Presos Por Um Olhar escrita por Carol McGarrett


Capítulo 131
Desculpas


Notas iniciais do capítulo

Sei que demorei, mas culpem a falta de inspiração para continuar a escrever... e também excesso de trabalho.
No mais, boa leitura.



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Eu não deveria ter procurado o nome da Kat na internet. Sei que não era primeira vez que eu fazia, mas dessa, os resultados foram completamente diferentes.

A Katerina que apareceu era a minha Katerina.

Diversas capas de revistas de qualidade duvidosa, várias imagens dela, seja no aeroporto nesta noite, seja em Singapura e, até mesmo vestida de noiva. E as manchetes eram ainda piores.

Algumas falavam das roupas, do jeito dela de se vestir, mas aí começaram a falar do dinheiro, dos carros e de como ela vivia. Não falavam do trabalho, mas insinuaram que ela era nada mais do que uma interesseira.

Mais algumas páginas de Instagram, uma até dedicada a ela, e eu vi o vídeo.

Não aquele que Pepper tinha acabado de me mostrar. Mas outro. A reprise de nossa briga. Mais precisamente, a parte em que ela fala que está tudo terminado.

Como alguém poderia ter esse vídeo se estávamos dentro da nossa casa?

Eu não acreditei no que vi e tive que ver de novo.

Era realmente a nossa casa. Fiquei com o vídeo passando em looping na tela do celular até que fui trazido de volta ao presente por alguém que batia no vidro da janela, quando olhei para o lado e vi Will.

— O que você ainda está fazendo aqui? – Ele esbravejou.

Abaixei o vidro e entreguei o celular ao meu irmão. Will pegou e viu toda a briga.

— Isso aqui é na sua casa?

— Sim.

— Foi por isso que você veio parar aqui hoje. – Não era uma pergunta, como meu irmão dissera, ele me conhecia bem.

— Você estava certo.

— Mas como tiveram acesso a isso? – Will questionou e nesse momento chegou Pepper, que viu o vídeo todo e identificou onde a câmera estava.

— Por que você colocou uma câmera de segurança no pilar da escada?

— Eu não coloquei nada ali.

— Mas é onde isso está!

Lembrei de Loki fitando o pilar na madrugada. O cachorro mais fiel de Kat tinha visto o perigo, me alertado e eu não fiz nada.

— Se isso ainda está lá, estão filmando a Kat em tempo real. – Will falou.

A cada segundo a situação só ficava pior.

— Agora, quem teve acesso à casa de vocês para poder fazer isso? – Pepper perguntou.

E só um nome me veio à mente.

Will nem me esperou responder, deu a volta no carro e se sentou no banco do carona.

— Eu também vou! – Pepper falou já batendo a porta de trás. – Mas, só uma pergunta, quem?

— Lee. – Will e eu respondemos.

— Por que ele faria isso? Não faz sentido! – Minha cunhada nos rebatia.

— Ele deve ter algum plano. Além de que, nunca gostou da Kat. – Respondi vagamente.

— Você tá brincando...

— Não, logo na primeira vez em que a viu, ele a taxou de alpinista social.

— E você não fez nada?!

— Kat o colocou no lugar. Disse quem era. Mas creio que foi pior. Desde então, eles se evitam, ou melhor, Kat evita encontrar com Lee.

— Suponhamos que foi o Lee quem colocou essa câmera e passou as informações para a mídia. O que ele ganha agora com isso?

— O nome dele sendo falado como meu representante.

— Só isso? – Pepper falou. – Parece arriscado demais para pouco resultado.

— Eu não faço ideia.

— É, mas para saber, tem que estar vivo. Será que você pode levantar um pouco esse pé. Você passou no sinal vermelho ali atrás e quase que fomos acertados por um caminhão! – Will reclamou.

— Já estamos chegando... – Mencionei quando viramos a esquina.

— Ao inferno. – Meu irmão comentou ao ver a quantidade de gente parada no portão da minha casa.

— Vai dar para entrar sem ninguém entrar junto? – Pepper questionou assustada.

