Presos Por Um Olhar escrita por Carol McGarrett


Capítulo 102
É possível perdoar?


Notas iniciais do capítulo

E finalmente tem início o julgamento, mas antes, mais uma dor de cabeça para a Kat.
Boa leitura!



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Acordei com minha perna ardendo, também pudera, acabei por me virar e dormir em cima dela. Aos poucos, me levantei e tomei coragem para ver como tudo estava. Não tinha piorado o aspecto, mas como ainda era recente, devia ser normal a ardência.

Alex se remexeu ao meu lado e, antes mesmo de me dar bom dia, olhou por cima de meu ombro e analisou a queimadura.

— Parece que está do mesmo jeito.

— Sim. Parece. Tenho que ver a bolha, mas creio que nada aconteceu, ou a faixa estaria manchada.

— Vá olhar isso, porque ainda quero colocar mais uma ou duas compressas frias aí. E, a propósito, bom dia. – Deu-me um beijo e se levantou, ele também tinha uma semana agitada pela frente.

Mesmo sem termos uma rotina há quase um mês, conseguimos fazer o café, arrumar a cozinha e ainda Alex pôde colocar três compressas no meu pé, antes de irmos trabalhar. Ele saiu no meu carro, logo que eu entrei no carro blindado, com segurança, que tinham me mandado. Confesso que fiquei intimidada com a altura e a largura dos dois homens que me levariam por toda a Londres, mas, depois de um pouco de conversa, vi que eles eram até simpáticos. Simpatia que desaparecia quando estacionavam o carro e um deles descia para me escoltar.

Respirando fundo, subi os degraus do prédio e passei pelas portas automáticas, minha sombra nº 2, ou somente Martin, me acompanhava atentamente, dois passos atrás.

Identifiquei-me na portaria, assim como meu segurança, nossa entrada foi liberada e, depois de uma rápida espera, o elevador chegou.

Estava um pouco adiantada para a minha reunião, então, fiquei esperando na antessala, e não pude deixar de notar os olhares estranhos que Martin recebia, pois ele ficara em pé e na porta, uma estátua humana, sem expressão ou reação.

Camilla chegou alguns minutos atrasada e culpava o trânsito e o seu netinho recém-nascido que não tinha deixado ninguém dormir em casa.

— Sem problemas, sei muito bem como bebês são. – Falei para quebrar o clima.

— Claro. Tinha me esquecido que você foi babá de seus sobrinhos. Sente-se, Katerina. Vamos resolver tudo logo. – Ela foi direta e passamos a reunião imediatamente.

Camilla quis cada um dos detalhes dos escritórios pelo mundo, como trabalhávamos e como tentávamos resolver alguns problemas. E depois que se viu satisfeita com minha explicação, me entregou algumas pastas.

— Escritórios da Argentina, Abu Dhabi e Cingapura. O que pode me dizer desses relatórios de gastos?

Dei uma lida nas pastas, comparei com o relatório anterior e com tudo o que foi enviado para Londres. Tudo parecia perfeito. Os gastos aumentaram nas últimas semanas, mas era esperado, pois houve um aumento no preço do barril de petróleo.

— Tudo está certo, Sra. Grissom. E, se quer uma opinião, acho melhor começarmos a investir em navios de energia mais limpa. Assim como temos as vans de motor híbrido, podemos ver se já há navios assim... creio que li algo que já estavam começando a pesquisar.

— Mas, não instalamos os purificadores em todos os motores e caldeiras, recentemente?

— Até onde vi, sim. Todos os nossos navios já são menos poluentes, mas seria interessante partimos para combustíveis mais limpos, como o GLP, o álcool e o biocombustível... – Afirmei. – Muito provavelmente a compra destas novas tecnologias sairá bem cara, reduzirá os nossos lucros finais, porém, se pagará ao longo dos anos. Até mesmo em questão de redução de impostos. E o mais importante, o impacto para a vida marinha será reduzido.

— Interessante ponto de vista, Katerina. Se eu não me engano, foi você a ferrenha defensora da mudança para o biocombustível também em nossos caminhões...

— Sim, eu dei a ideia. – Confirmei.

— Poderia ficar à frente dessa pesquisa e fazer o levantamento desse ponto em seu escritório? Confio em você para isso.

— Será um prazer.

— Ótimo! Passemos para o próximo ponto.

E a reunião se estendeu por toda a manhã e um pedaço da tarde, porém, em um único dia, resolvemos todos os pedidos, todos os problemas e ainda planejamos uma agenda mais verde para a empresa. Tínhamos o audacioso plano de zerar nossas emissões de carbono, ou pelo menos compensá-las até 2028.

— Acabei que tomei o seu horário de almoço, Katerina. Mas creio que valeu à pena. Resolvemos tudo. Nossa próxima reunião está marcada para a última semana de fevereiro, certo?

— Agendada na última sexta-feira. – Confirmei.

