Presos Por Um Olhar escrita por Carol McGarrett


Capítulo 49
Tervetuloa, Olivia!


Notas iniciais do capítulo

Tradução do Bem-vinda, Olivia!
E vamos de mais um capítulo, dessa vez, depois de muita enrolação, Liv chegou!
Uma explicação antes do capítulo: algumas expressões simples em finladês irão aparecer com mais frequência, afinal Katerina e Olivia conversam em finlandês, a tradução está no link. Algumas palavras ficarão em finlandês mesmo, como tia (täti), tio (setä), que são as mais comuns até agora. Se, por alguma razão, alguém se sentir incomodado com o uso de um outro idioma no texto, deixe um comentário que eu tiro.
No mais, tenham uma boa leitura!



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 - Agora é com você... já que a sobrinha é sua e você a ajudou a arrumar as malas... o Jeep ou a sua Jamanta? – Alex perguntou parando na porta da garagem.

— Ela trouxe uma mala, gigante, na verdade, mas só uma. Dá pra ir no Cayenne. – Afirmei e tentei entrar no lado do motorista, mas Alex foi mais rápido e me impediu.

— Eu tenho a chave. Eu dirijo. - Ele disse.

— O carro é meu. – Tentei argumentar.

— Se quem vai dirigir é decidido pela propriedade do carro, temos, deixe-me ver, 3 x 2 aqui para mim. – Ele disse presunçoso.

— Você ainda não registrou o Aston Martin. – Falei séria. – O que me deixa na dianteira.

— Deveria ter olhado a documentação antes de falar... – Ele me jogou um porta-documentos. E eu fiz uma careta quando li.

— Ainda vamos no Cayenne. Meu carro. Eu dirijo!

— Você não sabe onde é, ou como chegar. É mais provável que se perca. Eu dirijo. – Me levou até a porta do carona e a abriu para mim. – Senhorita Nieminen. - Disse ao estender a mão e me mostrar o carro.

— Mal vejo a hora de aprender os caminhos e os atalhos dessa cidade. Aí eu quero ver onde você vai tirar vantagem. – Falei assim que ele se sentou atrás do volante.

— A cidade é grande. Você ainda vai demorar para aprender tudo o que eu sei.

— Eu aprendo rápido. – Garanti.

— Daqui uns trinta e três anos conversamos. – Alex falou e me deu um peteleco no nariz. – Mas antes, só uma pergunta...

— Que é?

— Você já tem a carteira de motorista da Califórnia?

— Você acha que eu tive tempo de tirar? Ando com a minha carteira internacional...

— Estou vendo que um dia eu vou ter que pagar a sua fiança e te tirar da cadeia...

— Estou aqui há cinco semanas, me dê um tempinho.

— Depois que Olivia for embora, eu vou te arrastar para ajeitar isso. – Ele me falou.

— Nunca se esqueça, tudo depende da minha agenda. - Alertei-o. E, pelo amor de Deus! Você sabe que ali só cabe um carro, não é? – Falei apontando para a rampa de acesso que ele, teimosamente, tentava transformar em pista dupla.

— Sempre couberam dois carros, o povo que fica de frescura e vai em faixa única. – Me respondeu e subiu a rampa cortando os carros.

— Se o retrovisor do carro ficar na mureta, você vai pagar o conserto! – Chiei.

Alex começou a rir e sem tirar os olhos da estrada e dos retrovisores foi dirigindo igual a um doido cortando os carros, pela direita e pela esquerda, e reclamando que, quem não tem pressa, que ante da faixa da vovó.

— Nenhuma das minhas avós anda na faixa da direita. – Informei.

— Suas avós ainda dirigem? – Alex perguntou espantado.

— Não sei o porquê do espanto. Elas são excelentes motoristas. E nem pensa em chamá-las de velhas. A Rainha da Inglaterra tem 93 anos e ainda dirige o Land Rover dela!

— Olivia já dirige?

Abri um sorriso para Alex.

— O que você acha? Só para facilitar as coisas para você, ela ganhou uma moto de motocross aos quatro, e pilota kart desde os cinco...

Alex coçou a cabeça.

Moto de motocross? Ela sabe andar?

— A família inteira anda... na Finlândia tem várias pistas.

— E onde está a sua moto?

— Ficou na Finlândia.