— Parece que sim... o portão está fechando.

— Quem está lá dentro que tem a chave? Eu sei que nossos pais têm as chaves das casas para quando estamos viajando, mas em quem mais você confiou a sua?

— Em ninguém, Will.

Aproximamos o carro devagar, até certo ponto sem chamar a atenção, mas como sempre, alguém tem que reconhecer a placa e gritar. Começaram a tirar fotos e só pedimos para Pepper se abaixar. Eu não desviei os olhos, sempre focado em não passar por cima de nenhum pé, e Will permaneceu sério.

Alex, Alex, a Katerina já foi embora depois da briga de vocês?

Alex, era um romance de relações públicas para melhorar a sua imagem e ela foi embora porque queria mais dinheiro?

Ela devolveu o anel de noivado?

É verdade que você já seguiu em frente?

— Bando de abutres. – Murmurei entredentes. E foi a conta de o portão abrir o suficiente para passar, que eu entrei. E lá eu vi dois carros que não pertenciam a mim ou à Kat.

— Tudo bem, aquele carro é o do pai. Talvez a Kat tenha ligado para eles, já que estão brigados. Mas e o outro?

— Lee.

— Ele tem a chave da sua casa?

— Não deveria. – Respondi, parei o carro de qualquer jeito, corri até a porta principal. Nem tinha tirado o tênis, quando meu pai veio e me segurou pelos ombros. – A Kat ligou para o senhor?

— Não. Viemos porque vocês não falaram nada depois do aeroporto. Agora, por que Lee está aqui?

— Não faço ideia... ou faço.

Pepper correu até o pilar perto da escada e procurou pela câmera, não encontrou nada.

— Ou Lee pegou ou a Kat achou... – Ela falou e nesse momento escutamos um grito e vinha de dentro do escritório da Kat.

Meu pai bem que tentou me segurar, vi que minha mãe estava mais perto da porta, quase pronta para abri-la, e sem pensar muito, abri com um chute, e pelo visto acabei por quebrar a maçaneta e vi Lee, com o punho cerrado, se assomando sob Kat, que estava caída no divã.

Avancei sobre ele, peguei-o pelo colarinho e quase que o jogo contra a parede de vidro.

— O que você pensa que está fazendo? Acha que vai bater na minha noiva? Acha que vai encostar um dedo nela? – Gritei, apertando ainda mais meus dedos em volta do colarinho da camisa. A raiva por saber que Kat estava certa e eu não levei sua opinião a sério tomando conta de mim.

— Que isso garoto! Você entendeu tudo errado. Eu não ia bater na Kat... – Ele tentou se desvencilhar de mim, mas eu o segurei com mais força, Lee tinha muito o que se explicar. Muito mesmo.

— Quem iria bater na minha nora? – Minha mãe entrou logo atrás de mim e foi direto para perto de Kat, ficando por lá, como se fazendo uma barreira entre ela e Lee. A posição de proteção que ela assumiu diante de Kat me distraiu e quando vi meu pai e meu irmão me tiravam de cima do agente, foi a minha vez de resistir e, estava quase agarrando o colarinho novamente, para exigir as explicações quando minha mãe ordenou:

— Jonathan, William, tirem Alexander daqui. Agora! - Seu tom de voz não admitia discussão ou questionamento.

Meu pai me segurou por um braço, Will pelo outro e os dois começaram a me arrastar para fora do escritório, Pepper segurava a porta aberta e quando passamos ela a fechou, ficando de guarda.

— Mas por quê? – Protestei ainda sem entender os motivos de minha mãe de dizer isso e de se colocar entre Kat e eu. Não é como se eu fosse brigar com ela. Eu lhe devia desculpas.

Eles só foram me soltar quando já estávamos na sala, até tentei voltar, porém Pepper não me deixou entrar. De alguma maneira ela acatava alguma ordem de minha mãe também.

— Você fica aqui, Alexander. – Meu pai mandou como se eu ainda tivesse cinco anos e foi para dentro do cômodo e quando ele entrou, Stark e Thor saíram.