— Mais uma vez, obrigada por ter voado de Los Angeles até Londres para isso. E por me ajudar a entender os demais escritórios. Como você sabe, não cheguei a comandar nenhum deles.

— Prazer foi todo meu.

— E boa sorte nas próximas semanas. Tenho o pressentimento de que tudo vai dar certo.

— Que suas palavras se tornem verdades. – Completei e me despedi da mulher mais poderosa da NT&S, já que minha avó tinha passado o cargo de CEO para Camilla há alguns dias, assumindo ela, o lugar de líder do Conselho.

Estava pensando se minhas sombras de importariam em fazer uma parada em algum restaurante, quando meu celular tocou.

No identificador de chamadas, um nome. Dr. Neville.

Era uma vez meu almoço, pois ele solicitava a minha presença em seu escritório com urgência, tudo para darmos início aos preparativos do julgamento.

— Nosso próximo destino? – Samuel, o motorista, me perguntou.

Passei o endereço para eles e busquei algo em minha bolsa para comer. Achei uma barrinha de cereal, teria que servir.

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Assim que coloquei os pés no prédio de escritórios onde se localizava a sala de Neville, tive o pressentimento de que minha tarde seria cansativa. Vi homens em ternos caros e alinhados irem e virem com pastas, tablets e notebooks em suas mãos, vi mulheres, com roupas sérias e penteados austeros, encarando as telas de seus celulares ou falando o típico linguajar jurídico, passarem de um lado a outro, sempre muito concentradas no que faziam para notar uma mulher com seu guarda-costas de dois metros de altura.

— Odeio advogados. – Martin comentou.

— Não me diga... foi casado quantas vezes? Duas?

— Como sabe?

— Geralmente é depois do segundo divórcio que os homens passam a culpar os advogados pela sua ruína financeira e não a eles mesmo.

— Pelo visto é advogada...

— Formada em Direito. Nunca advoguei, apesar de ter licença para isso. – Completei e entramos no elevador, uma longa viagem nos esperava até o 60º andar.

Quando, enfim, descemos da caixinha de metal que ficou surpreendentemente claustrofóbica mesmo sendo maior do que as convencionais, Martin me sinalizou que ficaria na recepção, sentado em uma das cadeiras do corredor. Assim, deixei-o lá e me apresentei na recepção.

A secretária pessoal de Neville veio me receber e já foi logo me passando pequenas orientações quanto ao assunto dessa reunião, para então completar.

— O procurador-geral está aqui. Ele não atuará na audiência, mas quer se inteirar do caso como um todo.

Assenti com um balançar de cabeça e a Srta. Dawson bateu na porta para anunciar a minha chegada.

A voz forte e cheia de sotaque do Norte da Inglaterra de Neville se fez ouvir e logo ele veio estender a mão e me cumprimentar.

— Boa tarde, Srta. Nieminen. Espero que tudo esteja bem.

— Boa tarde, Doutor Neville. As coisas ficarão melhores quando o julgamento acabar.

— Concordo com você, foi uma grande derrota terem conseguido reverter a decisão em segunda instância e exigirem a sua presença durante todo o ato. Por isso, temos que virar a mesa ao nosso favor. Por favor, sente-se. – Puxou uma cadeira para mim e depois me apresentou ao Procurador- Geral Simmons e ao promotor Granger.

Foi o Promotor quem tomou a palavra.

— Estou ciente de que é formada na área, Srta. Nieminen. Isso facilitará a nossa conversa.

Assenti e ele passou a discorrer sobre o andamento do processo até aqui, o requerimento da minha presença e até mesmo sobre quem eram e quantas eram as testemunhas.

Com isso esclarecido, passou a me interrogar.

— Você não foi ouvida anteriormente. – Começou.

— Não. Não fui.

— O que se lembra?

— De quase nada. Lembro-me de Cavendish abrindo a porta, confessando tudo o que fez contra mim. Dos disparos, de ele ameaçando que ia acabar com a minha vida enquanto pisava em meu lado esquerdo. Depois ouvi a porta ser derrubada e mais nada.

— Não se lembra da presença de mais ninguém?

— Ouvi vozes na sala, escutei nitidamente as vozes de meu pai, de minha avó, Mina e de meu noivo, Alexander.

— Não viu ninguém agindo?

— Não.

— Alguma vez viu o vídeo que você mesma gravou?

— Não.

Achei que ele ia perguntar os motivos de eu ter gravado o vídeo, contudo, logo pulou para os acontecimentos mais recentes.

Expliquei tudo o que aconteceu e como aconteceu, às vezes mais de uma vez e, depois de tudo parcialmente esclarecido, passaram a me informar da estratégia da acusação e o fato que acabou me deixando nauseada.

— Vamos usar a sua imagem o tempo todo, vamos contar a sua vida no tribunal, Srta. Nieminen, assim, fique pronta para que as retóricas sejam ácidas e bem detalhadas sobre fatos de sua vida. Não podemos prever o que eles irão dizer, mas basta um aceno seu, e pedimos para suspender a história. Assim, precisaremos que você fique atenta por todo o tempo.