— Então temos que comprar uma para você, lá na Fazenda tem pista. E eu não vou te emprestar a minha, já basta o meu cavalo.

— Olha... alguém ficou sentido por perder o Furia...

E ele trocou de assunto.

— Quantos anos você tinha quando aprendeu a dirigir?

— Sou um caso excepcional... – Fiz mistério.

— Lá vamos nós de novo...

— Mas é verdade! Sou piloto de Rally. E piloto começa a dirigir cedo!

— Quantos anos?

Dei uma risada.

— Seis. Eu mal enxergava por cima do volante do velho Lada...

— Um Lada? Você aprendeu a dirigir em um carro da antiga URSS?

— Você não achou que meu pai iria colocar o Mercedes Benz dele na mão da filha mais nova, quando ela mal enxergava o parabrisa e alcançava os pedais ao mesmo tempo, achou?

— Mas um Lada?

— São carros fortes. Quase não tem potência, mas você aprende a estacionar qualquer carro, depois de passar horas manobrando aquela direção dura... E, tinha uma coisa, caso tudo desse errado, o Ladinha ficaria inteiro, já o outro carro...

— Essa coisa ainda existe?

— Respeite o velhinho! Mas, sim, ele ainda existe! Elena vai aprender a dirigir nele também!

— Então, o lema da família é: “Se sobreviver ao Lada, sabe dirigir qualquer carro”? – Alex brincou.

— Mais ou menos assim. – Eu comecei a rir. – A cada hora a família parece mais louca, não?

— Que nada... divertido! E a melhor parte, eu vou estar por perto para ver a Elena dirigir um carro mais velho do que eu.

— Eu acho que é ainda mais velho... não sei a idade do carro, mas ainda funciona, e só com a finalidade de ensinar a família a dirigir.

— Então, quando eu for a Finlândia... eu vou ter o privilégio de dirigir o Ladinha, xodó da Família Nieminen.

— E andar de motocross. Vamos ter que comprar e customizar a sua moto lá... Ian e Kim vão ficar felizes em poder fazer isso.

Vocês aumentam a potência do motor das motos?

— Ah... Alex... você tem que conhecer a Oficina do meu pai. Se você acha que a Carpintaria do seu pai assusta, não conhece o que sai de dentro daquela garagem... Só não mexemos nos motores dos nossos carros, para não perder a garantia, mas de moto e moto de neve... pode apostar que sim. A minha moto que está aqui... ela ganhou alguns cavalos a mais de potência.

— Eu estou começando a achar que eu jamais vou te entregar as chaves de um carro novamente.

Comecei a rir.

— Fale isso perto da minha família. Você virará persona non grata em tempo recorde! E meu pai vai te chutar de Londres ou de qualquer lugar onde estiver com muita, mas muita alegria.

Já estávamos quase chegando ao aeroporto, e Alex ria.

— Tudo bem... vamos falar a verdade. Carro, moto... por favor, não me diga que tem brevê também!

— Não... não tenho. Mas não é por falta de vontade. É por falta de tempo mesmo. Seria muito interessante poder pilotar jatos. E você se esqueceu das motos de neve e do jet-ski.

— Também customizaram os motores dos jet-skis?

— Não, porque tem fiscalização.

— Antes que você fale... lancha, barcos, iates... – Ele citou contando nos dedos, enquanto procurava uma vaga no estacionamento.

Fiz suspense.

— Ah não... – Bateu no volante.

Comecei a rir.

— Eu sei pilotar lancha... nunca tentei um barco. Iate... só subi a bordo de um, uma vez, em Mônaco. Não fiquei muito à vontade lá dentro.

— Enjoou?

— Sim... e olha que estava atracado na Marina...

— Deve ter sido por isso. O motor estava desligado. – Ele fez piada e finalmente conseguimos estacionar o carro.

— Sabe que não tinha pensado nessa possibilidade! – Brinquei e descemos, buscamos pelo hangar onde o jato pararia e logo nos encaminharam para a área de espera. Conferi o relógio. Se tivesse tudo bem no voo, não demoraria muito mais.

E em quinze minutos, o mesmo jato que me trouxe, aterrissava pontualmente na pista auxiliar e taxiava até o hangar, depois de manobrar e desligar as turbinas, abriram a porta para a alfândega checar se os dados do manifesto de voo batiam com os tripulantes e passageira. Com a saída deles, liberaram nossa entrada e foi pisarmos na área, e uma Olivia com cara de cansada, mas sorridente, desceu correndo os degraus, mochila nas costas e com duas coisas nas mãos.

