A Quinta Sombra do Fogo escrita por Pandora


Capítulo 2
A Companhia do Daimyō


Notas iniciais do capítulo

Voltei galera!!! Bem-vindos ao capítulo 2. Gostaria de dizer que foi mal a demora em atualizar, uma história como essa requer muito tempo e preparo.
Espero que todos gostem.



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A vida em Konoha caminhava para o que era antes da invasão. Embora muitas áreas da aldeia estivessem prejudicadas ao ponto de não conseguirem um reparo adequado, sua população fazia o possível para retomada de suas atividades o mais próximo da normalidade. O posto de atribuição de missões, por exemplo, foi um dos primeiros lugares a regressar às suas funções depois do ataque. Apesar de haver aqueles que julgavam os shinobis por darem prioridade às missões do que para a própria vila, não sabiam que havia um bom motivo por trás. Uma aldeia que não dá conta de suas missões, seria vista como fraca e, no pior dos casos, invadida.

Por toda Konoha, equipes de demolição demarcavam os prédios que precisavam ser embargados por danos à estrutura. O estádio que a poucos dias havia sediado o exame de seleção chūnin, foi fechado sem previsões futuras de uso. As equipes ainda procuravam uma explicação do porquê uma mini floresta havia surgido no telhado sobre a arquibancada. Mas nada se compara com o rastro de destruição que as infames invocações de Orochimaru causaram por toda a área leste da aldeia. Além da grande brecha na muralha, centenas de metros adentro da vila foram afetados de alguma forma pelas grandes cobras. Equipes de genins foram alocados para cobrir as enormes trincheiras que os répteis haviam causado com tamanha euforia.

Dentre as áreas afetadas, o distrito comercial foi o mais prejudicado. Localizado na região central da aldeia, foi o local com o maior número de prédios condenados pelas equipes de perícia. O bairro é um conglomerado de quarteirões com todos os tipos de comércios. Recheado de ruas e travessas com restaurantes e casas de chá, encruzilhados com bares e outros estabelecimentos voltados para os adultos. Sendo um ponto privilegiado, não era de se esperar que as forças da areia e do som tentassem tomá-la primeiro. Aquele bairro demarcava o centro da aldeia, e qualquer direção daquele ponto possuía o mesmo comprimento.

Esses e outros problemas acabavam parando nas mãos de um único ninja que a dias sentia que sua dor de cabeça só piorava.

— Por que todos esses problemas estão caindo no meu departamento? — Bufou o ninja desanimado.

Nara Shikaku é o jōnin comandante de Konohagakure e chefe do Clã Nara. Como se não bastasse suas responsabilidades para com seu clã e sua posição na hierarquia militar da vila. Tratar de assuntos domésticos e civis não estava em suas preferências. Desde o ataque fracassado, incontáveis assuntos vieram e ordens saíram do seu gabinete. Como uma das grandes potências shinobis, o comandante achava que Konoha estaria melhor preparado para esse tipo de situação. Mas isso só demonstra que nem as maiores aldeias estão aptas a tudo.

— Aceite o cargo, disseram. Pagam melhor, disseram. Que problemático. Se eu soubesse que teria esse estresse todo, nunca teria me candidatado.

Enquanto passava mais um documento orçamentário sobre a recuperação da vila, sua concentração foi abalada com um par duplo de batidas na porta. Sentindo que era um momento oportuno de se dar uma pausa, encostou as costas no apoio da cadeira.

— Entre!

A porta se abriu para revelar um homem excêntrico. Vestido com um casaco branco comprido até os joelhos e calça preta, possuía ataduras brancas amarradas em torno de sua perna direita, protetores de braço, luvas e sandálias pretas. Seu rosto estava coberto por uma máscara em formato de cachorro. Além das orelhas decorativas, desenhos detalhados de sobrancelhas e três listras grossas, com duas ao longo de ambos os lados de seu rosto e uma na testa adornavam sua aparência. Um ninja totalmente equipado para a guerra.

— Pediu que me chamassem, comandante?

— Que bom que arranjou um tempo, comandante. Temos muito com o que conversar — disse Shikaku ansiosamente. — Fique à vontade.

Enquanto esperava que o outro shinobi sentasse em uma das cadeiras à sua frente. Shikaku aproveitou para se servir de um copo de saquê ao mesmo tempo que estendia outro para o convidado. Havia algum tempo que o jōnin comandante queria discutir certos assuntos com o comandante ANBU. Ainda mais neste momento na qual a aldeia se encontrava.

— Não tem sido fácil administrar a aldeia cachorro — iniciou o jōnin. — Por mais que eu tente seguir os protocolos, nunca poderíamos dizer que estávamos prevenidos para uma situação dessas. Encontramo-nos despreparados e com o poder nas mãos de tão poucos, admiro que tenhamos chegado tão longe.

— De fato! — exclamou o ninja. — Essa invasão foi lastimável. Foram grandes perdas tanto para a ANBU como para os jōnins.

— Meu pessoal tem feito muitas horas extras, assim como os chūnins. Se não fosse pelo apoio da ANBU, não saberia dizer se conseguimos manter a ordem na aldeia por tanto tempo.