— Sim. Será até impossível de dormir.

— E, para encerramos, seu depoimento será no último dia. E, a pior notícia guardei para o final, todo o julgamento será filmado e transmitido no canal da corte.

— Perdão? Vão... vão transmitir ao vivo? Tudo?

— Infelizmente sim, diz a defesa que eles têm provas irrefutáveis da inocência de Cavendish.

— Inocência? Meu Deus... isso vai ser um circo.

— É o que eles querem. – Confirmou Neville.

Eu não tinha o que falar, só aceitar. E, talvez, socar alguma coisa... será que eu poderia passar em uma loja de artigos esportivos e comprar um saco de areia extragrande para dependurar no meio da minha sala e fingir que era a cara de Cavendish enquanto eu socava e chutava?

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Depois de pedir e explicar o meu motivo, Sombra 1 e Sombra 2 passaram em uma loja e eu pude comprar um saco de areia e as luvas e faixa que iria precisar (na verdade eu não sabia que precisaria das faixas, Sombra 2 quem me informou). E, às 18:30 fui deixada em casa, como se fosse uma garota que voltava da escola.

A única vantagem que vi por ter seguranças, foi a de que eles não só carregaram meu saco de areia, como me ajudaram a colocá-lo no lugar certo. E, só então, se despediram e me informaram que amanhã estariam aqui para me levarem para o escritório, caso fosse necessário.

Agradeci e depois que fechei a porta e acionei o alarme, troquei a minha roupa, colocando uma roupa de ginástica e as luvas de boxe. Acabei descalça porque não queria ainda mais aperto em meu pé queimado, assim, coloquei um tatame logo abaixo do saco de areia e comecei a socá-lo, soltando palavrões direcionados à Cavendish e à Dempsey, alguns foram para Matti também.

Já estava com os braços doendo quando escutei a campainha. Ponderei se pararia a minha sessão de alívio da tensão, quando me lembrei que minha mãe passaria aqui.

Tirei as luvas e, antes de atender à porta, conferi quem era, e minha mãe me esperava do outro lado da porta principal.

Recebi a minha mãe já pedindo desculpas pelo meu comportamento do dia anterior, dizendo que não havia sido justo com ela tudo o que falei e como agi com todos.

— Isso porque você não viu a Liv hoje pela manhã quando foi informada de que passaria a andar com segurança e motorista... foi um tanto pior do que você e para ela sobrou um castigo e tanto.

— Bem, não nego que ela é minha sobrinha, mas há uma enorme diferença entre ela e eu, não? A atitude de Liv é entendível dadas as circunstâncias, já a minha...

— Você sempre arranjando desculpas para seus sobrinhos, não é minha filha?

Dei de ombros, afinal não era a primeira vez que fazia isso, e posso garantir, não seria a última.

— Pois bem, mudando de assunto, por que todo esse traje de boxeadora?

Fiz uma careta para o par de luvas que eu tinha jogado displicentemente em meus ombros.

— Estava desestressando. Vamos dizer que não foi um dia muito fácil. – Expliquei.

— No escritório ou na reunião com Neville?

— Na reunião...bem, essa reunião não foi 100% com ele. Neville só fez número, quem falou mesmo foi o Promotor. Até mesmo o Procurador Geral estava presente.

— Por qual motivo?

— Não faço ideia, mãe... ele simplesmente estava lá e não abriu a boca. Espero que ele não seja um conhecido de Cavendish que estava lá para descobrir o que eu sei ou que eu não sei.

— Acho difícil. Uma pessoa poderosa como ele não se sujaria assim.

— Eu não ponho a minha mão no fogo por ninguém, ainda mais completos desconhecidos. No mais, eu fui lá para ser interrogada, me sabatinaram por quase três horas, e todas as vezes que eu achava que estava entendendo o que eles queriam, mudavam o rumo das perguntas.

— Sei que você tem que testemunhar, afinal é a vítima que sobreviveu, mas de todos, é aquela que não deveria ser tão cobrada, pois pode carregar o trauma consigo para sempre.

— Diga isso a eles, mamãe. Pode dizer, mas será desperdício de saliva, afinal, duvido que aqueles homens escutem algo além das próprias opiniões.

Minha mãe ficou um tanto pensativa, e olhe que eu nem tinha chegado na pior parte, ainda.

— E tem algo mais?

Abri um sorriso de escárnio.

— Vão contar toda a minha vida durante o julgamento. Disseram-me que, caso eu não me sinta confortável com algum tópico, posso informar a eles, porém, até que eles parem de falar, o estrago já foi feito. A cada hora eu odeio a ideia de me colocarem dentro do salão por todo o tempo.

— Você tem razão em estar socando algo, minha filha.