Minha violeta e um embrulho.

— Oi, tia! Oi, tio!! – Desceu gritando e, pulando na nossa frente, disse. – Essa é sua. – Me entregou a violeta. – E esse é seu, tio! Bem-vindo à família! – Estendeu o embrulho para Alex, que me olhou todo sem jeito. Minha sobrinha tinha as bochechas rosadas de vergonha.

— Vai logo... abra. – Falei diante da carinha sem graça dele. Alex não esperava que Olivia chegasse com presente.

E a menina pulava ainda mais alto sem sair do lugar, agora abraçada a mim, esperando, curiosa, pela reação dele ao abrir o presente.

Alex, com muito cuidado, tirou o embrulho da sacola e começou a abrir pela beirada. E antes que ele terminasse, eu já sabia o que era.

— Mas é sério?! – Perguntei em finlandês para Olivia.

— Ué... ele tem que ir uniformizado!

Alex olhou curioso para a nossa conversa e só quando terminou de rasgar o papel – porque tinha perdido a paciência de bancar a pessoa educada – e abrir a camisa laranja é que soltou:

— É igual a sua! – Disse na minha direção. – A que você estava usando na primeira foto que vi sua! – Abriu um sorriso.

— É oficialmente um torcedor da McLaren! Meus parabéns! Menos um motivo para o seu sogro tentar arrancar a sua cabeça. – Brinquei.

Olivia que até então só olhava, completou.

— Tenho que dar os devidos créditos... a ideia foi da Elena. E ela disse que quer uma foto do senhor usando a camisa.

— Ah... Elena! E como está a mão dela? – Perguntei para a minha sobrinha.

— Ainda na tala. Vai ficar assim até depois do recesso. Mamãe disse que é melhor, ou pode ficar torto.

— Ou seja, sua irmã vai vir para o GP com a mão imobilizada.

— Vai sim... e parece que não está ligando muito. – Olivia deu de ombros e olhou para Alex que ainda olhava para a camisa. – Acho que ele gostou da camisa, né?

— Ao que tudo indica sim. E, inicialmente, ligue para Tanya e Ian. Eles devem estar esperando notícias suas. – Ordenei e Olivia foi para um canto mais silencioso do hangar para ligar para os pais.

— Aonde ela vai? – Alex perguntou preocupado.

— Ligar para os pais. E você, gostou do presente?

— Não esperava presente! – Disse sem jeito. – Não comprei nada para ela.

— Outra coisa de família. – Expliquei. – Adoramos dar presentes, e não ligamos em não ganhar. Pode ficar tranquilo. - Garanti.

Era um olho em Olivia e outro nas bagagens que eram descarregadas. A escorregadia tinha trazido duas malas. E assim que as colocaram na minha frente, agradeci e tive que fazer sinal para que ela viesse para junto de nós.

Ainda falando ao telefone, Olivia veio meio pulando, meio correndo ao nosso encontro.

— Sim, papai! A tia e o tio estão aqui! Quer conversar com eles? – Perguntou andando do nosso lado. – O senhor está no viva-voz! – Anunciou.

— Boa sorte para vocês nos próximos dez dias! – Foi assim que Ian nos saudou.

— PAI!! – Olivia disse injuriada.

E, ao fundo, pudemos escutar:

— Eu quero falar com a tia e com o tio! Por favorzinho! – Era Elena quem pedia.

—  O que você está fazendo acordada tão cedo, Pequena? – Perguntei.

— Eu tinha que saber se o tio recebeu o nosso presente!

E lá foi Alex responder.

— Eu recebi, Elena. Muito obrigado.

— O senhor tem que usar na semana que vem, tio. Vai estar todo mundo igual. Ou não... você também torce para o Kimi e vai levantar a bandeira da Finlândia?

Eu tive que conter a altura da minha risada.

— Eu ainda não tenho um piloto preferido, Elena. – Alex teve que sair pela tangente.

— Eu, a tia, a Liv, a mamãe, a vovó torcemos para o Kimi. O Tuomas e o tio Kim torcem para o Hamilton... mas eu acho bom o senhor torcer para o Kimi... a tia pode ficar bem brava com quem não torce para ele...

