Pokémon - Odisséia escrita por Golden Boy


Capítulo 4
Música Elétrica


Notas iniciais do capítulo

Oi leitor. Esse é um capítulo no mesmo estilo do anterior: prepara terreno, é lento e fofo, mas no final tem um soco no estômago. Preparem seus apêndices e vambora!



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Asher não treinou Daichi na rota 9. Ao invés disso, resolveu aprender a lidar com Sophie. A maior habilidade da pequena Mareep rosa não era soltar raios elétricos ou metalizar sua cauda para golpes: era a dança.

Era a primeira vez que Will ou Asher viam um pokémon quadrúpede dançando, e era uma visão no mínimo bizarra. Ela balançava seu corpo e sua cauda em direções opostas, e brilhava a esfera na ponta de seu rabo no ritmo que cantarolava. Em determinado momento, ela ficou de pé em uma única pata dianteira e chutou o ar acima dela.

— Isso é normal? — Asher perguntou, depois de um minuto encarando a performance da pokémon.

— Talvez ela tenha aprendido com algum treinador? — Asher deu de ombros. Will foi colocar a mão no bolso, e sentiu o ferimento no antebraço arder e a pele repuxar. Recuou imediatamente e olhou o curativo que havia feito para ter certeza que não estava sangrando.

Daichi ainda estava mantendo distância de Sophie, e isso atrapalhou um pouco o ritmo da viagem pela Rota 9. Will aproveitou o vazio da estrada para deixar Ponyta esticar as pernas um pouco. Lairon estava ferido da batalha, e por isso Will queria chegar logo.

— Então qual é o plano? — Will perguntou, durante a pausa para o almoço. — Vai desafiar o ginásio logo de cara ou esperar seu irmão responder? 

— Ele já respondeu, na verdade. — Asher havia recebido a mensagem durante a batalha na ponte, e com tanta coisa acontecendo ele esquecera de contar a Will. — A minha licença já está pronta. E é Brycen quem vai me entregar ela. 

— Que maneiro! Isso significa que você vai oficialmente numa jornada comigo, não é?

Asher encarou os pés. Daichi, Sophie e a Ponyta de Will ainda estavam comendo. 

— Se eu sou um treinador, significa que a lei do contato visual se aplica a mim também. E eu não quero andar por aí olhando pra baixo, Will. — Asher olhou para Will, e depois para Daichi. — Eu preciso ficar forte, e rápido.

— Ei. — Will colocou a mão no ombro do garoto. — Eu vou estar junto com você, te protegendo.

— Eu não quero ser um fardo. Eu vou ser forte. Mais forte que você, mais forte que Amin. — Asher engoliu em seco, sem saber se deveria ou não verbalizar seu desejo. — Eu vou ser o treinador mais forte de Unova. 

— Eu vou te ajudar nisso. — Will respondeu, depois de pensar um pouco. — Mas até lá, você precisa treinar. Quando chegarmos em Icirrus, eu vou te ensinar um jeito legal de treinar agora que você tem dois pokémon. — Will recolheu as tigelas do chão e as colocou na mochila. 

 

—O-O-O-

 

Apesar da insistência de Asher, Will não foi ao hospital. Ele argumentou que estava bem e que o corte não precisava de pontos, e estava certo disso. Embora um raio-x fosse o ideal para ter certeza de que não havia uma fratura, Will não se preocupou com isso. Seu braço estava bem: ele estava preocupado de verdade era com Lairon. O Garchomp havia usado Flamethrower para forçar o pokémon a se mover, e quando ele o fez foi recebido com evasivas rápidas e contra-ataques poderosíssimos das garras e dentes do pokémon dragão.

O garoto loiro deixou Lairon no centro pokémon e reservou um quarto com duas camas para ele e Asher.

Asher liberou Sophie e se sentou no chão diante dela. Daichi estava comendo pedrinhas e provando a areia do campo de batalha quando percebeu a presença da pokémon ovelha e se apressou para se esconder embaixo da terra.

— Qual é, Daichi. — Asher olhou para a barbatana do pokémon, que ainda estava para fora do solo. — Sai daí. Ela não vai te machucar. 

O Gible não reagiu. Asher então se virou para Sophie.

— Você gosta de dançar, não é? — perguntou.

A pokémon ovelha assentiu.

— Eu sou um treinador pokémon. — Asher colocou a mão no peito. — E aquele é o Daichi, meu pokémon inicial. QUANDO ELE NÃO ESTÁ SENDO INFANTIL E BOBO — disse Asher, falando mais alto para ter certeza que seu pokémon dragão ouviria. — ele é muito legal. Nós vamos nos tornar as… pessoa-e-time-pokémon mais fortes de Unova.

A ovelha se aproximou de Asher e esfregou a cabeça no peito do garoto, que fez carinho em sua lã e sentiu pequenos choques estáticos. 

— Você quer ser parte disso? Eu sou um treinador muito habilidoso! Ensinei tudo que o Daichi sabe. — O pokémon dragão tirou parte da cabeça da terra e grunhiu seu nome em protesto, querendo créditos também.

