Internato Limoeiro escrita por sam561


Capítulo 34
Capítulo XXXIII - As vitórias de uma noite


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura ♥



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A noite continuava agitada, o restante do grupo de música se apresentava e parecia estar animando o ambiente. Embora a atmosfera do local fosse animada, Mônica estava sentada sozinha em um banco da área verde com o pensamento distante.

 

A moça tinha o olhar perdido quando sentiu alguém se sentar ao seu lado. Era Cebola.

 

"Tô te procurando faz tempo! Mandou bem lá na peça!" exclamou e a moça negou com a cabeça.

 

"Não, Cê. Eu não mandei bem. Eu estraguei tudo." falou e ele riu.

 

"Pera lá, Mônica, o roteiro não era tão bom assim e você teve que fazer par com o Toni! É compreensível não se animar com o resultado, mas você deu o seu melhor." ele disse e a namorada negou.

 

"Não, quem deu o melhor foi o Toni que salvou a peça com aquele improviso no final, a Gabriela que tinha química com ele e mantinha o interesse da plateia, a Sofia que narrava bem e o grupo de música que soube ajudar com o som!" começou.

 

"Você sabe que nem sempre levei meus ensaios a sério, mas depois eu levei a sério. Só que esqueci de me entrosar com o Toni, meu parceiro de cena!" continuou e ele fez uma careta.

 

"Entrosar?" repetiu e ela bufou.

 

"Conhecer melhor! Por que você acha que a Gabriela teve química com ele? Porque eles tentaram se aproximar!" exclamou.

 

"Mas, Mônica, o Toni nunca tentou dar em cima da Gabriela, de você já! Tinha motivo pra você não querer se aproximar dele." o rapaz ressaltou e ela abriu e fechou a boca, era outra coisa que não havia parado para pensar depois da peça.

 

"E outra, todo mundo sabe que o Toni não é uma pessoa tão boa assim, nem sei como Gabriela conseguiu se aproximar." Cebola comentou e ela fez uma careta.

 

"Ah, Cebola, pode parar aí! Você andava com ele e nunca foi um santinho aqui no IL. Tanto que, se a gente for ver, foi sacanagem o que seu grupo fez com o próprio grupo, com o Toni mais ainda." falou.

 

Cebola franziu o cenho.

 

"Hã? Do que você 'tá falando, Mônica?" perguntou sem entender.

 

Mônica suspirou.

 

"Eu falei com a Gabriela sobre o Toni e ela me fez pensar um pouco. Desde o exposed, ou até mesmo antes, você teve meu apoio, do Cascão e até da Magali; a Denise sempre teve a Sofia e agora tem o Jeremias; a Penha se aproximou do Nik e isso fez mais gente se aproximar dela. Mas e o Toni?" falou e o rapaz abriu e fechou a boca.

 

Mônica segurou em sua mão.

 

"Eu posso não ter sido uma cuzona igual ele foi, mas sei como é uma escola inteira falando mal de você. E enquanto todos vocês, que também tiveram seus momentos de maldade, se arrependeram e tiveram quem estendesse a mão, ele não teve. E, bom, mesmo vocês não sendo amigos de verdade, era o mais perto que ele tinha aqui no IL." ela falou.

 

Agora quem estava pensativo era Cebola. O rapaz e as meninas estiveram tão preocupados em mudar a própria realidade que esqueceram de um detalhe do finado grupo: os populares cuidavam uns dos outros. Mas não foi o que aconteceu quando mais precisaram.

 

Outra memória acometeu Cebola, em especial no dia em que ia pular o muro do internato e Toni se negou a ajudar e falou sobre não ter amigos, algo que o moreno ignorou completamente.

 

"Eu… eu não imaginei que ele se preocuparia com isso. Ele é o Toni! O machão que não se importa com nada!" exclamou.

 

Mônica não evitou o riso.

 

"Cebola… se fosse você no lugar dele, o que você faria?" perguntou e o namorado se calou, talvez não fosse tão estranho assim o fato de Toni usar uma máscara.

 

"Você acha que eu tenho que pedir desculpas pra ele?" perguntou e ela deu de ombros.

 

"É você que tem que saber disso. Você ainda deve desculpas pra muita gente, não pense que eu esqueci!" exclamou e ele levantou os braços em rendição.

 

"Em minha defesa, tudo tem sido muito corrido. Mas… eu vou falar com ele. Agora-agora, eu não sei, porque eu não faço ideia de onde ele 'tá e prefiro ficar com você." falou com um sorriso enquanto a abraçava pelos ombros.

 

A moça sorriu enquanto se aconchegava nele. Os dois ficaram ali juntos até ela lembrar de algo.

 

"Seus pais vieram?" a morena perguntou e ele negou.

 

"Tão trabalhando, como sempre. E os seus?" devolveu a pergunta e ela assentiu.

 

"Sim, mas eu quis ficar no IL hoje. Disse que faria companhia à Magá. Aliás, você viu ela e o Cascão? Não vejo eles faz tempo!" falou e ele riu.

 

"Devem estar fazendo o que a gente devia estar fazendo: se pegando." Cebola disse e ela riu antes de beijá-lo, naquele dia em especial, os funcionários pareciam não rondar algumas partes do internato.

 

                                                                          *

Na quadra, que estava cheia de mesas e música, Denise brincava com sua comida enquanto olhava para uma mesa não tão longe da sua, era onde estava um entediado Jeremias.

 

“Não acha que devia falar com ele?” a voz de sua madrasta soou e ela olhou, estavam apenas as duas na mesa e Denise nem percebeu.

 

“Ele quem?” perguntou e ela riu.

 

“Aquele menino que você fica olhando.” respondeu e a ruiva riu.

 

“Ah... é meu amigo Jeremias. ‘Tava reparando o desconforto dele no meio das discussões dos pais e avós por causa de diferença de opinião, ele sempre fica em cima do muro. Vai que ele me manda um sinal de ajuda e nós dois saímos do tédio?” comentou e a madrasta observou a enteada.

 

“Por que você mesma não manda um ‘sinal de ajuda’? Vocês dois estão entediados mesmo e... algo me diz que a amizade de vocês é bem... especial.” comentou com um sorriso malicioso ao fim, fazendo Denise a encarar boquiaberta.

