Presos Por Um Olhar escrita por Carol McGarrett


Capítulo 72
A Caminho de Londres


Notas iniciais do capítulo

É véspera de Natal? Sim! Mas tem capítulo de presente!!
Um Feliz Natal a todos vocês que a quase um ano vêm acompanhando essa história! Muito obrigada por isso!
Agora, tenham uma boa leitura!



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Logo na sexta-feira pela manhã, Dona Ilsa se despediu de todos e pediu que Alex, ou eu, a levasse de volta para casa. Acabou que nós dois fomos levá-la e, pelo caminho a senhora foi conversando sobre um assunto que a tinha interessado muito.

Minha família.

Ela perguntou sobre meus pais, irmãos, sobrinhos e cunhadas. Estava para contar que tinha uma irmã, porém Alex fez um sinal de “não” com o dedo.

— Então, sua família é bem grande. Viajar com todos, deve ser trabalhoso.

— Não é tão tumultuado assim. Só tem uma criança na família, que é Elena, e nem ela nos importuna muito.

— E eles virão passar o Natal por aqui?

Fiquei calada por um tempo.

— Sendo verdadeira com a senhora, Dona Ilsa, ainda não discutimos como serão as festas de final de ano. Semana que vem vamos à Londres, onde ficaremos por uma semana, enquanto trabalho, devemos ter uma resposta lá.

— Se vierem para Los Angeles, por favor, traga todos em minha casa. – Ela pediu.

— E se formos todos para Londres? A senhora não gostaria de ir? – Alex perguntou.

— Não volto à Europa, Alexander. Mesmo que nada do que vivi aconteça mais, prefiro ficar aqui e enterrar de vez o que vi.

Alex meneou a cabeça concordando com a avó.

— Veremos como vamos organizar tudo, Dona Ilsa, se o pessoal da minha família animar vir todo para os EUA, pode ter certeza de que a senhora irá conhecê-los. – Garanti assim que descemos do carro, já na casa dela e eu a ajudava a entrar.

— Obrigada, minha criança. – Me agradeceu.

— Não há de que.

Dona Ilsa nos convidou para entrar e acabamos almoçando ao lado dela e ficando por mais um tempo, enquanto ela me contava histórias da Família Pierce e da infância de Alex. A conversa durou até que Dona Laura nos ligou, perguntando se não iríamos voltar.

Pouco antes de partirmos, Dona Ilsa simplesmente disse:

— Apareçam quando quiserem e, por favor, tragam os cachorros.

— Sim, vovó, vamos aparecer. – Alex garantiu antes de dar a partida no carro.

Nossa viagem de volta à Fazenda foi silenciosa e tranquila, sem o peso de contar a grande novidade, Alex estava sereno, e não soltou a minha mão hora nenhuma.

— Eu achei que nessa noite iria poder fugir com você para te mostrar um lugar, mas o clima não está ajudando com toda essa névoa e chuva fina.

— Esse é o mesmo lugar que você me disse na primeira vez que viemos para cá? – Perguntei curiosa.

— Sim. Por que a pergunta?

— Estou começando a achar que esse lugar é uma lenda. Todos comentam, mas nunca me levam lá.

— Eu até poderia te levar lá hoje. Porém, a vista é mais bonita quando o dia, ou a noite, está claro, e como dizem que a primeira impressão é a que fica, não quero arriscar com você. – Ele disse sério e eu notei que esse lugar deveria ser especial para ele.

— Tudo bem, eu acho que posso esperar até que o tempo fique melhor. – Não me desfiz do tom brincalhão.  

Alex só meneou a cabeça de forma negativa e acelerou o carro para que pudéssemos chegar ao nosso destino antes que o tempo piorasse a visibilidade na estrada.

Pelo restante do feriado nós pudemos, enfim, descansar depois das três semanas caóticas e exaustivas que tivemos. Lógico que eu não fiquei completamente à toa, ajudei em tudo o que pude, porém foi reconfortante saber que eu não tinha hora para levantar ou até mesmo uma lista de coisas urgentes esperando para serem feitas. Pude apenas curtir os primeiros dias do meu noivado de forma oficial e as brincadeiras da Família Pierce. Além de entender um pouco mais as tradições, que no futuro, fariam parte do meu dia a dia também.