Tentei me levantar novamente, só para ser parado por Will.

— Foi você que falou que eu deveria fazer algo pela Kat. – Reclamei tentando me desvencilhar de sua mão em meu ombro.

— É, quando ela não tinha aqueles dois como seguranças.

— Não faz diferença. Eu...

E antes que eu me levantasse, meu pai passou pela sala ao lado de Lee, que tinha os olhos arregalados e uma postura de derrotado.

Quando me virei para procurar pela Kat, ela saía de braços dados com minha mãe e com a mão esquerda no rosto, Pepper a ajudava também.

Com três passadas cheguei até elas e afastei a mão de Kat de seu rosto, vendo o enorme hematoma que já começava a arroxear, em seu olho e bochecha esquerda.

Como eu não tinha visto que Lee a tinha acertado era um mistério. E ali estava ela, machucada, ferida, pelo homem que ela me disse ser o causador de todos os problemas e eu rechacei a ideia culpando-a por estar imaginando coisas. Eu não sabia se queria me bater ou queria sair atrás de Lee e bater nele... fiz menção de xingar, e fui cortado por minha mãe.

 - Katerina precisa da nossa ajuda, Alexander. Precisa de você focado aqui e agora. Seu pai vai lidar com Lee. E é isso que importa.

Mais uma vez minha mãe estava certa, assenti com a cabeça e com cuidado, puxei Kat para perto de mim, sustentando o seu peso até o sofá da sala, onde a sentei, sentando-me logo em seguida ao seu lado, escorando suas costas.

Pepper chegou mais perto de Kat e pediu licença para examinar seu olho.

— Sei que deve estar doendo, mas não machucou nada sério. Vai ficar esse hematoma por um tempo. Tome, coloque esse gelo por dez minutos e mantenha a cabeça o mais alta possível para não inchar muito. – Entregou para Kat uma bolsa de gelo e depois foi se sentar ao lado de Will. Minha mãe tinha se sentado aos pés de Kat e olhava dela para mim, depois de conferir as horas no relógio de pulso, gesto que eu imitei, só para garantir que Kat não ficasse muito tempo com o gelo sob a pele.

Tomei fôlego para conversar com a Loira, quando ela simplesmente perguntou:

— Como vocês sabiam que eu precisava de ajuda? E como Lee entrou nessa casa?

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Eu ainda estava um tanto desorientada por tudo o que tinha acontecido desde o momento em que desembarquei do avião, e, depois de apenas algumas horas, eu tinha uma bela dor de cabeça, um olho roxo e muitas perguntas para serem feitas.

E assim que Pepper me entregou a bolsa de gelo, e eu notei que Dona Amelia lançou um olhar para o relógio de pulso para marcar o tempo, tomei coragem e perguntei:

— Como vocês sabiam que eu precisava de ajuda? E como Lee entrou nessa casa?

Os quatro respiraram juntos e depois de se olharem, Alex, que estava às minhas costas, começou o seu relato. Pepper foi preenchendo algumas lacunas como no caso da live no Instagram e, depois foi a vez de Dona Amelia.

Em resumo, eles não sabiam que eu precisava de ajuda, mas vieram para me dar apoio por conta de todos aqueles paparazzi que estavam de tocaia na porta da casa. Calhou que chegaram juntos e no exato momento em que eu mais precisava.

Eu dei sorte dessa vez. Ou melhor dizendo, mais uma vez.

— E como Lee entrou aqui? Ele tinha chave, passou pela porta que você trancou quando saiu. - Olhei para Alex que tinha se levantado para guardar a bolsa de gelo, já que o tempo tinha terminado.

— Eu não sei, Kat. Juro para você, eu não dei chave, controle da garagem ou a senha do alarme para ele.

— Ele deve ter pegado em algum momento em que o deixamos sozinho. – Falei a hipótese mais óbvia.

— Está mais certo que ele fez isso no mesmo dia em que colocou a câmera. – Ele completou.