 

Sua relação com a madrasta nunca fora boa, mas Denise estava em meio a tantas mudanças de pensamentos e atitudes que decidiu ao menos tentar ser mais amigável com ela, afinal, a mais velha tentava ser amigável consigo.

 

“Talvez ele seja mais pra mim do que eu sou pra ele. Eu não quero perder a amizade dele, então hesito um pouco e às vezes ele também parece hesitar. Então... acho que não vai rolar nada.” confessou sentindo-se estranhamente mais leve.

 

“Se nenhum de vocês tomar uma atitude, nunca vão saber. Vai lá, Denise, segue seu coração.” a madrasta aconselhou e a ruiva a olhou por alguns segundos e sorriu antes de levantar da mesa.

 

A ruiva caminhava até a mesa de Jeremias quando sentiu um braço rodear seus ombros. Era Timóteo.

 

“Denise! Isadora me pediu pra chamar você e Jeremias pra um joguinho saudável com a galera do teatro. Bora!” ele falou e a ruiva bufou, mas aceitou.

 

                                               *

Não tão longe dali, Isadora sorriu animada ao ver Timóteo se aproximando com várias pessoas, que não eram apenas do teatro. A sugestão de jogo havia sido “verdade ou desafio”, algo que deixou muitos com um pé atrás.

 

"Não façam essa cara, prometo não pegar muito pesado! Acho que geral sabe jogar. A garrafa gira, o bico mostra quem escolhe e o fundo da garrafa mostra quem pergunta. ‘Tá todo mundo aqui já?" falou com uma garrafa plástica em mãos.

 

"Só não achei o Toni, mas já temos um número grande de jogadores!" Isadora exclamou.

 

"Então vamos começar!" Titi falou enquanto girava a garrafa. O bico apontou para Ramona e o fundo para ele, que revirou os olhos.

 

"Aff, já sei que vai pedir verdade, mas… verdade ou desafio?" perguntou desanimado.

 

A moça olhou entediada. Só havia aceitado o convite por insistência de Isadora e para esquecer alguns acontecimentos da noite.

 

"Desafio." pediu e os presentes vaiaram enquanto Gabriela e Milena se entreolharam surpresas e um tanto preocupadas.

 

"Você prometeu que pegaria leve, Timóteo!" Milena lembrou.

 

"Relaxa, eu sou um cara de palavra! Ramona, te desafio a… pegar a chave da sala do zelador. Fica na cozinha. Como eu sou um cara legal, alguém pode te acompanhar." desafiou.

 

"Eu vou!" Denise se dispôs e Ramona não escondeu sua surpresa.

 

As duas iam até a cozinha em silêncio quando Ramona se pronunciou.

 

"Por que quis vir comigo?" perguntou.

 

"Duvido que você já tenha pegado a chave do zelador alguma vez ou ao menos esteve na sala dele. Então decidi te ajudar a não ser pega." falou.

 

"Ah, legal. A chave nunca peguei, mas já fui lá. No dia do trote." lembrou.

 

Denise suspirou, o trote havia deixado de ser uma lembrança engraçada há um tempo.

 

"Pegamos pesado com você, né?" comentou em tom de arrependimento e a outra riu.

 

"Por incrível que pareça, não foi 100% ruim." respondeu enquanto se lembrava do dia do armário, havia sido uma das primeiras aproximações entre ela e Do Contra.

 

Denise observou o sorriso da novata e levantou uma sobrancelha.

 

"Esse sorriso teria alguma coisa a ver com o Do Contra? Ele parece gostar de você." perguntou e Ramona enrubesceu.

 

"O quê? Não! Somos só amigos, como você e Jeremias!" comparou e Denise riu.

 

"Eu pegaria o Jeremias, você pegaria o Do Contra?" perguntou curiosa, mesmo que não fosse mais do jornal, gostava de saber dessas coisas.

 

Ramona não queria responder aquela pergunta, então decidiu devolver.

 

"Se você pegaria o Jerê, o que te impede? Ele parece gostar de você." falou e Denise a encarou.

 

"Vocês dois mexem com grupo de música! Ele já te disse alguma coisa?” perguntou e foi a vez de Ramona rir.

 

"E precisa? Dá pra perceber. Acho que vocês foram os únicos que não perceberam ainda. Ou perceberam e se negam a fazer alguma coisa." falou enquanto continuava caminhando.

 

Denise estava surpresa, Ramona não era muito de falar, mas parecia ser observadora, ou então tudo estava de fato muito óbvio. Por mais que Sofia sempre dissesse para falar para Jeremias, ouvir de Ramona era diferente, talvez por não ser próxima de si.

 

As duas caminharam em silêncio até a cozinha e perceberam estar bastante movimentada, algo que dificultaria a entrada.

 

Eu distraio enquanto você pega. Fica no terceiro gancho atrás da porta.” Denise sussurrou e Ramona engoliu em seco enquanto assentia.

 

Denise começou a distrair os funcionários enquanto fingia ser alguém que havia amado demais a comida. Enquanto eles sorriam com os elogios, Ramona entrou cautelosamente na cozinha e olhou atrás da porta onde viu três ganchos. Como a veterana havia falado, no terceiro havia um chaveiro escrito “zelador”. Ela pegou a chave e saiu rapidamente.

 

A outra, ao ver Ramona do lado de fora, parou seu discurso e saiu devagar com a de cabelos curtos.

 

“Foi rápida!” Denise comentou e Ramona sorriu enquanto sentia as mãos tremerem pela adrenalina.

 

“Se eu demorasse iria acabar sendo pega.” comentou com um riso nervoso.

 

“Você parece nervosa.” a outra observou.

 

“Não é o tipo de coisa que eu faço. Isso pode dar errado depois...” comentou preocupada e Denise riu.

 

“Não se preocupe, fofa. Essa chave já foi roubada tantas vezes que ele nem se importa mais. Mas eu fiquei surpresa em você ter escolhido desafio, ainda mais pro Timóteo, ele é um safado.” comentou e Ramona deu de ombros.

 

“Minha noite não anda uma das melhores, talvez um pouco de emoção me fizesse bem.” revelou e a outra assentiu.