— Obrigada pela consideração. Porém, eu ainda acho errado me exporem desse jeito. Será que eu realmente não tenho voz em expressar o que pode ser utilizado no julgamento e o que se deve manter privado? Porque normalmente se tem um certo limite, porém, creio que não é o que vai acontecer nesse show de horrores. – Estava tão alterada por isso, que quando vi, estava de pé, em frente à minha mãe e depois comecei a andar pela sala, de um lado para o outro.

— Filha, você precisa se acalmar.

— Eu juro para a senhora, mamãe, eu estou tentando. Contudo, hoje, está difícil. Para falar bem a verdade, creio que só vou me acalmar quando tudo isso acabar.

— Filha, - Minha mãe começou. – Sente-se aqui. – Indicou o lugar ao lado dela. – Se você continuar com medo do que vai acontecer, tudo será muito pior do que você imagina. Por todo o tempo você vem dizendo que não tem medo de ninguém, que está pronta para encará-los, mas a grande verdade, Katerina, é que eles conseguiram o intento. Te apavoraram, te tiraram dos eixos. Esse seu nervosismo, essa sua vontade de sair batendo nas coisas – pegou o par de luvas. – É a mais pura demonstração de como você está sim, afetada pelo que vai acontecer. Sei que você passou por muito nos últimos sessenta dias, sei que não tem sido fácil tentar voltar à normalidade, e não será. Contudo, minha filha, tente entender, não está nas suas mãos. Sei que tem pavor que decidam algo por você, todavia, é assim! E você, acima de qualquer um em nossa casa sabe disso. Você sabe, a decisão de um processo não está nas suas mãos. A exposição de fatos, de passagens da sua vida, será necessária. E eu duvido que vão aprofundar muito. KitKat, você não viu o que saiu nos jornais nos dias que se seguiram à prisão de Cavendish. E, creio eu, será tudo repetido no tribunal. Não é nada que você não tenha conhecimento e nada que irá te prejudicar. Tenha um pouco de fé, Katerina. Acredite que dessa vez, tudo dará certo.

Minha mãe, sem saber, tinha tocado em um ponto sensível. Ela, por me conhecer por toda a minha vida, soube ler as minhas reações quando nem eu consegui.

Ela viu o pavor, o medo de que eu estava de ter que reviver o meu passado. E não só isso. Reviver a declaração de que a minha vida foi uma farsa, na frente de várias pessoas desconhecidas por mim.

E foi neste exato momento, em que eu percebi a veracidade de suas palavras, que eu desabei. E como uma criança que caiu da bicicleta e machucou o joelho, eu chorei, abraçada em minha mãe. Chorei de soluçar.

Minha mãe só envolveu os braços em torno de meus ombros e me confortou, não teve pressa, não falou nada. Deixou-me chorar pelo tempo que eu precisei. E foi muito tempo. E, enquanto eu chorava, eu murmurava que não queria fazer isso. Que eu não queria parar em um tribunal.

— Eu também não queria que você passasse por isso, filha. Se eu pudesse iria por você. Mas você tem que ir.

E eu continuei a chorar.

— Não quero reviver nada daquilo. Dos dias dolorosos da recuperação do meu atropelamento, acordar toda machucada no hospital... relembrar a forma cínica e dissimulada com a qual Cavendish confessou tudo isso e ainda riu quando atirou em mim. Eu não quero. Eu não vou ser forte o bastante para não chorar... e eu não quero ser vista como fraca.

— Katerina, jamais serás vista como fraca, minha filha. Jamais.

Levantei meus olhos para encarar os verdes de minha mãe.

— E como eu posso ser forte se eu já estou desse jeito!! Olhe para mim, mamãe. Eu...

— Você não é fraca. É uma sobrevivente. E ninguém espera que você simplesmente conte tudo o que lhe aconteceu e permaneça firme e séria. KitKat, algumas marcas, nós carregamos para sempre conosco. Tudo o que você passou, moldou a mulher que você é hoje, filha.  

— Eu não sou a mesma pessoa que eu era antes de dezembro.

— Você não é a mesma pessoa que era ontem, minha filha. – Ela me afirmou. – E não vai ser a mesma quando tudo isso acabar. Essa experiência, eu acho que posso colocar desse modo, vai mudar a sua visão sobre vários aspectos. Vai te transformar. Para o bem ou para mal, você será outra. E caberá a você como vai lidar com isso. Como vai aplicar essa dor, esse medo e o fato de que você é mais forte do que imagina, na sua vida daqui para frente.

— A senhora sabe que eu não entendi nada do que está falando, não sabe?

— Diga-me ao final do julgamento, se a sua perspectiva quanto a vários aspectos desse processo não vai mudar.

Mesmo sem ter esperanças de que eu realmente mudaria em algum aspecto depois de tudo isso, aceitei as palavras de minha mãe. Pois, para mim era um alívio que alguém pudesse entender esse sentimento sufocante que estava preso em meu peito.

Minha mãe acabou ficando para o jantar, dizendo que não me deixaria sozinha, não enquanto eu ainda digeria os acontecimentos da tarde e, com isso, meu pai acabou aparecendo. Ao ver minha expressão, se assustou e quis saber os detalhes. Foi minha mãe quem resumiu tudo.