— Não há o que agradecer meu amigo, não fizemos mais do que nossa obrigação para com Konoha. Mas vejo que minha vinda aqui é mais do que somente trocar palavras amigáveis.

— Você está certo. Há muito para ser discutido — disse o Shikaku, tomando um gole de sua bebida. — Nunca na história de Konoha ficamos sem um líder. Desde o Shodai-sama, a aldeia nunca havia ficado sem liderança. Com a morte do primeiro, o Nidaime-sama o sucedeu e assim permaneceu até a escolha de seu sucessor, o Sandaime-sama. Mesmo com o ataque do nove caudas e a morte prematura do Yondaime-sama, a vila permaneceu com um líder através do retorno do Terceiro da aposentadoria. Porém, nos encontramos em uma situação que nunca estivemos antes.

— Não temos Hokage e nenhum candidato pré-selecionado.

— Exato! Muito em breve o Daimyō-sama chegará a Konoha para eleger um novo candidato pessoalmente. Então, antes de tudo, gostaria de pedir que fizesse a escolta dele e de sua comitiva pelo tempo que permanecerem em Konoha.

— Considere feito — interrompeu o outro comandante. — A ANBU segue ordens diretas apenas do Hokage. Mas para que um novo seja eleito o mais rápido possível, faremos tudo ao nosso alcance.

— Bom... Agora, o segundo pedido consiste em algo um pouco mais elaborado. Como está ciente, Konoha há muito perdeu seu departamento de polícia que cuidava das varreduras regulares e proteção da aldeia. Peço que nos próximos dias, use uma parte de seus recursos e pessoal para assumir essas atividades. Pelo menos até que possamos introduzir esse problema ao novo Hokage.

— Verei o que posso fazer. Ultimamente meu pessoal tem cada vez mais esbarrado em curiosos aproximando-se de Konoha. Contudo é possível realocar alguém para vigiar a vila regularmente.

— Obrigado meu amigo! — exclamou Shikaku um pouco aliviado. — Assim poderei distribuir os jounins onde mais precisam.

Um silêncio agradável se estendeu entre os dois comandantes. Como líderes de diferentes organizações dentro de Konoha, era difícil alguma interação entre eles acontecesse. O posto de Hokage, era mais do que liderança, mas também tinha como responsabilidade ser mediador entre os diferentes poderes da aldeia.

— Há mais um assunto importante que quero discutir. Com a morte do Terceiro, temo que os antigos conselheiros estejam tomando mais responsabilidades do que realmente possuem. Principalmente Danzō…

— Entendo… isso não me surpreende. Danzō sempre demonstrou uma obsessão para o cargo de Hokage. Lembro-me de sua vontade de assumir o chapéu quando o Sandaime-sama abdicou.

— Grandes shinobis que essa vila tem produzido, de fato. Orochimaru em sua busca pessoal, querendo o poder para alcançar seus objetivos hediondos. Danzō por sua sede de poder, faria qualquer coisa para alcançá-lo. Não me surpreenderia se ele estivesse orquestrando algum plano neste exato momento.

— Felizmente sabemos que isso não ocorrerá. Além do apoio do Daimyō-sama, ele precisaria ganhar na votação dos jounins. Podemos afirmar com toda certeza, que isso nunca acontecerá.

— Quem sabe… Danzō sempre foi alguém tratado com dúvida e incerteza. Até mesmo o Terceiro tinha receio de lidar com ele. Danzō é um homem que nunca dá todas as cartas na mesa, sempre mantém um ás na manga.

— Todos os ninjas de alta classificação sabem quem é Danzō Shimura. Não há probabilidade de ele ganhar uma votação entre eles. Sem contar que há muito sua idade excede sua disposição ao cargo. Ele é um homem velho que não admite que seu tempo passou.

— Enquanto houver homens como Ryōtenbin no Ōnoki, o Terceiro Tsuchikage, no poder. Pessoas como Danzō nunca aceitaram que seu tempo acabou.

         Novamente o silêncio reinou na sala. Mas diferente da primeira vez, não era de uma forma agradável, mas sim temerosa. Uma preocupação pelo desconhecido que os aguardava. O futuro da aldeia era muito incerto, e os dois ninjas sabiam disso.

— Não interprete minhas próximas palavras vindas do comandante ANBU, escute-as como de um cidadão de Konoha.

Shikaku se posicionou melhor na cadeira, esperando para ouvir o que o outro comandante tinha a dizer.

— Por décadas a aldeia tem vivido e cometido os mesmos erros do passado. Mas não podemos culpar somente Konohagakure. O mundo shinobi foi erguido e desenvolvido nesses mesmos preceitos destrutivos. Quando nos encontrarmos com o Daimyō-sama, peço que o Hokage que escolhermos seja diferente dos anteriores. Não precisamos de um falcão de guerra ou de um pacifista a todo custo, mas alguém diferente. Um shinobi resistente que saiba agir nos piores momentos, mas que também tenha as melhores convicções. Alguém que tenha visto muito e estado dos dois lados da balança e que possa trazer seus pesos ao mais próximo da igualdade.

 

Muito tempo depois do comandante Anbu ter deixado a sala. Shikaku permaneceu preso em pensamentos. Com a cabeça apoiada nos braços, que por sua vez, estavam apoiados na mesa. Refletiu sobre a conversa e tudo o que foi abordado naquele encontro.

