

Todos os dias, Astoria encontrava Draco duas vezes: ao sair de manhã e ao voltar para casa de noite. Ele sempre dizia bom dia e boa noite e a chamava de Greengrass. Depois de quase três semanas daquilo, ela se cansou.

— Você pode me chamar de Astoria, sabe — Ela sorriu gentilmente. Ele sempre tinha aquela expressão cansada no rosto que fazia ela ter um pouco de simpatia por ele.

Ele pareceu surpreso pelo gesto. Não escutava palavras genuinamente gentis direcionadas a ele há muito tempo.

— E você pode me chamar de Draco.

Os dois se cumprimentaram e entraram em seus respectivos apartamentos. 

Astoria achou um emprego perto do Beco Diagonal em uma galeria de arte bruxa, que na maior parte do tempo aceitava encomendas para quadros de famílias, e finalmente não precisava mais do dinheiro de sua família para pagar suas coisas. Draco passava a maior parte de seu tempo em bibliotecas bruxas, procurando manuscritos e livros sobre alquimia, sua nova paixão, e usufruía de sua interminável fortuna. Os dois voltavam para a rua Cornelia todas as noites no mesmo horário e começaram a sorrir um para o outro sempre que se viam.

Certa noite, Astoria olhou para Draco e perguntou se ele queria entrar em seu apartamento para tomar um uísque de fogo. Ela não sabia exatamente por que estava fazendo aquilo, mas não aguentava mais vê-lo tão sozinho; e, afinal, ele era seu vizinho. Talvez porque ela escutava os gritos de Draco com pesadelos no meio da noite, quando ela acordava encharcada de suor por causa de seus próprios sonhos ruins.

— Por que o convite? — Ele perguntou, com uma sobrancelha arqueada. Sempre desconfiado com seus instintos sonserinos.

— Por que não? — Ela deu de ombros e Draco a seguiu para dentro.

Ele se sentou no sofá velho de Astoria enquanto ela servia dois copos de uísque para eles.

— Por que você está morando aqui? — Ela perguntou, com a garrafa ainda em mãos, e Draco sorriu.

— Você é bem direta.

— Não tenho razão pra não ser — Ela sorriu de volta.

— Pode-se dizer que meu pai não é a pessoa mais tolerante do mundo — Draco deu de ombros. — Torna a convivência um tanto difícil. Eu gosto do silêncio daqui. E você? O que te traz a rua Cornelia?

— Os mesmos problemas — Ela entregou a bebida ao homem e se sentou ao lado dele. — E o que você faz o dia todo?

Draco contou para Astoria sobre a alquimia e a paz que os estudos lhe traziam. Ela contou para ele sobre a galeria de arte e seu talento recém-descoberto com as artes visuais. O uísque fez os dois se abrirem mais sobre suas relações familiares conturbadas, e logo Astoria estava segurando a mão do homem complicado, quebrado e fechado sentado à sua frente.

Ela começou a convidá-lo para tomar uísque de fogo todas as noites. Suas garrafas se esvaziavam com rapidez, e a cada noite as palavras e risadas escapavam de seus lábios com mais facilidade. Draco já conhecia tão bem o apartamento 303 que conseguia memorizar quais tábuas do piso eram soltas e rangiam quando ele pisava nelas. Tudo era fácil e assustador.

Em uma dessas noites, Draco passou a mão gelada no cabelo de Astoria, colocando uma mecha atrás de sua orelha, e ela se arrepiou. Na noite seguinte, eles se sentaram mais perto um do outro no sofá velho. Na outra, Astoria não ofereceu uísque, mas eles ainda conversavam como em todas as noites anteriores e Draco a olhava de uma maneira que fazia ela sentir como se seu cérebro estivesse derretendo. 

— Eu quero ser definido pelas coisas que eu amo, não pelas coisas que me assombram, que eu odeio, que me fazem ter pesadelos no meio da noite — Draco lhe disse em uma de suas conversas no meio da noite, e fez o coração da Astoria amolecer.

Os pesadelos de Astoria foram substituídos por sonhos onde Draco era seu. Ela olhava nos olhos dele e se perguntava se ele também desejava isso.

E em uma certa noite Astoria o beijou, esperando que ele se levantasse e fosse embora, dizendo que ela estava confundindo as coisas, mas as mãos de Draco a envolveram com certeza e desejo, e por semanas eles dividiram suas camas na rua Cornelia, entre beijos e confissões, e Astoria sentia que sua mente estava girando mais e mais a cada encontro.

