Mirror Myself In You escrita por LadyDelta


Capítulo 35
When I Look At You


Notas iniciais do capítulo

Dingou bell, dingou bell, eu não sou o papai Noel♪♪
Fala aí consagrada, tudo bem? É, eu sei, sumi. Normal, né? Vida meio cu, inspiração meio meee. Hoje é natal! Mas pra mim tá tipo "dia do tédio" minha família não comemora o natal, então ou eu passo jogando, ou vendo filme. Hoje será jogando. Daí eu tava pensando. Será que fulano que tá lendo isso aqui também tem um dia meio bosta hoje? Se sim, aqui está sua dose de entretenimento por alguns minutos.
Esse é o ultimo capitulo do ano, e no ano que vem voltarei a postar, porém, junto com a minha outra Fic chamada Because. Se tu não conhece, será uma honra te ter no barquinho. Enfim.

Música do capítulo: Miley Cyrus - When I Look At You

Playlist da história.

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Dito isso

~Boa leitura.



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Liane Merok Maiden Pov.

Dedilhei umas notas sobre as cordas do violão e girei lentamente a tarraxa, apertando a corda e conseguindo chegar no tom que queria.

— Acho que tá bom. – Kate falou do outro lado da linha e voltei a dedilhar as notas, fechando os olhos para focar no som.

— Sim, consegui. Deus! Esse lindo parece que foi comprado hoje, nem parece que tem sete anos de uso. – Elogiei o colocando ao meu lado no sofá e peguei o celular que estava conectado a nossa chamada de vídeo, vendo que ela ainda fazia sua maquiagem.

— Mas é claro que ele é novo, é do meu filho que você tá falando. Totalmente mimado. – Falou um pouco embolado por estar com a boca aberta passando batom, que inclusive tinha um tom marrom escuro. – Conseguiu achar um baixo pela internet? – Perguntou me olhando rapidamente e diminuí sua tela de vídeo para voltar na minha área de pesquisa, vendo o baixo que havia encontrado, o mais perfeito já feito no mundo.

— Vou te mandar o print desse. Sei que não posso comprar, nunca poderei na verdade, mas olha só esse príncipe. Olha como ele é perfeito e maravilhoso. – Enviei a imagem e ela riu divertida.

— Talvez se vender um rim você o consegue, nada é impossível. – Brincou e ri junto.

— Um pedaço do meu fígado também, vender meu cabelo. – Continuei e sua risada cessou.

— Não! Seus cachinhos não. Tudo menos isso.

— MEU RIM E FÍGADO PODE? – Gritei incrédula. – Quais são as suas prioridades?

— Seus cachinhos são lindos.

— Saúde interior não importa, desde que minha aparência seja boa, né?

— Boa é eufemismo da sua parte. Gata pra um caralho, isso sim. – Começou a passar sombra e estreitei os olhos.

— Fala assim, mas pra me beijar não rola. – Fiz bico e ela gargalhou alto.

— Olha, se eu pudesse escolher. Juro que beijar sua boquinha linda estaria no topo da minha lista, mas infelizmente, Deus me fez hétero. Seria uma benção não gostar de homem, uma paz na minha vida. – Suspirou aborrecida e sorri focando minha atenção em como ela se maquiava com maestria.

— Eu sei que eu seria sua primeira escolha.

— Primeira? – Me olhou de canto de olho e voltou a se maquiar. – Você seria minha escolha pra vida, acredite. – Piscou e senti minhas bochechas esquentarem. Assim que me descobri lésbica, soube que toda a admiração que tinha por Kate era metade devido ao crush que tinha nela. Logo que descobri contei pra ela e sua reação foi a coisa mais fofinha do mundo. Acho que nunca fui rejeitada de um jeito tão carinhoso. Na minha vida toda, as únicas coisas boas que consegui foi minha irmãzinha e a Kate. – Por falar em vida. O que vai fazer da sua agora? Na Itália tinha seus bicos aqui e ali, mas... Que rumo vai levar? – Perguntou deixando de lado a brincadeira e suspirei.

— Não sei! A minha intenção nem era ficar, como você já sabe. Mas Galateia me aceitar de volta mudou tudo. Eu nunca mais vou deixá-la sozinha, então voltar pra Itália tá fora de questão. – Me deitei para trás no sofá e lhe observei começar a guardar suas maquiagens. O que sempre me salvou no meu tempo fora, foi poder falar com Kate como estou fazendo agora. Ela sempre esteve aqui para me ouvir chorar a falta que sentia da Galateia e me apoiar quando tudo que eu queria era pular de uma ponte.

