Presos Por Um Olhar escrita por Carol McGarrett


Capítulo 96
Uma notícia, um dia de spa e uma Ferrari


Notas iniciais do capítulo

E vamos para mais um capítulo.
Uma boa leitura para vocês!



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— Até que horas você ficou conversando com o Tatuado noite passada? – Pietra quis saber assim que entrei na cozinha.

— Até bem tarde. Hoje é um dos raros dias de folga dele, então Alex estava falante.

— Falante de culpa. – Mel me cortou.

— Isso também. Me pediu um milhão de desculpas e ainda me fez garantir que eu não estava com raiva dele. – Dei um sorrisinho. – Ele realmente ficou mal.

— O mesmo com Kim. – Vic entrou dizendo às minhas costas. – Está até agora me pedindo desculpas.

— Também pudera. De todos, é o único que tem que passar por um divórcio... e como ele é famoso e rico, tenho certeza de que você iria arrancar metade das coisas dele e ainda sairia como CEO da NT&S. – Mel disse brincando, enquanto pescava um biscoito do pote que viera na cesta de ontem.

— Se eu pleiteasse essa última parte, perdia a vida. – Vic falou e olhou para mim.

— Você poderia pedir, mas não iria ganhar. – Garanti.

— Katerina Nieminen iria colocar o seu lado advogada para funcionar! – Pietra falou em tom agourento. – Capaz que era você quem iria perder tudo. – Apontou para Vic.

— Não, ela não encostaria um dedo em alguma ação da empresa, mas do Kim, ela poderia tirar qualquer coisa. Ninguém mandou meu irmão ser lesado.

Vic, muito seriamente, me encarou e só falou.

— E como eu poderia encostar um dedo na empresa?

— Por acaso vai pedir o divórcio do Kim? – Rebati.

— Não, só sendo curiosa...

Dei de ombros, pelo que sabia, ela e Kim casaram-se com um acordo pré-nupcial, exigência da própria Victoria, já que ela não queria ser taxada de interesseira, ainda mais porque já era minha amiga, então a única maneira que ela tinha de ter participação na empresa era se, e isso é um se bem grande, porque não vejo motivos para que ela e Kim se divorciem, ela tivesse a guarda de um herdeiro. E eu estava pronta para falar isso, quando olhei para a feição da minha melhor amiga e cunhada.

— NÃO!! – Eu gritei e comecei a pular e isso assustou não só as outras duas, como meus cachorros.

— SIM!!! – Vic gritou alto.

— FALA SÉRIO!! – Eu tornei a falar.

— Fala sério digo eu! Querem compartilhar essa conversa estranha ou vou precisar bater nas duas? – Mel disse já balançando uma espátula.

Claro que eu deixei Vic falar.

— Bem... eu queria falar com quem tem interesse primeiro, mas como já deu o tempo crítico e estamos todas aqui... – Ela começou. – Eu estou esperando um bebê!! – Ela acariciou a barriga ainda imperceptível.

Nós quatro começamos a gritar e a pular ao mesmo tempo! E no meio do processo começamos a chorar também. Tinha quase dois anos que Vic e Kim vinham tentando ter um bebê, sendo que Vic chegou a ter um aborto espontâneo bem no comecinho da gravidez, algo que ela nunca contou para ninguém, a não ser para nós três.

— Um bebê!!! Um bebê!!! – Mel falava chorando. – Vamos virar tias!! – Ela se referia ao fato de que finalmente uma de nosso grupo traria uma criança ao mundo.

— Sim. Vocês vão virar tias! E agora tem a Pepper que não sabe da história toda, mas será tia também. – Vic disse com lágrimas escorrendo.

— Amiga!! – Pietra a puxou para um abraço apertado. – Sabe que estamos aqui para te ajudar, não é? Nem que precisemos nos mudar para Chicago, para cuidar desse bambino ou bambina!

— Eu sei... e foi por isso que resolvi contar para vocês primeiro. Porque quando eu perdi o meu primeiro, há mais de dois anos, vocês me apoiaram tanto e mantiveram o segredo, então, nada mais justo do que contar para as futuras titias.

— Só, por favor, não traga outra miniatura da Katerina para esse mundo. – Mel pediu.

— Vindo com saúde, se nascer azul ou verde ou até com anteninhas, eu não vou ligar! O que vier para mim é festa! – Ela falou rindo.

— Mas você já sabe o que é?