E, cedo demais, o domingo chegou. Como Will tinha voo marcado para Atlanta, acabamos saindo logo cedo com destino a Los Angeles e, assim, evitamos os congestionamentos que, com certeza, iriam tomar as entradas da cidade.

Além de levarmos Will até o LAX, acabamos levando Sr. David e Dona Laura, isso depois que meu sogro praticamente implorou a Alex para que levasse os avós, pois já não aguentava mais Dona Laura falando na sua cabeça sobre mudanças que deveriam ser feitas urgentemente na fazenda, em troca, ele levaria nossos cachorros e os deixaria em nossa casa.

O caminho até o aeroporto foi barulhento, muito barulhento, afinal, como não couberam os avós de Alex e Will no banco de trás do Jipão, me vi trocando de lugar com meu cunhado e acabei espremida entre Sr. David e Dona Laura por toda a viagem, e a avó de meu noivo conversou comigo por todo o tempo, sem parar.

De tempos em tempos, eu via a expressão de Alex pelo espelho retrovisor e ele ria internamente da minha sina, principalmente quando a avó começou a pedir por bisnetos. E eu, muito educadamente, consegui contornar o assunto falando sobre cavalos.

Enquanto Alex disfarçava, Will ria abertamente, e tenho certeza, estava passando todo o meu suplício para Pepper, a julgar que minha cunhada cismou de me mandar inúmeras mensagens com os mais diferentes emojis de riso.

Duas horas depois, estacionávamos no aeroporto e eu saí do carro até com câimbras.

— Viagem confortável, Katerina? – Will perguntou debochado, assim que coloquei os pés no chão e tive que me apoiar no carro para alongar a minha panturrilha travada.

— Muito.

— Estou vendo. Está com algum problema?

— Só um cunhado que não quis viajar no meio dos avós.

— Ora, cunhadinha, pense bem, sou um cara muito gente boa, fiz isso para que você pudesse conhecer um pouco mais da família onde está se metendo. E então, já está pensando em abandonar o barco?

— Você fez isso porque sabe que sua avó vai começar a falar na sua cabeça para que você se case. Não tente fugir, é a ordem natural das coisas, um dos irmãos fica noivo, logo o resto da família vem cobrar que o outro noive também. Sinto te informar, cunhadinho, você vai ouvir muito disso nos próximos meses, você e Pepper, então, fofoqueiro, avise a sua namorada que ela não se salvou de nada. A tempestade só está começando.

Will resmungou um monte de impropérios, até que soltou.

— Você e Alex se merecem. Adoram fazer terrorismo comigo.

— E reze para que Alex e eu não queiramos ter um filho tão cedo, ou a cobrança será ainda maior! – Ameacei sorridente.

Will arregalou os olhos para mim e sabiamente ficou quieto, ou melhor, resolveu ir reclamar no ouvido do irmão mais velho.

Levamos os avós de Alex até a área de check in e depois até a entrada da sala de embarque, ali nos despedimos, sendo obrigados a prometer que iriamos visitá-los em Michigan o mais cedo que pudéssemos.

Will ainda ficou nos tentando por mais uma hora, dizendo que como era o irmão mais novo, não poderia ser deixado desacompanhado dentro do aeroporto, ou ele poderia se perder. Quando Alex o mandou tomar jeito e rumo, meu cunhado só respondeu:

— Estou só ajudando vocês dois a treinarem para serem pais, ou talvez isso tire a vontade de vocês se reproduzirem por um tempo, afinal, não tem anticoncepcional melhor do que tomar de conta de criança! Fica a dica! – Teve a cara de pau de falar e depois entrou para a sala de embarque.

— Mas o que foi isso?! – Alex me perguntou.

— A vingança dele para o que o eu falei assim que descemos do carro.

— O mala te colocou atrás para que minha avó não começasse a cobrar casamento dele também, não foi?

— Pode apostar que sim. – Garanti.

— Will nunca vai tomar jeito.

— Mas sabe que eu até que o entendo? – Falei para o espanto que Alex, que até parou no meio do estacionamento e por muito pouco não foi atropelado.

