Presos Por Um Olhar escrita por Carol McGarrett


Capítulo 105
Veredito


Notas iniciais do capítulo

Capítulo enorme.... mas vai valer a pena a leitura!
Bom proveito!



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Parecia que as horas que eu tive de sono não foram suficientes para me fazerem desligar o cérebro. A sensação era a de que tinha piscado e o dia tinha raiado, o despertador tocado e eu estava presa em um loop infinito onde tudo o que fazia era colocar uma roupa quente e confortável para ficar sentada em uma cadeira no meio de um tribunal.

Esse era o quarto dia, e eu não aguentava mais.

Alex ainda estava um tanto preocupado com o que ele falara no dia anterior, mesmo que Neville tivesse dito que ele disse o que era para dizer.

— Você foi bem, Alex. – Falei com ele pela milionésima vez.

— Talvez se eu tivesse...

— Alex, por favor, já acabou a sua parte. E você disse a verdade. Era o que você tinha que dizer. – Confirmei, quando me despedi dele na porta.

— E hoje? – Ele perguntou.

— Creio que minha avó Mina. Depois quem sabe... virão as de defesa e, só então, serei eu. Pode ser que seja hoje, pode ser que seja só amanhã... veremos como o dia segue.

Meu noivo entrou no meu carro e se foi para o set. Hoje, de companhia na corte eu teria minha mãe e minhas avós. E essa rotina de não poder dirigir, de não ter outra coisa para fazer a não ser seguir para o Tribunal e voltar para casa, para dormir e começar tudo novamente, estava começando a me irritar.

E olha que eu sou uma pessoa que adora rotina.

Cheguei com um pouco de antecedência na sala de audiências. Poucas pessoas estavam lá dentro e ninguém da defesa.

— Poderiam sumir da face da terra. – Murmurei.

Quinze minutos depois, os trabalhos foram retomados e minha avó se sentou no banco das testemunhas. De curiosidade, olhei para o meu lado direito e só vi Lucca sentado lá, não vi mais ninguém que se enquadrasse no quesito ‘testemunha’.

A vez era da acusação e sinceramente, eu não fazia ideia do motivo de ela estar sendo interrogada. Não fazia sentido para mim, afinal, tudo o que ela fez foi receber um e-mail e depois tomar a decisão de ir para o prédio, atrás de mim.

E era exatamente isso que ela explicava e contava a sua versão do que viu – ela não chegou entrar na sala, não teve coragem, não queria ver a neta quase morta.

Sobre a empresa, explicou como a NT&S funcionava desde que foi inaugurada em 1965. E explicou de onde veio o dinheiro que iniciou tudo – dela.

Ela entregou a fortuna que tinha para que o marido pudesse concretizar um sonho. E acabou do jeito que acabou.

— Fazia parte do Conselho Administrativo, Senhora Nieminen?

— Como membro atuante não. Mas como detenho algumas cotas da S/A, era parte que não tinha poderes administrativos, mas, tinha poder de veto.

— Usou esse poder alguma vez?

— Quis usá-lo.

— Quando?

— Quando escolheram o Sr. Cavendish como Vice-Diretor.

— E por que não o fez?

— Fui convencida pelo meu marido que valeria a pena. Arrependo-me imensamente de tê-lo ouvido.

— Por que quis vetá-lo?

— Não confiava em seus modos e palavras, mas ele e meu marido eram amigos de longa data.

— Tinha algum motivo para não confiar? Algum motivo além de sexto sentido?

— Não. Não tinha. Simplesmente nunca gostei dele.

— Junto com a senhora juntam-se seu filho e sua nora. – Disse Granger, reafirmando e relembrando para os jurados, as palavras de meus pais.

— Algo de errado ele deve ter, três pessoas não é coincidência.

— De fato. Mas, nos últimos 25 anos em que o Réu foi Vice-Diretor, alguma vez desconfiou de algo ato dele?

— Em que sentido?

— Quanto à saúde financeira da empresa.

— Mesmo que desconfiasse eu não poderia provar, como já disse, nunca fui membro atuante da empresa, era e passei novamente a ser membro honorária. Contudo, repito, não confiei no Réu desde o início.

— Tinha ideia de que ele não gostava da sua neta, a Srta. Nieminen?

— Que ele não gosta de Katerina é nítido. Sempre tentou desfazer do que ela era capaz de fazer... e me surpreendi quando minha neta começou um relacionamento com o sobrinho dele.

— Por quê?

— Achei que ele vetaria. Katerina nunca foi boa o bastante, nas palavras dele, para estar dentro da empresa, só tinha o berço certo, assim, cheguei a pensar que ele não permitiria o relacionamento. Todavia, ele incentivou, pelos motivos errados.

— Não desconfiou que era uma armação, planejada pelo seu próprio marido, também?

— Nunca. Nenhum dos dois chegou a mencionar o relacionamento ou como estavam orgulhosos do plano. E, as famílias não se reuniram por mais de duas vezes antes da cerimônia.

— Não achou estranho?

— Não. Kat trabalhava e ainda trabalha muito pela empresa. Vivia viajando. A falta de tempo sempre foi uma desculpa mais do que plausível.

— E quando descobriu a armação do casamento?

— Quando Katerina descobriu e minha nora contou para toda a família.

— Sua nora levou esse segredo com ela por quase sete meses?

— Qualquer mãe e esposa faz o possível e o impossível pelo bem da família. Como Diana disse ontem, era o necessário, Katerina ainda não estava pronta para receber esta notícia e creio, que ninguém na família estava.

— E qual foi a sua reação?

— Incredulidade, de início. Depois indignação. Revolta. Raiva. Ninguém merece ser alvo de uma enganação desse tamanho e quando isso acontece com alguém da sua família, com a sua neta que já tinha passado por tanto, você não pode ficar calada.

— Chegou a conversar com o Réu?

— Mas é claro. Ele ouviu o que tinha que ouvir. Não mudaria mais nada a essa altura, porém, faz bem impor certos limites.

— Limites que não foram respeitados.

Minha avó deu um sorriso sarcástico e olhando diretamente para Cavendish, apenas disse:

— Não. Não foram respeitados, mas quando um homem teme uma mulher é o que ele faz. O orgulho fala mais alto e ao invés de aceitar a derrota, tentam culpar a mulher, ou acabar com o problema. Porém, o réu nunca imaginou que Katerina pudesse ser tão forte e, ainda mais esperta do que ele.

— Alguma vez, a senhora ou alguém da família desconfiou que os acidentes dos quais a sua neta foi vítima, eram mais do que isso?

— Jamais. Como foi muito bem colocado, pareciam acidentes, algo que aconteceria com qualquer um.

— Como foi descobrir que não foi acidente?

— A constatação de que eu realmente tinha motivos para desgostar e desconfiar do Vice-Diretor.

— Vou poupar a senhora de descrever o que viu naquela tarde. Eu gostaria que a senhora explicasse como foi e por qual motivos o Réu foi expulso da empresa.