A ovelha baliu e começou a lamber o rosto de Asher.

— Isso parece um sim. — Will disse, com uma caixinha de suco na mão. Era da mesma marca da que ele havia tomado no centro pokémon de Opelucid. — O Lairon vai ficar bem, mas deve demorar uma noite para se curar. 

— Que bom! — Asher se levantou e limpou a areia de sua calça. Daichi saiu de seu buraco e começou a olhar para Sophie com curiosidade. 

— Pronto pra treinar? — Will perguntou, apertando a caixinha de suco e jogando no lixo perto da porta do centro pokémon. A neblina da rota 9 não havia chegado na cidade, e por isso estava claro.

 

—O-O-O-

 

Levou metade de um dia apenas para que Sophie aprendesse a usar Thundershock, mas assim que aprendeu, tudo correu mais rápido. A primeira parte do treinamento consistia em ensinar Daichi a se mover mais rápido e desviar dos relâmpagos de Sophie era perfeito para isso.

Eles tentaram usar Ponyta, mas a pokémon parecia mais interessada em correr pelo campo e engolfar seu corpo em chamas. Will descobriu mais tarde que aquela era uma técnica, chamada de Flame Charge. Além disso, o medo que Daichi tinha de Sophie ajudou com a parte motivacional do treino. 

Embora Daichi não se ferisse com os relâmpagos, ele sentia cócegas: e isso era ainda pior na concepção dele. Eles se posicionaram em lados opostos do campo de batalha, e Asher ficou atrás de Sophie para ver quão boa era a mira dela.

No fim do primeiro dia, Daichi só tinha conseguido desviar de seis ou sete relâmpagos. E eles ficaram horas naquilo. Cansado e frustrado, Asher colocou Sophie na pokébola e entrou no centro pokémon. 

— Boa noite. Em que posso ajudá-lo? — perguntou o homem corpulento de jaleco atrás da bancada da recepção. Asher então percebeu que estava andando sem rumo pelo hall há alguns minutos. Ele se perguntou onde estaria Will, e se aproximou da bancada.

Err… — Asher coçou a cabeça. — Meus pokémon estão meio cansados, você pode fazer alguma coisa?

— Claro. Me entregue as pokébolas e eu cuido do resto. — O homem sorriu. Ele tinha gengivas grandes e seu jaleco tinha um nome na etiqueta: Grant.

Asher colocou Daichi na pokébola e pegou a de Sophie no bolso para entregá-las a Grant. O homem colocou elas numa bandeja e posicionou numa máquina ao lado dele.

— Posso fazer uma pergunta? 

Grant ergueu uma sobrancelha.

— Quer saber como a máquina funciona?

Aham.

— Ela emite um sinal para a pokébola e ondas sonoras relaxantes, baseadas nas técnicas curativas de Audinos e Chanseys, e os pokémon tem o descanso equivalente a horas em poucos minutos. — Grant deu um tapinha no lado da máquina, e sorriu de novo para o garoto de cabelo castanho parado na frente dele.

Maneeeiro. — Asher imaginou vários pequenos Audinos e Chansey trabalhando junto com Klinks para fazer uma máquina daquelas. 

— Tem alguma outra pergunta? 

— Sim! Você viu um garoto loiro dessa altura? — Asher ficou na ponta dos pés para indicar a altura de Will. — Ele é meu amigo e falou que ia me esperar aqui.

— Já olhou no quarto?

— Que quarto? 

— É. Um garoto loiro mais ou menos dessa altura alugou uma suíte com duas camas mais cedo. Era Will o nome dele, acho. Será que você não é a pessoa que vai dormir na outra cama?

— E… onde fica esse quarto? 

— Segundo andar, quarto... — Grant digitou algo no computador antes de terminar a frase. — cinco. Quarto cinco. E seus pokémon estão curados e relaxados!

Grant entregou as pokébolas de Sophie e Daichi e elas estavam quentinhas na mão de Asher.

Antes que o garoto de cabelo castanho corresse escada acima, ele parou e sorriu para Grant.

— Muito obrigado, Sr. Grant!

E Grant ficou se perguntando se já era considerado um senhor, mesmo tendo apenas trinta anos. Ele balançou a cabeça e bufou com um sorrisinho no lábio.

 

—O-O-O-

 

Assim que Daichi conseguiu desviar de vinte relâmpagos seguidos, começou a segunda parte do treinamento: Sophie. 

Daichi já tinha boas formas de atacar, com sua mandíbula e o recém aprendido Dragon Breath, mas precisava aprender a desviar para não perder para os pokémon de Brycen. Sophie era o contrário: ela não precisava se preocupar com ser acertada, mas sim com sua ofensiva. Ela só havia aprendido Thundershock, e seria necessário mais do que isso para que ela fosse útil numa batalha de verdade.

Will ajudou nisso, mostrando vídeos de Mareeps usando diferentes técnicas: Cotton Spore, Charge e Thunder Wave em seu celular.