— Como é?

— Eu sei o que Will está sentindo. Passei por isso quando Kim se casou. Meus avós, minha tia e alguns conhecidos da família ficaram me olhando, jogando indiretas, querendo saber quando seria a minha vez, quando seria eu a ter uma aliança no dedo da mão esquerda. E posso te garantir, é desgastante ouvir as mesmas perguntas sempre.

— Como eu nunca passei por isso, vou acreditar no que você está falando. E só te peço uma coisa, Kat...

— Que é?

— Não diga para meu irmão que você tem simpatia pelo que ele está passando. Will merece passar uns perrengues de vez em quando, ele e a Pepper.

— Não está mais aqui quem falou! – Concordei com ele.

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 A semana passou voando. Alex, que pensou que iria estar liberado do estúdio na terça, só foi terminar a gravação do comercial na madrugada de quinta para sexta, e eu tive que buscá-lo no estúdio, pois o coitado não tinha energia nem para abrir os olhos, e assim que chegou em casa, tomou um banho e desmontou na cama, sem comer absolutamente nada.

Comigo não foi muito diferente, minha semana, agitada e cheia de preparativos e reuniões, foi puxada e quase que a minha escolha de substituto tem um revés, no momento em que Mitchell me pediu para ser substituído.

Era praticamente impossível agora, tão em cima da hora, e passei metade da minha tarde de quarta, convencendo o Diretor do Financeiro, que assumir temporariamente o cargo de Diretor do Escritório em nada afetaria a rotina caseira dele, ele continuaria a chegar e a sair no mesmo horário e só resolveria o que fosse estritamente necessário, somente o que Milena dissesse para ele.

E foi só com essa garantia que Mitchell me substituiu.

No mais, deixei com Milena os maiores problemas, ela saberia o que fazer e quando me mandar algo, não é porque estaria em Londres, que deixaria de gerir o escritório daqui, só estaríamos em outro fuso horário, a dinâmica continuava a mesma.

— Estou achando, sinceramente, que te passarei mais coisas por e-mail do que entregarei para Mitchell fazer. – Disse minha secretária antes que fôssemos embora na quinta-feira à noite, tanto eu. quanto ela, fizemos hora extra para não deixarmos nenhuma pendência.

— Não me importo, Mitchell é só para constar, é só para os demais funcionários saberem que tem alguém no comando.

— Certo. E qual é o melhor horário para te mandar os relatórios daqui?

— Como fazemos sempre. Com a diferença de oito horas, irei olhar pela manhã em Londres e quando você chegar no outro dia, estará na sua caixa de entrada.

— Tudo bem. No mais, uma ótima viagem para você, Katerina. E que sejam reuniões tranquilas as do Conselho deste ano.

— Com o problema que Mancini criou por aqui, estou duvidando muito, Milena.

— Esqueci que tem isso também. Mas tomara que ainda dê para você aproveitar um pouco da Inglaterra e matar a saudade de sua antiga vida.

— É o que estou esperando que aconteça. Uma boa sorte para vocês aqui. Pode me ligar se algo der muito errado. Interrompo a reunião sem nem piscar! E obrigada por ser meu backup por aqui.

— Só fazendo meu trabalho, Chefa! – Ela brincou com o apelido que Amanda tinha me dado e não parava de me chamar.

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A sexta-feira de manhã foi corrida, tudo porque Alex tinha se esquecido onde havia guardado o passaporte. Depois desse pequeno susto, fechamos as malas e, para minha surpresa, meu sogro veio nos levar até o aeroporto e buscar o Trio Peludo que ficaria sobre os cuidados dele e de Dona Amelia pela semana que ficaríamos fora.

Dona Amelia, pouco antes do voo decolar, me mandou uma mensagem, que eu só pude decifrar como sendo premonição de mãe e sogra, pois eu não tinha comentado mais nada com ela a respeito do que ocorria em Londres desde o Dia de Ação de Graças, uma porque não queria que ela ficasse preocupada e outra porque eu também estava no escuro.

