Presos Por Um Olhar escrita por Carol McGarrett


Capítulo 25
Decisão


Notas iniciais do capítulo

Sem atrasos hoje. Só um aviso, esse capítulo é continuação imediata do último e o próximo também é continuação. Tive que dividir em três capítulos porque só um ficaria grande demais.
Espero que vocês gostem.
Boa leitura!



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— Ou você está com muito sono ou a conversa que você teve com a minha mãe não foi boa... – Ele começou depois que ficamos em silêncio por quase metade do caminho.

— Nenhuma das alternativas. – Respondi sincera.

— Então o silêncio é?

— Estou feliz! Apesar de tudo, eu estou feliz. E tinha muito tempo que eu não me sentia assim. – Falei e pude sentir o sorriso em meu rosto.

Alex desviou sua atenção da rua para olhar meu rosto por um breve segundo e quando voltou a olhar a pista, também sorria.

— Posso saber o motivo?

Dei de ombros, mesmo que ele não pudesse ver e resolvi brincar com ele.

Jag älskar dig. – Falei.

— Que isso? – Me olhou espantado e assustado.

— Lembra que te falei que traduziria aquela frase para você em cada um dos idiomas que sei falar?

— E isso aí é em que língua?

— Sueco. O segundo idioma oficial da Finlândia.

— Eu não falo sueco! – Reclamou.

— Eu sei que não! Mas estou só começando...

— Como se escreve?

— Tem um bloquinho nesse carro?

— Não. – Me respondeu.

Procurei na minha bolsa, achei um bloquinho novo e tive uma ideia.

Na primeira folha escrevi a data em que nos conhecemos e a seguinte frase: “Meu Dicionário de Traduções Particular para Consultas Futuras”. Na segunda, a frase que falei em finlandês e agora em sueco e depois coloquei no porta-luvas.

— Sabe que eu vou pegar isso para ler, não sabe? - Alex me desafiou.

— Estou contando com isso! E não se esqueça de que não pode usar o Google Tradutor! – Avisei.

— Quer dizer que essa frase tem a mesma tradução da de ontem e é esse o motivo da sua felicidade?

— Exatamente!!

 Alex entrou no modo concentração total, e vi que suas sobrancelhas se uniram em um único arco em sua testa. Passei a ponta do dedo indicador ali para aliviar a sua expressão.

— E isso foi?

— Não faça isso, vai deixar uma marca de expressão permanente na sua testa! – Falei.

Ele bufou, desdenhando da minha tentativa de ajudá-lo a evitar futuras rugas.

— Mas em que tanto pensa? – Perguntei.

— No que pode estar escrito ali! - Apontou para o porta-luvas.

— E isso está te matando por dentro, não está? Não ter a mínima ideia do que eu falei... do que eu escrevi... – Resolvi por perturbá-lo um pouco.

— Me dá uma dica, Katerina! – Pediu manhoso.

— Não! Não mesmo! Assim perde a graça!

— Mas não é justo! A minha barganha com você foi entregue pela minha mãe! – Ele reclamou.

— E eu serei eternamente grata a ela por isso. Apesar de estar curiosíssima sobre a propaganda em si... afinal eu realmente amei a do perfume e você está muito bonito na do relógio também. A câmera gosta de você! – Elogiei.

As pontas de suas orelhas ficaram vermelhas.

— E não precisa ficar com vergonha. Só estou falando a verdade. E pode apostar, eu entendo de fotografia! – Me inclinei e dei um beijo na bochecha dele.

Ele balançou a cabeça, como que negando as minhas palavras, mas abriu um sorriso e agora era seu rosto que estava vermelho.

Meu plano tinha começado com o pé direito. Eu sempre iria elogiá-lo sobre o que ele fazia, não seria todos os dias ou toda hora, mas aos poucos, para que ele percebesse devagar o que eu estava fazendo.

Alex não estava com pressa de chegar na minha casa e resolveu passar por alguns pontos turísticos de Los Angeles comigo.

— Aposto que a Liv vai querer vir aqui! – Apontou para o Teatro Chinês e a Calçada da Fama.

— Eu sei que vai. E no Teatro Dolby também. Ian me disse que ela já tem um roteiro pronto. E eu já estou com medo!

Ele riu.

— Estou contando com isso, assim você conhece essa parte da cidade. – Apontou para um prédio. – Ali é onde é realizada a after party mais famosa na noite do Oscar.

— A da Vanity Fair?

— Pelo menos isso você sabe!