— Como se pode imaginar, todo o prédio viu o resultado das ações do réu. Todos viram o que ele causara. Era a semana do Conselho e, além da decisão sobre os escritórios e seus trabalhos, ocorre também o remanejamento de diretores, de pessoal, caso seja necessário e com a devida aprovação de todos os membros. Assim como pode acontecer mudanças drásticas na estrutura da empresa como um todo.

Uma pausa e eu notei que toda a sala prestava atenção total no que minha avó falava.

— Foi exatamente o que aconteceu, o Sr. Cavendish já vinha sendo investigado internamente por sua conduta desleixada e desidiosa com o trabalho. Nos sessenta dias que antecederam o Conselho que coincidiram com a transferência de Katerina para o Escritório do Pacífico, houve uma queda acentuada nos lucros e no trabalho do Escritório de Londres, que era até então, gerido pelo Réu. Isso chamou atenção dos Conselheiros e, tendo em vista que outras reclamações começaram a aparecer, ficou decidido que ele seria aposentado. Já estava tudo encaminhado para que a notícia fosse transmitida para toda a Empresa na sexta-feira, pós reunião do Conselho.

— Só que nada disso precisou ser dito.

— Não. O réu resolveu agir por si só e encurtou o processo. Ao atentar contra a vida de uma das funcionárias, ele se encaixava no quesito de expulsões sem nenhum benefício. E tal ato é automático, bastava a ameaça, que a expulsão se concretizaria. Com tudo o que foi mostrado no vídeo e com o estado de saúde em que Katerina se encontrou por mais de oito dias, não restou dúvidas ao Conselho que o Réu deveria ser expulso imediatamente da empresa, perdendo todos seus direitos e cotas da sociedade.

— Há algum tipo de contraditório nesta decisão?

— Não. Quando um funcionário é admitido e se encaminha para assinar o contrato de prestação de serviços, recebe também um outro contrato, com todas as cláusulas que causam a suspensão das funções, o afastamento compulsório, a aposentadoria forçada e a expulsão. Todos ficam cientes do que podem e não podem fazer, e, assim, sabem perfeitamente bem o motivo da decisão. No caso, o Réu era o Vice-Diretor e sabia melhor do que ninguém tais cláusulas, afinal, ele era responsável por aplicá-las aos funcionários.

— Correto. E como se encontra a estrutura da Nieminen Trade e Shippment hoje?

— Toda a estrutura ainda se encontra em reformulação e em transição. Temos uma nova CEO, a Vice Diretoria está temporariamente na mão do Conselho e mais algumas mudanças e investigações internas ainda estão sendo feitas para restabelecermos o padrão que a empresa tinha antes de todos estes escândalos. Vai levar um pouco de tempo, mas nos reergueremos.

— Pode explicar o motivo da troca do CEO? Isso não ficou muito claro.

— Como ele é amigo pessoal do réu, tentou vetar a expulsão, assim, utilizamos a moção 125 do Estatuto e o removemos, com total aprovação do Conselho.

— Mais algum motivo?

— Investigações internas ainda estão em andamento. Como não há provas concretas, não levantarei falso testemunho.

— Está certíssima, Sra. Nieminen. E agradeço a sinceridade e o seu tempo.

Minha avó foi liberada pela acusação e a defesa veio praticamente babando em cima dela. Tudo o que ela fez foi encarar os jovens advogados que têm a idade para serem netos dela.

Primeiramente eles começaram a dizer que houve uma plena injustiça na expulsão do cliente, dizendo que ele não teve a defesa que merecia, que ninguém pode ser expulso e perder suas poses, sem o devido processo legal, mesmo que na área administrativa de uma empresa.

Mina Nieminen não se abalou com o discurso e continuou a prestar atenção na introdução inflamada que os dois faziam. Se eles pudessem, teriam colocado uma roupa de bruxa em minha avó e a queimado em uma fogueira improvisada.

Assim, depois de transformarem a minha avó em uma pessoa sem coração, passaram a interrogá-la.

—  Como a senhora se deu o direito de assumir a cadeira da direção de uma empresa na qual nunca teve poder de voto?

— Sobrenome. Linha sucessória direta. E, pelo visto, como não fizeram o dever de casa de vocês, eu posso fazer isso temporariamente, uma vez que eu sou a detentora do dinheiro que fundou a empresa.

— Seu marido sempre se apresentou como o CEO.

— Ele administrava a empresa, mas nunca colocou um centavo nela, pois ele não tinha. O Sr. Nieminen entrou com o conhecimento, e eu com o dinheiro. Assim, no caso de ele não poder assumir as suas funções, como se trata de uma empresa onde 65% do capital pertence somente a uma família, eu posso assumir, temporariamente, a função dele. Como foi o caso. Fiquei o comando por 60 dias. O máximo que posso fazê-lo é 90.

Um dos advogados estava procurando no tablet o estatuto, e me vi na obrigação de responder.

— Cláusula 130 do Estatuto. – Comentei, pois sabia esse estatuto de cor.

Era a primeira vez que eu falava no plenário e todos me olharam.

— Cláusula 130. – Minha avó repetiu a minha fala.

Todos os advogados presentes buscaram a informação. A acusação abriu um sorriso ao ver a resposta de minha avó impressa em um documento oficial, já a defesa não teve muito ânimo ao ler as palavras.

Começaram a falar sobre a moção para a aposentadoria e depois expulsão de Cavendish... mas os dois foram cortados por outro advogado que só mostrou as cláusulas.

Nesse caso, 646 e 958.

Por alguns minutos a defesa ficou em silêncio, isso deixou os jurados inquietos e a juíza chamou a sessão em ordem e convocando defesa e acusação para perto de sua mesa.

Ela falou baixo, mas como sei ler lábios, li exatamente do que ela falou.

— Se não há mais perguntas para a testemunha, favor dispensá-la, ainda temos outras para serem ouvidas e não quero atrasar ainda mais este julgamento.

Os dois advogados de defesa se olharam e depois de consultarem a mesa, dispensaram a minha avó.

Essa foi a nossa maior vitória até agora.

Logo em seguida, foi dada a oportunidade da acusação de trazer as suas testemunhas, pelo que vi nas cópias do processo que estavam na minha frente, foram arroladas quase quinze que viriam para falar bem do réu, acontece que somente uma estava presente. E era justamente Lucca Dempsey.

Quando o nome dele foi chamado, todos os jurados encararam o meu ex, e eu notei que todas as mulheres fizeram cara feia para ele. Não importa como Lucca se comportasse durante o seu depoimento, ele estava fadado a ser desconsiderado por cada mulher do júri.

E Dempsey foi o cínico que tinha demonstrado ser desde que a farsa de nosso relacionamento acabou. Não teve um pingo de educação ao responder as questões, não prezou pela humildade e ainda teve o desplante de perguntar se o interrogatório iria demorar muito.

— Irá demorar o suficiente para que tudo seja esclarecido, Sr. Dempsey, assim, tenha respeito pelo lugar onde se encontra. – A juíza chamou a atenção dele, tratando-o quase como uma criança.

A última pergunta da acusação foi a seguinte:

— Assim como seu tio, você foi expulso por má conduta, apenas dias antes da tentativa de assassinato, estou correto?

— Sim.

— Pode nos dizer o motivo?