— Ainda não. Sei que está saudável e que o coração já bate forte, semana passada fui ao médico para escutar pela primeira vez. Minha obstetra me falou que se eu quiser, posso ir a um laboratório e fazer o teste de sexagem fetal, mas...

— NÓS VAMOS! Na segunda! Não vamos sair de Los Angeles se saber se seremos tia de uma menina ou de um menino! – Pietra saiu correndo pela casa, atrás do celular dela, querendo saber qual era o melhor e mais seguro laboratório da cidade para fazer esse teste.

— Amiga, os Nieminen vão aumentar... – Ela falou comigo.

— Vão sim! – Respondi sorrindo. – Kim vai ter um infarto de tão feliz.

— Ele nem imagina... essa noite, enquanto ele pedia mil e uma desculpas, eu quase falei, mas eu quero estar do lado dele quando contar.

— Você tem que me prometer que vai gravar a reação dele...

— Bem, no meio da semana ele joga aqui em Los Angeles... – Ela começou.

— Você quer contar a novidade para o Kim no meio de um jogo?

— No meio não, mas logo depois do jogo... – Vic pensava.

— Por que não na hora em que ele fizer um gol? É só falar para ele que nós vamos ao jogo, e se ele fizer um gol... bem, o que é bem provável, já que ele é o maior goleador da temporada, você levanta uma plaquinha com “gooooo daddy!” – Mel deu a ideia.

— Não é algo que ele gostaria que fosse espalhado para a mídia... apesar de que seria engraçado vê-lo meio desconcertado no meio do ringue, tentando entender se era uma brincadeira minha ou não. – Vic deu de ombros.

— Então, nada de mensagem no meio do jogo, mas podemos arrastar o futuro papai para cá e contar... ou a Kat pode inventar algo...

— Por que sempre sobra para mim? – Questionei enquanto fazia um chá.

— Porque você é a pessoa mais criativa de nós quatro. – Rebateu Mel.

Revirei meus olhos e falei.

— Acho que Vic deveria aparecer com um presente. Kim vai ficar todo desconfiado, afinal, depois de ontem, qualquer coisa é possível. Ela entrega a caixa e tenta permanecer séria até que ele abra a caixa e o cérebro lento do meu irmão processe o conteúdo...

— Gostei da parte do “cérebro lento”... – Pietra entrou rindo, ainda com a cara enfiada no celular. – E só para constar, já marquei o exame de sexagem do bebê!! Segunda-feira, às 08:00, para que a Katerina não cisme de falar que está ocupada no escritório!!

— Tem certeza de que é seguro? – Vic perguntou, passando a mão no abdômen.

— Diz que é 100% seguro para o bebê e para a mãe. Não há risco. Vão tirar um pouco do seu sangue e procurar pela presença de cromossomos Y. Caso apareça, será um menino. Caso não, lá vem uma louquinha! É claro que eu perguntei se era ou não invasivo, porque se fosse, nós não te deixaríamos fazer. – Pietra acabou de explicar.

— Menos mal... porque sabem, né?

— Mas é claro. Nada de colocar o bebê e a gravidinha em risco!! – Mel falou. – Mas tem algo que está em risco!

— O QUE?! – As outras duas perguntaram alarmadas.

— Nossa reserva no Spa do The Peninsula!! Já estamos quase em cima da hora! E ainda temos que pegar a Dona Amelia e a Pepper!

Começamos a correr para deixar a cozinha organizada, ou melhor, eu e Mel fizemos isso, pois Pietra é o ser mais desorganizado que eu conheço e Vic meio que falou que estava um tanto enjoada.

Depois subi correndo para o meu quarto, me arrumei, coloquei o que iria precisar na bolsa de academia, me despedi de meus cachorros e encontrei com as meninas na garagem. Pietra e Mel já devidamente acomodadas na Ferrari que tinha a capota rebaixada e Vic estava no banco do meu Porsche.

— Achei que ia ser turista a bordo da Ferrari. – Brinquei com a minha cunhada.

— Pelo amor de Deus, nada de emoções fortes para mim. E isso inclui andar de carro com a Pietra, porque nós duas sabemos como ela dirige.

— Com muita velocidade e quase zero de responsabilidade. – Completamos juntas.

Ainda no caminho, liguei para Pepper e pedi que ela me esperasse no portão de casa, assim já ganharíamos tempo. Fiz a mesma coisa com Dona Amelia, porém, não contava que meu sogro, estivesse do lado de fora da casa, ao lado da esposa e quase que se engasgou quando viu o outro carro.