Depois de negar por tanto tempo ideias de superioridade racial e de sangue-puro com tanta veemência, Astoria estava cada dia mais rendida por um Malfoy, provavelmente um dos piores nomes a ser mencionado na sociedade bruxa naqueles dias. Ela não tinha certeza se podia confiar nele e nem sabia se ele se sentia da mesma maneira, e seus pensamentos a levaram à loucura quando Draco sumiu por uma semana e deixou o apartamento 304 vazio e silencioso. Astoria não podia acreditar que depois de tantas noites juntos ele iria fazer aquilo com ela, e considerou no mesmo instante ir embora daquela maldita rua Cornelia e nunca mais voltar.

No oitavo dia de seu sumiço, ela ouviu uma batida em sua porta quando estava prestes a ir dormir e encontrou Draco Malfoy encharcando seu assoalho.

— Minha mãe estava doente. Muito doente. Eu tive que ir ver ela — Ele explicou, com insegurança e medo na voz. Era a primeira vez que Astoria escutava isso em Draco.

— Tá tudo bem, não precisa se explicar — Ela murmurou, tentando não sorrir ao olhar para ele.

— Eu preciso te dizer uma coisa.

Astoria piscou, sem entender que ele estava falando sério, e assentiu para que ele continuasse. Draco entrou em seu apartamento e fechou a porta atrás de si.

— Eu sei o peso que o meu nome carrega, e sei que não é um peso agradável. Eu sei que você tem todas as razões pra não confiar ou acreditar em mim, e que meu passado é… — Ele engoliu em seco. — Complicado, pra dizer o mínimo. Mas eu realmente gosto de você, Astoria, e eu espero que você também goste, porque eu realmente preciso de um novo começo, uma página em branco, sem fantasmas do passado nem nada do tipo, e… eu acho que nós podemos fazer isso juntos. De verdade. E eu preciso saber se você realmente gosta de mim por quem eu sou. 

Era a primeira vez que ele não a chamava de Greengrass, e ela ficou sem reação.

— Tudo bem eu ter dito isso? — Pela primeira vez, a voz de Draco era pequena, tímida e incerta. Não combinava com ele. — Porque eu posso apenas voltar pro meu apartamento, e…

— Cala a boca — Astoria levantou a mão, organizando seus pensamentos. — Você tá falando a verdade, Draco?

— Sim — Ele a olhava nos olhos, despido de qualquer mecanismo de defesa ou mentiras nos olhos. Aquele era ele, em sua forma mais vulnerável, pedindo a ela que o aceitasse apesar de todos os seus erros. — Eu fiz coisas horríveis, eu machuquei pessoas boas e confiei nas pessoas erradas, e eu posso ser muito egoísta e egocêntrico às vezes, e você vai ter que me ensinar como ser uma pessoa melhor, mas a questão é que eu realmente quero isso. Eu quero isso com você. 

Astoria o observou cuidadosamente.

— Nós não podemos fazer nenhuma promessa que não podemos cumprir. Você sabe disso, não é?

Draco assentiu.

— Bem… você pode me fazer um drink. 

A garota riu, seu coração tão descompassado, confuso e desesperado quanto aquela conversa.

— Você acha que pode me prometer só uma coisa? — Draco assentiu instantaneamente. — Sempre me diga a verdade. Sempre.

Ele segurou a mão dela, gelada como sempre, e Astoria suspirou. Draco aproximou o rosto dela, sussurrou que sempre lhe diria a verdade, e a beijou como nunca antes. Doce, paciente, singelo, hesitante; Astoria o puxou para si e sentiu toda a verdade prometida por Draco naquele único gesto. 

Naqueles apartamentos frios e apertados da rua Cornelia, Draco e Astoria começaram a escrever novos capítulos em novas páginas em branco em suas histórias manchadas, e naquela noite, observaram juntos o nascer do sol pela primeira vez, e Astoria pensou em como aquilo era simbólico. Passara tanto tempo se prendendo a uma história escura e tenebrosa, mas agora, com a estranha nova companhia daquele loiro que era tão machucado quanto ela, ela sentia que podia finalmente deixar tudo para trás e sair para a luz. Preferivelmente, com Draco Malfoy segurando sua mão.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

comentários são muito bem-vindos!