Concordei com a cabeça.

— Mas, como você achou a câmera? – Will me perguntou.

— Foi Loki. – Respondi simplesmente. – Ele ficou encarado o pilar e rosnando, só segui o olhar dele e achei a câmera.

— Chegou a acessar o conteúdo?

— Sim, Dona Amélia. Eu vi tudo. E Lee deve ter visto também, pois a câmera pode ser acessada remotamente, desde que conectada a uma rede sem fio, e ela estava conectada com a dessa casa.

Mais uma vez os quatro se olharam.

— O que foi?

— Ele entregou o vídeo para as páginas de fofoca.

— Qual parte? Tem gravação de mais de um mês ali.

— A que iria fazer mais sucesso na mídia... – Alex respondeu sem me olhar.

E a verdade me assolou. Se ter brigado com ele já foi ruim o bastante, e ainda pior ter visto o vídeo... saber que o mundo também estava vendo aquilo era capaz de me deixar enjoada.

— Mas... eu claramente falo o nome dele... eu o culpo no vídeo...

— Ele deve ter editado essa parte... ou só escolheu a “melhor” parte. – Will comentou, fazendo aspas com os dedos para demonstrar qual era a melhor parte.

E eu sabia que parte era. A parte em que eu falo de terminar tudo.

— Isso explica as mensagens que eu recebi.

— Quais mensagens? – Dessa vez era minha sogra.

— Repórteres, ou assim se identificaram, querendo que eu desse uma declaração. Me mandaram o vídeo, mas eu não imaginei que já estava circulando na mídia...

— Kat, eu preciso do seu celular. – Dona Amélia falou.

Olhei espantada para ela.

— Está em cima da mesa do escritório. – Indiquei.

Observamos ela ir rapidamente até o cômodo e voltar.

— Vou precisar da sua senha e da sua autorização para levar para uma pessoa de confiança.

— Mãe? – Alex perguntou.

— Só peço que confiem em mim.

Disse a senha do celular para ela e, ela fez outro pedido, um carro.

Alex se levantou para pegar a chave e entregar para a mãe. Na sala ficamos Will, Pepper e eu, sem entender nada.

— Isso foi estranho. – Will comentou assim que escutamos Dona Amélia ligar o carro.

— Bem-vindo ao meu mundo. – Falei sem emoção alguma. – Ainda estou tentando processar tudo o que aconteceu nas últimas horas. Creio que mais nada vai me assustar hoje.

— E por falar em acontecimentos, está na hora de mais gelo. - Pepper falou e se levantou.

Como Alex ainda não tinha voltado, Will só me disse:

— Eu sei que você deve estar querendo a cabeça do meu irmão, ou vai querer assim que assimilar tudo, porém, eu te peço que pelo menos dê tempo a ele de se desculpar.

Eu nem estava pensando mais na briga, mas nas consequências de tudo o que aconteceu de madrugada.

— Ele não deveria ter feito o que fez e, muito menos tê-la deixado sozinha, ele merece todas as palavras que você quer jogar na cara dele e até mesmo ser relegado a dormir na cama do Stark. Mas deixe que ele se desculpe, de verdade, depois dê um belo soco na cara dele ou uma joelhada você sabe onde, ele está merecendo. – Acabou de falar e se levantou assim que Pepper reapareceu com a bolsa de gelo. – Vamos deixar vocês sozinhos, mas qualquer coisa, é só ligar que viremos o mais rápido possível.

— Obrigada. -  Agradeci tanto a Pepper quanto a Will.

Pepper ainda me deu mais algumas instruções sobre o olho roxo e depois saiu seguindo o noivo. Os dois encontraram com Alex na porta. Eu escutei que falavam sobre algo, mas não entendi o conteúdo da conversa.

Alex levou um tempo para aparecer e, quando o fez, se sentou na mesinha de centro, de frente para mim e, depois de respirar fundo, falou.

— Kat, eu te devo muito mais do que desculpas dessa vez.

Ia tentar evitar que uma nova briga surgisse entre nós, mas Alex me cortou na hora.

