Play Me Like a Violin escrita por Siaht


Capítulo 1
0.0. Prólogo


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoas lindas!!!
Tudo bem com vocês?
Primeiro, eu queria agradecer às organizadoras do Fevereiro Drastoria por criarem esse projeto tão legal que vai encher esse mês de fanfics maravilhosas. E aproveitar para já recomendar que procurem as outras histórias do projeto, porque estão incríveis
Espero que gostem! ♥

[ALERTA DE GATILHO: esse capítulo fala sobre depressão e traz uma menção breve a suicídio. Não é nada muito longo, gráfico ou descritivo, mas fica o aviso]



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{prólogo} 

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Isso é uma magia rara. [...] Minha mãe costumava me contar a história de Yu Boya, que era um ótimo músico de qin. Ele tinha um melhor amigo, um marceneiro chamado Hong Ziqi, e tocava para ele. Dizem que quando Yu Boya tocava uma música sobre a água, o amigo imediatamente sabia que ele estava descrevendo rios, e quando tocava sobre montanhas, Ziqi enxergava os picos. E Yu Boya dizia, “é porque ele entende minha música”. As pessoas ainda utilizam a expressão “zhi yin” para falar de “amigos próximos” ou “almas gêmeas”, mas o que realmente significa é “compreensão musical”. Quando eu toquei, você viu o que vi. Você entende minha música.”

— Princesa Mecânica, capítulo 8 (Cassandra Clare) 

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O violino era a primeira lembrança coerente da menina. O instrumento reluzente, em um estojo escuro e elegante, que suas mãozinhas pequenas tentavam em vão alcançar. O movimento firme, porém delicado, que sua mãe fazia quando, sentada em uma poltrona carmesim no canto mais escuro da sala, levava o arco às cordas. A melodia triste que preenchia a casa inteira. Como a canção infeliz de um pássaro em uma gaiola. Um pedido de socorro sufocado.  

Astoria Greengrass era uma filha da melancolia. Não haveria palavra melhor para descrever sua mãe, afinal. Céline Greengrass era tudo o que fora criada para ser. Obediente, calada, submissa. A moça perfeita. A filha perfeita. A esposa perfeita. Astoria supunha que ela também deveria ser a mãe perfeita. Mas não era. Ao menos, não aos seus olhos infantis. A mulher nunca fora cruel ou negligente. Cuidara com zelo de todas as necessidades das duas filhas, no entanto,  faltava a ela alguma espécie de calor e energia. Algum tipo de vivacidade e solidez que seria muito apreciado por uma criança. 

A mãe a amava, Astoria sabia disso, porém, era um amor distante e frio, como a própria aura que a envolvia. Às vezes, a garota achava que a mãe era alguma tipo de fantasma, vagando — com muita dignidade — pela Terra. Uma alma que há muito deixara de se conectar com as trivialidades mortais. O espectro da mulher que poderia ter sido.  Os únicos momentos em que via  Céline ganhar vida e parecer real eram os em que tocava o violino. Talvez por isso, a menina tenha se interessado tanto pelo instrumento e implorado para aprender a tocá-lo. 

Ao contrário da irmã mais velha, Dafne, que não queria nada além de se afastar da progenitora e de toda a neblina cinzenta que a envolvia, Astoria queria se aproximar. Era fascinada pela mãe e queria que a matrona a visse e se conectasse a ela. Queria que a admirasse e a compreendesse. Queria despertar nela qualquer tipo de reação sincera. De alguma forma, seu desejo de realizou. Após muita insistência, Céline foi convencida a ensinar à caçula a tocar o instrumento. E a pequena Astoria se agarrou ao violino com todas as forças. 

Quase 20 anos depois, ela ainda estava agarrada a ele. Trançando o arco sobre as cordas com rigor e intensidade. Não mais uma criança desamparada, mas a primeira violinista da Orquestra Bruxa de Londres. Fora um longo caminho até ali, contudo, havia valido a pena. Todas as noites, bruxos de toda Grã-Bretanha iam vê-la tocar. A alimentavam com seus aplausos e com a esperança que eles lhe suscitavam. A esperança de que era diferente. Porque Astoria Greengrass  havia sido a única pessoa a conseguir realmente perceber Céline. Havia enxergado a alma da mãe. Havia entendido a música que ela tocava e encontrado a si mesma naquela melodia deprimente e caótica. 

Talvez houvesse se aproximado demais e se deixado contaminar pela melancólica solidão que emanava da mãe. Talvez — assim como a matriarca — houvesse apenas nascido quebrada. Algumas pessoas vinham ao mundo com peças faltando, ela sabia. Astoria era uma delas, porém se recusava a ter o mesmo destino de Céline. Se recusava a ficar em um canto escuro da sala. Se recusava a ser ignorada e esquecida até finalmente desvanecer. Se recusava a terminar seus dias com os pulsos dilacerados em uma banheira ensanguentada.   

Então, se agarrava ao seu violino e tocava sua música. Porque a música era o começo e o fim. Era tudo o que conhecia. Tocava para ser admirada. Tocava para se sentir viva. Tocava para reescrever a próprio a história. Tocava com a esperança de que alguém a ouvisse.


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Notas finais do capítulo

Bom, apenas uma introdução curtinha e um pouco triste, mas necessária para o resto da história.
Espero que tenham gostado! ♥
Beijinhos,
Thaís