 

As duas logo chegaram à rodinha onde mais pessoas pagavam desafios. Ramona balançou a chave e os demais aplaudiram.

 

“Não é que ela conseguiu mesmo?! Agora que temos a chave, as coisas podem ficar interessantes. Gira aí!” Titi exclamou e a garrafa girou.

 

O bico parou em Magali e a base em Cebola.

 

“Verdade ou desafio, Magali?” ele perguntou.

 

“Desafio.” a moça escolheu.

 

Cebola abriu um sorriso malicioso.

 

“Te desafio a passar cinco minutos na salinha do zelador com... o Cascão!” falou e ela arregalou os olhos.

 

Os demais gritaram.

 

“A princesinha do IL com o capitão do time? Se Carlito pega...” um aluno comentou.

 

Magali levantou.

 

“Tá bom, aceito o desafio.” aceitou e os demais aplaudiram.

 

Cascão também levantou animado e Ramona entregou a chave.

 

“Essa chave é daquela sala pequena que ‘tá sem luz desde o dia do trote, dia de sorte, hein? Alguém vai com eles pra ficar de olho no corredor.” Timóteo falou e Narcisa se ofereceu para acompanhar.

 

                                                                                      x

Magali e Cascão caminhavam rumo à salinha nervosos. Por mais que já tivessem ficado vários vezes, era completamente diferente fazer isso dentro de um cubículo apertado com todo mundo tendo em mente o que aconteceria lá dentro.

 

“Cê não vai colocar isso no jornal não, né?” Magali perguntou.

 

A moça negou.

 

“Isso era na época da Denise. Agora divirtam-se, vou marcar cinco minutos.” ela respondeu enquanto os empurrava para dentro da salinha.

 

A sala era pequena e apertada, lá ficavam panos de limpeza, papeis toalha e higiênicos e alguns rodos e vassouras, nenhum produto de limpeza. O local de fato não tinha luz, então, assim que a porta se fechou, eles tatearam as coisas e a eles mesmos.

 

“Nossa, não ‘tô enxergando nada! Cadê você, Cascão?” ela perguntou enquanto tentava encontrá-lo.

 

“Tô aqui do seu lado. Isso se eu não tiver encostando nas vassouras e rodos.” o rapaz respondeu e ela riu.

 

“Acho que ‘tá mesmo, porque eu não senti toque nenhum.” respondeu e ele riu se virando e sentiu trombar em algo, que era Magali.

 

“Acho que te achei! Achei, né? Acho que toquei no seu celular.” a moça comentou tateando o rapaz, que riu após um toque surpresa em uma parte específica de seu corpo.

 

“Não era meu celular, mas ok.” falou e ela riu constrangida ao imaginar onde havia tocado.

 

“Desculpa, Cas. Mas e agora? O que a gente faz?” ela perguntou já com uma resposta em mente.

 

“O Cebola é safado e essa de prender duas pessoas em uma sala é um truque velho de pegação. Então...” falava até ela o puxar para perto.

 

“Então vamos jogar o jogo!” falou com a voz sedutora que surpreendeu Cascão, de maneira positiva.

 

Magali encostou na prateleira onde ficavam os papeis toalha enquanto os lábios de Cascão entravam em contato com os seus. Aquele beijo no escuro entre quatro paredes, bem próximas uma da outra, trazia uma sensação diferente aos dois, era como se os deixasse mais elétricos, mais excitados. Cinco minutos podiam ser pouco tempo para uns e muito para outros, mas o beijo não durou tanto por conta de ouvirem batidas na porta.

 

“Fodeu, gente! O Carlito ‘tá se aproximando! Saiam rápido pra ele não ver, obviamente que ele sabe dos esquemas que rolam nessa salinha.” a voz de Narcisa soou e eles saíram rápido da sala, mas não tiveram muita sorte já que o homem os viu.

 

“O que vocês estão fazendo aqui?” perguntou sério, não havia os visto sair da sala, mas adolescentes em um corredor deserto era suspeito.

 

“Nada, pai! A gente só queria... respirar um pouco.” Magali falou enquanto passava as mãos nos cabelos bagunçados.

 

“Real!” Cascão falou enquanto olhava para o lado, não sabia se sua boca estava mais avermelhada que o normal, mas sabia que o batom de Magali havia desaparecido da boca dela.

 

Carlito estreitou os olhos.

 

“Olhe pra mim, rapaz.” pediu e Cascão lambeu os lábios antes de se virar para o diretor.

 

“Que rosto cheio de marca de batom é esse? Justo quando tem duas meninas que usam batom aqui?” questionou e o rapaz não soube o que responder.

 

“Diretor, Cas e eu somos jovens, ainda estamos aprendendo. E Magali só apareceu no lugar errado na hora errada.” Narcisa interveio para o alívio dos outros dois.

 

O diretor olhou para cada um deles, como se conferisse, e pareceu acreditar.

 

“Que seja. Beijos continuam sendo proibidos! Agora circulando, não quero ninguém aqui nos corredores sem supervisão.” falou abanando as mãos, como se os expulsasse do local.

 

Os três saíram rapidamente e, já longe dele, Magali abraçou Narcisa.

 

“Valeu, Narcisa! De verdade!” agradeceu e a outra riu.

 

“Imagina. Mas vocês precisam ficar espertos, ele vai pegar no seu pé, Cascão.” falou e ele bufou.

 

“Agora é o Átila, os inspetores e o diretor, o mundo parece me odiar.” comentou enquanto andavam.

 

A dona dos cabelos rosas ia na frente enquanto Magali andava bem ao lado de Cascão que, de súbito, levou sua mão à cintura da moça, que sorriu com o gesto. Os dois ainda sentiam o gosto daquele beijo, e mais ainda a sensação boa que trouxera.

 

                                                                                            *

Enquanto isso, no refeitório, Nikolas e Penha riam enquanto um desenhava o outro, havia sido uma ideia dela após ele negar o convite para o jogo de Titi e Isadora.

 

“Acabou o tempo! Deixa eu ver como você me desenhou...” ela disse enquanto ele entregava o papel.