— É sério, Katerina. Eu sei que dessa vez passei dos limites com você, desde o momento em que essa história começou. Eu achei que estava fazendo o melhor em te deixar no escuro e resolver as coisas por aqui, sem pedir a sua opinião, porque eu estou acostumado com esse mundo. Acontece que eu achava que conhecia como as coisas funcionam, porém não conheço. A pessoa que era da minha confiança me deu uma facada nas costas e te entregou de bandeja para a mídia. Vendeu todas as suas informações, eu só não sei por qual motivo... – Ele parou para tomar um ar e eu tive que contar o que sabia.

— Para que eu saísse correndo e ele vendesse uma outra imagem sua. A de conquistador.

Alex levantou uma sobrancelha diante da minha frase.

— Eu perguntei para Lee. Tive que fazer. E ele falou. Disse que você venderia mais se tivesse se envolvido com a sua colega de elenco, se tivesse surgido um romance de bastidores. Meio que para atrair o público para a estreia, para ver vocês dois juntos... e, claro, fazer mais sucesso com as mulheres. Lee disse que a minha presença atrapalhou os planos dele. Que você só falava de mim, reclamava que estava longe... e não foi mais do que um cavalheiro com a outra atriz. Assim, ele teve a ideia de me assustar e, então, era só esperar que eu me apavorasse o suficiente para sair correndo de você e de tudo isso.

Alex se levantou da mesinha e começou a caminhar pelo cômodo. Ainda calado.

— Eu não sei o que você pensa de tudo isso. Eu só sei que não gostei de ser espionada e vendida dessa forma. Vi algumas manchetes que saíram hoje. Eu sei que é mentira, sei que tudo não basta de especulação, mas achei ainda mais estranho terem fotos minhas que nem Lee tinha acesso. Eles tinham até o meu número, Alex. E isso Lee não tinha. É isso que me assusta. A facilidade com a qual eles chegaram até mim.

— Te prometo que vamos investigar sobre isso.

— Não duvido. Dona Amelia disse que tem outra firma ou pessoas sendo o backup para o caso de Lee falhar. Creio que é para eles que ela levou o meu celular.

Meu noivo cessou o ir e vir e ficou parado olhando para o jardim, creio que pensando e ficou assim por muito tempo, tempo suficiente para que eu já tirasse a compressa do rosto.

Fui até a cozinha para guardar a bolsinha de gel na geladeira e Alex ainda estava parado na sala, quando escutou meus passos, recomeçou a falar:

— Eu sei da sua preocupação com tudo isso, Kat. Sei que isso ainda vai te tirar o sono e que, por mais avisada que você estivesse, ninguém te preparou para as perguntar intrusivas e as reportagens mentirosas. Porém, eu gostaria de falar sobre nós.

— Nós?

— Sim. Eu... preciso que você me dê a quarta chance. Que você me perdoe mais essa vez. Porque tudo isso também foi uma lição para mim. Eu achei que tinha feito o necessário para te deixar segura, para te livrar dos abutres, acontece que eu te entreguei para eles.

— Você nem imaginaria que Lee estava fazendo isso.

— Você não gostou dele desde o primeiro contato que tiveram...

— Alex, por favor, eu te falei em novembro passado que eu conseguiria conviver com Lee desde que ele não se metesse na nossa vida, eu sei, ou pelo menos sabia, que a sua família confiava nele. Assim, deduzi que ele faria um ótimo trabalho te recolocando na mídia novamente. E, não podemos negar, ele fez isso.

— E te jogou aos leões também.

— Para ser bem sincera, eu acho que ele tinha a ideia de que não iríamos durar. Que talvez o nosso relacionamento não superasse a distância das gravações na Europa ou as incontáveis horas de set. Quando viu que nós conseguimos navegar por isso, ele teve que buscar uma saída para vender a sua imagem. E cá entre nós, é muito mais fácil, e rápido, vender a imagem de um solteiro cobiçado do que um ator que se declara para a noiva na primeira entrevista em anos, como você fez...

