Alquimia escrita por Lana


Capítulo 1
Capítulo único.


Notas iniciais do capítulo

Ho ho ho feliz natal, gente! Boa leitura!



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Os pequenos flocos caíam lentamente do céu azul, cobrindo todas as coisas em seu caminho com o tom branco tão conhecido, deixando o tempo mais frio e as pessoas mais apressadas. Emmett ergueu os olhos para a imensidão clara acima de si, percebendo os flocos gelados caírem lentamente – sobre as árvores, sobre os carros, sobre seu rosto, sobre o chão – e praguejou enquanto apressava o passo, ouvindo a melodia de “Let It Snow” soar de dentro de uma loja muito enfeitada.

Não era verdade dizer que odiava o natal, apesar de olhar com desgosto para as decorações vermelhas e verdes que pareciam estar estampadas em cada uma das casas pelas quais passava. Entretanto, também não era verdade dizer que ele particularmente gostava daquela data.

Antigamente, em uma época mais feliz, ele já considerara aquele feriado como o seu favorito – superando até mesmo o dia de ação de graças, com toda a comida que podia aguentar e com a parada na avenida gigantesca. O natal era seu feriado favorito: adorava o jantar com a família, adorava ver as pessoas se deliciando com seus presentes, adorava as crianças esperando ansiosamente pela manhã de natal para encontrarem presentes deixados pelo Papai Noel sob a árvore bastante decorada, adorava até mesmo as incansáveis músicas natalinas.

Era o tipo de pessoa que comprava uma árvore enorme e gastava uma quantidade de tempo considerável focado em decorá-la. Gostava de cozinhar pratos natalinos e se dedicar na compra de presentes para aqueles que amava. Passava pela rua sorridente, desejando feliz natal a qualquer pessoa que olhasse em sua direção. Era sua data preferida do ano – mais que o aniversário, mais que qualquer outro feriado.

Até o dia da tempestade.

O dia da tempestade mudou muitas coisas para Emmett, entre elas sua data favorita. Mudou seu prato favorito, mudou seu jeito de receber surpresas, mudou seu sorriso fácil e sua confiança quase automática nas pessoas. Mudou seu apartamento, seu jeito de encarar a vida e quase o fez mudar de cidade. Entretanto, batalhara muito para conquistar as coisas que tinha ali e não deixaria que a tempestade acabasse com tudo que havia nele – bastasse que tivesse levado tudo o que tinha conseguido, mas seu restaurante permaneceria firme e forte, assim como ele.

Foi com esse pensamento que entrou no espaço que abrigava seu empreendimento. Era sempre o primeiro a chegar ali, arrumando as coisas que considerava de maior importância até que seus funcionários chegassem. Sua equipe não era grande e nem tanto seu restaurante o era. Abrira-o há cerca de cinco anos e lentamente vinha conquistando seu espaço na cidade, crescendo cada vez mais, conquistando seus clientes e fazendo seu nome. Era um bom restaurante, Emmett era um chef dedicado e criativo e sua equipe era excelente, não podia negar.

Essa mesma equipe não ficou especialmente feliz ao ouvi-lo dizer que abririam no dia de natal. Essa não era uma data corriqueira para se abrir um estabelecimento, mas Emmett estava muito seguro de sua escolha e defendia piamente que haveria pessoas dispostas a jantarem fora nessa data. A maioria de seus funcionários já havia feito planos de passar a noite em outros lugares – com suas famílias, com seus parceiros, com amigos –, ninguém passaria o natal sozinho, afinal de contas. Assim, para diminuir a desanimação geral, um casal de amigos antigo de Emmett, que trabalhava com ele desde o início, se prontificou a cobrir todos os colegas durante a data.

Era discutível se haveria de fato clientes ali naquela data – veja lá muitos – então uma equipe reduzida era provavelmente suficiente para dar conta de toda a demanda que chegasse. Dessa forma, ficou acertado que Kate e Garrett acompanhariam Emmett na noite do dia 25 de dezembro, cobrindo todas as necessidades do proeminente restaurante.

A verdade é que Emmett não achava que haveria tantos clientes assim, mas de forma nenhuma ele queria ir para casa. Embora fosse algo que antigamente amasse, atualmente ir para casa era sinônimo de caos, mágoa e estresse. Parecia que ninguém se contentava com um “estou bem”, então todos faziam questão de insistir em perguntas que ele não tinha a mínima vontade de responder, especialmente naquela companhia.