Lucca apontou na minha direção e falou:

— E não é ela a causadora de todos os problemas?

Agora eu era a causadora de problemas?! Interessante.

— Ela te demitiu sem justa causa? – Quis saber a acusação.

— Não. Bati no noivo dela, e ao que parece tem alguma cláusula no estatuto que proíbe um funcionário entre em uma boa briga com alguém.

— O senhor não recebeu o contrato com estas cláusulas?

Dempsey deu uma risada.

— Eu assinei um monte de papel. Acha que li alguma coisa? Nunca li nada ali dentro!

E isso explicava tanta coisa errada que tinha acontecido na empresa!

Os jurados, ao ouvirem essa declaração, olharam até um tanto espantados... e depois dessa, Lucca tinha enterrado de vez qualquer depoimento favorável que ele tinha que dar em favor do tio.

— Eu ia questionar ao senhor sobre o processo de expulsão do réu, mas creio que não deva estar ciente, uma vez que parece nunca ter lido o estatuto da empresa.

— É, eu não li.

— Muito obrigado pelos esclarecimentos, Sr. Dempsey. Defesa, ele é todo seu.

Observei a defesa, querendo muito saber como eles tirariam a sua única testemunha presente do buraco que ela mesma havia se enfiado. Seria um trabalho hercúleo.

Começaram pelo básico, tentando fazer uma imagem boa do tio dele. Dizendo que Lucca tinha tudo para seguir os passos de Cavendish, se toda essa injustiça não tivesse acontecido, porém ele não parecia muito animado ou tentado em ajudar o tio que tanto o tinha ajudado.

Lucca parecia entediado ao extremo respondendo perguntas bobas e sem função nenhuma para o processo. Até que ele começou a falar demais, explicando com detalhes o plano que fracassou quando ele me abandonou no altar.

— Eu sabia que tinha estragado tudo ali, mas cá entre nós, ela pode até ser bonita, mas não dava para me casar com ela, não mesmo. Nem por todo dinheiro do mundo eu ia ficar do lado dela e ainda ser correr o risco de ser chamado de tio. Preferi dar o fora e viver da fortuna da minha família. Até achei que ia perder o meu lugar na empresa, mas não. Foi ela quem levou a pior. Foi ela que foi transferida. E a minha vida até melhorou longe dela... pois assim eu sabia, teria dinheiro e a posição mais importante. Só que as coisas começaram a dar errado... os dois velhos (a educação e o respeito dele eram impressionantes) começaram a brigar por algo, eu escutei falarem sobre dinheiro em contas em paraísos fiscais, claro que me interessei, e quando perguntei o que isso significava, me rebaixaram de função e os dois começaram a não se entenderem como antes. Foi quando eu ouvi o boato de que iriam aposentar meu tio.

— E não falou nada para ele?

— Duvidei que conseguissem isso. O Velho é esperto e se safaria, já tinha escondido coisas piores e estava no cargo há tantos anos, dessa se safaria também. Só que se ferrou quando tentou matar “a herdeira”. – Disse debochado.

— Acredita na teoria da acusação de que o vídeo é legítimo?

E aqui Lucca surpreendeu a todos.

— E tem como não acreditar? Katerina saiu mais morta do que viva da empresa, chegaram a falar que ela tinha efetivamente morrido, e com a quantidade de sangue que tinha nas fotos que recebi, eu também achei isso. Aquele vídeo, aquilo que todo mundo viu aqui, é quem Cavendish é... ele não mede esforços para tirar de seu caminho quem ele quer. E se preciso for, até tortura a pessoa. Só que ela tem sorte, né? Três vezes e sobreviveu.

Os advogados de acusação se olharam sorrindo. Os da defesa estavam desesperados e antes que Lucca dessa mais uma de bandeja para enforcar o tio, dispensaram a testemunha.

Foi chamada uma pessoa que não apareceu. Depois mais uma e outra. Por fim, a juíza perguntou onde estavam as testemunhas, ninguém soube explicar.

— Vocês têm o recesso do almoço para encontrá-las, acaso isto não ocorra, irei passar para os depoimentos técnicos. – E dizendo isso, dispensou a todos os presentes.

Essa foi a primeira vez que eu vi os advogados de acusação realmente comemorarem algo. Eu ainda tinha as minhas dúvidas quanto a vitória, mas que o depoimento de Dempsey tinha complicado a vida da defesa, isso tinha, tanto que o advogado chefe agora estava olhando para a sua testemunha com uma feição que ia do ódio à vontade de matá-lo.

Já eu, pela primeira vez tive a vontade de passar perto de Lucca e dizer alguma coisa. Ele ficou um tanto assustado quando me aproximei e quase que se encolheu atrás da namorada, já eu simplesmente falei:

— Obrigada por sua sinceridade ímpar. Espero que você tenha um pouco de compaixão com o seu tio e vá, um dia, visitá-lo na prisão.

Minha mãe e minhas avós que estavam comigo não falaram nada, mas os discretos sorrisos em seus rostos diziam muito.

A parte da tarde foi uma outra vitória.

Logo que entramos vimos que a Defesa estava um tanto esbaforida. Uns gritavam com os outros e os que não estavam brigando, estavam nos celulares, pedindo, alguns quase implorando.

— Mais duas que não vêm.  – Disse uma das advogadas.

— Tínhamos quinze testemunhas. Os nomes não foram arrolados para que ninguém soubesse ou fizesse algo, e agora somente uma, veio depor?

— Se é que podemos chamar aquilo de depoimento.... – Disse a primeira advogada. – A verdade é que Dempsey literalmente acabou com nossos argumentos! Vamos falar o que com ela? – Continuou e sem vergonha alguma na cara, apontou para mim.

Todos se calaram e logo se posicionaram, estava iniciada a parte da tarde.

— A defesa conseguiu localizar as suas testemunhas? – Foi a primeira questão que a juíza fez.

O advogado-chefe se levantou e respondeu claramente.

— Não, Meritíssima. E, com isso, oficialmente o réu abre mão de suas testemunhas.

Aproveitei o momento para olhar para os jurados, eles pareciam já ter um veredito na ponta da língua, só estavam esperando o momento de falá-lo.

— Muito bem,  - Voltou a Juíza. – Com isso, depoimentos técnicos e como quero acabar com essa parte hoje, a vítima e o réu também serão ouvidos. Fiquem todos cientes que esta sessão se alongará até que todos os depoimentos tenham terminado.

E o primeiro depoimento técnico começou. O detetive que ficou responsável pela investigação. Depois vieram outros policiais e criminalistas, que analisaram a cena e colheram os depoimentos e o legista que acompanhou a minha evolução no hospital e me fez uma perícia. Por fim, o depoimento que poderia nos dar a vitória fácil ou a grande derrota.

Eram dezoito horas quando o perito responsável por analisar meu telefone foi juramentado. E ele não teve papas na língua – e nem muita paciência – para responder às questões que lhe eram dirigidas.

E, a última pergunta da acusação foi:

— O vídeo que foi retirado do celular da Srta. Nieminen foi ou não alterado?