— Por que não da aulas de música? – Perguntou e ergui uma sobrancelha. – Você é boa tocando baixo, guitarra, violão e ainda arrasa na bateria por que não as aulas? Pelo menos até achar algo fixo.

— Anjo, pra dá aulas eu preciso ter instrumentos, tenho nem dinheiro pra comer.

— Pobre menina rica. – Fez graça e revirei os olhos. Teoricamente eu sou mesmo rica, mas desde que fui pra Itália que não posso mais gastar dinheiro como se ele não tivesse fim. Meu pai bloqueou todos os meus cartões e, agora que voltei, mesmo que ele tenha dito que estão liberados, nunca usarei um centavo. Se ele não pôde me ajudar no momento que eu mais precisei de amparo, agora sua “ajuda” não tem necessidade.

— O drama da garota de classe média alta que não tem dinheiro. Enfim, sem instrumento, sem condições de da aulas.

— E o meu violão aí do seu lado? – Perguntou e olhei para o instrumento.

— O que tem?

— O instrumento que precisa. – Se jogou na cama e arregalei os olhos.

— O quê? Está louca? Não vou sair por aí usando o seu violão para meu ganho pessoal. – Falei negando com a cabeça algumas vezes e sua atenção focou nas unhas grandes pintadas em preto.

— Sei que o Fumaça está seguro em suas mãos, fora que, ele fica aqui no meu quarto, sendo tocado uma vez ou outra. Náilon não serve muito pra mim. Com você ele pelo menos vive um pouco. Pode usar sem medo! Fico muito mais feliz te vendo por aí com ele do que o deixar mais alguns anos no meu quarto. Sabe que só mexo mais pra manutenção. Na banda uso o Freud que é de aço.

— Kate...

— Aceita logo. Assim pelo menos pode ganhar uma grana. É a única pessoa no mundo que eu confio o Fumaça, sabe disso. – Sorriu e apertei suavemente o instrumento nas minhas mãos. Eu realmente poderia tirar uma grana boa. Sei que se a Galateia souber da minha situação, a primeira reação dela vai ser me da dinheiro sem se preocupar com valor, mas não quero preocupar sua cabeça com os meus problemas. – Vai aceitar?

— Vai me deixar em paz?

— Nunca. – Brincou e suspirei voltando a olhar pro instrumento.

— Posso fazer um teste. – Concordei com a ideia e ela abriu um sorriso.

— Isso já é o suficiente pra mim. – Neguei com a cabeça e ela fez uma careta pra tela do celular. – Saco, preciso ir. Se você tivesse aceitado meu convite, eu não estaria achando ruim sair agora. – Fingiu estar brava e foquei minha atenção na hora, notando que ela não só precisava ir, como estava dois minutos atrasada.

— Hoje eu tenho que me encontrar com a Galateia. – Lembrei tendo a visão de sua mão se esticando no guarda-roupa para pegar uma jaqueta.

— E você tá tão alegrinha por isso! Espero que se divirtam muito. Não esquece de levar o Fumaça quando for ver ela. – A imagem da chamada se moveu para todos os lados por ela colocar a jaqueta sem soltar o celular. – Agora eu preciso mesmo ir, gatinha.

— Tudo bem. Boa noite e boa festa pra você.

— Chata e insuportável, vou ficar no canto tomando suco. – Reclamou e ri pela chamada ser finalizada. Olhei para o celular em minhas mãos e o coloquei de lado para pegar o violão no colo e começar a dedilhar umas notas. Preciso pensar em uma música good vibe para tocar pra Galateia, pelo menos conseguir fazê-la arriscar umas notas comigo. Confesso que quando eu era criança e fiquei sabendo que ela existia, foi uma das noticias mais felizes da minha vida. Implorei várias vezes pra minha mãe me levar pra conhecer ela, e quando ela finalmente deixou, me apaixonei completamente por tudo que compunha a vida da Galateia. Me apaixonei pela fazenda onde morava, pelos animais que seu pai cuidava, por ele, por ela, e pela música.

Nunca na minha vida eu tinha sentido tanta felicidade. Estar com a Galateia e a “vida” dela, fez com que eu me sentisse viva também. Em todos os meus anos não havia me sentido tão feliz como senti nos poucos dias por ano que passava com ela e seu pai. Ter uma irmã se tornou a coisa mais especial da minha vida, lhe visitar todo meio de ano era o que eu mais ansiava desde o momento que precisava ir embora. Mesmo que meu pai insistisse em dizer que aquilo era perda de tempo, porque Galateia não era minha irmã de verdade, e sim meio irmã, o que eu também não entendia na época, como poderíamos ser meio irmãs sendo que éramos tão parecidas e filhas da nossa mãe? Devido a isso, todos os meus pedidos de passar um ano inteiro com ela foram recusados, e precisei crescer longe dela. Só ficamos juntas no futuro porque o seu pai morreu e ela veio morar na minha casa.