Alex me olhou de lado, e com certeza ele iria usar isso contra mim em um futuro bem próximo.

— Eu vou me decidir depois de ver a corrida, pode ser, Elena? – Ele respondeu à sobrinha.

— Pode sim, tio! E eu te vejo na semana que vem! Tia... toma conta da minha irmã... eu já estou com saudades dela! E de você também. E não esquece a sua bandeira para torcemos para o Kimi! – Terminou de falar. – Beijos.

— Até semana que vem, Elena. – Nos despedimos da pequena, e Ian voltou à linha.

— Eu não vou falar muito, você sabe como a Liv é, Kat. Só vou dar um conselho para Alex, não escute tudo o que ela falar. É bem convincente essa aí. E, qualquer coisa, é só tirar o celular, o tablet e qualquer coisa que ela não desgrude.

Do meu lado, Olivia estava vermelhinha.

— Creio que não vamos precisar fazer isso. – Alex garantiu.

— Nunca se sabe, Alex. E você se comporte, Olivia.

— Tudo bem, papai. Vou me comportar. Vejo o senhor em Austin! Näkemiin[1]!

Hyvästi, tytär[2]! E KitKat...

— Diga, Ian.

—  Cuide da minha filha, como cuidaria de uma filha sua.

— Nem precisava falar. Eu vou tomar conta dela.

— E eu vou colocar Elena na cama... a baixinha simplesmente apagou aqui. Até semana que vem.

— Até! – Nos despedimos do meu irmão e agora, longe do barulho, pudemos conversar normalmente.

— O senhor não ficou chateado com o presente não, né tio? – Foi a primeira coisa que Olivia disse assim que alcançamos a área do estacionamento.

— É claro que não. Mas eu só tenho uma pergunta. – Ele olhou para nós duas. – Como vocês torcem para uma equipe e para um piloto que não corre lá?

— Isso... só vendo no dia da corrida. – Falei.

— Vish, tio. É complicado. Mas deve ter sido bem pior para tia quando o Kimi foi campeão mundial.

— Ah, é? E por quê?

— Ele estava correndo pela Ferrari.

E Alex abriu aquele sorriso para mim.

— Então você já torceu para a Ferrari.

— Não! E torci para o Kimi. – Enfatizei - O máximo que eu fazia era jurar que, se a Ferrari não acertasse a estratégia de corrida, eu tinha um motivo a mais para queimar Maranello.

— Sei... vou fingir que acredito em você.

— Vovô me disse que foi a maior confusão. Mas o tio Kim disse que era hilário ver a tia torcendo para o Kimi, mas querendo que a McLaren ganhasse a corrida. Ele falou que ela até chorava de raiva, xingando o Kimi, por ele ter trocado a McLata pela Errari!

Alex não respondeu muita coisa... ele só estava armazenando as informações. E eu tive que me lembrar da minha barganha.

— Fica caladinho, Alexander... ou você sabe onde os vídeos vão parar. – Sussurrei perto dele.

Ele só levantou as mãos para o alto, como se rendendo, mas pelo sorriso e pelo brilho em seus olhos, eu sabia que a provocação só estava começando.

Quando terminamos de guardar as malas de Olivia, foi que ele chegou perto dela e disse.

— Agora, oficialmente, bem-vinda à Los Angeles. Ou como se diz em finlandês: Tervetuloa!— Ele falou todo cheio de sotaque e um tanto vermelho. – E como ainda está cedo, quer passar em algum lugar especial? – Perguntou para ela.

E Olivia não se fez de rogada.

— Obrigada pelas boas-vindas em finlandês! E sim, eu quero! Quero comer as tais panquecas que o senhor falou.

— Então, para Santa Mônica! – Alex disse, e abriu a porta para Olivia entrar no carro.

— Isso, se ela não apagar de cansada até lá! – Falei.

E como eu estava errada. Olivia falou o tempo inteiro, querendo saber onde estávamos, o que tinha ali de importante.

 - Como foi que você disse, Kat, quando saímos do aeroporto? – Alex me perguntou brincando, assim que descemos do carro, já em Santa Mônica.

— Eu não falei nada.

— Ela é divertida. – Falou baixinho ao pegar a minha mão.