Não é que ele de fato estivesse bem – bom, também não estava mal. Ele lidara com surpreendente calma e distanciamento sobre toda a situação, surpreendendo até a si mesmo. Como se tivesse dado alguns passos para trás e se afastado de tudo aquilo, para que não precisasse sentir de forma tão dura a dor e a tristeza. Fechara os olhos para aqueles sentimentos e focara-se em algo que realmente amava e lhe fazia bem: a culinária.

No dia 25 de dezembro lá estava ele, observando o restaurante vazio enquanto o relógio corria lentamente seus ponteiros. Nem mesmo a sombra de uma pessoa passara por ali e ele podia ver a neve ainda caindo sem parar do lado de fora. Observou seus funcionários, sentados juntos e cantarolando as músicas natalinas cantadas em jazz que soavam pelo ambiente.

— Olha, por que vocês não vão para casa? – ele sugeriu. – Está mais que claro que ninguém vai aparecer aqui hoje, não tem razão para vocês passarem o resto dessa noite aqui.

— Tem certeza, chefe? – Kate franziu as sobrancelhas, insegura. – Quer dizer, e se aparecer alguém?

— Eu dou conta sozinho. – ele garantiu. – Não vai ser a primeira vez.

— Mas e se for uma turma grande? – Garrett perguntou. Emmett sorriu.

— Vão para casa. – repetiu. – Saiam daqui logo antes que eu os empurre para fora.

— Você tem mesmo certeza? – Kate perguntou mais uma vez. Emmett revirou os olhos.

— Vá embora antes que eu a demita. – o grandão resmungou colocando um pano de prato sobre a bancada vazia. Kate sorriu e balançou a cabeça.

— Não quer vir conosco? – ela sugeriu. – Assim não precisa ficar aqui sozinho.

— Não, obrigado. – ele sorriu.

— Por que não vai para a casa dos seus pais? – sugeriu Garrett. – Você mesmo disse, não vai aparecer ninguém aqui.

— Talvez eu vá. – ele mentiu assentindo. O amigo mais magro sorriu, contente.

— Isso aí. – incentivou. – Kate, vamos para a casa dos seus pais ou para nossa? – ele perguntou se dirigindo para os fundos para tirar a roupa do restaurante. Ela o seguiu enquanto respondia.

— Direto para a casa dos meus pais.

Emmett suspirou, encostando-se à bancada enquanto observava o casal de amigos fechar a porta atrás de si. Não era a intenção dele afastar deliberadamente as pessoas de suas famílias no natal, mas queria manter o restaurante aberto porque aquilo lhe dava uma desculpa boa o suficiente para não ter que encontrar a família no natal. Se pretendia abrir o restaurante, era importante que tivesse uma equipe, minúscula que fosse, o ajudando. Porém, no fim das contas, parecia que o natal era realmente familiar e nem mesmo uma alma havia aparecido para jantar ali. Não era uma surpresa total, mas ele intimamente esperava alguma distração.

Poucos minutos depois o casal de amigos saiu, reforçando o convite para que o chefe se reunisse a eles se quisesse e perguntando se realmente não queria que eles ficassem. Emmett simpaticamente os enxotou e ficou perambulando pelo salão. Colocou um antigo disco de jazz, um de seus preferidos, e deixou que a música tomasse conta do local. As ruas estavam vazias e a neve caía mais forte do que quando chegara ali mais cedo. Certamente ninguém apareceria, mas ele ainda não queria ir para casa. Aquele era seu lugar preferido no mundo todo, sua cozinha, seu lar, e dirigiu-se até lá. Se não tinha ninguém para quem cozinhar, podia pelo menos se mimar e fazer algo apetitoso para si mesmo. Preparou algumas coisas para uma sobremesa antes de ouvir barulho vindo da porta da frente.

Rapidamente se certificou de que estava tudo certo na cozinha e foi até lá para descobrir o que havia. Com surpresa percebeu que era uma mulher, fechando a porta atrás de si e passando a mão pelo cabelo, como se para derrubar os pequenos flocos de neve que se pregavam ali. Ele a observou se recompor e se virar, surpreendendo-se com a imagem dele ali.

— Ah, oi! Boa noite. – ela disse, um sorriso se instalando em seu rosto. – Mesa para um, por favor. – pediu olhando ao redor.