E não se esqueça, Katerina. Você está indo para Londres para mostrar o quão bem você trabalha. Para apresentar as provas de que ninguém conseguiu te derrotar e, principalmente, para afirmar a sua posição de líder do escritório do Pacífico e de herdeira da empresa. Não aceite provocações baratas, não se rebaixe aos joguinhos que querem fazer com você. E se lembre que, além de você, eles podem atacar meus netos emprestados. Mantenha a calma, a educação e a elegância que eu sei que você tem e tudo vai se sair bem.

Eu nem tinha palavras para agradecer à minha sogra por isso. Um “muito obrigada” era muito pouco diante de tamanho carinho e preocupação.

Entramos no jato e a primeira coisa que Alex fez foi ir até o bar e olhar as guloseimas, comidas e bebidas que tinham separado para nós.

— Será que estão envenenadas? – Perguntou debochado.

— Creio que não. Nos envenenar aqui é um tiro no pé, pois esse avião pertence à empresa. Não seria difícil achar os culpados. – Dei de ombros e tirei os sapatos.

— Então, a empresa terá um prejuízo daqueles nesse voo. – Disse meu noivo já pegando um pacote de M&M’s.

— Criança. – Falei para ele.

— Vai me dizer que você não quer?

O problema foi que eu aceitei o chocolate.

Com pouco fecharam a porta, o Comandante anunciou que nossa decolagem fora autorizada e agora, ao meio-dia em ponto, estamos decolando do LAX com destino à Londres. Nem acredito que estou temporariamente voltando para casa, mesmo que não saiba o que essa semana me reserva.

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— Vai ficar calada durante todo o voo? – Alex me perguntou.

— Você nem sabe o que eu andei fazendo! Esperou que entrássemos na altitude de cruzeiro, desafivelou o cinto, disparou a comer e depois dormiu pelas últimas duas horas! – Reclamei.

— Ou seja, ficou calada pelas últimas duas horas.

— Estava conversando com minhas amigas.

— Eu não ouvi nada!

— Você estava roncando, deitado no sofá! Não ouviria nem se um show de heavy metal começasse dentro desse avião!

— Sofá que é muito confortável por sinal. Não me admira que você fique tão relutante em voar de comercial novamente. Depois que se voa nisso, ninguém quer dividir um voo com mais duzentas pessoas. Mas, falando sério. Apareceu algum problema? Sua cara não está nada boa.

— Até agora nenhum. Mandei um e-mail para Milena e ela me garantiu que tudo está sob controle.

— Não é o Escritório que te fez ficar com essa cara de enjoada...

— Não sei como vou encarar Matti, Cavendish e Dempsey depois de tudo o que aconteceu. Não sei se terei nervos de aço para olhá-los nos olhos, e ser educada e polida com esses três. Minha vontade real é de esganá-los, arremessar o que tiver na mão nas testas deles e depois arremessá-los pela janela.

— Sabe, Kat. – Alex começou, ao se levantar do sofá e vir na minha direção e se apoiar na mesa que estava na frente da minha poltrona. – Eu tenho quase toda a certeza do mundo que você vai conseguir ser a adulta e educada.

— Eu...

— Posso terminar?

Meneei a cabeça concordando.

— Porque você não fez nada demais com sua irmã, conseguiu se livrar dela na classe e a cobra nunca mais apareceu para te perturbar, e fez o mesmo com Suzanna, isso em uma mesma noite. Ignorar os comentários dos três patetas de Londres vai ser fácil para você.

— Mas Alex... E o que eles fizeram com Tuomas?

— Eu sei que você vai saber a hora de discutir isso. E não será durante o Conselho.

— Que você esteja certo, porque nas últimas duas horas tudo o que eu pensei foi em como eu queria entrar de supetão na sala de Matti e jogar todas as verdades na cara dele.

— Vai ter hora para isso, Kat. Agora, porque você não descansa um pouco. Nós não dormimos muito nessa semana e ainda temos um longo voo pela frente. – Ele me arrastou para o sofá com ele. – Vamos aproveitar tudo isso, afinal, não pagamos nada por esse conforto aqui.

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Faltando duas horas e meia para a aterrissagem e depois que meu noivo comeu todos os petiscos do frigobar praticamente sozinho, comecei a andar de um lado para o outro dentro da aeronave.