— Pelo visto alguém já foi... – Instei.

Ele deu uma gargalhada.

— Sim... valeu a bebida grátis.

— Só isso? – Eu estava perplexa.

— Para você ver... não tive muita sorte naquela noite...

E continuou a me mostrar os demais lugares, todos muito chiques e caros e exclusivos.

— Quem sabe não vai ser hoje que você vai ver alguma celebridade, hein? – Deu um tapinha no meu joelho e apontou para um restaurante, onde milhares de flashs pipocavam.

Eu fiz uma careta para a cena. Com pena da pessoa que estava sendo bombardeada com toda aquela invasão de celebridade.

— Eles não respeitam nada? – Questionei vendo como eles voavam nas pessoas que tentavam passar.

— Dependendo da pessoa, não mesmo. – Alex comentou.

E foi ele fechar a boca e a horda de fotógrafos invadiu a pista, sem nem olhar se vinha ou não carro, simplesmente andavam de costas pela via, fotografando a celebridade.

— CUIDADO! – Falei e busquei o freio com o pé, mesmo estando do lado do carona.

Alex parou o carro e por muito pouco outro não nos bate na traseira. Olhei pelo retrovisor para confirmar que não tinham encostado no carro, quando Alex sibilou um palavrão.

— Que foi!? – Tirei os meus olhos do retrovisor e olhei para ele que tinha o maxilar travado, um olhar frio e as mãos agarravam com tanta força o volante que as juntas estavam brancas. Pus minhas mãos em cima das dele para tentar acalmá-lo e acompanhei seu olhar.

E o motivo dos flashs atravessa a rua, calmamente, como se quisesse que todo aquele alvoroço acontecesse.

E eu reconheci duas das pessoas do grupo de seis.

Uma delas era a ex-namorada de Alex, Suzanna, e ao lado dela, exibindo uma barriga de grávida, desfilando em um vestido curto e justo, Mia.

Foi a minha vez de xingar.

— Sendo solidária a mim, Kat? – Alex perguntou, mas sua voz não trazia um tom de brincadeira, muito pelo contrário, era fria e distante.

— Sua ex, não é? – Perguntei.

— E a cobra da melhor amiga dela. Mia qualquer coisa...

— Mia Spencer. – Falei.

— Conhece!? – Ele olhou para mim com desgosto.

— O nome verdadeiro dela é Mia Nieminen. É a minha irmã mais velha. E pelo visto aquele ali é o mais novo marido rico dela... – Comentei.

— Você é irmã dela? – Alex ainda me olhava com espanto.

— Olha, não tenho orgulho do que ela faz e tem anos que eu não tenho uma conversa civilizada com ela. A expressão “viver da beleza” será sempre a que melhor define aquela mulher, que só olha para o próprio umbigo.

— Como vocês podem ser irmãs? São completamente opostas! – Ou Alex não me ouviu ou não quis tocar o assunto.

— Erros da genética, Alex. E graças aos Céus que amo os meus dois irmãos e que eles odeiam a Mia tanto quanto eu... Na maioria das vezes apenas ignoramos a existência dela, menos dor de cabeça.

O pequeno desfile improvisado no meio da rua acabou e Alex logo arrancou o carro, saindo o mais rápido que conseguiu dali, em direção ao apartamento.

Quando ele parou o carro na garagem e não fez menção de descer, me vi obrigada a falar...

— Eu te peço desculpas por seja lá o que a Mia falou ou fez com você, Alex. Não vou defendê-la, porque eu já fui, e continuo sendo, vítima da língua dela... só te peço uma coisa: não me confunda com ela, por favor. – Pedi.

Alex não se mexeu, continuou com a cabeça apoiada no encosto do banco, olhos fechados e com a mão direita apertando a ponte do nariz.

Diante do seu silêncio, decidi por sair do carro e ir para casa, talvez ele quisesse ficar sozinho por um tempo.

— Boa noite! – Dei um beijo em sua bochecha, desafivelei o cinto e abri a porta, só para sentir a sua mão segurando o meu ombro.

— Não pense que você vai ficar livre de mim nessa noite, Kat.

Ia abrir a boca para dizer que estava tudo bem se ele quisesse ir para a casa e pensar no que eu havia dito, mas ele me impediu.

— É impossível confundir você com aquela cobra que é a Mia, Kat. Nem sei como vocês são irmãs. E eu não estou chateado com você. Não tinha como saber que eu conhecia a sua irmã. – Ele tornou a me cortar, quando fui me defender. – Eu só estou tentando entender como seus pais criaram as duas filhas tão diferentemente.