 

“Diferente de você, não sou do grupo de arte.” falou e ela fez uma careta, era um desenho que não era nem muito bom e nem muito ruim aos seus olhos.

 

“Não ‘tá ruim, mas podemos melhorrar.” avaliou e ele riu.

 

“Algum dia. Agora quero ver o meu... ah, Penha! Como você me desenhou tão bem em tão pouco tempo?” perguntou após ver o desenho e ela riu.

 

“Não é a primeirra vez que te desenho.” revelou e ele olhou surpreso.

 

“Ah, não? E por que você me desenhou da outra vez?” perguntou e ela sorriu.

 

“Porque eu ‘tava na monitorria da Hortênsia com saudades do meu monitor favorrito.” a moça falou enquanto roubava um selinho dele que riu.

 

Assim que parou de beijá-lo, Penha o olhou com um sorriso apaixonado, e recebeu um parecido.

 

“Nik, alguma vez você já se apaixonou?” perguntou e ele suspirou.

 

“Já. Tiveram as vezes não correspondidas e tem uma em especial que eu sonho em ser correspondido. Você já?” respondeu e ela sorriu encostando sua cabeça no ombro dele enquanto brincava com o “pezinho” do cabelo dele.

 

“Já! Neste exato momento, eu ‘tô apaixonada por alguém. Ele é lindo, inteligente e eu ‘tô olhando pra ele.” a morena disse e o rapaz riu enquanto beijava o topo da cabeça dela.

 

“Mas sabe a melhor parte? Quando eu olho pra ele e tenho vontade de morder, porque além de fofo, é uma delicinha.” continuou e Nikolas não soube se ria de constrangimento ou por ter achado engraçado.

 

“Nossa, Penha. Me deixou sem reação. O que eu faço agora?” perguntou e ela sorriu.

 

Namorra comigo.” Penha falou simples e ele olhou surpreso, não esperava aquilo.

 

“Desculpe... eu ouvi direito ou acabei de ser pedido em namoro?” perguntou e ela assentiu.

 

“É isso mesmo. Nik, com você tudo foi tão diferrente! Não digo só por nunca ter virrado as costas pra mim e por todo o incentivo, e sim por eu me apaixonar por você a cada dia que se passa, você me faz sentir nas nuvens, e eu nunca consegui sentir isso com ninguém.” declarou-se e ele segurou em suas mãos, sentindo-se confiante.

 

“Penha, realmente tudo foi diferente. No começo, você me incomodava um pouco, mas fui te conhecendo e... tudo se transformou. Eu tive meus traumas com as garotas, mas com você eu... sei lá, por um lado eu tive medo, mas por outro tive coragem. É estranho, eu sei. Mas talvez nós dois sejamos estranhos. A ex popular bonita e o ex gamer.” comentou e ela riu enquanto o abraçava.

 

“Não, vamos mudar isso! Esse negócio de ex tem que ficar no passado! Que tal a artista bonita e o melhor monitor de matemática do mundo?” perguntou e ele riu.

 

“Do mundo? Não acha demais, não?” perguntou.

 

“Depende. Do meu mundinho, não. Mas e ai, garrotão? Quer ser meu namorrado?” repetiu a pergunta e Nikolas fingiu pensar antes de beijar a moça apaixonadamente, e ser correspondido.

 

“Sim, eu quero! Demais!” respondeu e ela riu gostosamente antes de abraçá-lo.

 

“O beijo já tinha respondido, mas ouvir você falando foi até melhor.” falou enquanto sorria.

 

Os dois não sabiam como seria o novo relacionamento, só que estavam felizes pela decisão.

 

                                      *

De volta ao jogo, várias verdades e vários desafios haviam acontecido. A garrafa havia acabado de parar em Felipe e Tikara. O loiro lançou um olhar desafiador ao moreno, que não se intimidou.

 

“Desafio!” Tikara escolheu e o outro riu.

 

“Que corajoso. Te desafio a correr pelado até o refeitório! Mas como sou um cara legal, Cebola também vai, então vocês apostam uma corrida.” desafiou e os dois arregalaram os olhos.

 

“O quê?!” Cebola e Tikara questionaram em uníssono.

 

“Felipe! Que desafio escroto! Eles podem se ferrar se forem pegos!” Milena repreendeu e ele deu de ombros. Ela sabia da rivalidade que o ex nutria por Tikara.

 

Felipe deu de ombros.

 

“Os inspetores ‘tão cagando pra gente hoje e o refeitório ‘tá vazio, geral ‘tá lá na quadra. Fora que todo mundo já viu o mini biscoito da sorte do Tikara e Cebola precisa provar um pouco do próprio veneno.” ele falou calmo.

 

Os demais dividiam opiniões, uns achavam pesado demais, outros apenas queriam ver no que ia dar e tinham aqueles que incentivavam. Tikara olhou discretamente para Milena, não queria que ela o visse pelado, pelo menos não naquele contexto.

 

“Vai arregar, Tikara?” o loiro provocou.

 

“Felipe, né? Esse desafio ‘tá exagerado! Eles podem ser expulsos!” Mônica lembrou.

 

“Eu topo!” Tikara aceitou com a feição séria e vários encararam surpresos.

 

“Topa?” Cebola questionou surpreso e o dono das feições asiáticas deu de ombros.

 

“E você, Cebola?” Felipe perguntou e o outro suspirou.

 

“Topo também.” respondeu e Mônica negou com a cabeça, mas não disse nada.

 

“Pera aí, gente! Pra não foder pra ninguém, vocês correm pelados até o banheiro masculino e lá vocês se vestem, as câmeras do refeitório são uma bosta. O risco é menor já que Carlito ‘tava por aí.” Isadora sugeriu.

 

“Na verdade, o risco é o mesmo. Ele pode pegar eles justamente nesse meio tempo.” Denise comentou risonha.

 

“Cubram o rosto.” Cascão sugeriu enquanto ria.

 

“Nada de filmar, galera!” Isadora pediu.

 

Os dois suspiraram e primeiro cobriram a rosto com as camisetas, deixando apenas os olhos de fora, e logo ficaram nus, mas cobriram suas partes baixas com as calças em mãos. Alguns colegas riam disfarçadamente enquanto outros riam bem alto.