Claro que desci para cumprimentá-lo, mas ele só tinha olhos para o carro de Pietra, o que fez com que minha sogra tivesse a melhor das tiradas:

— Se eu fosse alguns anos mais nova, ia na Ferrari. Mas é carro para gente nova... - E cutucou o marido nas costelas.

E foi só assim que ele voltou ao presente e notou que eu estava parada ao seu lado.

— Bom dia, filha! Como passou a semana?

— Essa foi bem melhor do que as últimas. Ainda bem. – E como Dona Amelia já estava indo para o carro, só completei. – Se o senhor quiser, depois eu pego o carro emprestado com a Pietra para o senhor dar uma volta.

— Não precisa. Amelia está certa.

— A capota levanta e os vidros são escuros demais, ninguém vai saber quem está lá dentro! Se mudar de ideia, me avise! – Garanti.

E só pelo sorriso que meu sogro deu, eu sabia que ele estava considerando a opção.

Nos despedimos e, como bem frisou minha sogra, sem hora para voltar, partimos para o hotel que fica em Beverly Hills.

Claro que minha sogra tinha mil e uma perguntas para as meninas, mas a mais importante era:

— Mas, então, por que estão indo para um spa e não para uma praia?

Fez aquele silêncio entre os dois carros.

— Estou esperando, meninas.

— Ah! Que se dane! – Mel falou. – Dona Amelia, estamos fazendo isso porque a Pietra cismou de usar um creme de origem duvidosa e acabou com o rosto igualzinho ao do Baby da Família Dinossauro.

— Mas eu não vi nada.

— Três quilos de muito corretivo, base, prime e pó. Se olhar direito, parece que ela tem um reboco na cara. Dá até para tirar com a espátula de pedreiro! - Vic fez piada.

— Não faça uso do seu status de intocada. Vai durar pouco! – Pietra advertiu.

Status de intocada? Como assim? – Minha sogra, naturalmente curiosa, questionou.

Vic do meu lado começou a ficar vermelha, e todas nós esperamos que ela contasse, afinal, era uma notícia que só ela podia dar.

— Sabe, Dona Amelia, é que... – E Vic parou.

Vi minha sogra chegar mais perto do banco da frente e Pepper quase enfiar a cabeça debaixo do braço dela.

— Anda logo... – Mel pediu do outro carro.

— Eu estou grávida, Dona Amelia.

E foi o que bastou. Minha sogra ficou feliz como se o bebê que estava sendo gerado fosse neto dela. e entre os elogios, perguntou se Kim já sabia.

— Ainda não... completei o terceiro mês ontem... e como ele vem pra LA nessa próxima semana, vou contar para ele aqui.

— Por favor, me contem a reação dele. São sempre as melhores. – Ela pediu.

— Será devidamente gravada. E vai parar no grupo da família. – Garanti.

E, de um dia de relaxamento, a conversa virou para tudo o que Vic iria precisar para o bebê. E eu notei que se dependesse da minha sogra, ela faria aquela festa de compras novamente. A única parte que ficou estranha foi quando ela terminou da seguinte forma:

— Sorte da Diana de ter mais um neto ou neta a caminho. Mal vejo a hora de que venham os meus. – E após dizer isso, olhou para mim e para Pepper.

Nossa sorte é que chegamos ao hotel e antes que ela pudesse repetir o comentário, um vallet veio para levar o carro. Já no lobby, Pietra deu o nome da reserva e fomos encaminhadas para o último andar, onde a equipe do Spa nos recebeu com toda a pompa que (eu acho) as estrelas de Hollywood recebem, e nos indicaram os vestiários, onde roupões com as nossas iniciais já nos esperavam.

— Isso é sério? – Mel mostrou o roupão dela.

— O melhor para nós, amiga, merecemos. – Pietra respondeu, enquanto tirava a maquiagem.

— Não tem nem como esconder as provas do crime. – Pepper comentou rindo.

Já devidamente trocadas, fomos divididas em duplas, para sermos devidamente tratadas em salas especializadas.

Fomos massageadas dos pés à cabeça. Nossa pele foi devidamente tratada, massageada, esfoliada, hidratada e finalizada com cremes que as especialistas juravam possuir até gramas de ouro, nossas mãos foram massageadas e então as unhas foram devidamente feitas e pintadas, por fim, os cabelos, até isso! Ao final do atendimento, já quase no fim da tarde, nos entregaram kits de beleza, para que pudéssemos continuar lindas em casa.