Mas ainda havia algo a se lidar com: Sophie não parava de dançar durante as batalhas, mesmo com Asher implorando para que ela se focasse. Então, ele resolveu mudar sua estratégia: adicionar dança às batalhas. Pegou seu celular e colocou para tocar o mais novo hit de Roxie: Toxic Love. Isso acelerou o processo imensamente.

Assim que Sophie aprendeu Cotton Spore, seu nível na PokéDex subiu em dois. Agora, ela estava no nível 15. Quando terminou de aprender todas as quatro técnicas, estava no 17. Mas ainda lhe faltava experiência real, e por isso Will sugeriu uma batalha.

— Um contra um, Ponyta contra Sophie. Ok? — Asher concordou de imediato, querendo ver como a Mareep rosa iria se sair numa batalha de verdade. 

E seu desempenho foi impressionante. A música que Asher colocou no celular parece ter realmente ajudado: quando ele comandou Cotton Spore, ela fez com que sua lã fosse disparada em projéteis grudentos enquanto dava um salto no ritmo da melodia.

A Ponyta tentou atacar com Flamethrower, e acertaria Sophie se não fosse por sua agilidade de bailarina. 

E a batalha seguiu assim, com Ponyta tentando acertar todos os golpes que podia e a Mareep devolvendo com graça e ritmo. E a cada esquiva, Sophie tentava se manter em dois pés. 

— Agora o refrão, Sophie! — Asher aumentou o volume de seu celular. Venom Days, novo single da banda de Roxie, tocou no máximo junto com uma investida da pokémon rosa, e um trovão rugiu quando ela se aproximou. — Isso! Thunder Wave!

Ponyta estava paralisada, mas usou o fogo em sua crina para manter Sophie longe.

— Não perderemos tão fácil! Smokescreen! — O fogo de Ponyta se tornou fumaça. E ela se espalhou como uma labareda na mata, cobrindo uma parte grande do campo de batalha. — Quando conseguir se mover, use Flamethrower.

E nesse momento, teve um solo de guitarra. 

Sophie correu para dentro da fumaça, sem ordens de Asher, e um brilho ofuscante surgiu lá dentro. 

Oh, these are venom days

Poison Sting when I sing!

Primeiro, Asher pensou ser uma técnica nova. Houve um barulho de eletricidade, e um brilho amarelo igual ao relâmpago de Sophie.

Depois, estranhou a forma de pé enquanto a fumaça se dissipava. Will retornou Ponyta, e por fim Asher entendeu.

    These are venom days

    Sophie havia evoluído na fumaça.

 

—O-O-O-

 

Ao fim da tarde, Asher deixou Daichi e Sophie, agora uma Flaaffy, para um check-up com a enfermeira Daisy. Ele subiu para a suíte em que estava hospedado com Will, e entrou no banho.

Era seu segundo dia em Icirrus, e o terceiro fora de casa. Ele se perguntou como a vovó estava, e prometeu a si mesmo que ligaria para ela assim que acordasse no dia seguinte.

E depois, divagou.

Uma rima não saía de sua cabeça desde que ele chegara em Icirrus, sobre o Dragão Branco, que trouxe a Chama. Sua avó repetia ela na hora de dormir.

 

    “A chama alva deve arder

    E não há raio que a parta

    É como todo Ryumaru deve ser

    Faminto ou com ceia farta

    Ele deve manter

    A chama salva”

   

— Asher? — Will chamou, entrando no quarto e fechando a porta. 

— Tomando banho! — gritou o garoto de volta. 

Asher deixou a água quente levar todas as suas preocupações. Ele era um treinador, tinha dois pokémon e iria conseguir logo sua primeira insígnia. E ele ficaria forte, e nenhum pokémon dele se machucaria lutando contra treinadores veteranos.

E ele tinha Will.

Estava tudo bem. Ele manteria a chama salva.

   

—O-O-O-

 

Quando Asher saiu do banho e se vestiu, encontrou Will cochilando na cama. Ele estava com as pernas para fora, deitado horizontalmente na cama e com um braço cobrindo os olhos. 

Asher pegou seu celular enquanto secava o cabelo com uma toalha, e haviam três chamadas perdidas de Amin. Ele ligou para a caixa postal, digitando o número indicado na SMS que dizia sobre as ligações perdidas.

— Asher, me escuta com atenção. — Era a voz de Amin, mas havia um barulho de fundo muito alto. Era o som de uma batalha, disso Asher tinha certeza. Ele ouviu um rugido e um estalar elétrico, e um grito de dor. — Você não pode voltar para Opelucid. A vovó está bem, ela tem a Mirna pra proteger ela. Não se preocupe, mas FIQUE EM ICIRRUS. Fale com o Brycen. Diga a ele que Glazier está vivschszpwzz… — e então, uma explosão. A mensagem termina abruptamente.

Asher sentou no chão, ao lado da cama de Amin. Ele tentou ligar para Amin, mas seu celular estava desligado. 

   

Não estava tudo bem.


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