Eu estava tão triste por seu pai ter morrido, mas ao mesmo tempo uma grande felicidade me dominava por saber que ela ficaria perto de mim e não iria mais embora. Ter minha irmã perto me fez tão feliz, mas eu tinha que estragar tudo, duas vezes. Se eu não tivesse machucado aquela menina por bater nela, meu pai não teria seu motivo para afastá-la de mim, e depois... Se eu não tivesse me envolvido com bebida, não teria precisado me afastar dela e isso ter feito as coisas ficarem tão complicadas. Tudo que eu queria era poder ficar perto dela e por causa das minhas escolhas, me forcei a me afastar. De tudo que já fiz de escolhas cagadas, escolher ir para longe dela foi a pior! Não só morri de saudades, como a fiz se sentir abandonada e antes disso lhe fiz ficar preocupada comigo. Nunca, por todo o resto da minha vida, irei esquecer do dia que ela teve uma crise de pânico por minha causa. Ver ela daquela forma, de qualquer coisa possível no mundo, partiu meu coração em vários pedaços.

Tem momentos na vida que você para e pensa em tudo que está errado, e naquele dia eu soube que o errado na minha vida, era eu. Queria fazer as coisas serem menos pior pra mim, mas estava tornando as coisas ruins para Galateia e eu não podia continuar prejudicando o minha vida daquela forma, porque minha irmã era meu mundo todinho. Naquele dia me senti a pessoa mais egoísta possível. Tudo estava ruim pra mim, óbvio que estava, mas e pra ela? Ela só tinha a mim e eu estava me afastando de uma forma horrível, estava criando novos traumas nela, como se ela já não tivesse o suficiente. E por mais bizarro que possa parecer, só tomei consciência de que ficar na Itália não estava sendo uma boa decisão, quando voltei pra ver ela. A forma como ela me recebeu me acertou tão forte como um tapa da realidade. De onde tirei que ir embora seria o melhor pra ela? Tem uma frase que diz que “uma rosa não pode se curar no mesmo lugar que adoeceu”, mas se isso fosse no literal da palavra, Galateia havia me tirado do chão e colocado em um vaso para cuidar de mim, mas meu pai e minha mãe eram as formigas que insistiam em tirar minhas folhas, não importava em que lugar ela me colocava. No fim usei meus espinhos para evitar qualquer aproximação, até mesmo a dela, que era a pessoa que mais queria me ajudar.

E agora ela me diz tudo aquilo por ligação, tirando todo um peso que eu certamente deveria carregar. Galateia é uma pessoa muito boa e até um pouco ingênua demais. Eu queria muito que ela nunca passasse por nada ruim, porque sei o quanto ela sente as coisas, da sua maneira, mas ela sente o impacto até mais do que outra pessoa. Não quero nunca na minha vida a machucar de alguma forma, porque não saberia lidar com aquele olhar que ela me deu quando voltei. Tinha tanta decepção nele, uma mistura de sentimentos que não quero causar outra vez.

— Liane! – Arregalei os olhos errando a nota pelo toque no ombro e olhei para o lado, vendo minha mãe parada ali, os olhos estreitos em desconfiança. - Estou te chamando há quase cinco minutos. – Reclamou.

— Desculpa. – Raspei a garganta e coloquei o violão de lado. - Eu estava meio perdida em pensamentos

— Isso eu percebi. Esse violão... – Começou e lhe olhei. – Onde conseguiu?

— Minha amiga me emprestou.

— Certo... Você possui algum compromisso para hoje? Seu pai e eu estamos nos preparando para comparecer em um jantar. Caso queira, pode vir conosco. – Convidou e neguei várias vezes com a cabeça.

— Hoje eu vou ir visitar a Galateia. – Me ergui e peguei o celular sobre o sofá. – Inclusive, irei ligar pra ela agora. – Procurei o número da minha irmã e o coloquei para chamar levando o aparelho ao ouvido. Até parece que vou deixar de passar a noite com a minha irmã para ficar em um jantar ridículo com esses dois.

— Não quer convida-la? – Falou baixo e revirei os olhos voltando a ligar pra Galateia por cair na caixa postal.