Como o último andar do hotel era muito mais do que só o Spa, acabamos no jardim, sentadas nas mesas que tem por ali, observando a vista e fazendo os devidos comentários quanto aos inúmeros tratamentos que tivemos hoje.

Eu não tinha uma vírgula do que reclamar, fazia tempos que eu não tinha um dia em que tudo o que eu precisava fazer era me preocupar com a temperatura da banheira ou das pedras que foram colocas em mim.

Só fomos deixar o hotel quando a noite caiu, e pergunta se, depois deste tratamento de estrela, alguém ainda queria parar na fila de alguma casa noturna?

A resposta era um sonoro não. E, diante dessa notícia, minha sogra acabou por nos convidar para jantar com ela.

Tentamos deixar para outro dia, porém essa foi a retórica de Dona Amelia:

— Eu não vou deixar nenhuma de vocês cozinhar hoje!

— Mas a senhora é quem vai para o fogão? Não é justo! – Contra-ataquei.

— E quem te falou, Katerina, que serei eu quem vai para a cozinha?

Como Dona Amelia estava no banco ao meu lado, diminui o carro e olhei na sua direção. E ela falava sério. E ela se ausentar da cozinha era um fato inédito, porém, impressionante era pensar que meu sogro, aquele que está sempre banido da cozinha, fosse o responsável por cozinhar.

— E não me olhe assim, Kat. Todo mundo merece uma folga de vez em quando!

— Sim, senhora. – Concordei com ela e tentei imaginar a cena do meu sogro cozinhando... eu já o tinha visto fazendo milhares de coisas, não cozinhar. E tinha só mais um detalhe que Dona Amelia tinha se esquecido. Será que ele iria gostar de ter a casa invadida por tanta mulher ao mesmo tempo?

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— Sem querer ser a única que tem um neurônio no lugar aqui, mas tem certeza de que isso é uma boa ideia? – Pietra me perguntou assim que desceu do carro e nós quatro caminhávamos lentamente atrás de minha sogra.

— Juro que não sei. – Foi a minha resposta.

Pepper não parecia muito abalada e ia caminhando normalmente ao lado de Dona Amelia.

— Sei não... Dona Amelia é um amor, mas isso... – Mel estava praticamente parando no meio do caminho.

E com pouco, meu sogro apareceu na porta, cumprimentou a esposa com um beijo e só comentou:

— Anda meninas, que o churrasco já está assando. Só falta a sobremesa que a Kat vai fazer.

— Eu juro... eu preciso saber quantas vezes você passou na fila da sorte! – Mel me deu um tapa no braço.

— Nem eu esperava por essa, vai com calma. – Murmurei e entramos na casa. Dona Amelia, como sempre, deixou minhas amigas à vontade e mimou Victoria de todos os modos, enquanto eu acabei na cozinha – lugar que parecia ser sempre o meu destino quando passava por aqui.

Estava com o rosto dentro da geladeira, quando Dona Amelia apareceu:

— Não precisa ficar desesperada para saber que doce fazer, Kat. Qualquer um está bom.

— Ahn... eu sei. É só que todas as vezes que o Sr. Pierce fala que quer um doce, estranhamente, aparecem os ingredientes para um doce determinado. Das últimas vezes foi para a tora holandesa.

— E hoje é o merengue, não é? – Minha sogra questionou.

— Sim. Tem absolutamente tudo aqui.

— Esse meu marido... é pior do que criança, mas isso você já sabe. Não demore muito aqui ou vai perder o melhor do churrasco. – Ela me avisou saindo pela porta dos fundos. Ao longe pude ouvir as vozes de Pepper e de Pietra.

Com o merengue prontinho e escondido na geladeira para que ninguém provasse antes da hora, pude ir para os fundos da casa. E aquilo estava uma bagunça, pois de alguma forma, até a voz de Will eu escutava e ele não parecia muito feliz em ter sido chamado para uma festa onde ele não poderia comer nada.

— Isso por acaso é a sua vingança, Pepper? Depois da história do videogame? – Era o que ele falava.

— Não foi para te mostrar o que estamos comendo que eu te liguei, Will.

— E foi para que?

Pepper balançou um chaveiro na frente do telefone e depois entregou-o para Senhor Pierce.