— Não é bem culpa deles, Mia sempre foi muito bonita e sempre teve o mundo aos pés dela... não é à toa que é uma das modelos mais bem pagas, e isso subiu na cabeça dela. Ela é ruim desde nova. Acha que a única qualidade de uma pessoa é a beleza e nada mais... e quando ela mostrou a verdadeira face, bem... vamos dizer que já era meio tarde para consertar.

— Mesmo assim, Kat. Não justifica. Não mesmo.

Fiquei aliviada em saber que ele não me achava uma Mia.

— Mundo pequeno, hein? – Perguntou ao tirar a chave da ignição e desafivelar o cinto. – Quando eu iria imaginar que a mulher que virou a minha vida de ponta-cabeça nos últimos dias é irmã da única mulher que já tive vontade de matar. Não me leve à mal, por favor. – Me falou ao ver meu olhar.

—  Entre na fila. Eu estou na frente. – Falei friamente.

— Podemos dividir o serviço e levar mais dois juntos, o que acha? – Ele tinha mudado de humor, o que me deixou mais tranquila.

— Terá que ser um plano infalível... – Entrei na brincadeira.

A viagem de elevador foi rápida e Alex ainda tagarelava sobre uma forma eficaz de eliminar algumas pessoas quando entramos em casa.

— Se importa se eu ficar? – Perguntou quando se sentou no chão para tirar os sapatos.

— Claro que não! – Respondi e o vi sumir para dentro do quarto.

Fiquei um pouco na sala com meus cachorros e pude ouvir Alex murmurar algo, depois sair, já com a calça de moletom e vestindo uma camisa de malha, com a chave do carro na mão.

— Esqueci o bloquinho no carro! – Me explicou.

— Eu não vou te deixar traduzir o que escrevi. – Alertei.

Ele calçou um par de chinelos e, ao invés de esperar o elevador, desceu pela escada.

— Doido. – Murmurei. E me pus a pensar, para Alex chamar Mia de “cobra”, com certeza ela deve ter falado algo na cabeça dele. Me restava saber o que era.

Ou talvez eu não quisesse saber, para poder manter a sanidade e evitar ser presa.

Alex voltou rápido, um tanto ofegante, e vinha com o bloquinho na mão.

— Bonito título!

Tive que rir.

— Tudo no improviso. – Falei.

— O bloquinho pode ser, mas essa sua brincadeira de não querer me contar o que isso significa... – Apontou para as duas frases. - Isso foi planejado para me matar de curiosidade.

— Mas é exagerado... – Revirei os olhos e continuei a acariciar os meus cachorros.

— Uma dica, Kat... – Tornou a me pedir, e eu quase cedi, pois fiquei hipnotizada pelos belos olhos azuis.

— Não. Tudo a seu tempo.

— E se eu pedir com jeitinho? – Perguntou ao se sentar do meu lado.

— Que jeitinho? – Perguntei e ele me puxou para seu colo e começou a me beijar.

— Desse jeitinho... – Falou com um sorriso. – Tenho uma dica agora?

— Não! Me seduzir não estava no nosso acordo. Só tem uma cláusula para você cumprir, Alexander, que é ser paciente.

— Você é má, Kat!

Ri na orelha dele.

— Você não faz ideia! – Comentei e saí de seu aperto, ou era bem capaz que eu perdesse o controle sobre o meu corpo.

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Alex ainda murmurou atrás de mim por quase uma hora, querendo uma dica, a tradução de uma palavra, qualquer pista.

— Eu já falei para você ser paciente... uma hora você descobre! – Tive que falar pela milionésima vez, depois que coloquei comida e água para Thor e Loki.

Ele, que estava sentado na bancada – não nos bancos, mas empoleirado em cima da bancada. – Chiou de novo:

— Kat... isso não é justo, eu não sou inteligente como você!

— Tentar me seduzir, tentar inflar o meu ego não vai me fazer traduzir isso para você, Alex. Agora desce daí!

Só para me contrariar, ele não desceu. Resolveu fazer birra igual à Elena quando não quer fazer algo.

— Tudo bem, fique aí. Eu vou tomar um banho e dormir. Já você, se se cansar de ficar sentado no mármore frio, pode dormir no sofá, ao lado do Thorzinho e do Lokinho, espero que os roncos não te acordem! – Falei já quase dentro do quarto.