— Para início de conversa, Galateia detesta o meu pai, eu o odeio e você não o suporta. Então nos poupe. –Resmunguei e a mesma suspirou no mesmo instante que Galateia atendeu minha ligação. – Heey! Você já saiu da escola? – Perguntei animada e desfiz o sorriso por lhe ouvir fungar do outro lado da linha.

Não, eu... Ainda estou aqui. — Falou com a voz vacilante e apertei o celular entre meus dedos por perceber que ela estava chorando e isso inconscientemente aumentar meu ritmo cardíaco.

— O que aconteceu?

Nada, eu só... Lily, você pode vir me buscar? Não quero ir pra casa da tia. – Fungou e engoli em seco.

— Onde você está? Me fala que chego aí o mais rápido possível. – Falei rápido, me esquivando da mão de minha mãe, que tocou meu ombro, indo direto para chave da minha moto.

Estou na frente da escola. Você pode ficar aqui comigo? Por favor.— Pediu e meus olhos se encheram de lágrimas por seu, por favor, soar tão triste.

— Já estou indo! Não sai daí. Vou desligar porque vou pilotar agora, mas não sai daí.

Ok.— Encerrei a ligação enfiando o celular no bolso do short para correr em direção a garagem atrás da minha moto, procurando o capacete reserva dela pelo local.

— Liane! O que está acontecendo? – Mãe perguntou do batente da porta da garagem e fechei a porta do armário na batida por não achar o capacete.

— Eu preciso do meu capacete reserva e não estou achando! – Falei alto me esquivando dos carros estacionados para ir até o outro armário.

— Mas para que precisa do seu capacete? Aconteceu alguma coisa com a sua irmã?

— Com coisa que você se importa! Se ligasse o mínimo, chamaria ela de filha. – Bradei batendo a porta de novo por não achar o capacete e passei por cima do capô do carro por vê-lo sobre o banco da garagem, voltando em uma corrida para coloca-lo na moto e subir nela.

— Liane, está chovendo! Você não vai sair nessa chuva. – Veio na minha direção e prendi a trava do meu capacete embaixo do queixo, virando a chave na ignição para ligar a moto.

— E você vai fazer o quê? Me matar? Porque é o único jeito de me impedir de sair daqui. – Abaixei a lente do capacete e guiei a moto até a porta da garagem que começou a abrir.

— Eu ligo para o motorista! Não saia nessa chuva, vai ficar doente. – Segurou meu braço.

— Eu não vou esperar seu motorista chegar. Ela precisa de mim agora. - Puxei o braço para o lado acelerando a moto para sair logo dali, vendo o segurança correr para abrir o portão de acesso a casa, pegando a estrada em direção a cidade. Ela está chorando e me pediu pra ir buscar ela. Tenho certeza que foi alguma coisa que aquela menina fez. Ela estava toda alegrinha quando me ligou ontem, feliz que hoje elas iriam conversar e agora está chorando. Apertei a mão no guidão tentando controlar minha respiração acelerada e manter minha preocupação sobre controle. Não adianta nada eu sair para ajudar ela e acabar sofrendo um acidente pelo caminho. – Vai pra faixa da direita, otário! – Bradei buzinando para o motorista na minha frente que insistia se manter na pista da esquerda me impedindo de ultrapassar. Trinquei os dentes acelerando um pouco mais quando ele finalmente se ligou e me deu passagem. – CORNO! – Gritei mesmo sabendo que ele não iria me ouvir com as janelas fechadas e mantive minha mão esquerda apertando o guidão para ignorar o frio da chuva na minha pele, já que estava somente de regata e um short de algodão quando saí.

XxX

Parei no sinal vermelho e olhei para os dois lados vendo que daria tempo de passar no intervalo dos carros, não me importando de ultrapassar o sinal para continuar meu caminho, virando a esquina e acelerando um pouco mais ao avistar a escola da Galateia no fim da rua. Entrei no espaço do jardim e estacionei a moto de qualquer forma para tirar o capacete e olhar pros lados procurando por ela. Deixei o capacete sobre o guidão e corri até uma cobertura para tirar meu celular do bolso, sacudindo a mão várias vezes para tirar o excesso de água para usar minha digital no touche, soprando o dedo várias vezes na tentativa de secá-lo, já que não tinha nenhuma parte seca da minha roupa que eu poderia usar. Quando finalmente consegui, fui rápida em iniciar uma chamada pra ela, percebendo o som estranho que ele estava fazendo por ter molhado.

— Hey! Eu cheguei, estou aqui na entrada da sua escola. – Falei ouvindo apenas ruídos do outro lado, virando a cabeça ao ouvir ela me chamar um pouco distante, vendo que estava na entrada do ginásio. Tirei o celular do ouvido e corri na sua direção, parando na sua frente, vendo seu olhar surpreso sobre mim.