A mulher havia se arrumado com esmero. Um vestido verde escuro abraçava seu corpo, revelando quadris largos e cintura fina, tudo muito bem segurado por longas e torneadas pernas que terminavam em sapatos de salto pretos. O cabelo era de um louro incrível, parecendo haver mechas de diversos tons, todos se misturando para dar uma perspectiva ainda mais bonita. Os olhos eram de um tom que Emmett jamais vira antes: violeta. Ele sempre achara que olhos violetas eram apenas uma expressão e de forma alguma real, mas lá estavam eles no rosto perfeitamente bem construído da mulher. A boca era bem definida e perto dela havia uma pinta, fazendo-o se lembrar de artistas de cinema antigo. Ela tombou o rosto, franzindo as sobrancelhas, só então ele se deu conta que devia a estar encarando como um idiota ao invés de respondê-la. Ele limpou a garganta antes de falar.

— Boa noite. Por aqui, por favor. – chamou, a indicando uma mesa no centro do salão. Ela tirou o casaco vermelho enquanto se dirigia até onde ele apontava. Ela andava com muita facilidade sobre os saltos finos e ele a observou caminhar, ajudando-a quando se sentou. – Bem vinda à Alquimia. – disse enquanto ela colocava o casaco e a bolsa na cadeira.

— Obrigada. – a loura sorriu, pegando o cardápio sobre a mesa.

— Quando estiver pronta para pedir, basta sinalizar. – ele disse, mas antes que pudesse sair dali o sorriso dela aumentou.

— Então você é o recepcionista e o garçom? – ela perguntou com humor.

— E também o cozinheiro e o cara que vai lavar os pratos. – ele deu de ombros, respondendo no mesmo tom. – Hoje estou fazendo o serviço completo.

— O que? – ela ergueu as sobrancelhas. – Por quê?

— Dispensei minha equipe para que passassem o natal com suas famílias. – ele respondeu e ela assentiu, compreendendo.

— Mas então porque abriu se está sozinho? – quis saber, as sobrancelhas louras se franzindo.

— Para que pessoas como você conseguissem um jantar esplendido na noite de hoje. – ela riu.

— Esse é realmente um bom motivo. – ela sorriu. – Apesar de que acredito que serei sua única cliente hoje. A neve lá fora está fazendo com que seja quase impossível caminhar.

— E como você conseguiu chegar aqui? – ele perguntou e o sorriso dela se tornou astuto.

— Eu moro no prédio de tijolos ali na frente. – apontou na direção da porta. – Sempre vi o restaurante cheio, mas nunca cheguei a de fato comer aqui. Vi que estava aberto hoje e pensei que era uma oportunidade tão boa quanto qualquer uma.

— Espero que considere a experiência prazerosa. – ele disse de forma simpática.

— Bom, não posso dizer que não estou me divertindo até então, mas até agora nada de muito diferente, a não ser pelo seu serviço que está impecável. – ela concedeu em tom de brincadeira e ele sorriu.

— Acredito que tudo melhorará assim que a comida chegar. – ele garantiu e a loura sorriu.

— Não duvido disso. – respondeu.

— Viu algo de que gostou no cardápio? – Emmett perguntou.

— Hum... Tudo parece muito bom, para falar a verdade. Não sei o que escolher. – confessou.

— Gostaria de ouvir a sugestão da casa? – ele ofereceu e ela negou com a cabeça.

— Por que você não me surpreende? – ela sugeriu. – Afinal de contas, você é o chef, certo? – ele assentiu. – Então aí está. Dou a você total liberdade criativa para a entrada e para o prato principal.

— Não para a sobremesa? – ele ergueu uma sobrancelha.

— Para a sobremesa não. – ela sorriu. – É natal e eu sempre como a mesma sobremesa no natal.

— Sempre? – ele repetiu.

— Religiosamente. – Rosalie concordou.

— E qual seria? – ele quis saber e ela olhou novamente o cardápio em suas mãos.

— Para falar a verdade não sei se você a tem no cardápio. – ela comentou enquanto procurava.

— Por que você não me diz assim mesmo? Quem sabe eu não sou capaz de fazê-la agora, apesar de não estar no cardápio? – ela sorriu, erguendo os olhos.

— Trufa de chocolate e cereja. A típica britânica. – salientou e Emmett expirou uma curta risada, assentindo.

— Tentarei fazer o meu melhor. – prometeu. – E para beber, posso te oferecer algo?

— Claro. – ela assentiu, perguntando se ele tinha um de seus vinhos favoritos. Ele concordou e ela pediu uma taça.