Não demorou vinte segundos e lá estava ele, sentado na cama, do lado que escolheu dormir, ainda me atazanando.

— Odin dai-me paciência! – Falei dramaticamente enquanto separava as minhas roupas para segunda de manhã. – Ou eu vou cometer um assassinato esta noite!

— Não vai não! Você gosta da minha companhia! E se você me matar, meu espírito vai ficar aqui, sentado nessa cama, falando na sua cabeça a noite toda.

— Eu peço um Príncipe Encantado e tudo o que eu ganho é um cara que não vai me deixar em paz nem quando morto? – Perguntei antes de fechar a porta do banheiro.

— Pode apostar que sim!

— Eu só escolho cara errado pra namorar! Que sina!

Tudo o que eu ouvi de resposta foi a risada dele.

Tomei um banho demorado, mentalizando tudo o que eu tinha que fazer durante a semana. Dizer que era muita coisa, era ser muito boazinha comigo. Fiz uma agenda mental, que fiquei repetindo como um mantra.

Minha prioridade, depois de mandar os relatórios das visitas aos portos para Londres e me certificar de que a demissão de Murphy seria concretizada em horas, era se tudo do porto de San Diego já havia sido encaminhado para os centros de distribuição ou se já estavam em alto-mar.

Sai do banheiro contando tudo na ponta dos dedos e assustei Alex.

— O que você está contando?

— Prioridades. – Falei.

— Que prioridades? Espero que jogar o namorado da cobertura não seja uma delas...

— Essa é a número um. – Disse séria. – Amanhã pela manhã estará feita.

— Vai ter um colchão de ar gigante lá embaixo? – Me perguntou rindo.

— Não sei... você pediu para colocarem? Porque eu não...

— Me ferrei!

— Muito. – Concordei e me sentei na cama.

— Mas, falando sério agora, que prioridades?

— Tudo o que tenho que fazer amanhã assim que por os pés no escritório.

— Entendo... – Me abraçou. – Só te peço para não matar ninguém.

— Via videoconferência é um tanto impossível, e as pessoas do escritório, pelo menos as que não têm medo de mim, são boas demais para serem vítimas aleatórias.

— Fico feliz em ouvir isso... mas quem tem medo de você? – Ele quis saber. – Você é fofa igual a uma gatinha!

Dei um cotovelada nele.

— Sou fofa quando quero. Você nunca me viu dando ordens. – Encarei-o.

— Já te vi brava. E xingando tudo o que podia em finlandês... ou eu acho que estava xingando, não falo finlandês para saber o que você e seu avô conversaram na sexta... – Ele deu de ombros.

— Então eu não sou uma gatinha fofa. E nunca mais me chame assim!

— Por que não?

— Eu tenho um nome, Alex.

Gatinha Fofa.

— Para com isso, Estouradinho.

— Ei! Isso não.

— Então pare com o apelido que eu paro com esse.

— Tudo bem... essa gatinha tá mais para tigresa mesmo... – Murmurou e trocando de assunto, completamente, questionou – Vamos correr amanhã?

— Você trouxe a roupa de corrida e o tênis? – Respondi com uma pergunta, enquanto me ajeitava na cama.

— Já tá tudo guardado no seu closet. – Ele disse na maior tranquilidade. Me sentei com um pulo.

— Como é?

— Arranjei um espaço no meio das suas coisas para colocar as minhas.

Me embolei com a próxima pergunta e quase que me engasgo.

— Com que direito?

Alex nem se incomodou com a minha pergunta.

— Você é organizada que dá até nervoso, não ia querer a minha mochila eternamente em cima do divã do pé da cama, então guardei lá.

Encarei Alex que só me puxou e me deu um beijo.

— Vamos lá, Kat... daqui a pouco é você com suas coisas lá em casa mesmo. – Disse ao me abraçar e me manter com a cabeça em seu peito.

Então, em resumo, sete dias de namoro, Alex já tinha as chaves da minha casa, tinha conhecido meu irmão, era caçado pelo meu avô, tinha insinuado que queria dividir uma casa comigo, colocado algumas de suas roupas dentro do meu closet e... Ele realmente tinha dito “Resta saber se ela vai querer casar comigo?” na casa dos pais dele, na FRENTE dos pais dele??

Me encolhi em seu abraço e escondi meu rosto em seu peito.

— Que foi? – Perguntou curioso com o meu súbito movimento.

— Só pensando aqui.

— Quando você faz isso, quer dizer que você está pensando demais e está um tanto desconcertada... o que é?

