O despertador não precisou tocar mais de uma vez na manhã seguinte, mas definitivamente não foi Hayato quem acordou empolgado. Takeo sacudiu o ombro do namorado algumas vezes até que obtivesse alguma resposta, mesmo que desconexa. Palavras como "café", "especial" e "aniversário" foram ouvidas distante, ainda em seu estado de torpor, levando alguns minutos para trazer Izumi à consciência.

Sentando-se na cama num susto virou-se para encarar o lado de Takeo. Tinha receio de que o namorado se cansasse de esperá-lo e fosse fazer o próprio café, desapontado por não ter seu "especial de aniversário", mas lá estava ele, deitado na cama, braços cruzados sobre o peito e um bico enorme no rosto, o encarando.

—Não sai daqui. -Hayato pediu antes que Takeo pudesse dizer qualquer coisa. -Trago seu café na cama. -O bico do guitarrista aumentou. -Com frutas e suco de entrada. -Nem um arquear de sobrancelha. -... bolo? -Tentou timidamente e Hayato captou um ligeiro brilho no olhar do companheiro. -Sério? Mas é mais demorado… -Takeo franziu o cenho ajeitando os braços cruzados. -Faço pra mais tarde. Pro nosso lanche? Ou pra janta.

—Café da manhã com bolo. -Ele respondeu. -Almoço com bolo. Lanche com bolo e jantar com bolo. -Levantou o dedo indicador quando Izumi pareceu que ia retrucar. -Bolo de bolo. -Levantou o dedo seguinte. -Bolo de chocolate. -Levantou o terceiro dedo. -Bolo de laranja. -Por fim levantando o dedo mindinho para exibir as quatro escolhas. -Bolo de morango.

Hayato respirou fundo soltando uma risada. Ali estava o Takeo capaz de pedir uma festa de aniversário surpresa ou um bolo por refeição. Como dizer “não” pr’aquela energia logo cedo?

—Bolo de bolo? -Conferiu com um sorriso de lado.

—É. Bolo de bolo. Só porque você acordou tarde.

—Cruel... -Sussurrou fazendo uma careta engatinhando para fora da cama.

Do lado de fora do quarto, o par felino aguardava o momento em que os humanos abririam a porta e eles poderiam dormir na cama. Quando ouviram o movimento do cômodo começaram a miar. Hayato mal deu bom dia pros bichanos e Yua e Junnai pularam para o colchão aninhado sobre as pernas de Shiroyama.

Não foi preciso perguntar se Takeo passaria na cafeteria porque além da carona, ele se prontificou a passar o dia ajudando a supervisão de Miura. "Para garantir o bolo do almoço", ele justificou e, independente do motivo, foi bem aceito pela equipe que trabalhou em clima de festa.

Ao longo do dia Takeo ganhou os bolos prometidos, à exceção do bolo de laranja que foi substituído por um de pêssego, ganhou também música de parabéns e bexigas de aniversário enfeitando a cozinha da cafeteria. Quando fecharam o estabelecimento e tomaram o rumo de casa, Shiroyama era ainda uma criança feliz curtindo a festa. A empolgação subiu um nível no momento em que Hayato pediu que parassem numa confeitaria para pegar o bolo de morango que havia sido encomendado. Seria um bolo especial, contou Izumi, com direito a plaquinha de chocolate com o nome de Takeo e chantilly. O namorado mal via a hora de começar as comemorações. De novo.

A frustração veio logo que fechou a porta do apartamento e Hayato o intimou ir para o banho.

—Primeiro tirar o vírus da rua. Depois vamos namorar. E depois podemos comer bolo.

—Hayato! -Protestou fazendo manha.

Não era apenas cuidado que Hayato tinha em mente, mas aproveitaria esse momento para organizar a última surpresa do dia. E quando Takeo retornou do banho, o kotatsu estava no meio da sala rodeado de almofadas e sobre ele havia um pout-purri de flores secas aromatizadas e uma forma de bolo com pouco mais que a metade dele. Takeo acharia tudo muito convidativo ao romance se não fosse aquele terço de bolo faltante.