— Nem um pouco. Com certeza. Pois o mesmo vídeo que estava salvo no celular dela e que foi entregue para as autoridades, estava salvo na nuvem. Impossível de ter dado tempo de alguma alteração, visto que chegou na minha mão menos de uma hora após o ocorrido.

— É fácil de notar uma edição?

— Com celulares é mais fácil. Com equipamentos sofisticados um pouco mais difícil, mas para quem tem treino e os equipamentos certos, não tem como não encontrar.

— Sem edição no vídeo, então?

— Sim. Sem nenhuma edição.

A acusação encerrou as perguntas e a defesa, que estava esperando para criar uma dúvida razoável em cima do vídeo e assim absolver o réu, por conta de dúvida na maior e mais importante das provas, se viu sem ter o que fazer. Assumiram as perguntas, mas como eram repetidas o perito nem se dignou a responder a mesma coisa, só dizendo que a respostas estava na ata.

Mais alguns minutos de perguntas sem base nenhuma, e o perito foi liberado.

E tinha chegado o meu momento de encarar o banco das testemunhas. Algumas perguntas de cunho bem pessoal poderiam ser feitas, minha vida ainda mais exposta, mas depois de ter visto que a vitória era possível, que Cavendish iria pagar, esse era um preso baixo a se pagar.

A juíza chamou meu nome, me levantei e com passos firmes caminhei até banco, quando me virei, instantes antes de ser juramentada, notei que a minha companhia tinha aumentado. De minhas avós e minha mãe, passei a ter como fonte de força, as três, mais meu pai, Ian, Mel, Pietra e Alex. Ao fundo da sala vi ainda a presença desagradável de Matti.

Com o juramento feito, me permitiram me sentar.

Respirei fundo quando Granger começou a caminhar para o meio do plenário.

— Bem, Srta. Nieminen, primeiramente, é muito bom saber que você está bem o suficiente para estar aqui, apesar de que não era completamente necessário que precisasse reviver tudo.

Aquiesci e esperei pela continuação da introdução.

— Você foi vítima de uma conspiração por muitos anos, sem ninguém desconfiar de nada, e, quando estes atos não surtiram efeito, atentaram contra a sua vida. Mas vamos voltar um pouco no tempo, a Senhorita poderia resumir os seus anos de trabalho na NT&S?

— Comecei aos 12 anos, como garota de recados, depois fui responsável por distribuir os suprimentos para cada escritório, trabalhei no almoxarifado, fui secretária da recepção e da direção, trainee, estagiária, depois que me formei, fui efetivamente contratada, como compradora, comecei a subir na escala, chegando a captadora de empresas e gerente de transportes no escritório de Londres, assim como responsável para criar as melhores rotas para cada carga/empresa. Depois fui enviada para Los Angeles para gerir o escritório de lá, onde além de gerir, continuo a fazer o que fazia em Londres.

— Então são dezessete anos trabalhando na empresa da sua família.

— Sim. Dezessete anos.

— Mas como o seu pai disse, esse não era o seu sonho quando criança?

— Não. Eu... eu queria ser patinadora artística. Quando fui atropelada, me disseram que não seria possível voltar a patinar em um nível profissional, então, tive que abandonar esse sonho.

— E foi só então que dirigiu os seus sonhos para a NT&S?

— Sim. Eu tinha nove anos, mais ou menos, quando me decidi que faria o mesmo que Matti... que meu avô fazia. – Consegui me corrigir a tempo.

— E para isso estudou com afinco, não só cursos de graduação, mas pós e mestrado, como também o estatuto da empresa?

— Sim. Fiz minha formação acadêmica toda focada no trabalho que queria.

— Deve ser uma funcionária modelo. – Comentou Granger.

— Isso não sei dizer, mas espero ser aquela que atende às expectativas do cargo que ocupo. – Fui diplomática.

— Vamos dar um salto no tempo. Conforme a confissão no vídeo que vimos, você sofreu três atentados planejados pelo réu. O primeiro, você já explicou, ceifou um sonho seu, o segundo...

— Foi um acidente de carro. Estávamos, minha família, minhas amigas e eu na Bélgica. Íamos aproveitar que ainda alugam a pista de Spa-Francorchamps para voltas avulsas e fomos fazer uma corrida de tempos. Aquele que desse a volta mais rápida, seria o vencedor.

— E você é piloto, para fazer isso?

— Não é necessário ser piloto para fazer esse tipo de atividade. Não era uma corrida propriamente dita, até porque nem é permitido. Então apenas íamos dar voltas lançadas e aquele que fizesse a volta mais rápida no final do dia, seria o vencedor.

— Faz isso com frequência?

— Fazia. De uns anos para cá meu tempo ficou mais escasso, então paramos.

— E o que aconteceu?

— Cada um pegou o carro que tinha sido reservado de forma prévia. E começamos a dar as voltas. Depois de quinze voltas, comecei a perceber que a barra de direção do Mercedes que eu dirigia, estava trepidando demais, iria parar no box no final da volta, porém, o circuito é longo, são mais de sete quilômetros de extensão... não completei a volta, em uma das curvas mais rápidas, perdi a direção, pois a barra quebrou, virei passageira e bati na barreira de pneus, acordei uma semana depois no hospital.

— Não investigaram o acidente?

— Não havia motivos. Carros quebram e aquele não era o meu carro. Era alugado. Apesar de termos vistoriados os carros, barra de direção não é algo que se olha. É algo que poderia ter acontecido com qualquer um. Pelo menos foi isso que achamos.

— Certo. E depois desse “acidente”, o que aconteceu?

Era hora de entrar na minha vida pessoal... justo o que eu nunca quis.

— Eu terminei um relacionamento e continuei a trabalhar normalmente.

— A senhorita já conhecia o Sr. Dempsey quando este relacionamento acabou?

— Não. Não o conhecia. Ele ainda não trabalha na NT&S.

— As famílias Nieminen e Cavendish não eram próximas?

— Não. Não eram e nunca foram.

— Mesmo com o relacionamento sério entre a senhorita e o Sr. Dempsey?

— Estranho de falar isso, mas é a verdade.

— Pode nos descrever como foi o relacionamento até o casamento fracassado?

— O Sr. Dempsey foi contratado para trabalhar no mesmo setor que eu, e, alguns dias depois, foi a festa de aniversário de meu avô. Como todos os anos, ele fez um jantar na casa dele, convidando amigos e pessoas por quem ele tinha grande consideração. O Sr. Dempsey foi junto com o tio, e foi nessa festa que fomos apresentados. Tínhamos algo em comum. Trabalhávamos na mesma empresa e éramos parentes das pessoas diretoria. A conversa fluiu ali. Alguns dias depois, ele me convidou para almoçar, aceitei. Parecia que tínhamos muito em comum. Ele gostava das mesmas coisas que eu, um almoço seguiu outro e quando notei, estávamos namorando.

— Do namoro ao noivado foi quanto tempo?

— Quatro anos. E depois mais três até que tudo terminou. – Finalizei sem detalhes.

— Alguma vez notou algo diferente, que algo não se encaixava?

— Para falar a verdade, nunca. Não era o relacionamento perfeito, mas ninguém é perfeito. Contudo, nunca imaginei que tinha sido arranjado e que eu não passava do caminho para que ele alcançasse o topo da empresa.