E agora? Eu falava ou não?

— Kat... o que foi? – Ele tentou levantar o meu rosto, mas eu me mantive firme na posição e, para não falar nada, mordi meu lábio. - Se você não me contar, eu vou achar que é algo muito pior do que realmente é...

— Algo que você disse. - Joguei a bomba no colo dele.

— Quando?

— Na casa de seus pais.

— Vai ficar desesperada assim por conta da história da tourada... eles já superaram. Não precisa se preocupar.

Bem... ele não se lembrava, menos mal, ou não...

— Tem certeza? – Mantive a linha de raciocínio só para não ficar com cara de desesperada para desencalhar.

— Tenho... mas não creio que eles serão tão tranquilos quando souberem que você quer sair pulando de bungee jump por aí.

Esse era o menor dos meus problemas.

— Bem... então eu acho que vou me preocupar com isso quando o pulo acontecer, não é mesmo?

— Dentre todas as opções existentes, essa é a melhor.

Me ajeitei por ali e fechei os olhos, mas meu cérebro que sempre gosta de me manter ansiosa não se desligou de um único pensamento:

Alex tinha, indiretamente, me pedido em casamento naquela sala?

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Por incrível que pareça, nossa manhã foi controlada e pontual, assim, depois de corrermos, tomamos café com panquecas no Restaurante de Dottie (descobri que ela realmente é a dona do lugar!), conseguimos voltar para casa cedo, onde eu pude me arrumar sem correria e Alex também saiu bem arrumado.

— Onde vai hoje? – Perguntei ao preparar uma marmita para mim, sabendo que não tenho tempo para almoçar.

— Trabalho... – Disse. – Faz uma para mim?

— Não diga! – Respondi e me virei para pegar o que iria precisar para fazer o almoço dele.

— Dublê.

Meu estômago se contorceu.

— Cuidado, por favor. – Pedi.

— Sempre tomo, mas como você me pediu, vou tomar o dobro de cuidado, feliz? – Perguntou ao me dar um beijo.

— Sim, mas é sério, Alex. Eu fico preocupada com essas cenas, apesar de saber que tem todo um aparato de segurança, acidentes acontecem...

— Va dar tudo certo, Kat.

— Quanto tempo de gravação? – Perguntei curiosa, depois de lhe entregar o sanduiche que tinha feito.

Ele teve que pegar o celular para conferir.

— São três dias de gravações nessa semana. Mais quatro na semana que vem e cinco na última.

— Doze dias... – Somei rapidamente.

— Vou estar livre quando Olivia chegar! – Falou com um sorriso.

— Você realmente quer conhecer a minha sobrinha, hein?

— Você me falou que ela é como se fosse a sua filha. Quero conhecer a pessoa mais próxima a você.

— Tá bom... vou fingir que não sei que você quer é interrogar Olivia sobre o que eu fazia na Europa. – Respondi calçando os sapatos.

— Como você sabe? – Ele já estava pronto para sair, a mochila dependurada em seu ombro.

— Sou boa em ler as pessoas. Se lembra? – Falei passando por ele.

— Assim não dá para viver... vai sempre saber o que estou pensando?

— Não sempre... mas talvez quando você vai aprontar... Você tem um tique. – Apertei a ponta do nariz dele.

— Eu tenho um o que?

Já dentro do elevador, tive que respondê-lo.

— Você tem um tique. Um pequeno gesto que você faz que te entrega.

— E o que é?

— Boa tentativa, mas não vou te contar...

— E você tem um?

— Se tenho nunca me falaram...

— Então eu vou ter que descobrir. – Ele me olhou e deu um meio sorriso, seus olhos brilhando, entregando que ele tinha uma ideia nada benta na mente.

— Está fazendo agora! – Falei.

Ele se virou para o espelho do elevador e não achou nada.

— Isso não vai dar certo. – Falou segurando a porta do elevador aberta para mim.

— Vai dar muito certo. Isso vai me privilegiar muito. – Disse e roubei um beijo dele.

— Não quer uma carona? – Me perguntou. – Vou passar em frente ao seu prédio...

— Mas e para voltar?

— Eu posso te esperar, desde que você prometa que não vai ficar até duas da manhã trabalhando.

Olhei para o meu carro e depois para o dele.

— Tudo bem. – Cedi. E ele correu para abrir a porta do carro para mim. – Muito obrigada!

Alex assumiu o volante e saiu dirigindo daquele jeito alucinado dele e mal conseguimos trocar meia dúzia de palavras. Às 8:15 ele parava em frente ao prédio.