 

“Vai!” Titi gritou e os dois começaram a correr.

 

Cebola, competitivo do jeito que era, tentou correr mais rápido que Tikara, mas o constrangimento fazia com que o outro também quisesse ir mais rápido. Passando pelo refeitório, que só tinham alguns cozinheiros, Nikolas e Penha, que ainda estavam ali, ouviram alguns gritos surpresos.

 

“Mas que porra é essa?” Nikolas questionou alto.

 

“Que visão horrível que eu tive agorra!” Penha gritou.

 

“Moleques! Vou avisar o diretor!” uma funcionária alertou.

 

Os dois chegaram no banheiro e lá tiraram as camisetas do rosto e entraram cada um em uma cabine.

 

“Ei, Tikara?!” Cebola chamou.

 

“Quê?” o outro respondeu.

 

“É bem ruim a sensação de um monte de gente te olhando pelado... foi mal por aquela vez. Foi mal também pelas cuecas.” desculpou-se e Tikara riu.

 

“Pensei que nunca ia pedir desculpas, Cebola.” comentou e o outro riu.

 

“Antes tarde do que nunca, né?” comentou.

 

“Eu te desculpo, mas me responde uma coisa... onde você tinha colocado minhas cuecas?” perguntou e Cebola riu.

 

“Isso aí já é um segredo.” falou e o outro apenas negou com a cabeça.

 

Os dois saíram das cabines de calças, mas as camisetas estavam no rosto novamente, não podiam sair do banheiro mostrando as identidades.

 

“Ah, e eu que ganhei a corrida. Cascão vai ficar puto em saber que um dos jogadores do time perdeu pra quem nem joga!” Cebola falou e o outro riu.

 

“Só no seu sonho! Fui eu que ganhei!” respondeu e o veterano negou.

 

“Eu que pisei primeiro no primeiro ladrilho do banheiro!” exclamou.

 

“E eu pisei nos dois! Depois a gente vê isso, agora temos que correr de novo.” Tikara falou e os dois correram novamente.

 

                                      X

De volta ao jogo, todos riam alto enquanto zombavam dos dois. Milena tocou no ombro de Tikara e sorriu.

 

“Você é corajoso. E até que tem um bumbum bonitinho.” comentou baixo e ele não escondeu um riso constrangido e divertido.

 

“Puta merda, Milena. Eu fiquei constrangida por ele!” Gabriela comentou enquanto ria.

 

“De boa, Gabriela. Acho que foi um elogio.” Tikara comentou e Milena riu.

 

Felipe revirou os olhos para a cena e Tikara percebeu, isso fez com que esquecesse de todo o constrangimento de correr pelado. Já Cebola ouvia uns sussurros bravos de Mônica.

 

“Você é maluco, Cebola!” ela exclamou.

 

“Não podia negar um desafio desses, mais ainda depois que o Tikara aceitou. Mas não foi de todo ruim, eu me desculpei com ele.” falou e ela sorriu.

 

“Mesmo? Que ótimo, Cê! E ele te desculpou?” a morena perguntou.

 

“Parece que sim. Não é como se a gente fosse virar melhores amigos, mas é um começo.” falou e ela sorriu para ele.

 

O jogo continuava quando o bico da garrafa parou em Jeremias e o fundo em Isadora. A loira sorriu abertamente, tinha um plano em mente.

 

“Jerê! Verdade ou desafio? Fala desafio, fala!” ela exclamou e ele riu.

 

“Hum... acho que escolho... ver...” falava risonho e pausadamente.

 

“Nem vem com essa, Jeremias! Verdade é a parte chata do jogo!” Titi reclamou e o amigo riu.

 

“É impressão minha ou tem gente querendo escolher por mim?” o outro perguntou.

 

“Não é impressão, é realidade. Mas realmente, desafio é mais interessante.” Magali comentou.

 

“Vejo que não tenho muitas opções. Escolho desafio.” o novato falou e a moça esfregou uma mão na outra animada.

 

“Eu te desafio a dar aquele chupão gostoso em uma pessoa dessa roda.” Isadora desafiou e os colegas gritaram animados.

 

“É desse tipo de desafio que o povo gosta!” alguém exclamou animado.

 

“Sou eu que escolho ou...” Jeremias falava até ela negar apenas movendo o dedo.

 

“Sou eu que escolho. E a escolhida é... Denise!” exclamou e ele arregalou os olhos enquanto Denise sorria.

 

“Pedido de desculpas por aquele dia que interrompi vocês. Vai lá, garotão!” ela sussurrou a primeira parte e falou alto a última enquanto batia palminhas.

 

Jeremias se aproximou de Denise, que colocou o cabelo para um lado só.

 

“Ia perguntar se você queria, mas parece que você ‘tá mais animada que eu.” comentou e ela riu dando de ombros.

 

“Foi o desafio, né? Fazer o quê?” falou e ele riu e se virou para os demais, que olhavam com expectativa.

 

“Tem que ser na frente de vocês? Incomoda, sabe?” ele comentou.

 

“Vocês não são tímidos! E é pra ser um desafio, não uma coisa completamente boa.” Titi falou.

 

“Só tem safado nesta roda!” Gabriela comentou enquanto negava com a cabeça e deixava a brincadeira, assim como outras pessoas.

 

“Vai logo! A gente quer ver!” uma garota exclamou animada.

 

Jeremias se aproximou do pescoço desnudo de Denise e aproximou os lábios em um selinho, que fez a moça sorrir; em questão de segundos, a ruiva sentiu uma língua em contato com sua pele, que transformou o sorriso em uma mordida no lábio. Em seguida, sentiu a pele ser sugada e quase soltou um gemido, mas o conteve e tentou apenas rir, mas saiu um riso estranho.

 

“Denise é uma filha da puta sortuda!” uma pessoa comentou.

 

“Credo... que delícia! Nem pra me escolher, Isadora!” uma voz soou.

 

“Ele também não saiu perdendo.” outro comentou.

 

Assim que ele se afastou lambendo os lábios, sorriu para Denise, que devolveu o gesto enquanto brincava com os cabelos.

 

“Vou beber uma água rapidão!” Denise falou se levantando e saindo rapidamente.