Eu nem precisava de explicação. Mas pelo visto Will não entendeu a imagem.

— E aquele era o chaveiro de que?

— Só do carro que seu pai vai desfilar nesse final de semana.

— Grande coisa. – Will desfez da novidade.

— Você prestou atenção na marca do chaveiro?

— Vi um cavalo...

Pepper olhava para tela, meu sogro tentava segurar a risada e depois que ele me passou a responsabilidade pela churrasqueira, pegou o telefone da mão da outra nora só para anunciar a seguinte frase:

— Eu e a sua mãe vamos dar uma volta de Ferrari nesse final de semana, então, pode esperar por fotos.

Will primeiro começou a rir, achando que era uma piada do pai, então, ele olhou para a mãe, que estava atrás do ombro do pai e, como todas nós saímos devidamente arrumadas do Spa, Dona Amelia estava, na visão do filho, pronta para sair para qualquer lugar, e foi nesse instante que Will parou de rir e ficou mudo por alguns segundos, soltando, por fim, a seguinte pergunta:

— Isso não é uma brincadeira, é?

— Não. - Os dois responderam.

— Por acaso hoje é o aniversário de casamento de vocês e essa foi a maneira que encontraram de me avisar que eu me esqueci, de novo, da data?

— Não, filho. – Começou a minha sogra. – Nós nos cansamos de ficar em casa, nossos filhos já estão criados, vamos aproveitar o restante da vida. Amanhã a gente se fala.

— Não... mãe. Peraí... alguém liga pro Alex para que ele me ajude a colocar juízo na cabeça de vocês!

Eles encerraram a chamada, mesmo diante dos protestos de Will, e riam da reação do filho.

— Quanto tempo até que Alex nos ligue? – Quis apostar meu sogro.

— Uns cinco minutos.

— Se eu fosse vocês, atendia de dentro da Ferrari! – Pietra aconselhou. – Churrasco pode ter todo dia. Trolar os filhos não. Vão! E não se preocupem em entregar o carro, a gente da um jeito de voltar.

E, por incrível que se possa parecer, eles aceitaram o conselho da Italiana Louca e saíram, deixando a casa e o jantar nas nossas mãos, tudo com a seguinte despedida:

— Não nos esperem.

Eu estava embasbacada. Pepper ria de chorar.

— E eles foram! – Ela disse quando escutou o ronco do motor. - Quando será que o vai Alex te ligar?

— Não deve demorar. E ele vai estar algo entre o desesperado e o possesso, porque ele sabe muito bem de quem é o carro.

— Se não quiser dor de cabeça, basta não atender ao telefone. – Pietra comentou com um balançar de mãos. – Agora volte para a churrasqueira, porque eu estou varada de fome.

Era sobremesa, churrasco... quando foi que eu virei Chef de cozinha?

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Praticamente passei a madrugada de sábado para domingo acordada, pois, depois de ligar para os pais e notar que eles estavam verdadeiramente a bordo de uma Ferrari e curtindo a vida, Alex me ligou.

E, diferentemente do que eu havia pensado, ele não estava surtado. Ele estava rindo.

— Bastou que a sua amiga mais louca aportasse em Los Angeles para que isso acontecesse. Já não era sem tempo!

— Você está realmente bem? – Tive que perguntar diante dessa frase.

— Eu estou bem! O Will é quem está preocupado! Como se Jonathan e Amelia Pierce fossem fazer algo para colocá-los nas capas das principais revistas de fofocas. No dia que isso acontecer, podem decretar o fim do mundo! Mas eu gostaria de saber de quem foi essa ideia...

— Sinceramente eu não sei como esse assunto começou, estava na cozinha, fazendo uma sobremesa. Quando vi, estavam ligando para o Will e ele estava quase dando um infarto do outro lado do telefone. - Informei.

— Eles pegaram o carro aí em casa?

— Nada. Estávamos lá na casa dos seus pais. A Pietra emprestou as chaves e depois viemos para cá. Não vou negar, foi uma cena inusitada, contudo, ainda acho que fizeram isso mais para assustar o Will do que tudo.

— Deve ter sido. Eles sabem que eu não ligo para isso. Mas o Will... O meu irmão liga. Coitada da Pepper.