— E a dona do prédio chegou! – Brincou.

— Creio que você está otimista demais! – Respondi.

— O seu sobrenome está lá em cima, não deixa de ser seu... – Afirmou.

— Tudo bem, não vou brigar com você! Tenha um ótimo dia e tome cuidado, por favor! – Falei.

— Sim, senhora! – Me respondeu e me puxou para um beijo. – Um bom dia no trabalho para você também, Kat.

Ainda dei um selinho nele antes de descer do carro e antes mesmo que eu passasse pela porta giratória, escutei Alex arrancando o carro, assustando o porteiro do prédio.

— Bom dia! – Cumprimentei o porteiro.

— Bom dia... identificação. – Ele me pediu.

— Claro. - Tirei meu crachá da bolsa e mostrei a ele.

— Mil desculpas, Senhorita Nieminen! – Ele falou todo desconcertado. – Deveria ter reconhecido a Senhorita.

— Sem problemas, está fazendo o seu trabalho, Senhor Kim! Tenha um ótimo dia! – Falei ao entrar.

— O mesmo para a senhorita.

Peguei o elevador vazio, ninguém tinha chegado, e subi direto para o último andar. Abri a porta da minha sala para ver as três pilhas de serviço me esperando.

— Isso porque Milena me garantiu que o trabalho foi tranquilo na sexta-feira...

Guardei meu sanduiche na geladeirinha que tenho em uma salinha anexa, assim como minha bolsa. As pastas contendo as informações dos Portos seriam colocadas nos arquivos, então as deixei separadas. Só me restou me sentar para começar a trabalhar.

Fiz tudo o que estava na minha lista antes das nove, e peguei o serviço acumulado. Não era nada impossível, e antes que Milena aparecesse, tudo já estava pronto e em dia.

— Bom dia, Katerina. – Ela falou e fez uma careta para a mesa de reuniões, onde eu tinha colocado tudo.

— Bom dia, Milena! Espero que tenha treinado no final de semana. – Brinquei com ela.

— Pode apostar que sim! Levantamento de pipoca e corrida com obstáculos até a cozinha! – Ela respondeu brincando também.

— Ótimo, tá com o treino em dia!

— Isso tudo já é para mim? – Ela apontou para a mesa.

— Felizmente, sim. Só deixe as pastas pessoais de Murphy e Gomez aqui.

— Tudo bem. E como foi nos portos?

— O puxão de orelha serviu para alguma coisa... tudo o que estava parado, já está a caminho dos destinatários, com atraso, mas estão em movimento.

— Sei que não é o meu trabalho, mas perguntei só porque o Alto Escalão ligou...

— Vai dar tudo certo. – Afirmei.

Milena balançou a cabeça e pediu licença para sair.

Voltei para o meu trabalho e me assustei com a mensagem que recebi.

VOCÊ VIU ISSO?— Era Vic quem mandava a mensagem e junto tinha um link para uma reportagem.

Abri o aplicativo de mensagem e vi a miniatura do link quase não acreditei na minha má sorte.

A foto que estampava o início do texto era, exatamente uma foto de Alex comigo, nos beijando dentro do carro dele, na porta do prédio. A reportagem, sendo muito educada, pois era uma fofoca pura, era a seguinte:

ALEXANDER PIERCE ENCONTRA UM NOVO AMOR!

Depois de muito tempo, o galã Alexander Pierce, que praticamente parou de atuar de uns anos para cá e pouco tem aparecido na grande mídia e em eventos importantes, reaparece em cena. O herdeiro dos premiados atores Jonathan e Amelia Pierce foi visto na manhã dessa segunda-feira correndo na orla de Venice Beach na companhia de uma bela e misteriosa loira e, mais tarde, os dois trocaram um beijo apaixonado antes que ela descesse do carro dirigido pelo ator e entrasse em um prédio comercial no centro de Los Angeles. Não sabemos o nome da sortuda que conquistou um dos homens mais bonitos da cidade, mas está claro, pelo sorriso de Alex, que ele gosta muito dela. Essa é a primeira vez que Pierce, 33, é visto com alguém desde que o badalado relacionamento com a supermodelo Suzanna Cameron chegou ao fim, há três anos. Enquanto Suzanna seguiu em frente e está de casamento marcado com um empresário italiano, Pierce resolveu dar um tempo dos holofotes. Nossas esperanças são as de que ele volte para o jet set o mais rápido possível”.