 

“Vai atrás dela, irmão. Essa sede dela é sede de outra coisa.” Titi falou para o amigo com um sorriso malicioso.

 

Jeremias olhou para o amigo e, como se fosse por impulso, saiu a passos rápidos. Os demais riram e iam continuar com o jogo, mas o diretor em pessoa apareceu, haviam lhe dito sobre os dois alunos nus.

 

“Aposto que foi daqui que saiu aqueles alunos pelados que estão falando por aí!” exclamou e todos alunos, para a surpresa dele, saíram correndo impossibilitando-o de interrogar alguém.

 

Carlito revirou os olhos cansadamente.

 

                                      *

Denise havia ido até o banheiro jogar água no rosto e encarou seu reflexo, estava com o rosto avermelhado, assim como uma parte de seu pescoço que parecia queimar, e era uma queimação boa.

 

“Será que é errado querer outro desses?” comentou para si mesma enquanto ria.

 

A ruiva saiu do banheiro e quase se assustou ao ver o dono de seus pensamentos escorado do lado de fora.

 

“Jerê! ‘Tá fazendo o que aqui?” perguntou enquanto ajeitava os cabelos.

 

Jeremias abriu e fechou a boca, não sabia o que falar.

 

“Ér... eu... sei lá. Eu senti que tinha que ir atrás de você.” respondeu e ela sorriu.

 

“Sei que sou uma pessoa atraente, mas a esse nível é novidade.” comentou e ele riu.

 

Era notável a tensão que havia entre eles. Aquele era o momento perfeito para que conversassem sobre o que tanto queriam, em um ato de coragem, Jeremias se aproximou.

 

“Denise, aquele dia que Isadora interrompeu a gente...” falava e ela ficou bem perto dele.

 

“Eu queria saber o que você teria feito se eu tivesse conseguido te beijar! Vamos ser diretos, sempre interrompem a gente.” a moça falou direta e ele sorriu.

 

“Naquele dia, você ‘tava bêbada, então eu nem pensei...” respondia até ela o interromper com sua risada.

 

“Caralho, você é certinho mesmo. Mas não me incomoda, nem um pouco. Tanto que... eu não ‘tô bêbada hoje.” falou o olhando nos olhos.

 

Jeremias entendeu no mesmo instante o que ela quis dizer, o rapaz se aproximou para beijá-la, mas ela o impediu.

 

“Aqui não, o Carlito ‘tá por aí. Vem comigo!” falou enquanto o puxava até o banheiro feminino e fechava a porta.

 

Assim que fechou a porta, aproximou-se de Jeremias com os olhos fixos nos dele, há muito tempo queria estar nessa curta distância, mas queria mais ainda que ela não existisse. Jeremias também queria isso, tanto que foi ele quem deu o primeiro passo e juntou seus lábios aos dela.

 

O beijo continha uma dose de urgência somada ao desejo, os dois já haviam conhecido várias bocas antes, mas nunca de um jeito tão urgente como esse. Tanto que o beijo foi se intensificando e beirando a sensualidade quando ela se sentou na pia e entrelaçou suas pernas ao corpo do rapaz, que deslizava suas mãos pela cintura dela. Os dois se separaram quando o ar faltou nos pulmões, mas um sorriso enfeitou os dois lábios assim que os olhos se encontraram.

 

“Por que eu demorei tanto pra te beijar?” ele perguntou com a voz baixa e ela riu enquanto o abraçava.

 

“Me pergunto a mesma coisa! Por que demorou tanto pra me beijar?” repetiu e ele riu.

 

“Posso recuperar o tempo perdido.” falou perto do ouvido da moça, que mordeu o lábio inferior.

 

 Porém, para a surpresa e desprazer de Jeremias, ela se afastou e desceu da pia.

 

“Tentador, mas eu sou tipo a Cinderela, a meia noite tenho que ir embora. Combinei com meu pai. Combinei de dançar com a Sofia e nem vi ela depois da peça.” comentou e ele assentiu enquanto passava as mãos nos cabelos.

 

“Então vamos procurar a Sofia.” falou e ela pegou o celular no bolso.

 

“Agora são onze e quarenta e cinco. Só mais cinco minutinhos e vamos.” falou antes de voltar a beijá-lo, e ser retribuída.

 

                                                                              *

Enquanto isso, Sofia estava na área verde junto de Sarah e Agnes deitadas na grama e rindo enquanto a dona dos cabelos azuis contava coisas completamente aleatórias sobre constelações.

 

“Sarah, eu duvido que aquela constelação se chame Ursa média!” Sofia comentou.

 

“Sofia, eu bebi uns quatro drinks que uns colegas trouxeram. Acha que ainda ‘tô falando coisa com coisa?” ela comentou risonha.

 

“O que exatamente você bebeu?” perguntou e a outra deu de ombros.

 

“Caipirinha. Nada mais.” respondeu e Sofia olhou as horas em seu celular antes de se levantar.

 

“Meninas, tenho que ir atrás da Denise. Prometi que a gente dançaria hoje, ando excluindo ela.” comentou e Agnes riu.

 

“Acho que ela ‘tá ganhando um ótimo consolo, Sofia.” a de óculos comentou risonha e a outra também riu.

 

“Eu fico feliz se eles pararem de perder tempo e se pegarem logo.  Eles se gostam pra caramba!” exclamou.

 

“Então dá uma de cupido!” falou e ela riu.

 

“Talvez. A gente se vê, meninas!” falou enquanto saía.

 

Sofia vinha se sentindo bem nos últimos dias, o apoio dos amigos e seu próprio desejo em mudar sua visão sobre si mesma estavam a fazendo se sentir mais alegre com tudo, inclusive com sua rotina no internato. A moça caminhava pelo gramado quando ouviu uma voz conhecida, era Toni.

 

“É isso, eu ‘tô pedindo desculpas pelo que fiz.” ele disse.

 

A outra pessoa riu sem humor.

 

“Enfia no cu!” exclamou antes de dar um soco no loiro que sequer revidou, havia sido de repente.

 

Sofia até pensou em sair de lá sem fazer nada, mas não conseguiu. Essa não era ela. Com isso, ela foi até onde o rapaz se sentou com a mão no rosto.