— Cadeira que deveria pertencer a você.

— Não. Não deveria ou deve pertencer a mim. Ser CEO de uma empresa é muito mais do que sobrenome. É competência. Eu queria alcançar este posto porque me espelhava em meu avô e em todo o trabalho que ele fazia. Queria ser igual ou melhor do que ele. Mas, se alguém mais competente do que eu aparecesse, esta pessoa mereceria o posto. Pois não se pode colocar alguém incompetente para administrar e gerir uma empresa tão grande como a NT&S.

— Pensamento interessante. Porém, era o que você queria.

— Sim. Foi para isso que estudei tanto, que trabalhei tanto.

— Mas não era o que seu avô e o réu queriam, principalmente o réu...

— Creio que os dois, senhor. Todos ouviram o depoimento do Sr. Nieminen Pai.

— E você está de acordo com isso?

— Sou só uma funcionária... não opino nas questões administrativas. – Tentei sair pela tangente.

Granger e a grande maioria dos jurados entenderam o meu ponto de vista. Vi a defesa anotando cada uma das minhas respostas. A réplica deles viria forte.

— E o que aconteceu entre a cerimônia fracassada e o atentado à sua vida?

— Fui enviada para Los Angeles e comecei a administrar o escritório de lá. E um dia, depois de liberar a chefe das faxineiras para resolver um problema pessoal, descobri que havia uma diferença de pagamentos. Quem era natural dos EUA ganhava muito mais do que quem era imigrante. Apurei com o Financeiro e o RH, que me disseram que a diferença acontecia, mas o dinheiro chegava correto, só era desviado no final. Comuniquei o fato a Londres e isso desencadeou uma investigação interna no nome de Alberto Mancini, o ex chefe daquele escritório. Até onde pudemos averiguar, tudo foi desviado para a conta dele em um paraíso fiscal.

— Mas ele não era o culpado.

— Até onde chegamos era. Depois confessaram a culpa.

— E quem era?

— O réu, Sr. Cavendish.

— E chegamos a outro ponto.

 - Sim. Ele usava os chefes do escritório do pacífico para desviar o dinheiro, tendo em vista que o volume de trabalho deste escritório em específico é muito grande. E começou a usar o meu também.

— Como você chegou a esta conclusão?

— Juntando as peças do que acontecera no Conselho, assim, acabei por desconfiar que ele poderia usar o meu nome. E, no intervalo do almoço, fui pedir ajuda para o setor de pesquisa de Los Angeles.

— Você escolheu a sala onde fez esse pedido?

— Não. Mary me levou para lá, disse que ninguém me perturbaria.

— E o que aconteceu a seguir?

— Apesar de ser cedo, consegui contato com a Chefe do Setor e pedi que eles realizassem uma pesquisa completa em meu nome. No fim, o resultado foram os documentos mostrados aqui.

— E você não tem/tinha uma conta em um Banco do Qatar?

— Não. É um país que não me agrada muito e prefiro manter minhas finanças em bancos dos países que tenho mais acesso.

— E o que a senhorita fez assim que descobriu estes dados?

— Encaminhei para minha avó e meu pai, eles saberiam para quem encaminhar do Conselho. Porém, assim que enviava o e-mail, ouvi passos no corredor que levava até a sala. Testaram a fechadura e quando escutei o xingamento e reconheci a voz do réu, coloquei meu celular para gravar o que quer que ele fora fazer comigo.

— E o resultado de tudo o que vimos, foi?

Aqui eu parei, respirei fundo e depois de levar a mão em meu lado esquerdo, respondi.

— Levei um tiro no lado esquerdo. Quatro dedos acima do coração. O réu pisou em mim, esmagando algumas das minhas costelas do lado esquerdo e trincando outras, uma delas perfurou o meu intestino. Fiquei em coma por 8 dias, depois de ter quase morrido algumas vezes.

— Se lembra do momento em que entraram na sala para te ajudarem?

— Não com exatidão. Tudo é meio nebuloso. Ouvi vozes, mas não me lembro de ver ninguém.

— Soube de algo deste dia, ou chegou a ver o vídeo que gravou?

— Fiquei sabendo de muito pouco, mais sobre o que aconteceu com a empresa e de toda a reformulação que ela vem passando.

— Muito bem, obrigado, Senhorita Nieminen por revisitar estes momentos dolorosos da sua vida, não entrarei no mérito do vídeo e do que aconteceu naquela sala, porque todos vimos o que foi o seu encontro com o Réu, assim como nos lembramos da sua reação ao reviver aquele momento. Espero que quando tudo isso acabar, você possa seguir em frente com a sua vida e ser capaz de virar a página de uma vez de todos estes traumas. – Granger terminou.

— Obrigada.

E o Promotor se sentou, vindo duas advogadas da defesa, e pelas feições em seus rostos, elas estavam dispostas a fazer da minha vida como testemunha e vítima um inferno.

 - Bem, - Começou uma delas, a mais velha entre as duas. – Todos já viram o lado boazinha da Senhorita Nieminen, vamos agora mostrar a realidade dos fatos para todo este tribunal.

Encarei-a, a tática de desestabilizar a vítima e desacreditar os depoimentos tinha começado com tudo, mas ela deve ter esquecido que eu também sou formada em direito e lido com pessoas tentando puxar o meu tapete há muito tempo, assim, não me alterei e esperei que ela acabasse de fazer o seu showzinho para, efetivamente, vir a me perguntar algo.

— Então, você, foi patinadora e quando tudo deu errado, cismou de ser CEO da empresa fundada por sua família?

— Não cismei. Inicialmente, a patinação ‘não deu errado’, fui obrigada a parar por circunstâncias alheias à minha vontade. E quanto a seguir os passos de meu avô, não foi uma cisma, foi a minha escolha de profissão, assim como a senhora escolheu ser advogada, escolhi trabalhar na NT&S e, quem sabe, um dia poderia ser efetivamente o mesmo que meu avô. – Respondi e fiz questão de chamá-la de senhora, mesmo que a diferença entre nossas idades não fosse maior do que 8 anos, era bom ter respeito sempre. E a cara da advogada me indicou que nós duas trocaríamos muitas farpas nos próximos minutos, eu teria que ficar atenta com as palavras que eu fosse falar, para não desacreditar tudo o que já fora falado até então.

— E, seu outro hobby são carros? Carros caros e esportivos que você só tem condição de pagar porque trabalha na empresa que tem o seu sobrenome?

— Gosto de carros. Está em meu DNA. Meu avô materno é um ex piloto amador de rally, meu pai trabalha na Fórmula 1 e cresci vendo corridas. Além de que por muitos anos, ajudei-o a arrumar os carros e motos da família. Não gosto de carros esportivos. Gosto de carros. Quanto ao fato de que só posso pagar pelos que tenho por que ‘trabalho na empresa que leva o meu sobrenome’ isso não é verdade. Faço mais dinheiro com meus cavalos, que são corredores, do que trabalhando na empresa. Assim, tenho o que tenho, não por vaidade, mas porque posso comprar e, o mais importante, manter.

— Mas você é uma piloto?