— Foi ela quem ligou para ele. - Afirmei

— E depois o Will fica falando que é você quem me dá trabalho. Ele arranjou uma namorada que o oposto dele. Não tem uma mísera semana que a Pepper não tira o meu irmão da zona de conforto... eu já estou te avisando, serei obrigado a lembrar de tudo isso nos brindes do casamento.

— Você não vai falar nada, no casamento de ninguém. – Adverti. – Não tem coisa pior do que o cara chato, bêbado, ficar relembrando os piores defeitos dos noivos.

— E por que não? Tenho certeza de que não somente Will, mas toda a turma vai trazer à tona todas as coisas erradas que fiz e os piores momentos de nós dois. Fique avisada do pronome, nós!

— Não seja exagerado. Nem todos agem como sem noção em casamentos.

Alex me encarou pela tela, com aquela feição de que sabia que eu estava equivocada.

— Como você pode saber? Ninguém na sua turma se casou! Os mais próximos a isso são Matt e Emilly, mas duvido que subirão ao altar tão cedo! - Contra-ataquei.

— Nisso você tem razão, ninguém deu esse passo, ainda. Mas eu conheço todos ali. E eles vão aprontar. Então, já avise para meu sogro, para que eu não apanhe no dia da nossa festa.

Eu ainda desacreditava das palavras do meu noivo, mas não comentei nada, afinal, ele voltava em outro assunto:

— E quando meus pais vão devolver o carro?

— Não sei... Pietra não deu data e nem está preocupada com isso. Porém, não acredito que eles estiquem o empréstimo por muito tempo, não é do feitio do seu pai.

— Não é... o velho pode até ter se apaixonado pelo carro, mas não é do gosto dele. Meu pai prefere os clássicos.

Para não ofender Alexander, me abstive de comentar que o que ele entende por carros clássicos, eu entendo por carros velhos, era melhor não criar confusão, ainda mais nessa hora da madrugada.

— E então, o que me conta de novidade? Se é que eu posso ficar sabendo o que vocês aprontaram.

— Não fizemos nada para te assustar.

— Como entregar uma Ferrari para meus pais...

— Isso foi ideia da Pietra e da Pepper, não me meta no meio dessa confusão aí.

— Mas você é cúmplice, afinal, quem dirige a Ferrari é a sua amiga. Você a levou à Los Angeles.

— Posso continuar com o relato, ou vai ficar me atrapalhando?

— Continue, por favor, quero saber como vocês ainda não foram presas.

— E nem seremos. Agora tomamos juízo.

Alex deu uma risada do outro lado da tela.

Tomaram juízo!? Vocês cinco? Isso não acontece de uma hora para outra e sem um excelente motivo.

— Vou fingir que não fiquei pessoalmente ofendida com a sua frase e vou partir para a parte que interessa. Nosso juízo veio sim por conta de um excelente motivo. Um bebê! – Disparei de uma vez.

Primeiramente, Alex me encarava como que rindo que poderia haver um motivo que acalmasse o quinteto, depois, quando falei a palavra bebê, ele simplesmente congelou onde estava, ficou mudo, estático, e mal piscava.

— Um bebê?! - Ele murmurou apático e depois a cor foi voltando ao seu rosto até que eu entendi o que ele havia pensado.

— Pode ir parando!! Não sou eu quem está grávida! Eu nem posso engravidar por agora, esqueceu o que eu passei? Quer que eu pare na emergência?

E foi só aí que Alex voltou ao presente.

— Então não é você? - E, mesmo que ele não notasse, havia uma nota de decepção em sua voz.

— Não. Não sou eu. Vic é quem está grávida. E já te aviso, Kim ainda não sabe, então nada de espalhar a fofoca no grupinho de vocês!

— Como você sabe da existência desse grupo?

— Vic é casada. Ela sabe das coisas. E é um tantinho curiosa demais... porém, isso não vem ao caso. Você tem que me prometer que não vai estragar a surpresa. E caso você solte algo com o Kim antes da revelação de Vic, eu vou acabar com a sua raça! - Ameacei.

Meu noivo arregalou os olhos e só confirmou com a cabeça, emendando logo em seguida:

— Como eu já te vi brava, tem minha palavra de que eu não vou falar nada.

— Acho bom mesmo!

— E essa era a novidade?

— Quer outra maior, Alexander? Eu vou ser tia novamente!!

Nós vamos ser tios. - Ele me corrigiu. - Apesar de que, como eu não passei por todas as etapas da gravidez ao nascimento dos outros três, acho que não posso considerar isso como novamente.