 

“Tudo bem, Toni?” perguntou e ele olhou surpreso.

 

“Tudo!” exclamou tirando a mão do rosto e logo colocando novamente, estava dolorido.

 

“Quer que eu pegue gelo pra você?” ela perguntou e ele suspirou.

 

“Não precisa, eu ‘tô de boa.” falou e ela deu de ombros.

 

“Eu ouvi você pedindo desculpas pra aquele menino. Estou surpresa.” falou e ele a olhou.

 

“Ér... eu quero mudar um pouco.” falou e ela sorriu.

 

“Isso é bom. Boa sorte.” falou prestes a sair quando ele a chamou.

 

“Sofia! Eu... desculpa! Fui uma pessoa horrível com você por muito tempo. Sei que só um pedido de desculpas não vai mudar o passado, mas... pode ser que mude o futuro.” comentou revezando o olhar entre o chão e a moça e ela sorriu.

 

“Claro que te desculpo, mas espero que tenha entendido que aquelas atitudes não eram boas, muito pelo contrário.” falou e ele assentiu.

 

“De certa forma eu sabia, só não queria aceitar isso. Obrigado!” agradeceu e ela assentiu e saiu em seguida não escondendo um sorriso de satisfação.

 

Sofia foi até o ginásio onde encontrou Jeremias e Denise, que a procuravam. Assim que se encontraram, uma música animada começou e Denise puxou os dois para o centro da pista. Por um instante, Sofia hesitou em ir para o meio e ser o centro das atenções, mas uma voz lá no fundo dizia para aproveitar o momento ao lado dos amigos, e ela ouviu essa voz.

 

A moça pulava ao lado deles, que pareciam se divertir ao seu lado.

 

“Cheguem aqui, quero uma foto desse grande momento! Cada um beija minha bochecha!” exclamou pegando seu celular e eles aceitaram tranquilamente.

 

Sofia de fato tirou uma foto que ficou boa, mas alegou ter ficado ruim então precisaria de outra. Os dois novamente beijaram cada uma de suas bochechas e ela se abaixou fazendo com que dessem um selinho.

 

“Agora posso dizer que vi um beijo de vocês dois!” ela exclamou risonha enquanto eles também riam e voltavam a dançar.

 

                                                                           *

Do lado de fora, Toni continuava sentado em um banco jogando em seu celular quando Gabriela se juntou a ele.

 

“E ai, Toni! Sumiu a noite toda! Nem tive como te parabenizar pela peça.” ela disse e ele riu bloqueando o aparelho.

 

“Tenho que concordar, eu sou incrível. Mas você também foi bem, graças a mim, é claro.” brincou e a loira riu alto.

 

“Muito modesto, você. O que faz aqui sozinho?” perguntou.

 

“Não é como se eu tivesse muitos amigos, Gabriela. Mas até que a peça foi positiva, algumas pessoas vieram falar comigo.” o rapaz respondeu.

 

“Isso é bom, mas também é meio triste.” falou e ele deu de ombros.

 

Os dois ficaram em silêncio por alguns segundos.

 

“Eu vou sentir saudades da peça. Até que era legal ser a Aurora.” Gabriela comentou.

 

“O público amou ela. Inclusive, queriam que ela fosse a protagonista.” Toni lembrou e a loira riu.

 

“Coitada da Mônica, o povo falou na cara dura que não gostou da atuação dela! Mas e aquele seu discurso do fim? Eu adorei!” falou e ele riu.

 

“Improvisei. Digamos que algumas coisas eu tirei da minha vida mesmo, mas acabou dando certo.” revelou e ela assentiu.

 

“Eu até diria pra você se considerar um herói, mas você é metido demais pra isso. Estragaria.” comentou e ele riu sapeca.

 

“Tarde demais! Estou me achando!” falou e ela riu gostosamente.

 

“Eu também vou sentir saudades de ser o Arlindo. O cara podia ser meio irritante, mas tinha a melhor amiga do mundo.” falou olhando para o nada e ela o olhou.

 

Naquele momento, os dois se lembraram da fala de Isadora sobre as vidas voltarem ao normal e, consequentemente, não precisarem mais tentar interagir entre si. Mas havia um porém: os dois haviam gostado dessa amizade.

 

“Eu tenho um pouquinho da Aurora em mim, assim como você tem um pouco do Arlindo. E, bom... não é porque a peça acabou que precisamos deixar de nos falar.” sugeriu um tanto tímida e ele sorriu abertamente.

 

“Eu concordo, mas não sei se seus amigos vão concordar com isso.” falou e ela riu.

 

“Se sua preocupação é o time, eles não ditam minha vida. E se for a Milena, você não vai ter problemas com ela, eu meio que falei pra ela que você não é esse lixo que aparenta ser.” falou e ele riu.

 

“Acho que devo me sentir lisonjeado.” Toni disse e ela assentiu.

 

“Tem mesmo, não gasto minha lábia por qualquer um.” a moça falou simples.

 

“Valeu!” exclamou.

 

Gabriela levantou.

 

“Vamos pra festa! Aqui ‘tá meio entediante. Mas vamos fazer uma acordo novo?” perguntou e ele assentiu.

 

“Claro. Você me chamando pra ir aproveitar a festa já mostra que o outro deu certo.” falou e ela assentiu.

 

“Nunca vamos falar sobre a shippação em cima da Aurora e Arlindo. Parece que tem gente realmente shippando você comigo! Marco Antônio e Gabriela!” exclamou e ele riu.

 

“Que aleatório. Mas tudo bem, vamos esquecer que eles dariam um ótimo casal.” falou e os dois apertaram as mãos antes de irem para a festa.

 

                                      *

Afastado do barulho, Xaveco estava no auditório há bastante tempo. Primeiro ajeitou os instrumentos e cabos que ficaram lá, depois decidiu jogar em seu celular e quando sua bateria acabou decidiu fingir que estava na peça.

 

“Dance comigo, não dance com ele!” falou antes de pegar do chão uma coroa de flores que Mônica havia deixado para trás.

 

“Desculpe, Jorge... simplesmente é ele.” falou afinando a voz.

 

Xaveco começou a dançar sozinho pelo palco enquanto ria. Sua surpresa foi ouvir aplausos, mas tudo cresceu quando viu ser de Nimbus.