— Como Ian disse, é só não dar muita corda. – Comentei. – Hei, Loira Aguada, é por aqui! – Tive que chamá-la, pois a boba estava olhando para o píer. – Você é grande demais para estes brinquedos! – Comentei assim que ela veio para o meu lado.

— Nunca se é velho demais para uma roda gigante! – Minha sobrinha me disse. – Ou para a cama elástica, não é mesmo? – Me olhou de lado.

— Cama elástica? – Claro que Alex não perderia um comentário desses.

— Sim... a tia adora! Bem... todos nós adoramos. E, meio que é um de nossos passatempos no verão... juro que te explico melhor depois tio! Porque falando o senhor não vai acreditar! Vou te mostrar as fotos!

Atravessamos a rua, e como ele sempre fez, Alex abriu a porta e nos deu passagem e foi Dottie nos ver e abrir aquele sorriso.

— Esse é um horário novo para vocês aparecerem aqui! – Começou sorrindo. E assim que viu Liv. – Ora... Kat... você não me disse que tinha um clone!

Olivia ficou vermelhinha.

— Dottie, essa é Olivia, minha sobrinha. Olivia, Dottie, a rainha das panquecas. – Fiz as apresentações.

Dottie encarou minha sobrinha e só falou.

— Eu sei o que vou trazer para você, minha jovem. Para vocês dois, o de sempre, não?

— Sim, por favor. – Alex respondeu por nós.

— Não vamos fazer o pedido? – Liv me perguntou ao se sentar na minha frente, já que dessa vez, me sentei ao lado de Alex.

Encarei meu noivo.

— Dottie nunca erra um pedido, Liv. Te garanto. – Ele disse para ela e minha sobrinha, cética, só levantou uma sobrancelha.

— Ela acertou o seu, tia?

— Pode apostar que sim.

— Sem perguntar uma palavra? – Tentou novamente.

— Exatamente. E antes que pergunte, eu nunca tinha pisado aqui.

Olivia arregalou os olhos.

Antes das panquecas, Dottie apareceu com as bebidas. Olivia já olhou desconfiada, pois ela veio justo com chá gelado.

E quando as panquecas chegaram...

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 - Herranjumala! Se on täydellinen[3]! – Olivia falou depois de provar um pedaço e tanto Dottie quanto Alex ficaram olhando para a pré-adolescente com cara de assustados, pois não tinham entendido nada do que ela falara.

— Ela só disse que está perfeito! – Traduzi.

E Olivia atacava as panquecas com calda de frutas vermelhas e morangos, quase sem parar para respirar, e com um piscar de olhos, metade das panquecas já tinham ido embora, e olha que a pilha era o dobro da minha.

— Tal tia, tal sobrinha! – Alex falou rindo. – Você só não falou nada, mas a expressão de vocês foi a mesma!

— Pode escrever o nome dela no fã-clube, Dottie. – Falei para a dona do restaurante, que só deu uma risada.

— Tio... a tia tem razão em amar isso aqui! Eu nunca comi nada parecido na minha vida.... as panquecas que têm na Europa não são assim... nem as que a vovó faz, e olha que minha avó cozinha bem pra caramba!

— Ouviu essa, Dottie? – Alex gritou. – Você já ganhou até da avó da Liv!

— Agora estou encrencada. – Brincou a mulher. – Se ela disser que eu ganho das panquecas da sua mãe, é melhor eu sair correndo daqui.

— Dona Amelia faz panquecas assim? – Olivia perguntou.

— Panquecas ela faz... agora se você vai achar mais ou menos saborosas do que essa, caberá a você!

E minha sobrinha só balançou a cabeça, voltando a comer. Ficamos calados enquanto ela devorava a pilha de panquecas, nós dois comendo as nossas – porque um sempre tem que roubar do prato do outro – até que Olivia disse.

— Bonito anel de noivado, tia... por que não falou nada com a gente?

Alex que tinha uma mão na minha coxa, apenas firmou seu aperto e eu olhei do anel para Olivia.

— Não oficializamos nada, Liv.

— Mas um anel... ainda mais um anel como esse, É OFICIALIZAR! – Ela destacou. – E eu tenho certeza de que a vovó vai bater o olho nele e vai perceber também.

— Não contamos para ninguém, não fizemos festa nem nada. Isso é entre a gente. – Expliquei.

— E quando vão oficializar?

— Um dia. – Alex respondeu.

— Sem data?

— Não temos pressa. – Ele confirmou.