Como Alex já tinha me dito que chegaria tarde hoje, meus pais acabaram que estenderam a visita até o momento em que meu noivo passou pela porta.

Foi um momento estranho, pois ele estava com resquícios da maquiagem do set e tinha uma cara de tão cansado que acabou por assustar a minha mãe.

— Eu estou bem, dona Diana. – Ele garantiu assim que a cumprimentou. – Isso aqui é só mais um dia no set. E esse sangue não é de verdade.

Meus pais se foram, não sem antes lançar várias olhadas estranhas na direção de Alex, o que rendeu algumas risadas de minha parte.

— E você, senhor que se esquece de tirar a maquiagem do set e acaba assustando os sogros, vá tomar um banho que eu vou preparar algo para você comer.

Alex subiu as escadas brincando com Stark e Thor, Loki permanecia fiel ao meu lado. Arrumei o jantar de Alex e ele logo estava comendo como se não houvesse amanhã na minha frente.

— Não comeu nada no set hoje?

— Com toda a maquiagem que estava, era quase inviável.

— E como você fica de pé assim? – Perguntei preocupada.

— Amanhã vai ser mais tranquilo e eu vou chegar mais cedo. E mudando o foco da conversa, como foi o seu dia?

— Ponderei se contava tudo ou não, acabei por contar.

Alex não gostou de saber, contudo, disse que já esperava por isso. Tendo em vista o que ele foi obrigado a ler nos jornais em dezembro.

— Esse é outro ponto que será esfregado na minha cara... mas prefiro ficar na ignorância.

— Acho bom que fique. E, eu estou enxergando demais, ou tem um saco de areia extragrande dependurado na academia?

— Tem.

— E como você colocou aquilo lá?

— Não fui eu.... Sombra 1e Sombra 2 fizeram esse favor para mim.

— Sombra 1 e Sombra 2?

— São meus seguranças, chamo-os como quero... e são as minhas sombras... sombras bem grandes.

Alex balançou negativamente a cabeça e depois abriu um sorriso.

— Você sabe socar aquilo?

— Já soquei.

— Você sabe a técnica?

— Isso existe?! – Perguntei abismada.

— É, você não sabe. Vem, vou te ensinar.

— Primeiro a cozinha! – Alertei e o puxei para pia.

Com a cozinha arrumada, Alex me arrastou para a academia e me deu uma aula que só posso traduzir como “Boxe 101”, pois até a posição do meu pé, ele corrigiu! A posição do meu pé!! E eu só queria socar as coisas!!

Voe como uma borboleta e ferroe como uma abelha. – Meu noivo falou, ao demonstrar o movimento correto.

— De onde tirou isso?

— Muhammad Ali. Era assim que ele associava o boxe.

— Com frágeis insetos? – Perguntei descrente.

— Vamos lá, Kat. Você entendeu essa referência! Flutuar como a borboleta, ser ágil, pois no ringue, assim ninguém te pega, e ferroar como uma abelha, que seu cruzado seja tão potente quanto o ferrão da abelha.

— Eu entendi o contexto, Alex. Só acho meio improvável... Mas eu não entendo nada de boxe. – Terminei a frase, ou era bem capaz que ele discorresse uma tese sobre o tema.

E nossa noite seguiu assim, entre socos e chutes no saco de areia e até mesmo alguns movimentos como se estivéssemos em uma luta. Claro que Alex gostou mais do que eu, contudo, foi uma ótima forma de desestressar, e me preparar para o dia de amanhã.

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Minha terça estava relativamente tranquila. Aproveitei o fato de que Alex tinha saído cedo e que eu não precisava ir até o prédio da empresa, e trabalhei de casa, na companhia de meus três cachorros e de Sombra 2, que ficava vagando pelo terreno atrás até de esquilos. E pude dar uma atenção melhor ao meu pé queimado.

Tentei ignorar a presença de meu segurança ao máximo. Até que aumentando o som das minhas músicas, consegui meu intento.

Milena e Amanda não tinham economizado na quantidade de serviço, e me mandaram tudo digitalizado. Assim, me vi tão atolada de serviço que acabei não vendo o tempo passar e já era mais de duas da tarde quando me lembrei que almoçar faz bem.

Era praticamente um milagre que eu pudesse comer algo que estivesse recém feito a essa hora, e a melhor parte, sem ter outro compromisso bem em cima. Estava acabando de arrumar a cozinha, quando a campainha tocou.

Achei estranho, pois Sombra 2 ainda “patrulhava” o terreno. Porém, pensei que, se ele não deu nenhum aviso, era seguro abrir a porta.

E eu queria que não tivesse feito isso.

Pois do outro lado, com uma barriga de grávida enorme, estava aquela que diziam ser minha irmã.

— Ora, se não é fracassada da Katerina! – Ela falou, tentando forçar a entrada e a passagem.

Mantive-me no lugar e segurei a porta entreaberta.