— Kat, pare com isso. Vai acabar abrindo um buraco na fuselagem!

— Não tenho como evitar, Alexander! Eu simplesmente não consigo mais ficar quieta!

— Estamos quase chegando, Kat. Quase! Ainda teremos dois dias até que você possa se preparar para o início do Conselho.

Respirei fundo, no fundo tinha que concordar com ele.

— E, para te deixar mais calma, enquanto você treinava para a Maratona de Londres, eu fiz uma coisinha que deve te agradar.

Se Alex estava tentando me distrair, ele conseguiu, pois agora estava mais do que curiosa.

— O que você fez? – Corri e parei atrás da poltrona onde eles estava, para ver o que tanto ele olhava na tela do computador.

— Lembra do dia em que fomos surfar?

— Como esquecer?! Ainda estou com a canela marcada de tantas vezes que a prancha bateu ali. – Respondi.

— Então, você disse que a vista de onde ficamos esperando pelas ondas era bonita, não disse?

— Sim. E se eu fechar os olhos, ainda posso ver o horizonte!

Alex me puxou pela mão e me fez sentar em seu colo.

— Então, perguntei ao Tuomas que programa ou aplicativo ele usou para fazer os gifs e figurinhas dos seus tombos, e, depois que ele me passou o link, fiz isso aqui.

E Alex abriu a galeria de fotos do computador, me mostrando cada um dos frames que ele tirou do vídeo que tinha sido gravado pela GoPro. E não tinha só do horizonte. Ele tinha conseguiu alguns meus também.

— Eu achei que você ficou com cara de surfista profissional nesse aqui. – Me mostrou um em particular.

Eu só pude sorrir, enquanto eu passava foto por foto.

— Quanto tempo você levou para fazer isso? – Perguntei chocada, pois eram quase cem fotos.

— Não muito. Foi complicado no início, mas depois que peguei o jeito... Por que a pergunta? Gostou?

— Eu adorei!! – Dei um beijo nele.

— Sua favorita?

— Todas das paisagens.

— Nenhuma sua!? – Questionou um tanto injuriado. – Foram a mais difíceis! Achar um momento em que você não estava fazendo careta no meio do tombo foi complicado! – Ele brincou comigo.

— Não. Já te disse que não gosto de tirar fotos. E agradeço o seu esforço hercúleo de conseguir esses momentos em que eu quase parecia uma surfista profissional.

— Deveria gostar mais de ser fotografada, Kat. Você é uma fotógrafa muito fotogênica. – Ele falou e voltou às fotos onde eu era a modelo, mesmo sem querer.

— Tudo bem... já deu. – Pedi, já cansada de ver a minha cara.

— Pode ficar azeda, não tem problema. – Alex deu de ombros. – Acha que só estão no meu computador?

Lancei uma olhada para o celular dele.

— Ah, não! – Gemi.

Ele riu.

— Não posso ter fotos da minha noiva no meu telefone?

— Desde que eu não esteja estampando a sua tela de bloqueio... – Comentei e bati o dedo na tela, e para minha surpresa, não era uma foto minha, era uma foto nossa. A mesma foto que Liv havia me mandado naquele sábado de manhã.

— Liv te mandou essa também?

— Só mandou a foto, não disse mais nada. Coloquei aí porque, além de ter gostado da foto, gosto da memória que ela me traz.

Observei a tela de bloqueio e tive que rir, era a mesma foto que eu usava como papel de parede.

— É foi um bom dia. – Concordei.

Alex, ainda com o intuito de me distrair, colocou um filme, Capitão América e o Soldado Invernal. Mas, ao invés de me deixar assistir, ele falou na minha cabeça o tempo inteiro, me contando em detalhes tudo o que aconteceu nos bastidores, desde a preparação física e treinamento, até as cenas de luta. Além de me mostrar como um dos golpes eram feitos para parecem reais. Claro que para isso, ele me usou de cobaia e quando vi, estava parando deitada no sofá, depois que ele me jogou por cima de seu ombro e me soltou ali.

— Isso doeu! – Reclamei ao me sentar e tentar arrumar a bagunça que tinha virado o meu cabelo, porque não satisfeito de me fazer de saco de pancada de mentira, ele ainda teve que me virar de ponta cabeça.