 

“Devia ter entrado no elenco!” falou e o rapaz riu enquanto se sentava no palco.

 

“Que nada. E ai, Nimbus! Tudo bem?” perguntou e o moreno assentiu se aproximando.

 

“Sim! Eu entrei aqui pra fugir do meu pai me enchendo e vejo você dançando com essa coroa de flores, não tinha como não ficar bem.” falou e o cacheado tirou a coroa.

 

“Ah... deve ter sido uma cena horrível!” falou e Nimbus riu se juntando a ele.

 

“Não, eu gostei. E você fica bem com essa coroa!” falou enquanto recolocava a coroa no rapaz.

 

Xaveco riu sem graça, mas havia gostado do fato de Nimbus aparecer para fazer companhia a ele.

 

“Lembra daquela nossa conversa na praia?” perguntou e o moreno assentiu.

 

“Lembro. Tanto que até hoje ‘tô sem saber o resto da resposta.” falou.

 

O loiro respirou fundo enquanto olhava para o fim do auditório.

 

“Fui mandando pro IL porque suspeitaram que eu sou gay.” revelou e o moreno tocou em seu ombro.

 

“Nossa... sinto muito que tenha tido que vir pra cá só por esse motivo, Xaveco. Entendo como se sente.” comentou e o outro sorriu.

 

“Tudo bem. Acho que foi menos doloroso de aceitar depois de ter falado com você.” falou e Nimbus franziu o cenho.

 

“Por quê? Pensei que seria por causa dos seus amigos.” comentou e o loiro riu.

 

“Também, eu amo aqueles bocós. Mas, como eu te disse, o que você me disse me ajudou a olhar pras coisas de um jeito diferente, inclusive pra minha... pra minha sexualidade.” confessou e Nimbus pareceu se interessar mais.

 

“Aonde quer chegar, Xavier?” perguntou.

 

Xaveco respirou enquanto passava as mãos em seus cabelos, fazendo a coroa cair no colo de Nimbus.

 

“Não é de hoje que eu penso nisso. Desde um pouco antes de eu entrar no IL, eu penso sobre... sobre eu gostar ou não de meninas. Aqui no IL meio que aprofundou esse pensamento e eu... eu percebi que não me interesso por elas, agora por eles...” falou e Nimbus não soube como reagir, ao mesmo tempo que imaginava isso, nunca tivera certeza.

 

“Ah... Entendi.” comentou e Xaveco cruzou as pernas e respirou fundo enquanto criava coragem e sentia seu coração bater mais rápido.

 

“Inclusive... eu... você... eu te acho... eu gosto de você, Nimbus!” confessou e o moreno arregalou os olhos.

 

“Eu sei que isso é tudo muito novo pra mim, mas eu sei como me sinto quando te vejo, quando conversamos, quando você se mostra uma pessoa fantástica e... era até difícil não me interessar.” confessou e foi a vez de Nimbus sentir o coração bater mais rápido quando o loiro se aproximou mais.

 

“Xavier... eu também gosto de você, tanto que eu quero muito te beijar agora, mas eu sei o quanto é difícil lidar com novas realidades, então não quero te pressionar ou pular etapas.” o mais velho disse e o loiro riu.

 

“Mas eu quero pular essas etapas que eu nem quais são, Nimbus! Eu quero sentir isso! Eu quero... me descobrir!” exclamou enquanto se aproximava mais de Nimbus, que não se distanciou, também queria aquele beijo.

 

O nervosismo de Xavier era perceptível, suas mãos tremiam e um arrepio lhe percorria pelo corpo inteiro. Nimbus, diante disso, segurou carinhosamente o queixo de Xavier e sorriu para ele, aquele sorriso fez com que o loiro sentisse o nervosismo diminuir, assim como os tremores. Assim que seus lábios se encostaram nos dele, sentiu uma sensação completamente nova surgir, era como se a boca de Nimbus tivesse algo que o atraía.

 

Quando o selinho se transformou em um beijo mais intenso, Xavier finalmente encontrou o que faltava nos beijos com as garotas e sentiu um revirar na barriga enquanto segurava no rosto do moreno e movia a boca na dele. As línguas dançavam em sintonia, tanto que os dois se sentiam um só, e só se afastaram quando a respiração foi precisa. Xaveco tinha o rosto vermelho, mas um sorriso brincava em seus lábios, o qual cresceu assim que Nimbus sorriu abertamente para ele.

 

“Como se sente, Xavier?” perguntou.

 

“No céu.”  respondeu no mesmo instante fazendo Nimbus sorrir mais.

 

Os dois iam se aproximar novamente quando a porta do auditório se abriu e eles, no mesmo instante, disfarçaram. Mas logo relaxaram, era Do Contra, que até então estava tocando no ginásio.

 

“Difícil de te achar, hein, Nimbus? Nossos pais ‘tão te procurando.” o rapaz falou tranquilamente.

 

Nimbus levantou pegando a coroa que havia caído de seu colo durante o beijo.

 

“Tô indo, vou só coroar o Xavier.” falou e o irmão riu enquanto se encostava na parede.

 

Xaveco ria de Nimbus, que de fato colocava a coroa em seus cabelos.

 

“Com essa coroa, eu te parabenizo pela sua coragem. Te desejo força, as melhores experiências e agradeço que a primeira delas tenha sido comigo. E torço para ter outras.” falou para que só eles ouvissem deixando o loiro envergonhado.

 

“Seu irmão ‘tá olhando, Nimbus.” lembrou apontando para Do Contra com a cabeça.

 

Nimbus riu.

 

“Você divide quarto com ele, já devia ter acostumado. Tchau, Xaveco.” falou piscando um olho e descendo do palco.

 

Xavier acompanhou o moreno com o olhar.

 

“Falou, cunhado.” Do Contra falou levando um tapa do irmão em seguida enquanto saíam.

 

Xaveco não pôde evitar de sorrir enquanto tocava em sua própria boca e, pelo celular, olhava para seu reflexo com a coroa. Havia sido o melhor beijo de sua vida.

 

A noite passou mais depressa depois daquilo, havia sido um momento de muitas emoções.


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