— Sim. Piloto amadora de rally.

— Então, como uma piloto e filha de engenheiro mecânico, deveria ter sido mais responsável quanto ao carro que escolheu para correr na Bélgica.

— Fizemos uma revisão, como já foi dito. Porém, para analisar uma barra de direção propriamente dita, tem-se que praticamente desmontar uma parte do carro. Algo que não podíamos fazer, porque o carro não era meu e que é muito trabalhoso, quando não se tem os equipamentos certos. Com as devidas proporções, é claro. Não tem como prever que uma barra de direção vai quebrar, assim como não podemos prever que um pneu vai furar, porém, o pneu furado, você nota que algo está errado e pode parar a tempo de se evitar um acidente. Uma barra de direção quebrada, você perde o controle total do carro e vira passageira. – Expliquei da forma mais didática que consegui.

— Não me convenceu, ainda te acho irresponsável, porém, ainda te acho pior em outro quesito, sua vida amorosa. Quantos namorados teve? Uns dez?

— Estou no meu terceiro relacionamento.

A advogada riu.

— Está sob juramento, senhorita Nieminen. Não pode mentir.

— Não estou mentindo. Não sou tão velha como parece me julgar e nunca fui namoradeira. Tive um namorado na época da faculdade. Terminamos o relacionamento quando ele se mudou para a Austrália. Depois tive um relacionamento com o Sr. Dempsey por quase sete anos, entre namoro e noivado, sendo que o casamento não aconteceu por motivos pessoais do noivo. E agora estou com Alexander Pierce.

— O mais estranho que você clama que nunca foi namoradeira, mas entre um relacionamento e outro você ficou solteira quanto tempo? Poucos Meses? Isso é um tanto contraditório.

— Entre o meu primeiro término e até o momento em assumi o relacionamento com o Sr. Dempsey se passaram doze meses. E...

— Mas entre ser deixada no altar e se enganchar com um ator e galã de Hollywood foram o que? Oito meses? Apenas OITO MESES! Isso, porque não estou contando que você mal tinha se mudado para Los Angeles quando assumiu a relação e menos de um mês de namoro quando ficou noiva.... estava muito desesperada para se casar? Com medo de ficar para a titia? Ou foi necessidade de aparecer mesmo? Porque claramente, você foi capa de diversas revistas... E até que formam um casal bem interessante, ele querendo o dinheiro, que você só acha que tem, e você querendo os quinze minutos de fama, para aparecer nas revistas.

— Não estou desesperada para me casar, ou já teria feito isso, proposta e incentivo da família não faltaram. – Respondi tranquilamente. - E quanto a alegação de que sou namoradeira, minha consciência está tranquila. Sei o que fiz e porque fiz. E não estou noiva de Alexander Pierce porque quero ser famosa ou aparecer em revistas. Porém creio que o conceito de amor não deva existir em seu dicionário e nem é relativo para o real motivo deste julgamento.

A advogada ficou possessa com as minhas palavras.

— A quem você quer enganar? Sua foto está em várias revistas! E ainda arrastou a sua sobrinha para isso. Não tem vergonha?

— Por favor, mantenha a minha sobrinha fora deste julgamento. – Pedi.

— Mas até falam que ela é a sua filha e não tem nenhuma nota contradizendo esta fala! Gostou dessa publicidade? Talvez ela tenha atraído alguma empresa de produtos infantis para a sua crescente cartela de clientes exclusivos... isso é permitido na NT&S?

— Novamente, por favor, mantenha a minha sobrinha fora deste julgamento. Nada disso envolve a pessoa dela. – Pedi pela segunda vez. – E quanto aos clientes exclusivos, sim, é permitido. Deveria ter feito o seu dever de casa e lido o Estatuto da empresa, mas vou te ajudar, Cláusulas 505 a 521. Posso colocar no contrato que os clientes que angario são de minha exclusiva responsabilidade, desde que eles aceitem também, e é o que vem acontecendo.

— Para mim isso indica que você rouba lucros da empresa...

— Leia direito, senhora. – Falei sarcasticamente. – Eu não ganho lucros a mais por isso. Mas, em uma eventualidade de ser mandada embora, as empresas podem ser minhas clientes, caso queiram. É uma cláusula para um eventual futuro, não para o presente.

— Como a senhorita consegue achar desculpas para os mais variados assuntos, vamos mudar, vamos para o dia do incidente. Como podemos ter certeza de que o dinheiro no Banco do Qatar não pertence à senhorita?

— Porque meu imposto de renda diz isso. Não possuo contas em offshores ou em nome de terceiros para escapar do Fisco. E não roubo da empresa onde trabalho. Não é essa a educação e a moral que meus pais me ensinaram.

— Palavras vazias... queremos provas.

— Seu cliente confessou tudo no vídeo que foi mostrado aqui.

— O Vídeo! Gravado de forma escondida! Acha isso uma prova válida? Acha que devemos acreditar na pobre menina rica, que ficou depressiva depois de ser trocada no altar por não ser nada interessante e, depois de encontrar um homem tão interesseiro quanto ela, armou uma vingança e, não satisfeita de causar a demissão do ex, ainda inventou uma história sem pé nem cabeça, onde o meu cliente atira e tenta te matar? Não acha essa uma mentira muito difícil de ser acreditada?

— O perito principal da Polícia Metropolitana de Londres já deu o depoimento onde afirma que o vídeo é legítimo, não foi alterado. E, gravei o vídeo, pois temia que algo pudesse acontecer. Afinal, Cavendish não gosta de mim, e sabia o que lhe aguardava, sabia que sairia da empresa, então eu esperava qualquer coisa dele, menos que ele tentaria me matar.

— Muitos vieram até aqui e disseram que você ficou em coma, que levou um tiro, que seu coração parou, mas não temos ‘provas’ no vídeo de que nada disso aconteceu.

— Quer ver o vídeo novamente? Quer ver o momento em que atiram em mim?

A advogada me olhou.

— Não acredito que você foi atingida.

Eu fiquei possessa, pude ver minha mãe quase ter um ataque na plateia e tenho certeza, se ela pudesse, esganava a dita cuja.

— A senhora quer ver a cicatrizes? Mostro tanto a do tiro, quanto a do corte que fizeram em minha costela para colocarem a pá do desfibrilador direto em meu coração para me trazerem de volta. Sim, o desfibrilador teve que ser colocado dentro do meu corpo e o choque foi dado direto no coração, pois eu estava mais morta do que viva. Tenho também outra cicatriz, na cintura, onde tiveram que remover um pedaço de costela quebrado que perfurou o meu intestino e ficou ali, encravado. Se quiser, posso levantar a blusa e mostrar. Ainda não estão totalmente cicatrizadas, estão um tanto rosadas e dá para ver ainda onde foram os pontos...  – Respondi olhando para ela, esperando para ver o que ela falaria. – Sei que passei por uma avaliação no hospital pelo legista da cidade e que minhas lesões foram documentadas, contudo, se há tal dúvida pairando no ar, não ligo de mostrar as cicatrizes que vou levar por toda a minha vida, que serão o lembrete do que passei, por ganância de uma pessoa sem escrúpulos. Só digo que além destas recentes, há outras, que datam do ano 2000. Espero que ninguém se sinta mal com todas estas marcas...