 Que ele nunca descubra isso, mas achei essa aula mais interessante do que o filme em si, afinal, era a primeira vez que ele contava, por livre e espontânea vontade, algo da carreira. E isso era um avanço e tanto.

Um pouco depois dessa aula de luta para dublês iniciantes, nos avisaram que nosso pouso estava perto, ajeitamos tudo, guardando os eletrônicos – o filme acabou ficando pausado na cena da luta no elevador. - e nos sentamos para afivelarmos os cintos.

Pela janela, vi Londres começando a ficar maior, a se aproximar. E reconheci na hora uma das minhas vistas favoritas quando começamos a aterrissagem em si. E toda a sensação de nervosismo que eu sentia, se transformou em alegria.

Eu estava chegando em casa. Londres também era a minha casa, e agora eu tinha alguém do meu lado para quem mostrar os lugares que mais gostava.

Cutuquei Alex e apontei para a janela. Ele observou para onde eu indicava e me levantou uma sobrancelha.

— Um dos meus parques favoritos. – Falei com um sorriso.

— E qual deles é? Porque aqui tem um monte.

— Aquele ali é Greenwich Park, onde passa o Meridiano de Greenwich, ou marco zero de todos os fusos-horários da Terra. Já perdi as contas de quantas vezes corri ali, ou só fiquei andando de um lado para outro.

— Feliz em voltar para Londres? - Ele perguntou no meu ouvido.

— Feliz em poder te mostrar a Londres que eu tanto amo. – Foi a resposta que dei.

Menos de quinze minutos depois, aterrissamos. Demorou um pouco até que a alfândega viesse e checasse se tudo estava em ordem e, com o aval no Manifesto, desembarcamos.

E foi só aí que me lembrei de tirar o meu telefone do modo avião. E que arrependimento, deveria tê-lo deixado funcionando plenamente durante o voo!

— Isso vai parar alguma hora? – Alex me perguntou olhando para o dele, que também emitia notificações atrás de notificações.

— É bom que pare, preciso saber se tem um carro nos esperando ou se vamos ter que pegar um táxi até Westminster o que não seria nada viável. E Deus me livre da segunda opção!

Depois de quase cinco minutos de notificações infindáveis, consegui abrir o aplicativo de mensagens e achei o que me interessava.

O único carro que deixei em Londres, por ter o volante do lado direito, estava parado no estacionamento. Segui as instruções de minha mãe e sai rebocando meu noivo pelo saguão do Aeroporto de London City.

— Hei, Garoto da Califórnia, sabe dirigir um desses? – Perguntei quando parei perto da porta da direita do meu carro.

— E quem não sabe dirigir um Land Rover? – Ele perguntou todo convencido, já indo para a porta da esquerda, onde, nos demais países, fica o volante.

Só para brincar com a cara dele, destravei o carro e ele foi todo feliz se sentar no banco do...

Creio que você não sabe dirigir um desses não!— Falei ao abrir a janela do motorista.

— Esqueci que aqui é mão-inglesa. – Ele reclamou.

— Bem-vindo à Terra da Rainha! Agora, pode guardar as malas no porta-malas.

Muito a contragosto, Alex saiu do carro e guardou das malas, depois, ainda mais emburrado, se sentou no banco do carona.

— Se estivéssemos nos EUA, o volante estaria aqui. – Ele apontou para o painel na frente dele.

— Só que estamos na Inglaterra. E aqui as coisas são um pouquinho diferentes.

— Um pouquinho? Vocês dirigem do lado errado da pista! – Ele reclamou e se encolheu todo quando fiz a curva que nos colocou à caminho do Haras do meu avô.

— Eu posso não concordar com a mão invertida para dirigir, mas falo inglês e sei ler placas e aquela ali me disse que o centro de Londres é para lá. – Ele apontou para a direção contrária.

— Eu sei. Mas não vamos passar o final de semana em Londres. Vamos direto para o Haras. Vou te apresentar para o restante da minha família. E você poderá conhecer, finalmente, os dois cavalos que vou mandar para Califórnia.

Perigo e Prince Hal. – Ele disse.

— Exatamente.