— Não, não pode. Você vai viver tudo isso. E espere emoções fortes. - Já fui adiantando.

— Mais para o final da gravidez, não?

— Sempre espere tudo, a qualquer momento. Mesmo ainda dentro do útero, bebês são completamente imprevisíveis.

Alex fez uma careta.

— É bom que eu já vou treinando, né? Para quando for a gente...

— É, vai lá. Vai treinando. Não sei para que treinar tão cedo, mas o que vale é a intenção. - Desfiz de suas palavras.

Outra vez uma risada de Alex.

— Quando a Vic vai contar para o Kim?

— Nessa semana. Vai ser aqui em casa, e pode ter certeza, ele vai chorar e eu vou colocar tudo no grupo da família... sabe como é, eu também tenho que ter meus momentos de zoação com a cara dele.

— Não faça nada que não queiram que faça com você, Kat. Ou comigo...— Ele deixou a frase no ar.

Foi a minha vez de rir.

— É, talvez eu pense no seu caso, mas não hoje e não nesse assunto. Kim merece ter o choro gravado e espalhado, assim como você mereceu ter seu tombo de cima de Perigo registrado. Faz bem para o ego. Para diminuir o ego.

Com isso, Alex, deliberadamente trocou de assunto e então passamos a falar da nossa vindoura semana e do fato de que o julgamento de Cavendish iria começar. Esse era um assunto que eu não queria ficar lembrando, apesar de saber que o encararia mais cedo ou mais tarde.

— Katerina, se você precisar, eu dou um jeito de estar do seu lado no dia em que você será ouvida.

— Não precisa. Eu vou ficar bem. Mas, você não foi intimado, também?

— Fui. E assim como você vou ser ouvido por videoconferência. Mas o meu depoimento é depois do seu.

Suspirei fundo. Ao que parece toda a minha família iria figurar nesse julgamento. E eu sabia, tinha pessoas que queriam tirar proveito disso.

— Você não gosta de tocar nesse assunto, não é? - Alex disse certeiro.

— Não. Não gosto. Mas é inevitável. Agora é. E já estou torcendo para passar rápido. O mais rápido possível.

— Vai passar, Kat.

— Eu não teria tanta certeza, Alex. Isso vai ser um circo... infelizmente, e terá cobertura da mídia, eu não vi os jornais e revistas da época, mas o advogado que me mandou o relatório do processo, fez questão de anexar as principais capas dos jornais da Capital Britânica que circularam sobre o caso. Não foi nada bonito. Agora, imagina o que vai sair nas próximas semanas...

— Não fique sofrendo por antecipação, Kat. Não vale à pena. E eu nem quero te ver preocupada com algo que não está nas suas mãos. Vai ser bom você prestar o seu depoimento de longe.

— É mais fácil falar do que fazer. – Murmurei infeliz.

— Você vai conseguir tirar isso da cabeça.

— Como? – Questionei e não duvidava somente das palavras de meu noivo, começava a questionar a sua sanidade também.

— Foque no seu sobrinho, ou sua sobrinha. Será mais saudável para você.

Isso eu poderia fazer. Seria até fácil, ainda mais se levar em conta que Kim ficaria sabendo dentro de bem pouco.

— Estou esperando uma resposta. – Alex me desviou de meus pensamentos.

— Acho que é uma boa ideia. – Comentei por fim.

— E sabe qual outra ideia poderia começar a passar pela sua cabeça?

— Não faço ideia, Alex. Pare de joguinhos, são 03:30 da manhã e tem bastante tempo que eu não fico acordada por tanto tempo seguido.

— A de que até mesmo a Rainha da Califórnia precisa ir dormir.

Encarei a tela e o sorriso que ele dava.

— Acho que concordo com você. – Murmurei e me ajeitei na cama.

— Precisa de história para dormir? – Ele brincou.

Dei um sorrisinho para a tela.

— É sempre bem-vinda. Já que não tenho mais meu cobertor e travesseiro pessoal, acho que serve o contador de histórias.

E Alex começou com outra história absurda sobre sei lá o que, eu não prestava muita atenção no que ele falava, só estava vendo-o pela tela e tentando matar a enorme saudade que estava dele.


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Notas finais do capítulo

E é isso.
Espero que tenham gostado.
Muito obrigada a você que leu até aqui e agradeço pelos comentários recebidos!
Fim de semana que vem tem mais!
Até lá!
xoxo



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