—Sinto que está incompleto…. -Comentou sendo guiado a se sentar na almofada.

—Tem razão. Falta uma coisa. -Hayato colocou o celular num suporte à frente deles e espelhou a tela na televisão. Abrindo um aplicativo de conferências online, Mikaru e Katsuya foram reproduzidos na tela.

—Feliz aniversário, Takeo-san. -Katsuya cumprimentou terminando de ajeitar a câmera no suporte e logo se afastando para junto do namorado.

—Feliz aniversário, Shiro. -Mikaru acenou do sofá com um garfo numa mão e na outra um pratinho com um pedaço de bolo de morango com chantilly.

—Ei, esse bolo é meu. Devolve! -Takeo disse para Mikaru que levantou uma sobrancelha olhando o pedaço com atenção e de todos os ângulos.

—Não tem seu nome. -Deu de ombros.

—Tem sim, olha! -E levantou o bolo sobre o kotatsu mostrando a plaquinha.

—Não é o mesmo bolo. Seu namorado deve ter comido a parte que falta.

Takeo olhou para Hayato e mesmo que negasse veementemente, foi atacado com cócegas e pedidos para devolver o pedaço que faltava. Depois de implorar para parar, os dois se sentaram corretamente e só Katsuya estava na tela risonho apesar de envergonhado.

—Eles pararam de se exibir? -A voz do sócio se fez presente antes que aparecesse na tela novamente. -Se querem se pegar, façam isso só vocês dois.

—Desculpe Mikaru. -Hayato pediu e o outro bufou. -Eu queria que fosse uma festinha como a gente costuma fazer, -contou. -mas não estamos podendo ainda, então eu enviei esse pedaço pra eles e combinei esse encontro online pra gente comemorar. Pelo menos assim.

A sala mergulhou em um momento de silêncio antes de Takeo resmungar que queria uma festa com todo mundo junto.

—Para de reclamar, Shiro. Vamos fazer isso depois.

—Eu quero agora. -Fez bico.

—Que tal se agora você abrir seus presentes? -Hayato sugeriu já a caminho da cozinha para buscar os pacotes.

A manha durou o tempo de Hayato voltar para a sala com uma pequena pilha de caixas. Não era nenhum segredo que Takeo gostava de receber presentes ou mimos, fosse de aniversário, de dia dos namorados, de dia das crianças ou presentes de fãs. Sempre fazia um momento especial o ato de desembrulhar e revelar o mimo que lhe deram e naquele aniversário não foi diferente, aliviando a tensão que os obrigava a ter aquele encontro online.

A cantoria de parabéns foi vetada por Mikaru que não estava disposto a passar vergonha cantando parabéns pra tela de um celular, mesmo que estivesse a sós em casa com Katsuya. Mas conversaram e brincaram jogos de adivinha. Também fizeram planos para quando pudessem voltar a se encontrar, ou pelo menos, Katsuya e Hayato fizeram planos. Mikaru foi mais cético dizendo que o primeiro encontro deles seria uma reunião de sócios na cafeteria. Por fim, quando a conversa ficou escassa e não haviam mais ideias de jogos, os casais despediram-se encerrando a conferência online.

Takeo esticou as pernas sob o kotatsu e abraçou o namorado ao lado.

—E agora? -Perguntou descansando o queixo no ombro de Hayato.

—Agora… namorar? Curtir o quentinho do kotatsu e dormir agarradinhos? O que achou do seu dia?

—Quero repetir mais vezes.

—Só se faz aniversário uma vez.

—Pode ser aniversário de banda? Ou aniversário de namoro? Ou de pedido de namoro? Dia das crianças daqui a pouco está aí.

Hayato riu pegando um morango sobrevivente do bolo e servindo para Takeo na boca.

—Essas coisas a gente pode pensar depois. Seu dia vai até a meia noite e até lá vou te mimar mais um pouco.

—Hum… só até meia noite? E depois?

—Depois esta Cinderela aqui vira Bela Adormecida e só pretende acordar com o beijo de seu príncipe.