— Quanto tempo de viagem?

— Por quê? Já quer dormir?

— Não, para me preparar para encontrar com meu sogro de uma vez.

— Aí depende.

— Nenhuma viagem depende, Kat. Todas têm uma certa previsão.

— Não, quando eu estou no volante. Apesar de frio – não nevava, mas era perceptível que tinha geado a noite inteira e agora tinha uma garoa fininha que insistentemente caía do céu. – As condições estão boas, devemos chegar em duas horas e meia.

— E se as condições não estiverem boas?

— Entre três horas e meia a quatro.

— Mesmo com todos esses radares?

— Não ficaremos na rodovia principal por muito tempo. Por isso esse 4x4.

Pouco depois entrei na estrada vicinal, deixando a pavimentada e movimentada M6 para trás, indo na direção dos ares bem bucólicos do interior da Inglaterra no final do outono.

— Estou me sentindo em algum livro de Jane Austen.— Alex falou ao ver a paisagem. – Onde estamos?

— Condado de Cambridgeshire.

Ele deu uma risada.

— Isso explica o porquê que a senhorita estudou na Universidade de Cambridge.

— Não nego que passei mais tempo nesse haras do que no dormitório da Faculdade. Não tinha motivos para ficar lá, se é tão perto!

— Quão perto?

— Uma hora, ou menos. – Falei. – E é o que nos falta para chegarmos.

— Sua família já está toda lá? – Ele perguntou e eu notei um certo tom de nervosismo na voz dele.

— Não sei. Pegue meu celular, por favor?

Ele fez o que pedi e depois de desbloquear a tela, entreguei o aparelho para ele.

— E o que eu vou fazer com isso?

— Pergunte para Liv ou para a minha mãe. Elas te respondem! – Afirmei e como a estrada estava limpa e o tempo tinha aberto, acelerei um pouquinho.

Poucos minutos depois, meu celular começou a tocar.

— É a Liv.

— Atenda.

— Oi vocês dois!!! Já chegaram... – Ela começou, mas ao notar que já estávamos dentro do carro, soltou. – Nem para avisar que já estão quase na porta. Credo. GENTE!! CORRE QUE ELES ESTÃO PERTINHO!!! – Liv deu um grito.

 - Para que tudo isso, Olivia?

— Bivó Claire e Bivó Mina estão nervosas aqui, preparando algo para o almoço, elas achavam que vocês chegariam mais tarde, mas pelo visto.

— Em vinte minutos.

— Elas vão enlouquecer! – Liv riu e escutamos minha avó Claire chamando Liv para ajudá-la em algo. – Até daqui a pouco! – Minha sobrinha se despediu e encerrou a chamada.

— Vou fazer a pergunta que você vive me fazendo. – Alex começou assim que guardou o meu celular dentro da bolsa.

— Eu te faço um milhão de perguntas por dia, Alex. Seja bem específico. – Pedi.

— Devo ficar preocupado?

— Ah! Essa pergunta? – Fiz um pouquinho de suspense.

— Kat... – Como sempre ele tinha que perder a paciência.

— Vou responder o mesmo que você. Eles vão gostar, sim. - Pisquei para ele.

E nem assim Alex ficou calmo.

Um pouco mais à frente já comecei a ver a um pedaço da propriedade de meu avô. E não demorou muito, tive um vislumbre de algo dourado.

Lady Sif... – Murmurei.

— O que? – Meu noivo perguntou.

Reduzi a velocidade e apontei para o ponto um tanto brilhante.

— Está vendo aquele dourado ali?

— Sim. Estranho, porque não tem sol.

— Aquela é Lady Sif, a Akhal Teke de Olivia, ou seja, sua sobrinha veio de dar as boas-vindas.

A estrada passava bem ao lado da cerca das terras de meu avô e Olivia, estava parada um pouco mais à frente e logo que viu o carro se aproximando, levantou a mão nos dando tchau e deu o comando para que a égua começasse a galopar.

— Ela realmente vai apostar corrida contra você? – Alex perguntou impressionado.

— Eu não vou acelerar mais. – Garanti. – E eu tenho essa mania também.

Logo estávamos emparelhadas, ela dentro da área cercada, e eu na estrada, e mesmo como frio, abri a janela.