— E ninguém desconfiou de nada?

— Se desconfiou, não sabemos, mas você foi a primeira falar... – Falei, mesmo sabendo que Pietra, Vic e Mel já sabiam.

— É um anel muito bonito. Suas pedras preciosas favoritas, né tia?

Creio que Alex não sabia disso, pois me encarou seriamente, lendo minha expressão.

— Sim, água marinha e diamante são as minhas preferidas.

E ela só abriu um sorriso e voltou a comer.

Depois de dividirmos a conta, fomos dar uma volta do píer, mesmo sendo tarde e que Olivia já estivesse caindo de cansada. Ela ia um pouco na frente, olhando para as barracas e para tudo à sua volta. Alex aproveitou que ela jamais nos escutaria no meio de tanto barulho e, depois de me puxar para mais perto dele, soltou:

— Você tinha me dito que ela é observadora... mas não pensei que seria tanto!

— Sou suspeita para falar... – Dei de ombros. – Ela é minha sobrinha!

Ele abriu um sorriso e depois de brincar com a minha mão, falou:

— Então eu realmente acertei no anel? Você nunca me falou que tinha uma pedra preciosa da qual gostava mais...

— Agora você sabe.

— Eu estou achando que dei foi sorte. E se fosse outra pedra?

— Eu teria dito sim da mesma maneira. – Garanti. – E antes que pergunte, teria usado o anel com a mesma felicidade e orgulho que uso esse.

Alex levantou a cabeça e olhou em volta, segui o olhar dele, Olivia estava bisbilhotando uma barraca de bijuterias. E assim que ele viu que que ela não olharia em volta, me puxou e me deu um beijo.

— Já te falei que te amo, hoje? – Perguntei.

Ele deu uma risada.

— Creio que você deva ter deixado um bilhetinho grudado na geladeira... Mas não te ouvi dizendo isso!

— Eu te amo! – Falei e ele me deu mais um beijo, depois fomos atrás de Olivia que ainda estava olhando as bijuterias.

— Gostou de alguma coisa? – Perguntei atrás dela. E minha sobrinha tomou aquele susto.

— Até gostei. Mas só tenho Euros e Libras comigo, a burra aqui esqueceu de ir à Casa de Câmbio! E antes que fale, não vai comprar nada para mim! Eu compro... tenho o meu dinheiro que juntei quando era garota dos recados! – Comentou e passou para a próxima barraca, porém não foi muito longe e quando voltou para perto de nós, muito sem graça, perguntou se não podíamos ir para casa.

— Fuso bateu? – Perguntei quando ela veio e me abraçou pela cintura.

— Sim... se eu for olhar a diferença são quase oito da manhã em Londres... eu praticamente virei à noite. – Disse com um bocejo.

— Você se acostuma. Basta chegar, tomar um bom banho e cair na cama. Amanhã vai estar novinha em folha.

Íamos em direção ao carro, passando no meio das pessoas. Olivia praticamente escorada em mim, de tanto sono, Alex segurava minha mão e, do nada deu um aperto mais forte. Olhei para ele, que só apontou com a cabeça, indicando um casal que tinha acabado de passar por nós.

A senhora, sem nem disfarçar tinha parado e olhava na nossa direção, dizendo alto:

Quantos anos ela tinha quando aquela garota nasceu? Quinze? E ainda fica andando por aí, como se fosse a coisa mais normal do mundo.

Parei de prestar atenção e me voltei para Alex. Ele não tinha gostado do comentário.

— Não te disse que sempre tinha um para falar? A grande maioria fala, não adianta. Basta não ligar.

Mas como Alex tem aquele instinto superprotetor, ainda lançou uma encarada para o casal mais velho.

— Isso só vai fazer a senhora falar ainda mais. Vamos embora. – Pedi.

Chegamos ao carro e eu tive que praticamente ajudar minha sobrinha a entrar.

— O pai dela vai ficar muito feliz em saber que ela não vai ser do grupo que vira a noite... ela mal está se aguentando de pé! – Alex comentou quando fechou a porta e abriu a minha.

— Pelo menos uma salvou... afinal, Tuomas é daqueles que sai e não tem hora para voltar.

Alex mal ligou o motor e pude ver Olivia começar a cochilar no banco de trás.