Será que havia alguém em Konoha que se encaixava naqueles preceitos? Incontáveis shinobis vieram a sua mente e quanto mais pensava, mas confuso ficava. Decidindo que era um assunto para outra hora, começou a reorganizar sua papelada. Apenas quando estava se preparando para dar a noite por encerrado, percebeu o copo intocado a sua frente.

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Kakashi não pode deixar de respirar aliviado quando finalmente avistou as paredes de Konoha. Seus enormes portões verdes eram um colírio para seus olhos e de toda a sua unidade. Mesmo a distância entre eles, não o impediu de enxergar os dois kanjis escritos em vermelho e o símbolo esculpido da folha. Quem diria que escoltar o Daimyō e sua comitiva seria uma das mais exaustantes e complicadas tarefas que ele havia sido encarregado de fazer.

Levaram dois dias para retornar de volta à aldeia. Foi uma viagem lenta pela estrada, parando em todas as vilas pelo caminho. Um jogo político que o líder jounin odiava fazer parte. O Daimyō não tinha o hábito de sair da capital, e quando fazia, tinha que mostrar uma preocupação para com seu povo. Mesmo em uma viagem tão importante como para a escolha da próxima sombra do fogo, ele demorasse mais do que o protocolo permitia. Se os inimigos não soubessem quando o Daimyō iria tomar uma posição sobre a escolha do novo Hokage, agora não restava dúvidas. Problema em dobro para os shinobis encarregados por sua proteção.

Além da escolta padrão da folha, o senhor do fogo também estava acompanhado do antigo grupo no qual Asuma fazia parte. Os Doze Guardiões Ninja.  Embora os membros não fossem os originais, foi uma surpresa para o shinobi jounin ser reconhecido e quase glorificado. Afinal, Asuma era uma lenda no grupo. Um dos três membros da primeira geração ainda vivos. A semelhança com o grupo de outrora, era que o atual não possuía a quantidade total de membros.

Início do flashback

Conforme a comitiva do Daimyō se aproximava. Kakashi, junto de Asuma, Kurenai, Aoba e alguns outros, pararam no meio da estrada para esperar. Não foi uma surpresa para os ninjas da folha quando as pessoas no início da fila estagnaram quando os avistaram. Num piscar de olhos, cinco ninjas com uniformes padrão vermelho e com faixas cinzas amarradas na cintura os encaravam. Os desconhecidos lembravam muito os membros regulares jounins. Kakashi reconheceu-os imediatamente como membros do famoso grupo dos Doze Guardiões Ninja.

— Quem são vocês? — perguntou o ninja no centro do grupo.

O homem de aparência esguia, possuía cabelos compridos e espetados que caiam até a altura de uma máscara escondendo parte do rosto. Embora, a dele fosse mais resistente, feita de um material diferente do que pano. Seu peito encontrava-se coberto por um colete estilo jounin e além de estar equipado com protetores de braço, luvas e sandálias pretas. Amarrado em sua cintura, estava a faixa cinza com o símbolo dos doze guardiões ninja.

— Me chamo Hatake Kakashi e esta é minha unidade. Somos ninjas de Konoha e estamos encarregados pelo alto conselho para acompanhar o Daimyō-sama.

— Isso posso ver — respondeu rudemente o outro shinobi. — Como saberei que são verdadeiros ninjas de Konoha?

— Trago comigo o selo do conselho.

Kakashi tirou do colete um papel branco intocado com um grande kanji em cera no centro. O ninja da folha girou em frente da companhia, de forma que todos pudessem olhar.

— Que a chama se perpetue… — sussurrou o guardião ninja, para que apenas Kakashi fosse capaz de ouvir.

— … e que ela cresça e queime em nossos corações — devolveu o ninja em saudação.

Como se fosse sua deixa, o papel brilhou por um instante antes de queimar em cinzas na frente dos dois shinobis. Comprovando para os dois grupos que eles eram quem diz ser.

         — Sua reputação o precede Hatake-san. Assim como a sua Sarutobi-san.

         — Digo o mesmo, Saitō Yukimura.

Saitō Yukimura era um ninja jōnin não associado a Konoha, famoso no país do fogo e no exterior por suas habilidades em kenjutsu. Além de suas aptidões em técnicas de espada, sua força também é reconhecida pelos ninjutsu elemental do tipo fogo. Sua história remonta ao início da terceira guerra mundial shinobi, quando perdeu sua família em um atentado orquestrado por Iwagakure. Desde então, passou a odiar os shinobis e tudo que eles representavam. Deixou o país do fogo e ingressou em uma viagem de vingança para ganhar poder e um dia poder se vingar dos responsáveis pela morte de sua família. Chegou ao País do Ferro e acabou sendo treinado nas artes dos samurais, e anos depois, quando sua ambição por vingança foi esquecida, seguiu para o País do Fogo onde se aperfeiçoou nas artes shinobi chamando atenção do Daimyō. Não muito depois foi-lhe oferecido um lugar entre os Doze Guardiões Ninja.

— Me conhece? — perguntou Asuma, curioso.

— Claro que conhecemos os membros da primeira geração do Doze Guardiões Ninja. Sua astúcia e destreza em acabar com o golpe são lendários.

