Contos Sobre a Mesa escrita por Niars


Capítulo 1
Marcas em um Ônibus




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Eu jamais havia visto ela, e sabia que jamais a veria novamente. Por isso fiz questão de encará-la o máximo que pudesse, reparava em cada detalhe de seu rosto, e como seu sono era completamente profundo e relaxador. Visivelmente cansada, sentada no degrau da porta do meio daquele ônibus, dormia tranquilamente, me encostei na porta e ali, as vezes me fazia rir das caras e bocas que fazia, enquanto eu imaginava o que poderia estar passando em sua mente, qual sonho ela participava. A cada movimento mais violento que o ônibus dava ela acordava e nada contente por eu a encarar, negava com a cabeça e voltava a dormir.  

Em meu interior eu não entendia o porquê de minha fascinação por aquela garota, ela não possuía nenhum tipo de beleza extraordinária, estava visivelmente um pouco acima do peso, mas mesmo assim ela me aparentava ser tão mais que uma pessoa superficial, aparentava ser inteligente, carismática, engraçada. Eu a via como a mulher mais incrível daquele ônibus, mesmo tendo umas garotas muito mais bonitas do que ela ali perto.  

Meus amigos me zoavam de longe, sentados logo nos primeiros assentos depois da porta, mas eu ignorava completamente a opinião deles. Ela me fascinava, e isso que me importava. 

As vezes um ou outro me chamava a atenção dizendo que queria descer do ônibus, e naquele momento, somente, que eu tirava os olhos da garota que chamava tanta atenção, nem seu nome eu sabia, e acho que isso era o que fazia eu sentir mais... mais... Eu não sabia a palavra certa que eu devia usar, ela por si só já era um efeito que me baqueava naquele instante. E eu gostava disso.  

Quando ela arrumou seu corpo, percebi que haviam marcas em seus braços, e por alguns mínimos segundos, pensei que aquela garota que era o motivo de minha felicidade agora, poderia ser completamente infeliz. E isso me fez sentir muito mal. Minha única vontade naquele momento era falar para ela, que o mundo pode ser bom e que eu poderia ajudá-la a se sentir melhor. Mas meu corpo estava estático, apenas não conseguia.  

Em instantes eu percebi meu mundo cair, tudo por causa de marcas em uma pessoa que eu nunca havia nem visto, e isso fez todo meu interior desabar.  

Quando ela acordou percebeu que eu já não a encarava mais, mas encarava as marcas em seu braço, o que a fez esconder imediatamente, e quando a encarei novamente, ela estava com o olhar baixo. Queria poder abraçá-la, e dizer que tudo ficaria bem, mas eu nem ao menos a conhecia, e não conhecia os problemas que ela enfrentava, eu havia meus monstros, os quais já conseguia encarar, mas ela havia os dela, e eu jamais poderia ajudá-la. Me senti impotente e virei o rosto para o outro lado, respirava fundo para não liberar as lágrimas que teimavam em cair.  

Quando o ônibus parou na estação, ela logo desceu colocando sua mochila em suas costas e subiu as escadas rolantes, eu permaneci parado ao lado do ônibus esperando meus amigos e a observando mais um pouco.   

Sabia que jamais a veria novamente, que havia perdido a chance de fazer sua vida um pouco melhor, e isso vez meu interior remoer, quando recebi um empurrão de meu amigo, sorri para ele, pegando minha mochila, e ao procurá-la, não a via mais.


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Notas finais do capítulo

Escrita em algum momento de 2018.



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