— Lily... Você veio na chuva! – Falou assustada e guiou a mão para passá-la em minha testa, os olhos marejando. – Não era pra ter vindo na chuva, achei que fosse vir de carro. – Sua voz vacilou e tirei sua mão da minha testa, focando no seu rosto choroso. Eu quero abraçar ela para parar de chorar, mas estou toda molhada e ela não.

— Eu nunca mais vou deixar você sozinha de novo. – Garanti e arregalei os olhos por ela passar os braços ao meu redor e me abraçar, escondendo a cabeça em meu peito. Ergui as mãos no alto e abracei seu corpo de volta por lhe ouvir chorar, lhe apertando forte contra meu peito, fechando os olhos.

— Obrigada. – Sussurrou e abri os olhos sentindo minhas próprias lágrimas por vê-la tão triste.

— Você não precisa me agradecer. – Sussurrei. – Vou ficar sempre aqui, meu anjo. Eu prometo. – Garanti deixando minha cabeça deitar sobre a dela quando ela voltou a chorar. - O que aconteceu? – Perguntei e seus braços se apertaram mais ao meu redor sem que falasse nada, o que partiu meu coração. A última vez que vi minha irmã chorar assim, foi no dia que fui embora.

— A Vick... – Começou e esperei o baque do momento. Galateia sempre gostou dessa tal de Vick, desde criança. Ela ter descoberto que essa garota não tem memória a livrou de levar vários socos meus.

— O que foi que ela fez? – Perguntei tentando pensar em todas as possibilidades possíveis para Galateia chegar ao ponto de chorar. Desde criança ela sempre evitou chorar pelas coisas, por mais que comigo se sentisse confortável para fazê-lo.

— Lily... Ela não gosta de mim. Ela gosta da nossa mãe. – Contou e franzi o cenho em total confusão. O quê?

— Mas que diabos? Como assim ela gosta da nossa mãe? – Perguntei sem conseguir ligar uma coisa a outra. O que isso deveria significar?

— Ela não quis ser minha amiga porque me achava interessante, só quis fazer isso porque leu a dedicatória daquele livro da nossa mãe que ela escreveu pra você. – Contou voltando a chorar e arregalei ainda mais os olhos ao entender ao que ela se referia. – Achou que a dedicatória era pra mim e se aproximou porque queria conhecer a famosa Scarlet. Eu não era interessante pra ela, nunca chamaria sua atenção. Foi tudo por causa daquele livro, da dedicatória pra você. – Se encolheu mais e  apertei os dentes uns nos outros. Esse livro, esse maldito livro! Não acredito que mesmo depois do que aconteceu, ele ainda é responsável por fazer minha irmã chorar de novo.

— Tá tudo bem, meu anjo. – Beijei sua cabeça em delicadeza e me afastei para olhar em seus olhos, engolindo em seco por ver como eles estavam cheios de água. – Não chora desse jeito. – Pedi não conseguindo evitar dos meus olhos marejarem também.

— Mas, Lily... Primeiro foi pela minha mãe e depois pela dedicatória! Se fosse por mim, ela nunca teria falado comigo. – Tornou a chorar e limpei suas lágrimas com calma. – Nunca fui o interesse inicial, por mais que ela tenha dito que não liga mais para minha mãe agora. – Se encolheu e apertei as sobrancelhas levemente.

— Ela foi embora e te deixou aqui? – Perguntei olhando para os lados. Apertando as mãos em punhos. Ela só pode estar querendo morrer.

— Não, eu ia levar ela pra casa, mas ela disse que não precisava, que era pra eu tirar um tempo pra pensar e conversar com ela quando me sentisse bem, mas... Eu não consigo me sentir bem. – Se encolheu mais e fechei brevemente os olhos. – Eu não sei o que fazer, Liane. Eu estava tão feliz hoje, e agora estou me sentindo uma ninguém. Por que tudo que envolve nossa mãe machuca tanto? – Perguntou e senti uma lágrima descer por minha bochecha por ela voltar a chorar.

— Vem, vou te levar em um lugar. – Peguei sua mão e ela olhou para cima, talvez pensando sobre sua própria regra sobre a chuva. Seus olhos ficaram tristes e ela se afastou para colocar a mochila nas costas e vir até mim, pegando minha mão para sairmos dali. – Não se preocupe com a chuva, sei que temos a nossa regra, mas hoje é uma exceção. – Lhe guiei até minha moto e coloquei o capacete em sua cabeça, prendendo a trava embaixo do seu queixo, franzindo o cenho por ela tirar a mochila das costas para retirar o paletó que vestia, o estendendo pra mim. – O que está fazendo? – Perguntei um pouco alto para que pudesse ouvir.