— Obrigado. É muito bom saber que deixei uma boa impressão para os futuros membros — respondeu, Asuma. Não se deixando enrubescer pelo elogio. — Embora na minha época não usássemos uniforme.

— Outros tempos, novas regras.

— Você é Sarutobi Asuma? — gritou uma voz estridente um pouco atrás de Yukimura.

Uma jovem quebrou a formação para ficar ao lado do ninja líder. Assim como os demais ninjas guardiões, ela usava o uniforme padrão vermelho. Seu cabelo curto terminava repicado ao redor do pescoço.

— O Gai-san falou muito sobre vocês.

— Gai está aqui? — perguntou Kakashi, surpreso.

Ele sabia que uma unidade havia saído da folha para escoltar o Daimyō desde a capital e que eles os encontrariam na estrada, mas nunca teria adivinhado que Gai estaria com o grupo. Kakashi já podia sentir uma dor de cabeça surgindo.

—  Midori quantas vezes falei para não quebrar a formação. Existem normas para serem seguidas.

— Desculpe-me, Yukimura-senpai. Mas não posso ficar parada sabendo que estou na frente de Sarutobi Asuma. O ninja mais formidável a entrar para a nossa ordem... — respondeu Midori, sem desviar os brilhantes olhos do Sarutobi. — … e o mais bonito!

Asuma dessa vez não conseguiu esconder a vermelhidão do seu rosto, não quando vinha de uma jovem e atraente kunoichi. Além do mais, ele não fazia ideia que era tão admirado fora da aldeia.

— Está sim, Hatake-san — respondeu Midori, sem desviar os olhos de Asuma. — Ele decidiu cobrir a retaguarda.

Se a jovem fosse um pouco mais perspicaz, teria percebido a intenção de matar irradiando de uma certa kunoichi no grupo da folha.

Fim do flashback

— Kakashi, meu eterno rival. Finalmente te achei!

Um grito sobressai da marcha entre as centenas de pessoas. Alguns pularam assustados quando uma mancha verde passou por eles para parar na frente do jounin.

— Gai, pensei que estava fazendo a cobertura na retaguarda.

— E estava, até avistar a muralha da aldeia — Falou o jōnin, exibindo seu sorriso característico que cegava a todos que o fitavam. — O placar está em cinquenta vitórias e cinquenta e uma derrotas para você. Então, o que acha meu amigo, agora que estamos na vila, quem completar cinquenta voltas em torno do estádio primeiro, ganha um jantar com tudo pago pelo o perdedor?

Maito Gai é um homem alto com grandes maçãs de rosto, sobrancelhas grossas parecidas com taturanas e um corte de cabelo preto em forma de tigela. Gai vestia um macacão verde, com polainas laranjas listradas nas pernas e um colete aberto padrão de Konoha. Se tivesse um concurso sobre o ninja mais bizarro da aldeia, sem dúvidas, ele ganharia em primeiro lugar. 

— A missão não acabou Gai. Temos que levar o Daimyō-sama até seu hotel.

— É claro, Kakashi, como poderia esquecer. Assim que entregarmos o Daimyō-sama, poderemos fazer sem problemas. Ele é prioridade acima de tudo, não podemos esquecer disso. Isso me lembra quando partimos de Keishi, eu queria fazer uma corrida pelas principais ruas da capital, mas nosso cronograma estava muito apertado. Se você estivesse lá para me motivar, teríamos terminado isso em menos de trinta minutos, Kakashi.

— Ah?! Você disse alguma coisa?

A reação do outro jōnin foi impagável. Levou vários minutos e uma kunoichi desgostosa para que Gai parasse de reclamar sobre a atitude indiferente de Kakashi. Tempo suficiente para chamar atenção dos demais ninjas da folha nos portões.

— Gai, este não é o melhor momento para mais uma de suas escandalosas exibições.

— Peço seu perdão, Kurenai. Mas ainda há muitas chamas da juventude em mim que devo mostrar, e que melhor forma de fazer isso, contra meu eterno rival.

Se Kurenai escutou, não demonstrou, sua atenção estava focada em uma determinada kunoichi vermelha e sua recém descoberta obsessão.

— Ora, Kakashi, é por isso que você é meu rival número um! Você não pede por esperar, vou te mostrar porque sou conhecido como a Fera Verde Sublime de Konoha.

Quando a companhia chegou à entrada da aldeia, todos puderam ver a enorme recepção preparada para o Daimyō. Centenas de pessoas se aglomeravam até onde a vista alcançava para ver a carreata. Bandeirolas vermelhas e brancas, as cores oficiais do país do fogo, foram penduradas na via principal que leva até a torre hokage. O caminho estava guardado por shinobis uniformizados, uma espécie de corredor de escolta, para o chefe de estado. Ao longe, podiam-se ver barracas montadas e os preparativos finais para um festival.

O grupo iniciou a caminhada até a torre, uma distância de alguns quilômetros do portão norte. Diferente da área do portão leste que havia sofrido muito, a região do portão norte só mostrava alguns sinais de que uma batalha menor havia ocorrido ali.