— O que você está fazendo aqui? – Questionei.

Mia, ao invés de me responder, tentou novamente entrar na minha casa.

— Você não é bem-vinda aqui. Vá embora. – Sibilei.

E, claro, minha irmã tinha que me humilhar.

— O que foi? Tem vergonha de que eu vá rir da sua falta de gosto? Ou isso tudo é para proteger o seu namoradinho idiota?

— Vá embora. – Tornei a falar e comecei a fechar a porta, para ser impedida por ela, que enfiou o pé.

Como eu não queria bater em uma mulher grávida, e sabendo muito bem que se algo acontecesse com ela, dentro de poucas horas eu estaria nos principais sites de fofoca do mundo, apenas mantive a porta onde estava, mais cedo ou mais tarde, ela teria câimbras mesmo e tiraria a perna de lá.

— Se você forçar essa porta na minha perna... – Mia ameaçou.

— A porta está onde deve estar, se algo acontecer, foi por sua culpa, e eu tenho câmeras que provam isso. Some daqui!

Para minha surpresa, algo empurrou a porta, e eu perdi o equilíbrio, caindo sentada no hall de entrada. Não poderia ser a Mia, pois era muito mais forte, assim, quando olhei para cima, vi o tal do marido dela.

— Quem é você e o que está fazendo na minha casa? – Sibilei de ódio. Em Mia eu não bateria, mas em um completo estranho, que tinha acabado de me jogar no chão, eu bateria sim.

— Bem, Hassan, essa é a fracassada da família... – Mia falou com desdém, e o tal do Príncipe deu um passo para dentro da minha casa.

— Fora daqui. Isso é uma propriedade privada e vocês não foram convidados a entrar. Mais um passo, e eu chamo a polícia. – Ameacei já com o telefone na mão.

— Você? Fazendo um escândalo? Du.vi.do! – Minha irmã me contradisse. – Nem quando foi abandonada e imediatamente trocada no altar, você fez algo!! Vai fazer agora? E, por acaso, você sabe quem meu marido é?

— Não me interessa. Agora fora. – Forcei a porta, já que quem estava mais perto era o tal do príncipe.

Ele não arredou o pé e ainda debochou da minha cara. Não por muito tempo, pois quando ele entrou na minha casa, à força, Loki e Stark voaram nele, com dentes à mostra e rosnando furiosos.

— Pare esses monstros! – Mia ordenou.

— Não. São os guarda costas da casa. Eu falei que não eram bem-vindos. E quando eu aviso, é para que se evite coisas assim. Vão embora enquanto eles só estão parados na porta e rosnando... porque se atacarem, eu não vou entrar no meio e me machucar por duas pessoas intragáveis, indesejáveis e malquistas.

Minha irmã ainda tentou forçar a passagem, Stark a proibiu, foi o marido dela que pareceu ter mais senso e a puxou pelo braço, descendo os degraus.

— Eu vou contar para o mundo o que aconteceu aqui.

— Eu tenho as provas de que vocês invadiram a minha casa... imagens valem mais do que mil palavras, Mia. – Avisei e bati a porta, trancando e ativando o alarme. Porém, ainda foi possível ouvir a voz de Mia:

— Aproveite, seus últimos momentos como alguém que tem dinheiro estão contados. Como eu já te falei, estarei lá para te ver ser derrotada.

E aí estava a prova... era ela quem mandara as mensagens.

Ignorei como pude a provocação final e me pus a respirar fundo várias vezes, me concentrando e cada inspiração e expiração. Consegui me acalmar depois de uns dez minutos e decidida a ignorar a péssima visita, voltei ao trabalho, pois agora estava no mesmo fuso que o pessoal de Los Angeles e Milena pedia uma reunião extraordinária.

— Lá vamos nós para mais um dia resolvendo problemas...

Passei toda a tarde conectada com Los Angeles, que,  com o fim da frente fria, as comunicações foram todas restauradas, e, assim, o trabalho tinha voltado ao normal.

Quando dei por mim, Alex chegava em casa, e, ao olhar o relógio no canto da tela do computador, dei-me conta de que já eram quase nove da noite.

Mandei uma mensagem para minha secretária, avisando que estava encerrando o serviço e que qualquer coisa ela me mandasse um e-mail, que no dia seguinte eu resolveria o problema. Fechei a tampa do computador no exato instante em que Alex atravessava a porta do escritório.

— Trabalhando até agora? – Perguntou quando parou do meu lado para me dar um beijo.

— Sim... acabei que entrei em um bom ritmo e não vi o tempo passar. E como foi hoje? – Levantei-me para abraçá-lo.

— Estamos acabando aqui. As gravações dentro de um estúdio são muito mais rápidas. Creio que em duas semanas voltamos para os EUA. O que é bom, vamos poder ir ao Super Bowl com meu pai.

— Isso é ótimo! Será que as gravações no Novo México serão tão rápidas quanto? – Fomos andando até a cozinha, onde iria começar a preparar o jantar.