Arregalei meus olhos e senti meu estômago se contrair. Isso era péssimo. Muito, muito ruim.

Era tudo o que não podia acontecer no momento. Não quando eu queria que Alex voltasse a fazer o que gosta e quando eu precisava de toda a concentração para tentar me manter no meu posto.

Kat... Katerina, você está aí?— Outra mensagem de Vic chegou na barra de notificações.

Sim. Estou.

Eu sinto muito que a mídia já esteja sabendo...

Eu também. Mas como você viu tão rápido?

Dei azar de estar lendo uma fofoca de ontem... sobre a Mia e o pequeno desfile que ela fez na saída de um restaurante... aí, nos links relacionados, apareceu essa matéria do Alex. Abri de curiosa, mesmo sabendo que tinha 100% de chances de ser sobre vocês.

Entendo.— Eu estava desesperada por dentro, mas meu corpo não conseguia se mover.

Kat... olha, não sabem quem você. Não tiraram uma foto do seu rosto...

Vic, basta o meu perfil para meu avô me reconhecer. Para meus pais me reconhecerem. Não tinha hora pior...

— Por que você pegou carona hoje?

— Não sei... ele ofereceu, disse que passaria na frente do prédio para ir para o estúdio, eu só aceitei. Sem pensar. Eu só queria passar mais alguns minutos ao lado dele.— Digitei e tive que respirar fundo, para manter as lágrimas de ódio no lugar.

Vai dar tudo certo, Kat! Não ligue para a mídia ou para o seu trabalho. Sua vida pessoal é só sua. Posso falar só uma coisinha...

Se eu falar não, você vai falar de qualquer jeito, Vic.

Vocês formam um casal muito bonito. E não estou falando como sua cunhada e amiga. Falo como uma pessoa que viu a foto, que viu vocês dois juntos pela tela de um celular. Vocês se completam de uma maneira que eu nunca vi. E irradiam felicidade.

Eu ri. Tendo visto os meus passados, as palavras de Vic eram só para confirmar o que eu já sabia. Fomos feitos um para o outro... contudo eu não sabia se iríamos ficar juntos.

Kat, saiba que você tem o nosso apoio. O Kim gostou do Alex... eu também. Ele parece ser muito gente boa e te olha como se ele simplesmente fosse vencer qualquer obstáculo só para te ver feliz.

Eu faria o mesmo por ele, Vic.

Ela demorou para responder.

Você nunca falou isso sobre nenhum dos seus namorados!!!

Eles não mereciam. Nenhum deles.

Está sério assim?— Ela perguntou e eu pude ver a minha amiga encarar o telefone com as sobrancelhas levantadas e mordendo a ponta da caneta.

Sim. Ele me chamou para morar com ele.

O QUE?? Katerina vocês estão juntos há oito dias! Como isso aconteceu tão rápido?

Eu descobri muita coisa na sexta-feira, Vic. Coisas que eu não deveria ficar sabendo jamais. E quando eu contei para o Alex, ou melhor, quando ele me fez falar tudo o que estava engasgado na minha garganta, e depois de absorver tudo, ele veio com essa proposta. Eu quero sair daquele apartamento, eu preciso sair dali, e ele me ofereceu um teto temporário... mas você sabe o que esse temporário iria virar, não sabe?

O que você descobriu? Quem te contou?

Meu casamento que não aconteceu era arranjado. Cavendish e meu avô fecharam o acordo para que eu me casasse com Lucca e, assim, ele assumisse a empresa como CEO. Se eu me casasse com ele, eu jamais sairia de onde estava. Seria eternamente a esposa do CEO.

COMO É? Eu... o Sr. Matti? Ele fez isso com você?

Sim, Vic. Ele fez.

Como você sabe?

Não posso te contar, não quando a minha fonte está perto demais de Matti.

Eu não vou contar para o Kim, ele nem aqui está. Quem?

Olivia. Ela ouviu essa conversa.

Printei a conversa do direct do Instagram e passei para Vic. Dez minutos depois, veio a resposta.

Aceita ir morar com ele, Katerina. Que se exploda o seu avô, o seu emprego. Vai! Ele te faz feliz. Eu sei que faz, eu vi o seu sorriso no sábado, eu vejo na forma como você fala dele. Você AMA o Alex. Problema se vocês dois só se conhecem há oito dias! Manda o seu avô pra P... você entendeu, né?

Obrigada pela dica, Vic.