Os civis podem não notar, mas Kakashi e os membros mais sensíveis ao chakra da companhia, sentiram várias assinaturas sobre os prédios e construções adjacentes. Antes mesmo de chegarem à vila, o jōnin já havia sentido aquelas mesmas assinaturas. Não era uma surpresa que a ANBU tomasse as medidas necessárias para a proteção desse evento, principalmente depois do que aconteceu na invasão. Mas saibam que a cada assinatura sentida, dois outros shinobis estão escondidos sem que ninguém perceba.

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         Em outro lugar, meio a enorme massa que observava a companhia do Daimyō. Um grupo de genins olhava com admiração. Como já havia mencionado, o senhor do país do fogo raramente deixava a capital, então não era de se admirar que os jovens ninjas não o conhecessem pessoalmente. Já fazia anos desde a última vez que o Daimyō esteve em Konoha. Suas últimas visitas foram após as calamidades conhecidas como o ataque da Kyūbi (nove-caudas) e o massacre do clã Uchiha. Apelidado internamente na aldeia como o Daimyō das Tragédias. Ironicamente, mais uma vez, ele viria a Konoha após uma tragédia, sustentando seu tão famigerado título.

— Quantas pessoas! — exclamou um menino com um casaco cinza forrado com pelos. Em cima de sua cabeça, um cachorro repousava, observando a multidão. — Vocês estão vendo-o?

— Ainda não, Kiba-kun — respondeu uma menina meiga de incríveis olhos leitosos.

— E você, Shino?

O menino em questão apenas olhou para a companhia que passava sem demonstrar qualquer reação. Seus óculos escuros e seu casaco cinza de gola alta, contribuem ainda mais para sua atitude. Shino é herdeiro do clã Aburame. O clã é um dos quatro clãs nobres de Konohagakure, e são caracterizadas pelo uso de insetos como armas. Ao nascer, os membros deste clã são oferecidos a uma raça especial de insetos que acabam por utilizar seu corpo como um ninho, residindo apenas sob a pele de seu hospedeiro. Esses insetos vivem em simbiose com seu anfitrião. Assim como os membros de sua família, acabou por ser calmo, recolhido e solitário, passando uma imagem misteriosa e contida. Shino também é membro do time Kurenai, seus companheiros de time são Inuzuka Kiba e Hyūga Hinata.

— Entendi…

— Deixa de ser impaciente, Kiba! — Falou Ino que estava a poucos passos do grupo.

— Ninguém estava falando como você, rabo de cavalo.

— O que você disse? — Gritou Ino, furiosa.

Próximo a Yamanaka, Shikamaru deixou massagear as têmporas... 

— Problemático…

Ao seu lado, Chōji olhava com admiração as muitas cores e movimentos dos dançarinos, que faziam um espetáculo. Em sua mão, um saco de salgadinho era rudemente violado.

— Olha! O kakashi-sensei! — exclamou Sakura, apontando para seu professor.

A discussão morreu, quando todos olharam em direção à onde Sakura apontava. Após a passagem da frente da companhia, onde o grupo de comissão de frente carregados de estandartes e tambores anunciavam sua chegada, podiam ver Kakashi caminhando junto ao grupo de shinobis da folha.

— Ali vem a Kurenai-sensei e Asuma-sensei — falou Ino. — Agora sabemos o motivo deles serem chamados pelo conselho.

— Eles foram pessoalmente escoltar o Daimyō-sama para a vila! — gritou, Sakura. — Que honra…

— Olha o Gai-sensei! — exclamou, Tenten. Que por uma espécie de mágica, havia surgido sem que ninguém percebesse. — De fato, os melhores jounins foram escolhidos para essa missão.

Todos olharam em sua direção surpresos.

— Se aquele professor estranho está entre os melhores shinobis da aldeia, então estamos mal — sussurrou, Sakura, somente para que Ino escutasse.

Conforme a comitiva passava, a atenção de todos se prendeu em uma carruagem dourada como ouro, puxada por dois garanhões brancos. Não era preciso ser um gênio a fim de saber quem estaria viajando ali. Uma característica que todos os Daimyōs compartilhavam, independente do país, era o esbanjar do luxo e requinte. A carruagem toda em madeira, era coberta com detalhes esculpidos à mão. Sobre o teto, o brasão da casa do Daimyō se mostrava em quatro direções diferentes, com intenção de que independentemente de onde você esteja, possa vê-lo de qualquer lugar. Em relevo em suas portas, o kanji indicando o País do Fogo, se destacava mais que qualquer outro adereço. O transporte em si, era uma obra de arte.

— Porque o Daimyō-sama se daria o trabalho de viajar até Konoha? — perguntou Kiba, a ninguém em especial.

— Você é burro ou se faz? — perguntou Sakura.

— Quem você está chamando de burro? — sustentando seu aborrecimento, Akamaru latiu para Sakura. — Testu…

Um olhar mortal, era tudo que Kiba precisava para não terminar de falar. A manos que ele quisesse um grande hematoma em seu corpo, e quem sabe alguns dias se recuperando em uma cama de hospital.

— Se tivesse prestado atenção na academia, saberia que ele veio para escolher o próximo Hokage. Quando um Hokage morre ou renúncia, o próximo a ocupar o cargo precisa do apoio e indicação do Daimyō e posteriormente ser aprovado pelo conselho jounin para ocupar o cargo. E também porque o Hokage-sama era seu amigo de longa data, ele veio se despedir e prestar seus devidos respeitos — terminou Sakura presunçosa.