— Não sei, pode ser que sim, ainda mais agora que o diretor e o roteirista se entenderam. – Alex comentou com um sorriso e se pôs a explicar sobre as mais recentes cenas que gravaram, enquanto me ajudava com o jantar.

Comemos tranquilamente, e eu decidi que não falaria nada sobre a desagradável visita que recebi à tarde. Não iria ficar retornando a um assunto que só nos traria dor de cabeça.

— Vai me acompanhar na academia hoje? – Meu noivo me perguntou, quando terminou de lavar a última vasilha.

— Até vou, desde que você não cisme de querer me ensinar a lutar qualquer coisa.

— Qual é, Kat? Preciso de uma companhia para ensaiar alguns movimentos.

Estreitei meus olhos na sua direção.

— E que luta é?

Alex abriu o maior dos sorrisos quando perguntei isso e foi me rebocando para o quarto, me explicando os fundamentos básicos do karatê.

— Não se esqueça de que amanhã eu vou ficar sentada em uma cadeira completamente desconfortável durante todo o dia...não me deixe toda doendo! – Alertei assim que nos posicionamos em cima do tatame, o que só aconteceu depois que meu noivo deu uma boa conferida em como ia a evolução da minha queimadura (as bordas já cicatrizavam e a bolha começava aos poucos a secar).

— Pode deixar, Srta. Medrosa. – Ele riu do que eu falara, e só pelo brilho em seus olhos eu temi que nem fosse conseguir levantar-me da cama.

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Não sei dizer se foi porque eu realmente estava cansada, ou se foi toda aquela aula de karatê (e ter sido jogada no tatame por mais vezes do que consegui contar), porém, consegui dormir por toda a noite e sem sonhos. E quando acordei, foi que me dei conta de que dia era e o que eu iria fazer.

Sentei-me na cama, um tanto desorientada e um tanto dolorida também, pois, apesar de Alex não ter me jogado contra o tatame com toda a força, eu fui a sua cobaia em vários movimentos, que sempre terminavam comigo ou caindo sentada, ou deitada geralmente parecendo com uma boneca de trapos.

Quando despertei completamente, notei que estava sozinha na cama, apurei os ouvidos e não escutei o som do chuveiro ligado, contudo, pude ouvir o som de panelas na cozinha.

— O que ele está aprontando? – Questionei sozinha e comecei a me levantar, procurando por meu roupão. Antes que eu pudesse ficar de pé, a porta foi aberta, e Alex entrou carregando uma bandeja com o café da manhã.

— Hoje eu consegui te pegar ainda na cama! – Falou feliz e veio me dar um beijo.

— Bom dia para você! – Falei a retribuir o carinho. – Posso saber o motivo do mimo?

— Não posso fazer um agrado para minha noiva?

— Isso está soando como um pedido de desculpas por todas as vezes que você me derrubou no tatame!

Alex deu de ombros. É claro que ele se sentiria culpado por isso.

— Te juro que só estou doendo um pouquinho. Nada que me vá me deixar de cama.

Comemos brincando um com outro e comentando como as panquecas de Dottie faziam falta. E quando não dava mais para adiar o inadiável, relutantemente me levantei, arrumei a cama e fui atrás de uma roupa para vestir no julgamento.

Alex tomou banho na minha frente, pois ele tinha que chegar mais cedo no estúdio, e, quando estava para sair, me abraçou apertado, e, olhando no fundo dos meus olhos, apenas disse:

— Queria poder ficar do seu lado a cada segundo desse julgamento, mas, você está certa quando disse que seria egoísta de minha parte parar toda uma produção. Assim, Kat, só te peço uma coisa.

Levantei uma sobrancelha em sua direção.

— Mostre a eles que não tem medo deles! Você pode estar apavorada, mas mantenha-se com essa pose de executiva poderosa que você faz quando está no trabalho. Faça com que eles tenham medo de você. E não se esqueça, se tudo der errado e acabar em briga, sempre coloque o dedão no meio do punho fechado!! – Ele piscou na minha direção ao entrar no carro.

— Vou me lembrar dessa dica valiosíssima! – Tive que rir.

— E mais uma coisa. – Desceu do carro e voltou a ficar parado na minha frente.

— O que?

— Eu te amo, Rainha do Gelo!

— Também te amo, Surfista! – Dei um beijo nele e Alex se foi.

Com pouco, meus seguranças chegaram, avisando que já estavam à minha disposição.

Acabei de me arrumar, preparei a minha bolsa com o que eu achava que iria precisar e, com a cabeça erguida, sai de casa.

Sombra 2 abriu a porta do carro para mim e me assustei quando vi meu pai sentado no banco de trás.

— Bom dia, filha! Pronta para começar a colocar o último prego do caixão de Cavendish.

— Agora eu estou! – Dei um abraço nele. Feliz que, pelo menos quando tudo começasse, eu sabia que tinha a presença do meu pai bem ao meu lado.