— Na hora em que o passeio fica bom, porque tem um monte de lugar que ela quer conhecer, ela dorme! – Alex brincou ao volante, observando a garota pelo retrovisor interno.

— Uma hora ela teria que descarregar... afinal, está acordada a quase 24 horas. Espere amanhã.

Voltamos para casa em silêncio e foi pararmos o carro na garagem que duas coisas aconteceram: Olivia acordou assustada e Loki, Thor e Stark apareceram correndo e latindo, sentindo o cheiro da visitante.

— Hei seu Branquelo estabanado!! – Olivia brincou assim que viu Thor. – Que saudade de você!! – Ela abraçou o husky. – E você, Lokinho? Tá tomando conta da tia? – Estendeu a mão para o ruivo e acariciou a cabeça dele, já que abraçá-lo não era possível, afinal, Thor tinha se sentado no colo dela. – Agora... quem é você? – Estendeu a outra mão para o pitbull que observava a cena.

— Esse é o Stark. – Alex falou.

— É seu, tio?

— Agora é nosso. Ele adotou a Kat como mãe.

— É adotado, não é?

— Sim, ele é.

E minha sobrinha tirou Thor do colo dela, ficou de joelhos no chão e chamou por Stark.

— Vem aqui, garoto! Vem ganhar um abraço! - Disse estendendo os braços.

E Stark foi praticamente correndo para os braços dela.

All you need is love! – Ela citou a música dos Beatles quando abraçou os três cachorros. – Um amor canino, ou dos Vingadores Caninos!!

— Anda, Olivia. Vamos entrar. 

— Vocês vão correr na praia? – Ela perguntou assim que entramos em casa e depois que ela colocou a minha violeta em cima do piano.

— Nós vamos à praia. Agora se a sua tia vai querer correr, é com ela. – Alex respondeu por nós.

— Podemos levá-los? - Ela se empolgou.

— Discutimos isso amanhã, pode ser? – Tentei barganhar. – Quer conhecer a casa hoje ou amanhã?

— Tio, o senhor ficaria chateado se fosse só amanhã?

— É claro que não, Olivia! – Alex falou do alto da escada, onde ele já estava com uma das malas, a outra estava na minha mão.

— Obrigada, mas tenho que dizer que eu adorei esse ambiente aqui! É tão claro... mal posso esperar para ver com a luz do sol. – Ela foi falando enquanto subia atrás dele, com os três cachorros a seguindo.

— Bem... esse é o seu quarto. – Alex falou da porta. – Vou deixar vocês à vontade. – Completou. E Olivia, para a surpresa dele, e a minha, deu um abraço nele.

— Obrigada, tio! Por me receber, por me deixar ficar na sua casa e por ter ido me buscar no aeroporto!

— Não há de que, Olivia. Como eu te disse, você é muito bem-vinda! – Alex respondeu e deu um beijo no alto da cabeça dela.

Kiitos!— Respondeu a garota.

E tudo o que eu fiz durante essa cena, foi ficar observando. E minha mente só me fez a seguinte pergunta: “Se ele é carinhoso assim com uma garota que ele acabou de conhecer pessoalmente, como não vai ser quando ele tiver os próprios filhos?”

Voltei ao presente com Olivia me chamando, me dizendo que tinha esquecido o pijama.

Revirei os olhos.

— Não falei que ela nunca se lembra do pijama? – Comentei com Alex e entrei no quarto.

Ele riu.

— Te espero no quarto.

— Eu já vou indo. Daqui a pouco ela dorme ou me expulsa. – E assim que entrei, tive que ir falando. – Como esquecer o pijama não é nenhuma novidade no seu currículo, tem três naquela gaveta ali. E estão limpos. Vá tomar banho que eu vou tentar organizar o máximo de coisas para você.

Olivia pulou do meu lado, me deu um beijo na bochecha e correu para o banheiro. Enquanto ela tomava banho, organizei as roupas e os sapatos que ela trouxe, achando minha bandeira da Finlândia dobrada por cima de tudo.

— Acho que é isso. – Murmurei sozinha, e o Trio Peludo me olhou espantado. – E vocês podem ir para a sala. Não vão dormir aqui de jeito nenhum!

— Por que não, tia? Deixa eles! Eu tô morrendo de saudades do Thor e do Loki. E o Stark... bem, ele é bem fofo para um pitbull. O Tio cuida muito bem dele!