— Ah, eu sabia disso! — exclamou Kiba.

— Tenho certeza que sim, Kiba-kun — voltou a falar a garota ao seu lado, antes que Sakura respondesse.

— Obrigado, Hinata. Sabia que de todos aqui, você seria a única a me apoiar.

Hinata retribuiu com um pequeno sorriso, antes de voltar a atenção para a companhia. Seu cabelo curto em um corte hime acima de sua testa, tremeluziu com o movimento, fazendo seu rosto se encaixar em seus fios até o queixo. A coloração avermelhada habitual em suas bochechas, por um instante, ganhara uma nova tonalidade, antes de sumirem em sua face.

— Então, eles são os Doze Guardiões Ninja? — perguntou Shikamaru, chamando a atenção dos demais.

— O que você disse, Shikamaru? — perguntou Ino.

— Doze, o que? — Questionou Kiba.

— Os Doze Guardiões Ninja — apontando para as pessoas em vermelho, envolta da carruagem. — Eles são uma organização de shinobis, não vinculada a Konoha, que juraram proteger o Daimyō do País do Fogo. Como o próprio nome diz, eles são doze ninjas guardiões do Daimyō.

— Não sabia que o senhor do fogo tinha sua própria força tarefa shinobi — comentou Tenten. — Pensava que, no máximo, ele contratava samurais errantes para sua guarda, eventualmente.

— Samurais? — perguntou novamente Kiba.

— Sim, as artes shinobis são altamente restritas às suas aldeias. Então não há muitas pessoas com treinamento ninja fora delas. Os poucos que possuem, são em sua maioria, possíveis nukenins que deixaram suas aldeias sem a intenção de voltar e que cortaram os laços com as mesmas, muitas vezes porque eles cometeram atos criminosos ou para conseguir ganhos pessoais.

— Não vejo porque isso é uma coisa ruim — disse Kiba, levianamente.

— Konoha, de fato, deve estar com poucos genins qualificados para alguém como você ter conseguido se formar na academia? — disse Tenten, fitando Kiba atentamente. 

— Olha como você fala sobre mim — gritou o garoto, o que acabou chamando a atenção das pessoas à sua volta. — Eu sou herdeiro do clã Inuzuka. Um dos clãs mais respeitados de Konoha.

— Ah, Kiba? — apressou-se em chamar Hinata, tentando impedir o escândalo do companheiro. — Você é o segundo na linha de sucessão. 

— Isso não vem ao caso agora, Hinata.

— Como eu estava dizendo… — iniciou Tenten para os outros, ignorando Kiba. —  Aprendemos na academia que quando um ninja da aldeia deserta, a vila tenta encontrá-los e eliminá-los. Isto não é feito somente como uma punição pela traição, mas também para proteger os segredos da aldeia, uma vez que é possível aprender algumas das técnicas da aldeia através de autópsia dos usuários.

— Que coisa horrível — comentou Sakura.

Seguido de um aceno de concordância vindos dos demais.

— Esse é o sistema shinobi.

— Olhem... a companhia do Daimyō-sama está chegando ao fim — apontou Ino. Interrompendo a conversa.

— Vamos lá! — chamou Shikamaru. — O Daimyō-sama fará um discurso em frente a aldeia na praça da torre hokage.

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         Muito acima da vila, no topo de um afloramento rochoso que agora é conhecido como monumento Hokage, quatro cabeças esculpidas na rocha velam Konoha. Suas faces foram feitas em honra aos líderes que deram suas vidas a formação e persistência dessa aldeia. Onde cada um deles contribuiu e deixou um legado para as futuras gerações. Logo, mais uma cabeça ganharia lugar dentre as outras. Um novo Hokage, um novo líder e um novo legado estava prestes a começar. Quem quer que fosse essa pessoa, sentiria a responsabilidade e a dificuldade do cargo que ocupa. Com ele, a pressão e o compromisso em se posicionar no mesmo patamar que ninjas renomados e mundialmente conhecidos.

         Era em cima de uma dessas cabeças, a quarta, se contarmos da esquerda para a direita, onde ninja observava sua aldeia pesadamente. Cabisbaixo, forçou a olhar para a comoção que acontecia na aldeia. Mesmo da distância onde estava, podia escutar o bater de palmas e os gritos de felicidades dos habitantes de Konoha conforme a comitiva do Daimyō passava por suas ruas. De sua posição, testemunhava pessoas de toda a vila se dirigindo a praça da torre Hokage, onde o senhor do país do fogo faria seu discurso de abertura.

O vento subia o paredão de pedra e fazia com que seus cabelos se movessem furiosamente. Se não fosse pelo protetor de testa gravado com o símbolo de Konoha, dificilmente enxergaria sem que seus fios atrapalhassem sua visão. Seus olhos azuis, intensos, observaram a estreita faixa criada pelos jōnins se dividindo lentamente através da população. Dois caminhos se separaram. Um levando, provavelmente o Daimyō, em direção a torre Hokage e o outro aos aposentos onde a corte ficará por sua estadia em Konoha. O que antes era uma enorme companhia, lentamente se dividiu em duas, e a menor das partes seguiu em direção à torre.