— Não está frio demais para cavalgar? – Gritei.

A resposta que recebi foi minha sobrinha acelerando o galope de Lady Sif.

— Acho que isso é um não. – Alex riu do meu lado.

Acelerei o carro e quando finalmente pareamos, fomos devagar até quase a entrada do Haras. Liv virou para a esquerda, onde eu sabia, ficavam os estábulos e eu segui um pouco mais, logo fazendo o retorno e entrando no Haras da Família Spencer.

Alex deu uma boa olhada na entrada, quase que não acreditando onde estava e a cara de perplexo continuou quando abri o portão e ele viu os prédios em si.

— Isso tudo é da sua família?

— Dos meus avós por parte de mãe. E não finja essa surpresa toda, aposto que a Fazenda em Michigan é muito maior.

— Em tamanho, sim. Mas em estrutura... – Meu noivo estava boquiaberto.

Fui em direção à garagem, alguns funcionários me cumprimentavam quando reconheciam o carro, dizendo que tinha muito tempo que eu não aparecia. E antes mesmo que eu abrisse o portão da garagem, escutamos barulho de cascos, eu nem precisava olhar no retrovisor para saber quem era, Logo minha sobrinha parou do nosso lado e disse:

Hei, täti! Hei setä! Tevertuloa![1]— Olivia nos saudou e fez com que a égua fizesse uma reverência também.

Hei Pikkuinen![2] Como está? – Perguntei.

— Um pouco melhor, mas não muito. – Ela disse, se referindo ao ataque que ela e o irmão sofreram do segurança de Matti. Olivia vinha tendo crises de insônia desde o ocorrido e estava com medo de encontrar com o bisavó na rua. – Mas guarde o carro antes, depois conversamos.

Guardei o carro na minha vaga, Alex ainda olhava abismado por todo o espaço, quando desceu.

— Quem projetou essa garagem?

— Meus pais.

Ele olhou atentamente.

— Cada um tem seu espaço e suas ferramentas?

— Sim. Assim nunca vai faltar nada, caso aconteça algum problema. E se faltar, pode-se sempre pegar emprestado. – Expliquei depois de fechar a tampa do porta-malas.

— Interessante. Você deve achar a garagem da fazenda uma bagunça.

— Nada. Meu pai que é perfeccionista mesmo. Liga para isso não. – Garanti e fomos saindo do complexo, e à medida que chegávamos perto do portão, as vozes ficavam mais altas. Pude distinguir quatro em particular. Meus avós Claire e George, minha outra avó Mina que acalmava o Furacãozinho que clamava que queria nos ver.

Elena, sem paciência nenhuma para esperar e ansiosa demais para nos ver, entrou correndo na garagem e literalmente trombou em nós. Caindo sentada, mas, mesmo assim, não perdeu o sorriso.

Setä! Täti!! Eu tava com tanta saudade!!!! – Disse e se levantou para nos abraçar.

— Pode apostar que também estávamos, Baixinha! – Alex respondeu e a pegou no colo.

— Eu vou mostrar tudinho para você, setä! Tudinho que tem aqui e lá em casa! Você vai ficar comigo o tempo inteiro!! – Lena agarrou o pescoço de Alex, como se ele fosse o seu mais novo bichinho de pelúcia.

E, à medida que chegávamos mais perto do portão e, por conseguinte, da minha família, Alex ficava ainda mais nervoso, nem Elena falando sem parar na orelha dele, o deixou calmo.

— Calma, Surfista, tudo vai ficar bem! – Garanti e saímos para encontrar todo mundo que nos esperava do lado de fora.

 

[1] Oi, tia! Oi, tio! Bem-vindos!

[2] Oi, Pequena!


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Notas finais do capítulo

E é isso por hoje!! Espero que tenham gostado.
Volto a postar na sexta-feira da semana que vem, vou aproveitar o recesso e adiantar alguns capítulos para que a história não entre em hiato, então vou diminuir a frequencia dos capítulos para uma vez por semana.
Muito obrigada a você que leu até aqui! Um ótimo Natal cheio de bençãos para você e sua família!
Até o próximo capitulo.
xoxo



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