— Você está perdoando o Lee?

— Não, Alex. Estou te mostrando como ele pensa. Eu não sou capaz de perdoar uma pessoa que me humilha e bate em mim. Posso passar por cima do meu orgulho ferido e pedir ajuda, posso entender os seus motivos para tentar me ajudar, mas não sou um anjo de candura para sair perdoando todas as pessoas que me querem mal. Isso não posso fazer.

— E quanto a mim?

— Você é um tolo superprotetor que acha que tem que me proteger até mesmo da minha sombra, Alexander. Desde o primeiro fim de semana que passamos juntos você vem fazendo isso. Às vezes é lisonjeiro, como quando você quis atravessar o Atlântico e agarrar meu avô pela camisa só porque ele tinha me usado, mas, às vezes você tem que aprender que eu tenho a minha opinião com relação a como devo levar a minha vida. Eu aprecio e, também preciso da sua ajuda, mas não quero e nem preciso que você tome as rédeas da minha segurança para ti. O que aconteceu hoje, e é bem capaz que torne acontecer no futuro, tinha que ser discutido entre nós dois. Você deveria ter me ligado, independente da hora, para me avisar do caos que estava aqui em Los Angeles. Eu posso não entender nada do seu mundo, mas sei o que é melhor para mim. E ser pega de surpresa, como foi nessa madrugada, não foi a melhor das sensações. Eu fiquei perdida, assustada, revoltada e furiosa com os paparazzi e com você. Eu confio em você cegamente, não sei se é certo, ou errado fazer isso, mas é a verdade, e eu espero que você converse comigo sobre tudo, não que tente me proteger do seu mundo, como se eu fosse uma boneca de cristal. Porque se vamos seguir com que temos, precisamos ser sinceros um com o outro, precisamos confiar e, principalmente, conversar sobre todos os assuntos e problemas que vão surgir, Alex. Somos uma dupla, o que te afeta, me afeta também e vice-versa. Assim, por favor, não tente me blindar do seu mundo e dos problemas que surgirem. Conte-me o que está acontecendo e juntos, podemos achar uma solução. E, principalmente, eu te peço, faça isso quando se tratar de mim. Por favor.

Foi a vez de Alex se sentar no sofá e encarar um ponto na parede.

— Eu sou um tolo superprotetor?

— Sim. Você é. E não é só comigo.

— E o que você acha disso?

— Dessa sua mania de querer me proteger de tudo?

— Sim.

— Às vezes me sufoca. – Fui sincera. – Dá a sensação de que você precisa que eu fique o tempo todo perto de você, para que você me defenda de tudo, até mesmo de uma formiga. E isso não é bom, nem para mim, nem para você.

— E você não gosta disso...

— Eu gosto de você. Sei que você não faz por mal, Alex. Mas, tem que se controlar e conversar comigo primeiro. Parece que você tem medo de que vá me perder a qualquer segundo, se você não tiver a certeza de que estou bem. Eu te juro, depois daquela nossa briga em Londres, eu entendi o seu medo, porque a minha mãe me explicou o que você passou quando eu fiquei em coma. E, somando a sua experiência com as experiências que meu pai e meu irmão passaram, era mais do que entendível que vocês quisessem me proteger. Lá eu reagi mal, muito mal, e nunca pedi perdão por ter saído xingando Deus e o mundo. Mas nessa noite... dessa vez foi você quem passou dos limites.

— Eu deveria ter te ouvido. Você desconfiou da pessoa certa...

— Não, você deveria ter conversado comigo antes de ter colocado esse problema nas mãos de um terceiro. Era isso que você deveria ter feito. Porém, é fácil dizer isso agora que estamos mais calmos.

Alex parou para absorver as palavras que eu havia dito.

— E como vamos ficar? Ainda mais depois do que você disse de noite?

Dei de ombros.