O ninja desviou os olhos da cidade abaixo para fitar a escultura a sua direita. A cabeça do Sandaime Hokage se erguia imponente como a mais alta das quatro estruturas. Aparência de um homem em seu eu mais forte, demonstrando persistência contra todas as probabilidades jogadas contra ele. Seu único defeito deriva de uma rachadura profunda cruzando os dois lados do seu rosto. Um sentimento estranho e tumultuoso tomou conta do jovem shinobi pelo tempo que permaneceu olhando a escultura. Quando não aguentou mais, desviou os olhos novamente para a aldeia.

— Bem que eu adivinhei que o encontraria aqui... — irrompeu uma voz calma, porém robusta. — Vejo que está perdendo o evento da década.

— Bom dia para você também, Jiraiya-sensei — devolveu o ninja, sem ao menos se virar para encarar o recém chegado. — E quem disse que estou perdendo a cerimônia?

Jiraiya se sentou ao lado do seu antigo aluno e olhou para onde ele estava apontando. De seu ponto de vista, tinha uma visão privilegiada de todo complexo Hokage e sua área circundante. Não demorou para encontrar a praça da torre Hokage e o mar de pessoas que a inundavam.

— Vejo que vamos ter uma visão privilegiada — disse Jiraiya, admirando a paisagem.

— De que adianta uma boa vista, se o motivo de estarmos aqui não é bom.

— O que é isso pirralho? A escolha de um Hokage não é uma coisa que acontece o tempo todo.

‘Bom dia a todos. É uma honra singular estar entre vocês neste dia. Uma vez mais, Konohagakure, nos encontramos. Gostaria que nosso próximo encontro, fosse em um momento descontraído e cheio de realizações, mas visto a natureza do nosso mundo, esse desejo não passou de uma esperança ingênua desse velho...’ 

— Sim, no entanto para isso acontecer, o último tem que morrer — retrucou infantilmente o jovem ninja.

— Ah, então é disso que se trata…

— Claro que é disso, Jiraiya! — respondeu bruscamente.

Um silêncio desconfortável surgiu entre os dois. Jiraiya olhou em direção a praça, sobre um palco improvisado, o Daimyō se dirigia à vila. De onde ele estava, o líder do País do Fogo não passava de um pequeno ponto vermelho. 

‘...Minha vinda hoje à sua aldeia, não foi um mero acaso. Acontecimentos recentes me levaram aqui não só para conferir o bem estar do meu povo, mas também me despedir de um antigo amigo. O País do Fogo chora com a perda de Sarutobi Hiruzen. Como líder de Hi no Kuni, quero agradecer por partilhar este homem tão emblemático.’

O homem mais velho olhou para o outro com menos da metade que sua própria idade. Por um instante ele não soube como responder. Não era como se ele já não tivesse passado por um momento como aquele. Jiraiya já havia perdido tantas pessoas queridas através das décadas, porém sempre foi algo com que ele soubesse lidar. A impressão que passa, é de frieza e apatia, mas quando se está a tanto tempo nessa vida shinobi, você acaba não sabendo demonstrar seus sentimentos. Agora, confortar alguém em luto, era uma coisa que o Sannin não sabia direito como enfrentar.

— Olhe, Naruto. Não havia nada que pudéssemos fazer para impedir o que aconteceu. O que houve com o Sarutobi-sensei, ocorre com muitos shinobis...

— Como pode dizer isso? — replicou indignado Naruto. — Ele foi seu mentor, não sente nada com a morte dele?

Qualquer um próximo dali, teria sentido o tempo gélido que tomou conta da montanha. Mesmo em uma época tórrida como o verão de Hi no Kuni.

— Nunca diga algo assim novamente! Nunca mais… — murmurou, por entre dentes, Jiraiya. — Ele foi muito especial para mim, e sua morte a dias tem pesado em meus pensamentos.

Em seu tom, Naruto podia sentir toda a dor contida que ele não deixava transparecer.

— Eu só não sei como dizer isso — sussurrou.

Naruto quase não foi capaz de pegar suas últimas palavras.

‘É difícil elogiar qualquer homem - para expressar em palavras não apenas os fatos e as datas que fazem uma vida, mas a verdade essencial de uma pessoa - suas alegrias e tristezas particulares; os momentos de silêncio e as qualidades peculiares que iluminam a alma de alguém. É ainda mais difícil quando se trata de uma pessoa que moveu uma nação por gerações.’

— Peço seu perdão sensei, não queria ter dito isso. Só que… é frustrante toda essa situação.

Uma respiração condescendente surgiu do ninja mais velho. 

— Garoto, você tem que entender que o Terceiro era um homem resoluto. Desde que o conheço ele sempre foi firme em suas escolhas. Se ele tomava uma decisão, não havia ninguém que o fizesse mudar de ideia, quem sabe, talvez, Biwako-san conseguisse.

— Ainda não explica, porquê? Por que ele me abandonou?

— Ele não o abandonou, Naruto. Conhecendo o sensei, ele tomou a mais razoável das decisões com os recursos que tinha. E se essa escolha causasse sua morte, ele a abraçou sem pensar duas vezes.