Não demoramos muito para chegarmos até o tribunal, e como já haviam me avisado, um pequeno circo estava montado na porta.

Sombra 1 conseguiu manobrar o carro até ficarmos um tanto distante dos jornalistas e Sombra 2 fez o seu papel muito bem, bloqueando-nos dos microfones e das câmeras.

Como Alex havia me pedido, mesmo com todos os jornalistas e as perguntas estúpidas, mantive a minha cabeça alta, com o queixo um tanto empinado, passando não só uma imagem de segurança, como também de um certo poder, mesmo quando meu estômago dava voltas e minhas mãos estavam mais frias que um lago congelado.

Fomos guiados para a sala de audiência, e, quando o segurança do tribunal abriu a porta para nós, notei que já havia pessoas sentadas nas cadeiras da plateia. Caminhei até a mesa da acusação, cumprimentei Neville e toda a sua equipe de assistentes, assim como o Promotor Granger. Foi-me indicada uma cadeira e sentei-me ali, esperando a audiência começar.

Meu pai se sentou logo atrás de mim, mas na plateia, e ele, vendo que eu não estava nada confortável com a situação, me confortou com um aperto em meu ombro.

— Vai dar tudo certo, filha. – Falou em finlandês.

Uma presença que eu não esperava e que chegou um pouco depois de nós foi de minha avó Mina. Ela, depois de me abraçar, sentou-se ao lado de meu pai.

A defesa começou a chegar, eram quase dez advogados, todos bem-vestidos e com expressões que me causaram repulsa. Eles assumiram os seus lugares do outro lado e começaram a tirar os computadores e tablets das pastas.

Alguns minutos depois, vi Dempsey, de mãos dados com Eleanor, entrar e se sentar na primeira fileira da plateia. Era inacreditável que ele fosse uma das testemunhas.

Contudo, a pior surpresa apareceu logo depois, Matti passou pelas portas com aquele ar arrogante que ele tem – o mesmo que Mia carrega consigo. – e para o desgosto de minha avó, cumprimentou Dempsey e Eleanor, depois se sentou ao lado deles. Aquele que um dia chamei de avô tinha escolhido um lado, e não era o da família.

Se para mim isso não fazia muita diferença, afinal, depois de tudo o que ele aprontou comigo, estar do lado de Cavendish era até esperado, não pude não pensar em meu pai. Pois, ele via o próprio pai se virar contra ele e contra a neta.

Lancei um olhar na direção dos dois familiares que me apoiavam hoje, e nenhum deles parecia se importar com a presença de Matti. Estavam serenos em seus lugares. Talvez algo tinha acontecido enquanto eu estava em coma e ninguém me falou... mas não era preciso ser muito inteligente para saber que o casamento de mais de cinquenta anos de meus avós tinha acabado.

Virei-me para a frente, e logo o meirinho anunciou a entrada da juíza. Ficamos de pé enquanto ela assumia o seu lugar e, depois de autorizado nos sentamos. A primeira ordem que ela deu foi:

— Tragam o réu.

Essa seria a primeira vez que eu veria Cavendish desde dezembro. Minhas mãos começaram a suar, meu coração se acelerou. Dei uma respirada funda e, mentalmente, falei comigo mesma:

— Você é o pior pesadelo dele. Pois além de saber de tudo, sobreviveu para testemunhar contra ele.

Mesmo estando em um terno feito sob medida, Cavendish estava algemado. Ele entrou com aquele ar petulante de sempre, e assim que viu a plateia, levantou a cabeça. Para, logo em seguida, me achar no meio da acusação, não perdendo tempo em focar aqueles odiosos olhos cinzentos em mim e abrir um sorriso de escárnio.

Diferentemente do que eu havia pensado, não senti medo dele. De início talvez tenha sentido repulsa. Mas o sentimento mais forte não era outro senão: pena.

Eu senti pena dele. Pois um homem na sua idade teve que recorrer a inúmeros meios para se livrar primeiro de uma garotinha inocente e depois de uma mulher sonhadora, e falhou nas três tentativas.

Ele poderia ter tido tudo, bastasse que ficasse calado, mas se achando a pessoa mais inteligente do mundo, contou-me tudo, só que eu fui mais esperta do que ele e gravei a confissão. E, agora, ele encarava o pior pesadelo dele.

Seria julgado por seus iguais. Sua vida dependia de pessoas que não o conheciam, que não se importavam com seu poder ou dinheiro. Pessoas que ele não poderia manipular ou comprar.

Cavendish era a imagem do fracasso. E mesmo assim ainda tentava impor medo.

Só que ele falhava imensamente.

E, olhando para a sua figura que nada mais era do que uma falsa imagem de poder e arrogância, me pus a pensar:

Será que era possível perdoá-lo?


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Notas finais do capítulo

Bem, é isso. O palco está armado e no próximo capítulo prometo, que acaba a enrolação.
Muito obrigada a você que leu até aqui.
Até na semana que vem!
xoxo



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