— O que você quer fazer? Acha que devemos dar um tempo? Quer que eu saia daqui por algumas semanas até que você se situe sobre o que você realmente quer de nosso relacionamento e eu também? – Dei a opção, mas algo dentro de mim se contorceu violentamente em pensar que poderíamos estar terminando tudo.

— Eu não quero que você vá embora. Nem dessa casa, nem da minha vida.

Fiquei um tanto aliviada com a resposta, mas ainda não era o que deveríamos fazer. Algo me dizia que precisávamos mais do que algumas confirmações de nosso amor. Que precisávamos ter certeza de que éramos certos um para o outro.

— Alex... – Suspirei antes de continuar, era complicado expressar meus sentimentos em palavras. – Você está certo de que vai confiar em mim com relação à minha segurança? Você entende que eu preciso decidir por mim algumas questões?

E aqui ele levantou a cabeça e me encarou. Essa era a conversa mais séria que tínhamos desde que nosso relacionamento relâmpago começou.

— Você confia em mim para te ajudar com algumas coisas da sua carreira. Confia em mim para me contar tudo o que acontece nos bastidores do seu trabalho, confia em mim para que fique ao seu lado em um tapete vermelho e, até mesmo, quando você vai dar uma entrevista, mesmo que ninguém me veja. Você pode, por favor, relaxar quando se diz respeito a mim? Eu sei que deve ter imagens que vão e vem na sua mente quando se trata de mim. Eu sei que a minha história de vida não te dá uma paz para me deixar por mim mesma, mas, por favor, entenda que eu preciso disso. Você é o meu noivo, Alex. Não meu segurança.

— Você vai aprender a pedir ajuda quando precisar? Porque você não faz isso.

— Se eu prometer que passo a pedir ajuda quando precisar, você vai relaxar quanto ao fato de querer me proteger?

— Sim. Eu vou.

— Então temos um trato. – Estendi minha mão na sua direção. – Não temos?

Só que Alex não me estendeu a mão de volta, ele enlaçou a minha cintura e me fez sentar em seu colo.

— Somos dois malucos, não somos?

— Não somos perfeitos, Alex. E o meu pior defeito faz com que o seu apareça também. Se eu não fosse tão teimosa, talvez você não precisasse achar que deva me proteger de tudo.

— Temos que achar um meio termo para isso.

— É. Fácil não vai ser. Velhos costumes demoram para desaparecer. – Comentei.

— E como ficamos?

— Você acha que eu realmente consigo terminar tudo com você? Mesmo sabendo que você é um tolo superprotetor?

— Eu tinha que me apaixonar justamente pela mulher mais cabeça dura e avessa à ajuda do planeta... – Ele falou.

— Pois é... dizem que os opostos se atraem. – Dei de ombros.

— Acho que somos a prova viva disso.

— Ou só cruzamos o caminho um do outro porque temos que aprender algo ainda. – Completei.

Alex somente me olhou nos olhos, depois abriu um sorriso. Foi-me impossível não sorrir junto. Porque, por mais problemas que tivéssemos, por mais confusas que as linhas entre o amor e a superproteção ficassem, era impossível para mim não ficar junto dele.

Ainda haveria mais brigas, mais ameaças de terminarmos tudo. Nenhum casal é imune a brigas e discussões, até porque são duas pessoas querendo que um relacionamento dê certo, e, às vezes, as ideias que temos de relacionamento perfeito não é a mesma da outra pessoa... mas cabia a nós dois encontrar o meio termo perfeito. Ou pelo menos, chegarmos a um impasse que fosse bom para nós dois.

E, com relação a nós dois, eu sabia que tinha que aprender a pedir ajuda, mas Alex tinha que aprender que não tem como ele me salvar de tudo.

Nosso caminho até a felicidade completa ainda era longo e teríamos que aprender muito um com o outro, todavia, estávamos no caminho certo. Disso eu tinha certeza.

Alex ainda me olhava nos olhos e depois de um tempo, puxou meu rosto de encontro ao seu, colando nossas testas.

— Desculpe por toda essa bagunça. – Ele sussurrou e deu um beijo em cima do meu olho roxo.