‘Nascido em Konoha, Hiruzen sempre demonstrou estar destinado a algo grande. Oriundo de um dos clãs ninjas, o clã Sarutobi há muito tem sido observado possuir em seus membros a devoção pela vontade do fogo. Essa mesma convicção o levou a alcançar todas as suas conquistas em sua passagem por este mundo. Se destacou ao ponto de se tornar aluno de Tobirama Senju, o Segundo Hokage, e ser treinado por Hashirama Senju, o Primeiro Hokage. Ele herdou o manto de seus professores e levou essa aldeia muito além do esperado por seus fundadores.’

— Lembro-me das nossas noites ao ar livre. Não íamos com muita frequência, apesar disso, nossos encontros eram únicos. Em volta de uma fogueira, ficávamos até altas horas admirando as estrelas, enquanto ele recitava seus contos, repletos de aventuras e ninjas valentes. Nesses momentos nada mais importava, era somente eu e ele. Nenhuma responsabilidade, nenhuma preocupação, somente a exaustão do entardecer da noite. E agora ele se foi, e com ele, acho que um pouco de mim também.

— Você não está só se referindo ao Terceiro, não é, Naruto?

Aquela foi a primeira vez, na qual Naruto olhou diretamente para seu professor. Jiraiya viu a tristeza, a dor, o medo, e a descrença de um jovem que por um instante se sentia perdido no mundo. Às vezes, por mais prudente que Naruto havia se tornado, ele esquecia que seu antigo aluno era, por falta de outras palavras, jovem. 

— Porque sensei? Pode parecer patético da minha parte ligar para algo assim, mas porque todos à minha volta me abandonaram? Ele me deixou como meus pais antes dele. Como meu time depois deles. E agora Sarutobi-jiji também? Esse é o preço de fazer parte da vila? Esse é o preço em ser Hokage?

‘Sob seu comando, Konoha prosperou. Sobre todas as adversidades e infortúnios, perdurou por cima de todos os grandes conflitos que assolaram nosso mundo. Superou sobre aqueles que pensaram que um dia poderiam achar que podiam extinguir esse sonho. Sonho idealizado não somente pelos homens eternizados naquela montanha, mas por todos vocês que compartilham dessa mesma crença.’

— Você não é patético, e não pense que se incomodar com isso o torna fraco também. Só comprova que você se importa. Confirma o fato que apesar de tudo que passou, você ainda é humano. É sua força de vontade em suportar que o separa dos monstros que habitam nosso mundo.

— Ainda assim, quanto vale tudo isso? Duas pessoas próximas a mim, morreram pelos mesmos motivos. Seguindo os mesmos sonhos.

— Sensei sempre dizia. ‘A verdade absoluta está na vontade do fogo’ — falou Jiraiya. — E não precisa necessariamente se tornar Hokage, para descobrir seu verdadeiro significado… Vamos Naruto, você passou tanto tempo com ele. Tenho certeza que sabe do que estou falando.

— ... a chama queima até nos menores e mais retorcidos galhos da grande árvore — completou. — Conheço muito bem essa frase. Foi sobre ela que jurei...

‘Após o descanso desse grande visionário, quando voltarmos para as nossas rotinas diárias, vamos procurar por sua força. Vamos procurar sua grandeza de espírito em algum lugar dentro de nós. Hoje celebraremos sua vida, suas conquistas e o mais importante, seu espírito. O espírito de um homem que foi um pai, um irmão, um amigo, um professor, um líder e um Hokage. A história de Hiruzen chegou ao fim, mas seu legado será eterno.’

Uma salva de palmas e gritos de aclamação surgiram da aldeia abaixo.

‘Não somos tão diferentes, Naruto. Sei muito bem pelo que você está passando, muito mais que a grande maioria, mas acredite, a vida sempre encontra um caminho se você der uma chance a ela.’

— Hoje estamos aqui, sensei, mas o amanhã é tão incerto…

— Sempre é, por isso vivemos um dia de cada vez. Não se preocupe tanto com o futuro, viva o agora e tenha certeza que está aproveitando-o.

Naruto refletiu as palavras de seu professor. Eles não tinham falado sobre os recentes acontecimentos em Konoha ainda.

— Olhe para nós, sensei, parecemos dois velhos num asilo sentados em cadeiras de balanço. Bem, você até se encaixa no papel, mas eu ainda estou longe disso — Terminou com uma risada, constrangida.

— Quem aqui é velho, pirralho?

‘Como todos sabem, Konohagakure precisa de uma nova pessoa para continuar esse sonho. Ele ou ela terá uma grande responsabilidade. Eu não digo tentar superar os Hokages anteriores, mas se posicionar de igual forma contra todas as probabilidades que seus antecessores fizeram. Sempre prevalecendo o mesmo ímpeto em busca da paz entre as nações e avidez por um futuro melhor. Quando me encontrar com os líderes shinobis e juntos encontraremos um novo Hokage. Espero que a vontade do fogo queime intensamente em seu coração como, uma vez, já queimou.’

 


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Notas finais do capítulo

Bom, é isso. Espero que tenham gostado^^
Só para que fique claro. O discurso do Daimyō do País do Fogo foi inspirado no do Obama feito no funeral de Nelson Mandela.



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