Faça isso! Eles vão falar muito, mas a vida é sua. Você sabe ao lado de quem quer acordar e do lado de quem quer ir dormir.

Fala por experiência própria?

Você foi a única que apoiou Kim e a mim quando fomos morar juntos com dois meses de namoro. Eu só estou retribuindo o apoio. Sai daquele apartamento. Sai dos comandos de seu avô. Ele é seu chefe no seu trabalho, não na sua vida. Ele não manda em você e nas escolhas que você faz. Com quem você dorme, se levanta, vai correr, quem você beija ou pega carona, isso é problema seu!!

Muito obrigada, Vic. De coração.

Se decidiu?

Acho que eu meio que já tinha me decidido ontem... mas precisava de alguém que me fizesse enxergar essa decisão.

Só não engravide agora, apesar de que um bebê de vocês.... olha, seria uma das crianças mais bonitas do mundo.

Lá vem você querendo sobrinhos. Por que você não me dá sobrinhos?

Trabalhando nisso... mas é que esse trabalho é o único que... bem, eu vou te poupar dos detalhes...

Por favor, não quero essa imagem mental.

Kkkkkkkk sua besta! Mas eu só preciso saber de uma coisa... quantas tatuagens são?

Não sei... não vi todas ainda. Posso dizer que são muitas.

Como ainda não viu todas?! Ele te chama para morar com ele e vocês ainda nem....

Vamos dizer que nas duas vezes que o clima esquentou, sempre teve algo que nos interrompeu bem naquele momento.

Meu Deus, que azar! Melhor sorte da próxima vez.

Foi a minha vez de rir.

É... assim espero.

Vai correr assim?

Eu dei de ombros, me esquecendo que Vic não poderia me ver.

Com ele não é correr, Vic. Não mesmo.

Amiga, pula de cabeça! Vai fundo! Você está amando loucamente o Alex. E eu estou muito, mas muito feliz por você!!

Obrigada, Vic! Obrigada pelos conselhos. Tenho que trabalhar, beijos.

Beijos e boa sorte hoje à noite!

Comecei a rir. Minhas amigas são loucas.

Voltei para a foto que tiraram. Não dava para ver o meu rosto. Não mesmo. Só era possível ver Alex, mesmo na sequência de fotos rápidas não tinha um foco muito bom em mim. Só dava para ver o meu cabelo que hoje está solto.

Faltavam poucos minutos para a reunião com Londres. E eu estava a ponto de enviar uma mensagem para Alex, até que o próprio me mandou uma.

Kat, por favor, não se desespera. Em menos de 24 horas isso passa. Ainda posso te pegar aí?

Não estou desesperada, Alex. Pode ficar calmo. E sim, pode passar e... se quiser guardar o carro na garagem para ninguém te reconhecer na rua, só me avise quando estiver chegando e me passe os dados do seu carro, para que ele entre sem revista.

Vou conhecer “A Sala do Trono”?

Vai sim.— Afirmei.

Kat... me desculpe, eu deveria ter percebido que alguns deles estavam  por ali.

Alex, não foi sua culpa. Eu te beijei de volta! Não se esqueça disso. Mais cedo ou mais tarde você sabe que isso iria acontecer.

Kat...

Estou falando a verdade, te explico à noite. Depois das 18:00 horas só tem as faxineiras.

Bom saber, te vejo aí.

Vou te esperar. Beijos, Alex. Jeg elsker deg!— Digitei.

Outra para o bloquinho... — Foi a resposta que recebi. – Em que idioma está? E, o que é mesmo?

Olhei para a tela do celular e disse em voz alta:

— Eu te amo, Alex!! Mais do que você imagina e como resposta, mandei:

Norueguês.

Norueguês... sabe que eu sempre tive a sensação de ter sido um viking em alguma vida passada.

Eu quase morri do coração.

Deve ser porque você não teme a morte. Só por isso...— Foi a resposta que mandei.

É... deve ser. Te vejo à noite. E se eu repetir aquela frase em norueguês você vai ficar chateada?

Até de noite, Alex. E não, não vou ficar.

Então, me imagine como um viking te dizendo isso: Jeg elsker deg.

O problema era que eu não precisava imaginar. Eu sabia exatamente como era a versão viking de Alex.

Terminei a conversa por aí e me voltei para o trabalho. Eu tinha trinta minutos para treinar a minha cara de paisagem e fingir que eu não sabia de nada sobre a foto que estava rodando na internet.   


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Notas finais do capítulo

Muito obrigada a quem leu!
Até o próximo!



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