Os jurados se mexeram desconfortáveis com a minha explicação mais do que explícita, a acusação estava próxima de pedir para desconsiderarem tal pedido, minha família estava nervosa, afinal era a primeira vez que eu falava abertamente sobre cada uma das cicatrizes que agora eu ostentava, algo que eu nunca falei ou mencionei, vi Eleanor, ao lado de Dempsey, observar Cavendish com receio nos olhos, olhar para o próprio namorado e, depois, soltar a mão dele e pegar as suas coisas e sair. E tinha a advogada que me desafiava, achando que eu jamais tiraria a minha blusa para mostrar algo assim. Só que ela não me conhecia. Eu estava mais do que farta de tantas insinuações idiotas, bobas e mesquinhas sobre a minha pessoa, estava cansada de tratarem Alexander como uma pessoa interesseira e tinham passado dos limites quando colocaram Olivia no meio de tudo isso!

Foi a juíza que deu a ordem.

— As lesões da Senhorita Nieminen foram descritas pelo legista que deu o seu depoimento mais cedo no dia de hoje. Ela não precisa passar pelo constrangimento de mostrá-las para pessoas que não a conhecem, além do mais, nem todas as pessoas estão preparadas para verem lesões, ainda mais tão recentes. Se a acusação não tem mais nenhum ponto de defesa, favor encerrar o interrogatório.

  As duas advogadas se olharam e depois consultaram os papeis, voltando ao púlpito para me fazerem mais perguntas.

— Só nos esclareça uma última dúvida, que a liberaremos, foi dito por toda a sua família e por seu noivo, que você é uma pessoa que preza a convivência de todos os familiares.

— Sim. Isso é verdade.

— Então, porque o seu avô, pai do seu pai, o homem que inspirou a sua carreira, armou todo um relacionamento para você e ainda afirmou que você não poderia ocupar a cadeira de CEO da empresa?

Demorei um pouco para buscar palavras que não seriam tão rudes para definir o mau caratismo do meu ‘avô’, porém não encontrei. E de curiosa, levantei meus olhos, Matti ainda estava ali, no fundo da sala, de braços cruzados, vendo a minha vida ser exposta para todos estes estranhos.

— Estamos esperando...

— Eu não sei. Cada um tem uma mente diferente, que age de maneira diferente e, é guiada por outras ideia e ideais. O fato de que eu me inspirei no me avô quando criança para escolher a minha carreira, foi na inocência de uma criança/pré-adolescente que achava que os pais e avós não faziam nada de errado. Agora, quanto e ele ter se aliado ao réu para impedir a minha ascensão na empresa e ser um misógino e uma pessoa que adora mais o dinheiro e o poder do que a própria família, tem que ser perguntado diretamente a ele. Não posso responder o que o leva a pensar assim.

— São palavras duras dirigidas ao seu avô... Tudo isso é mágoa por saber que o Sr. Dempsey era mais competente que a ‘herdeira’? Pois, se Matti Nieminen foi o CEO por tanto tempo, com certeza ele sabia o que fazia quando escolheu o Sr. Dempsey.

— Não é mágoa. Já disse e repito. Sonhei com a cadeira um dia? Sim. Ficaria indignada e armaria um circo para o caso de outra pessoa assumir a cadeira? Não. Tanto é verdade que a NT&S tem uma nova CEO, Camilla Grissom. E ela está fazendo um trabalho extraordinário à frente da empresa, mesmo que o momento não seja dos mais fáceis. E, para finalizar, foi dito no vídeo e creio que todos puderam perceber no depoimento da única testemunha a favor do Réu.... o Sr. Dempsey nunca teve a vontade necessária para trabalhar, e o cargo de CEO, que ele viesse ocupar pelo casamento, deveria única e exclusivamente à quantidade de cotas da empresa que ficaram nas mãos do casal que ele formava comigo. Tanto que, poucas semanas depois que eu assumir o Escritório do Pacífico, o Sr. Dempsey foi chamado à responsabilidade devido à uma queixa de assédio sexual que ele não deu providências. E, todos se lembram, ele mesmo disse que nunca leu o estatuto da empresa. Assim, fica claro, eu poderia nunca ocupar o cargo de CEO, mas ele não tinha a mínima competência para tal. O Réu disse quando fez seu discurso inflamado antes de me atingir. Em resumo, minhas palavras dirigidas à Matti Nieminen não são de mágoa, apenas refletem a verdade.

— E o que a sua família acha dessa sua opinião sobre o seu avô?

— Simples, olhe a senhora mesma. Com a exceção de meus sobrinhos que são menores, estão todos aqui. Creio que isso responde à sua pergunta.

Todos os jurados olharam para as pessoas que se sentavam atrás das mesas da acusação. Observaram as expressões de meus familiares e a forma como eles estavam todos ali. Por mim.

A advogada fez o mesmo e caiu na besteira de encarar justamente minha mãe, e Dona Diana não se fez de rogada, encarou-a de volta e a mensagem era clara: Continue mexendo com a minha filha que daqui a pouco é você quem perde a cabeça.

— Então, os Nieminen estão de acordo com o golpe que você quer dar na empresa?

— Pelo amor de Deus! Não destorça minhas palavras! – Pedi, tentando por um pouco de luz na cabeça oca e vazia da mulher. – Não há golpe algum.

— Você conseguiu a demissão do Sr. Dempsey...

— Ele pareceu bem feliz podendo ficar à toda na vida, usufruindo do dinheiro da família... – Cortei-a.

— Conseguiu imputar um crime que não tem provas contra o Vice-Diretor. E, não satisfeita, tirou o seu avô do cargo que ele ocupava, de CEO da empresa que ele fundou! Você é a pessoa mais rancorosa e vingativa que já conheci. Estou impressionada com a sua frieza. Mas era de se esperar, olha o lugar onde nasceu!

  - Eu não imputei crime nenhum contra ninguém, não sou promotora! E são os promotores que imputam um crime quando do oferecimento da denúncia. Eu não demiti ninguém. Não assinei a carta de demissão de ninguém, mas sim, o Conselho por unanimidade pediu a exclusão do Sr. Dempsey do quadro de funcionários da NT&S, algo que não muda em nada o andamento deste processo. Quando ao fato de Matti Nieminen estar afastado de suas funções. Eu não posso te afirmar nada. Estas investigações são internas e secretas, sendo realizadas por um grupo especial do Conselho e com o CEO interino. E as investigações estão ocorrendo como bem mencionou a minha avó Mina Nieminen. E, por fim, não seja xenófoba. O lugar de nascimento de uma pessoa não influencia nas suas atitudes. Pessoas nascem com índoles boas e ruins em qualquer lugar do mundo, em qualquer família. Generalizar assim só cria mais atritos e preconceitos. Eduque-se, por favor.

A advogada perdeu até o balanço depois dessa. Ficou me encarando raivosa e sem falar mais nada, foi para a sua cadeira.

— Defesa, a vítima está liberada?

— Sim.