— Você está de regata, eu ainda tenho a social, vista. – Pediu e neguei com a cabeça vestindo a peça e me atentando em colocar meu próprio capacete antes de subir na moto e da partida, esperando que ela subisse e passasse os braços ao meu redor.

XxX

Estacionei a moto frente ao parque infantil, agradecendo que não chovia mais e passei os braços pelo ombro de Galateia a guiando até o balanço, onde ela se sentou em um e eu me sentei em outro. Agarrei as correntes e olhei para cima sabendo que já era bem tarde e ainda estávamos andando pela cidade, parando em lugares aleatórios.

— Aqui é calmo. – Galateia falou baixo e lhe olhei sorrindo. Eu não fazia ideia de onde estávamos, mas ela tinha razão, era bem calmo. Uma vizinhança de uma só rua e várias árvores. – Me faz lembrar de casa. – Olhou para cima e soube que o “casa” que ela se referia era onde morava quando criança.

— Tenho saudade da casa do lago. – Confessei e sua cabeça se abaixou.

— Eu também. Tenho saudade do meu pai. – Sussurrou e fechei os olhos brevemente por ter feito ela se lembrar dele.

— Desculpa. – Pedi aborrecida.

— Não precisa pedir desculpas. Eu gosto de me lembrar dele, significa que não me esqueci e esse lugar... Me lembra de casa, dele e de sentir felicidade. – Sorriu em minha direção e lhe retribuí da mesma forma. – Deve ser tarde. – Comentou virando a bolsa de lado para pegar seu celular. – Meu Deus! Já está quase na hora de amanhecer. – Falou assustada olhando pra tela do aparelho e sorri voltando a olhar pro céu.

— Então vamos esperar o nascer do sol. – Foquei a atenção no fim da rua e sua cabeça deitou no meu ombro para olhar na mesma direção e rir. – O que foi? – Perguntei divertida por lhe ouvir rir.

— O sol vai nascer do leste e mesmo assim, está muito nublado para conseguirmos ver. – Deu outra risadinha e abri a boca em surpresa.

— Onde fica o leste? – Perguntei realmente interessada e ela virou minha cabeça para o outro lado. Eu nunca fui boa em geografia, o suficiente para não conhecer as direções de uma bússola.

— Bem aqui. – Sorriu e deitei a cabeça perto da sua.

— Não vamos ver nem um pouquinho dele?

— Só a claridade porque é o sol, mas não. – Explicou com um tom divertido e suspirei aborrecida. Seria bom poder assistir o nascer do sol.

— Sinto muito. Queria te deixar feliz. – Resmunguei e sua mão segurou a minha.

— Você passou a noite toda comigo, me levou em vários lugares diferentes e estamos aqui, onde eu me sinto bem. Eu estou feliz porque você está comigo. – Falou e senti meus olhos marejarem.

— Ok... – Ficamos em silêncio por alguns segundos e o as nuvens começaram a clarear aos poucos.

 - Olha o sol ali. – Apontou para o brilho mais forte atrás das nuvens e neguei com a cabeça

— Mentira. Ele não pode estar lá, porque tá bem aqui comigo. – Passei os braços por seu ombro e beijei o topo da sua cabeça, ouvindo sua risada baixinha.

— Você é uma ótima irmã, Liane. – Falou e lhe olhei confusa por alguns segundos. – Você é uma boa irmã. Eu fico muito feliz que esteja aqui comigo, por ter vindo me buscar e por tentar me fazer rir. Você sempre foi assim e eu não sabia que sentia tanto a sua falta até agora. – Sorriu e pressionei os lábios uns nos outros para evitar de chorar. – Obrigada por se preocupar comigo.

— Idiota, não fica agradecendo por isso. – Limpei as lágrimas e ela sorriu voltando a olhar em direção ao sol.

— Eu preciso visitar a Sam no hospital, mas acho que primeiro, preciso dormir. – Comentou e lhe olhei curiosa.

— O que houve com ela?

— Está passando por uma recaída ou algo assim. Sara não soube explicar muito bem, porque não entendeu muito bem. – Contou e assenti algumas vezes.

— Então vamos para casa da nossa mãe, ela certamente não vai estar lá e a gente pode dormir. Depois eu te levo pra visitar a Sam. – Propus me erguendo e estendendo a mão para ela, puxando seu corpo para cima. – Quando chegarmos você vai tomar um banho quente. – Falei lhe abraçando de lado enquanto íamos até a moto.