— E desculpe as minhas palavras de madrugada...

Alex me abraçou apertado, me mantendo o mais próximo de seu corpo que ele conseguia.

— E como fica a sua carreira agora? – Perguntei depois de algum tempo. – Lee não vai mais te representar.

— Você pode não saber, mas nunca é só um empresário. Lee era de confiança, ou pelo menos eu achava que era, era o vínculo imediato com os estúdios. Outras pessoas podem fazer isso.

— Tem certeza?

— Kat, nem por todas as conexões do mundo eu confiaria nele de novo. Ainda mais depois do que ele fez com você.

Olhei intrigada para ele, agora temendo que a carreira que ele tinha acabado de retomar, pudesse acabar.

— Dessa vez, confie em mim.

— Vou confiar. – Falei. – E como estão as gravações?

— Hoje eu volto só depois do almoço e fico até mais tarde. Você vai ficar bem?

— Vou. Até porque tenho que trabalhar também. Só não sei como vou fazer isso sem meu celular.

— Confesso que não entendi o que a minha mãe fez.

— Dona Amélia teve os motivos dela. E, te garanto, quando as suas suspeitas se confirmarem, ela vai conversar conosco.

— Vai confiar os seus segredos à sua sogra? – Alex falou brincando.

Entrei na brincadeira e só completei:

— Pode ficar tranquilo. O celular que ela não pode ver, o que tem os contatinhos, está muito bem guardado.

— Esse é o que ela deveria ter levado. – Alex disse com uma expressão zombeteira.

— Quem sabe um dia. Mas não hoje. Um problema de cada vez.

— E como você vai fazer para responder todas as mensagens que devem estar chegando?

— Está com o seu celular aí? – Perguntei e Alex só me mostrou o aparelho. – Ótimo. Abre o grupo da família e diz que está tudo bem comigo, por favor.

— Eles vão querer saber o que aconteceu com o seu celular.

— Posso?

— Claro. Os contatinhos estão no outro telefone.

— Tenho que achar esse telefone, então... – Murmurei e depois que Alex desbloqueou o celular eu só postei assim no grupo da família:

Olá, todo mundo! Sou eu, Kat. Eu estou bem. Só temporariamente sem celular. Thor veio correndo na minha direção perto da piscina e, vocês podem imaginar o resultado. Eu, ele e o celular que estava na minha mão, tomamos um banho. Como tive que escolher entre salvar o aparelho e o desesperado do meu cachorro, escolhi o cachorro que gania sem parar achando que ia morrer. Assim que comprar outro, volto aqui e converso com todos sobre as notícias de hoje. Já adianto, é tudo mentira. Beijos.

— Prontinho. Problema resolvido.

— Mentiu assim na cara dura e ainda colocou a culpa no Thor?

— Não menti, omiti a verdade. E, cá entre nós, é uma situação bem provável de se acontecer, não é?

— Tendo em vista que ele bate o focinho sozinho nas portas... – Alex deu de ombros.

— A última vez ele não bateu o focinho na sua porta... – Comentei.

— E como você sabe?

— A câmera filmou tudo. Thor pegou Lee averiguando a câmera e, sendo Thor, pediu carinho. Lee chutou o pobrezinho que, mesmo sendo um tanto alienado, sabe quando gostam e não gostam dele. Acabou que ele estava chorando na porta do seu escritório porque queria entrar para se vingar de Lee.

— Lee chutou o Thor?

— Sim.

— Eu deveria ter batido nele.

— Eu deveria ter feito isso também, mas ele falou que espalharia para a mídia... e, sabendo que iria virar um escândalo, eu recuei.

— Um dia ele irá pagar por isso.

— Assim espero. – Confirmei.


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Notas finais do capítulo

Bem, é isso. E não, a história de Lee ainda não acabou, voltará em alguns capítulos com o desfecho.
Muito obrigada a cada um de vocês que está lendo esta história, aos que comentam e os que acompanham em silêncio!
Prometo não demorar muito para postar o próximo capítulo!
Até lá!



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