O meirinho veio me ajudar a descer os degraus, agradeci-o e andei para meu lugar, com a cabeça elevada e tentando manter o controle, apesar de que a minha vontade era a de arremessar o meu sapato na cara daquela troglodita. Vi as expressões de minha família, eles seguraram os sorrisos, menos Pietra, que ria abertamente e olhava para o lado da defesa, literalmente debochando de todos eles.

Agora só faltava o depoimento do Réu e ele logo foi chamado para ocupar o seu lugar. Sentou-se depois de juramentado e com uma expressão de tédio, ouviu a introdução do Promotor. Granger não poupou memórias, fatos e ainda acrescentou o que eu acabara de falar, cada uma das lesões que eu agora carregava.

— Senhor Cavendish, a pergunta que todos fazemos é somente uma: Por quê? Por que tentar assassinar uma pessoa três vezes?

Cavendish ficou calado, ele tinha esse direito e o usou.

— É a sua chance de melhorar as coisas para si, senhor Cavendish. Vai preferir ficar calado?

E nada mais.

— Então, diante de tudo o que foi falado, foi mostrado nestes últimos quatro dias de julgamento, podemos inferir que o motivo por trás desta tentativa bárbara de assassinato foi nada mais, nada menos, que poder e dinheiro?

Silêncio novamente.

— Certo. Assim, seu silêncio nos dá a sensação de que todo aquele discurso de ódio, preconceituoso e cheio de frases ditas com o intuito de ferir a destinatária foi a mais pura verdade. O senhor falou tudo aquilo porque quis, não se importando com quem fosse escutar.

Cavendish só levantou os olhos.

— Como o Réu não quer se ajudar ou quer esclarecer os fatos, deixo aqui um breve resumo: esse homem roubou da empresa onde era vice-diretor, tentou assassinar a Srta. Nieminen por três vezes, sendo que na primeira ela era apenas uma garotinha que tinha o sonho de ser uma patinadora campeã olímpica, na segunda ela nem era uma real ameaça a ele, depois, armou, junto com o amigo, Matti Nieminen, um casamento arranjado, para que o poder da maior empresa de comércio e transporte global ficasse restrito na mão de poucos, e queria colocar o sobrinho, que assumiu não gostar de trabalhar, na cadeira de comando. Depois, vendo que nada disso seria mais possível, começou espalhar informações falsas da vida privada da Srta. Nieminen, chegando ao ponto de culpá-la pelo casamento desfeito. E, por fim, quando desconfiou que seria aposentado compulsoriamente, resolveu por eliminar a sua maior rival, atirando nela a queima roupa e não satisfeito de vê-la sangrar, ainda pisoteou em seu lado esquerdo, quase a matando. E teria conseguido esse intento, se a própria Srta. Nieminen não fosse mais esperta do que ele e tivesse a família que tem. E, quando tem a chance de se explicar, contar a sua versão, fica calado! Esses, senhoras e senhores do júri, é o resumo do réu, esse é aquele que deverá ser condenado. Lembrem-se bem destes detalhes e muito obrigado por seus inestimáveis serviços. – Terminou.

E Cavendish abriu a boca pela primeira vez para dizer:

— Eu posso ter feito tudo isso, sim, fiz, e me arrependo de que a vítima, esteja viva e andando. Mas eu não fui o único que desviava fundos da empresa. Não mesmo. Vou ser condenado por tudo isso que falaram? Vou. Não ligo. Mas vou levar mais gente comigo. Porque Matti Nieminen sabia de tudo. E não só sabia, como vinha roubando dinheiro da empresa, desviando para bancos em paraísos fiscais e, para a outra família que ele tem. Eu descobri a existência dos dois filhos dele há um tempo, e assim, ele ficou do meu lado quando o convenci de que deveríamos unir forças e dar um bom casamento para meu sobrinho e um péssimo para a neta dele. Ele não se opôs, nem ele queria a Katerina dentro do Escritório. Por ele, ela seria uma secretariazinha de porta, pois ele sabia, se Katerina tivesse muito poder, ela descobriria os podres dele. Me surpreende que ela não tenha descoberto os tios. Pois, se ela descobriu o meu plano, seria questão de tempo para descobrir o do amado avô.

— Matti Nieminen estava por trás desta última tentativa?

— Sim, ele achou que a neta se mataria em Los Angeles, tendo em vista que meses antes ela sucumbiu à depressão. Mas ninguém contava com o novo relacionamento dela. Assim, ele atacou os bisnetos, na tentativa de atacar a Katerina. Quando não deu certo, eu parti para o caminho mais fácil, pois cada dia que se passava, ela ficava mais forte e mais perto dos nossos segredos. Não deu tempo. Mas, como eu falei. Eu não vou ser o único a cair. Tentei matá-la três vezes? Sim. Matti sabia das duas primeiras, não. Mas concordou com a terceira. No fim, nós dois só queríamos o poder e o dinheiro.  E antes de mais nada, podem ficar sentados aí, - falou com a defesa que estava em polvorosa. – Eu já sabia que estava ferrado quando Mina Nieminen reapareceu na empresa. Agora, só vou fazer que todo mundo tenha o seu momento de culpa. Matti já falei e tem também meu sobrinho que desviou dinheiro. Podem olhar. Isso se o Conselho Geral já não souber. Que caiam todos e – aqui ele olhou bem para mim. – Vida Longa à Katerina. Você derrubou três de uma vez só e ficou de pé, garota. Merece mais do que nunca aquela cadeira.

Eu estava atônita. Era muita informação para ser digerida, processada. Porém, de tudo, eu só conseguia pensar na minha avó. Tantos anos casada com Matti, o homem a quem ela entregou muito mais do que dinheiro, para saber que ele tinha outra família desse jeito. Esqueci onde estava e me levantei, olhei para o fundo da sala, Matti não estava mais ali, claro, os ratos são os primeiros a abandonarem o navio, contudo, fui para perto de minha avó, ela era quem importava agora. E Mina Nieminen parecia relativamente bem, calma e composta como sempre, mas tudo isso era uma fachada, eu sabia, meu pai sabia, ela não demonstraria fraqueza na frente de tantos, todavia, quando chegasse em casa, quando ela encontrasse com Matti novamente.... tenho minhas dúvidas se ele seria só preso por roubar da empresa e tentar me matar... para mim ele seria executado pela ex esposa.

Diante de todas estas revelações, o júri ficou em polvorosa, a acusação encerrou as perguntas, a defesa dispensou o réu. A juíza determinou que os jurados votassem nos quesitos, assim, eles foram levados para a sala secreta, onde seriam perguntados sobre o que viram e ouviram neste circo dos horrores.

Era hora de encerrar esse julgamento.

Não levaram mais do que vinte minutos e o júri tinha o veredito.

Culpado em todos os crimes. Com todas as agravantes.

A pena de Cavendish foi de 40 anos, sem direito à condicional. Ele morreria na cadeia. Era menos um na minha vida. Menos um problema.

Porém dois tinham aparecido.

E um deles era dentro da minha própria família.


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Notas finais do capítulo

Espero tenham gostado. Postado meio atrasado, mas o que vale é que está aqui!
Muito obrigada a você que leu até aqui.
Até o próximo.
xoxo



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