— Você vai me levar pra ver a Sam? Mas a Sara vai estar lá. Achei que não quisesse que ela soubesse que você voltou. – Comentou colocando o capacete e lhe ajudei a travar ele.

— Não me importo mais com isso. Vou te levar lá quando estiver bem para ir. – Garanti subindo na moto e ela fez o mesmo.

XxX

Estacionei a moto na garagem de casa e assim que descemos para tirar os capacetes vi nossa mãe na porta da mesma de braços cruzados e cara fechada. Minha primeira reação foi arregalar os olhos, não por ser a minha “mãe” ali, mas por ela estar ali.

— Vocês por uma fração de minutos pensaram em ligar para avisar onde se encontravam? – Falou com a voz firme e tia Cass saiu de trás dela de braços cruzados também.

— Até o E.T ligou pra casa, Galateia. E ele nem tinha telefone. – Tia falou irritada e Galateia foi até ela lhe abraçando com carinho.

— Desculpa, tia. Foi muito irresponsável da minha parte. Mas estamos bem. – Beijou seu rosto e olhei para minha mãe, que observava a interação delas com uma expressão de paisagem.

— Bem? Essa sua roupa tá úmida, Galateia! Seu cabelo também. Vai agora mesmo tomar um banho antes que fique doente! Você também. – Apontou brava pra mim e ergui ambas as mãos no alto dando uma corridinha para acompanhar Galateia. – E quando saírem, se não comerem tudo que eu preparar, uma de vocês vai morrer. – Ameaçou e prendi o riso assim como Galateia, indo para um dos banheiros enquanto ela ia pro outro. Tomei um banho demorado para aproveitar a água quente e quando saí secando o cabelo, Galateia me esperava do lado de fora enquanto olhava para o celular.

— Está tudo bem? – Perguntei preocupada e ela colocou o aparelho no bolso.

— Sim, ela me mandou algumas mensagens agora a pouco... Várias, na verdade. – Se encolheu e passei o braço por seu ombro.

— Leu alguma?

— Ainda não. – Fungou e lhe olhei preocupada se começaria a chorar, mas ver seu rosto um pouco vermelho, assim como o nariz me fez perceber que ela tinha pegado um resfriado.

— Certo, então vamos comer e depois você vai dormir. – Lhe puxei em direção a cozinha e tanto tia Cass como minha mãe estavam sentadas lá.

— Finalmente! Tratem de sentar e comer tudo. – Tia apontou para os pratos com café da manhã reforçado e Galateia foi a primeira a puxar a cadeira pra se sentar.

— Depois dirão onde passaram todas as horas da noite. – Mãe falou séria e tia Cass lhe olhou negando com a cabeça.

— Scarlet, fica quieta. – Mandou e ocupei minha boca com panqueca para não rir da cara de tacho que minha mãe fez.

— Mas elas seguiram a noite inteira sem informar localização. – Fez bico.

— E você conversa de uma maneira estranha! Sem informar localização... São GPS agora? Não deram notícias, pronto. Não precisa complicar o simples.

— Não a nada errôneo com minha maneira de dialogar.

— Falar! Meu Deus, você é muito chata. – Reclamou e dei uma risada baixa junto de Galateia. – Do que as princesas tão rindo? – Tia reclamou e engoli a risada junto com a panqueca, bebendo um pouco de suco e focando minha atenção na mesa. – Galateia, quando acabar você vai tomar um remédio, estou percebendo que está febril daqui. – Falou e soltei o garfo para esticar a mão e tocar a testa dela, arrastando a cadeira um pouco mais para seu lado, só para lhe abraçar um pouco.

Durante a noite que se seguiu ela me contou como estava se sentindo, e como a atitude da Victória fez ela se sentir um pedacinho de nada. Eu sei que as coisas talvez não ficassem tão ruins se nossa vida fosse algo normal. Talvez ter tido um interesse inicial na nossa mãe não fosse tão ruim como está sendo, seria escroto de toda forma, mas não seria tão ruim. Galateia e eu temos um complexo de inferioridade com nossa mãe. Minha relação com ela nunca foi boa, mas a Galateia... Comparada comigo, a situação dela com nossa mãe é mil vezes pior. É tanta coisa envolvida, que essa garota falar que se aproximou por causa dela, tem um peso enorme na minha irmã. Se uma pessoa fizesse isso comigo, eu até poderia levar numa boa e resolver a situação depois de xingar ela, mas com a Galateia as coisas não são tão simples. Não tem um jeito fácil de abordar esse assunto com ela e não tem uma forma simples de explicar que ela é importante, não quando nossa mãe está envolvida.