— Se começarem a ganir de noite, querendo sair do quarto, é problema seu, e por favor, nada de cachorro na cama. Alex não gosta muito. – Pedi.

— Pode deixar. Vou tentar mantê-los no chão. – Me prometeu, dando um bocejo.

— Anda, vai para cama. Você tá morta de cansada. – Guiei-a até a cama.

— Essa é grandona. – Comentou e se jogou bem no meio do colchão.

— Quantos anos você tem, Olivia?

Ela deu um sorriso travesso e soltou:

— Era impossível não fazer isso... olha essa cama.

Fiz cara de desgosto, que não abalou em nada a pré-adolescente.

— E tia, obrigada por me deixar vir. Eu adorei o tio Alex. E estou muito feliz em saber que vocês vão se casar! Vocês dois juntos são muito fofos. – Ela pulou na cama e veio me dar um abraço. – Eu tô muito feliz porque você tá feliz, tia! De verdade!

Kiitos, Liv! Hyvää yötä, pikkuinen[4]!

Hyvää yötä, täti![5]

Esperei ela se ajeitar e antes de sair do quarto e fechar a porta, só dei aquele aviso básico:

— Se precisar de qualquer coisa, o quarto é o último do corredor.

— Tudo bem... – Me respondeu sussurrado, quase já dormindo.

Antes de ir para o quarto, voltei no andar de baixo para colocar a minha violeta no meio da ilha da cozinha ao lado da que Alex me dera, beber um copo d’água e colocar comida para o trio, pois eu tinha certeza de que, se eles não saíssem do quarto de Liv durante à noite, ali seria a primeira parada deles pela manhã.

Subi apagando as luzes, e quando cheguei no quarto, Alex já tinha tomado banho e estava com o notebook no colo.

— Nossa... todo concentrado... detesto atrapalhar. – Comentei.

— Não atrapalha. Só estou olhando uma coisa. – Ele me disse e lançou um olhar para o que eu carregava no braço. – Pelo visto a Liv não se esqueceu de nenhuma das suas encomendas, hein?

Abri, mais do que orgulhosa, a bandeira.

— Não, ela não se esqueceu. Vou guardá-la para semana que vem e depois devo dependurá-la no meu escritório... Era onde essa aqui ficava em Londres... – Respondi e tornei a dobrar a bandeira. – E pode ficar tranquilo fazendo o que está fazendo, que não vou te atrapalhar. – Falei indo até o closet para separar a minha roupa para o dia seguinte.

Alex continuou olhando para a tela do computador e eu fui tomar o meu banho, quando saí do banheiro, ele me recebeu da mesma maneira que vinha fazendo, só abria os braços e eu corria para lá.

Ele me balançou por um tempo, e antes que eu pegasse no sono, me vi na obrigação de dizer:

— Obrigada por hospedar a Liv. Sei que vai mudar toda a sua rotina, mas... – E ele me calou ao colocar o dedo sob meus lábios.

— Não tem nada o que agradecer, Kat. Ela é minha sobrinha também. E não vai atrapalhar em nada. E o que eu disse é verdade, ela é sempre bem-vinda.

Eu tive que morder o lábio para não chorar. Será que era possível que eu tivesse dado essa sorte?

— Mesmo assim, Surfista, obrigada. – Dei um beijo nele.

— Para te ver feliz assim, eu faço qualquer coisa, Kat. – Me respondeu e me deu um beijo, depois me puxou para que eu me deitasse ao seu lado. - Hyvää yötä, Kat.

— Mas olha ele. Todo metido falando finlandês! – Brinquei.

— Eu te disse, Kat. Já sou quase um finlandês.

— Se não é, vai acabar virando... convivendo com duas nos próximos dias, vai começar a trinar todos os “r” das palavras!

Rakastan sinua. – Ele disse tentando imitar o meu sotaque.

And I love you!

 

[1] Tchau!

[2] Adeus, filha.

[3] Meu Deus! Isso está perfeito!

[4] Boa noite, pequena.

[5] Boa noite, tia!


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Notas finais do capítulo

Duas traduções que eu esqueci de linkar ali em cima:
Kiitos = obrigada
Rakastan sinua = Eu te amo.
No mais, espero que tenham gostado da chegada de Olivia!
Muito obrigada a você que leu até aqui.
Quarta-feira volto com o próximo capítulo.
xoxo



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