Essa garota fez algo extremamente idiota, isso é óbvio, mas fazer isso com a minha irmã é quase um crime! Justo ela, que nunca se sentiu bem-vinda aqui em casa, nunca conversou direito com minha mãe e ainda teve suas ideias roubadas por ela, além de ter sido mandada para morar com a tia. Eu não queria estar na pele dessa garota, de verdade eu não queria ser ela nesse momento, porque vai ter que lidar com duas situações nada agradáveis, a indiferença da minha irmã e meu punho no meio da sua cara.

XxX

Me sentei no colchão olhando para Galateia que dormia tranquilamente e me virei saindo da cama em passos lentos, fechando a porta com todo o cuidado do mundo para não a acordar. Galateia não chegou a chorar mais, mas acho que isso foi porque tia Cass estava constantemente nos seguindo, ameaçando nos matar caso não comêssemos ou fossemos dormir e, ironicamente minha mãe a acompanhava a cada passo, balançando a cabeça como se estivesse fazendo a mesma coisa. Por um lado, confesso que foi muito engraçado vê-la seguindo minha tia enquanto mantinha uma expressão séria.

Olhei do parapeito da escada vendo que tia Cass estava sentada na sala lendo uma revista e desci os degraus lentamente para não fazer barulho, pegando minhas chaves na velocidade de uma tartaruga para não chamar a atenção dela.

— Eu sei que você está aí, Liane. – Falou alto e dei um pulo no lugar, olhando na sua direção e vendo que ainda lia a revista.

— Como? Você nem está olhando pra mim.

— Sou mãe do Vicent, tenho um sexto sentido. – Fechou a revista e me olhou. - Onde você pensa que vai? – Perguntou e me encolhi com as chaves na mão. – Trate de voltar pra cama e ir dormir como a sua irmã está fazendo. – Mandou.

— Não posso. – Murmurei me aproximando do sofá. – Eu preciso fazer uma coisa. É muito importante. – Expliquei e ela franziu as sobrancelhas estreitando os olhos.

— Importante quanto?

— Galateia não tá nada bem. – Sussurrei olhando pro chão.

— Eu sei! Ela está com febre e você milagrosamente não.

— Não! Eu não digo assim... – Murmurei e ela cruzou os braços me observando em silêncio.

— Você tem duas horas! Se passar desse tempo, quando voltar para casa, estará de castigo. – Ameaçou e franzi as sobrancelhas.

— Você não pode me castigar. – Reclamei.

— Quer apostar? Me desafie e verá que não só posso, como vou fazer várias coisas. – Falou brava e acabei rindo.

— Sim senhora, três horas. – Me virei e fechei os olhos logo em seguida por saber que ela gritaria comigo.

— EU DISSE DUAS HORAS. – Gritou e acabei rindo. – Se não estiver de volta em duas horas, vai se arrepender de ter nascido, Liane. – Ameaçou e neguei com a cabeça, voltando uns passos para deixar um beijo em seu rosto.

— Obrigada por vir, tia. Galateia vai ficar muito feliz.

— Humm, não precisa mais tentar me dobrar não, some logo daqui. – Sacudiu a mão me tocando e sorri. – Volta antes da sua irmã acordar ou vou te dá uns tapas.

— Sim senhora. - Me afastei dela e fui para garagem com a intenção de pegar minha moto, mas desisti na metade do caminho ao perceber que não sei como chegar ao destino desejado, então mudei de caminho ao ver o carro do motorista da Galateia estacionado ali, indo na direção da sala dos seguranças, encontrando o motorista dela jogando baralho sentado junto deles.

— Senhorita Liane. – Pararam de jogar e se levantaram em fila, me fazendo rir do comportamento exagerado.

— Hey, desculpa atrapalhar vocês, mas... Senhor Robert. – Chamei e ele me olhou atento. - Poderia me levar em um lugar?

— Com toda certeza. Onde a senhorita deseja ir? – Perguntou colocando o terno e saindo da sala em minha direção.

— Preciso que me leve na casa da Victória. – Pedi e ele assentiu.

— Irei buscar o carro, por favor, aguarde aqui. – Se retirou e esperei pacientemente até o carro parar do meu lado. Entrei no mesmo e coloquei o cinto esperando-o começar o trajeto. Se fosse antes, meu comportamento inicial sem dúvida seria de acertar uns socos nessa garota, mas sinto que preciso conversar com ela antes de lhe espancar e irei fazer isso, nem que tenha que amarrar ela em uma cadeira.


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Notas finais do capítulo

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