Emmett se afastou então, voltando pouco depois com uma taça de vinho tinto e avisando-a que logo voltaria com a entrada. Rosalie sorriu, satisfeita, ouvindo a música tranquila que abraçava o ambiente enquanto ele se afastava mais uma vez. Começou a beber seu vinho e olhou ao redor, avaliando a decoração do ambiente e batendo as unhas pintadas de vermelho sobre a toalha de mesa marfim. Como por hábito, fez anotações mentais de cada um dos detalhes do lugar.

A falta de vozes murmuradas, tão comum em restaurantes, era um pouco estranha. Ser a única pessoa sentada no meio de tantas mesas vazias, de fato, era um pouco angustiante. Isso tudo no dia de natal causava uma sensação ainda mais desgostosa. Não era a intenção da loura passar o natal inteiramente sozinha, mas não tinha outra opção naquele momento. Ainda assim, já que era a única pessoa ali e não parecia que aquela situação fosse sofrer alguma mudança logo... Ela levantou-se, pegando a bolsa e a taça de vinho, dando passos lentos na direção por onde Emmett sumira algum tempo antes.

— Olá? – ela chamou enquanto enfiava a cabeça para dentro do cômodo para onde ele entrara, pouco a pouco deixando o resto do corpo aparecer ali, notando os detalhes da cozinha em inox.

— Sim? Algo errado? – ele perguntou, virando-se para ela quase alarmado.

— Não! Tudo está ótimo. – ela garantiu rapidamente, olhando em volta. – A verdade é que está bastante solitário lá fora e me perguntei se você se importaria se eu ficasse por aqui? – ela mordeu os lábios e encolheu os olhos, quase o fazendo sorrir.

— Acho que não tem problema. Na verdade, não acredito que ninguém mais vá aparecer. – comentou olhando para o relógio na parede. Ela sorriu um pouco.

— Antes de sair de casa vi uma notícia de que as ruas estão totalmente intransitáveis, então eu imagino que não. – ela concordou. – A não ser que algum outro vizinho resolva aparecer, mas quais as chances de outra pessoa por aqui estar passando o natal sozinha?

— É um excelente ponto. – ele concordou enquanto ia até um canto e trazia um banco alto com recosto para ela, posicionando-o perto da bancada. – Por que não se senta?

— Obrigada. – ela sorriu, subindo na banqueta e colocando a taça sobre a bancada de inox, pendurando a bolsa pela alça no recosto.

— Você vai precisar prender o cabelo. – ele avisou e ela franziu o rosto.

— Por quê? Não tem ninguém aqui e não é como se a vigilância sanitária fosse aparecer exatamente hoje. – ele deu um sorriso curto.

— Ainda vou precisar insistir para que você o prenda. – ela revirou os olhos. – Se preferir posso te dar uma touca de ajudante. – ele sugeriu e se divertiu ao ver a careta dela.

— Não é necessário, obrigada. Isso não combinaria em nada com meu look natalino – ela resmungou antes de torcer o cabelo nas mãos até fazer um nó com ele próprio, prendendo-o no topo da cabeça e deixando alguns fios mais curtos caírem ao redor do rosto. Ele já estava de volta ao fogão, mãos ocupadas e movimentando-se rapidamente. – Então, o que está fazendo?

— É surpresa, você me pediu para surpreendê-la. – ele apontou.

— Mas isso não quer dizer que não pode me contar o que é. – ela declarou o óbvio.

— Se eu contasse deixaria de ser uma surpresa, não? – ela revirou os olhos.

— Tudo bem. O que você jantou hoje, chef? – ela quis saber.

— Não jantei ainda. Só costumo fazer isso depois do expediente. – ele explicou.

— Ah, por que não janta comigo então? – ela sugeriu. – Odeio jantar sozinha, ainda mais em datas como essa.

— Não sei se isso seria adequado. – ele pontuou, mas logo se arrependeu, porque afinal de contas nada ali parecia adequado àquela altura.

— Que bobagem, é claro que é. – ela pôs o comentário de lado. – E você quer que minha experiência seja a melhor no seu restaurante, não é?

— Eu realmente quero. – ele garantiu e ela sorriu.

— Então se junte a mim para jantar. – insistiu e deu um gole em seu vinho. – Posso te ajudar em alguma coisa? – ela perguntou em certo momento, relativamente sem graça por estar tão parada e apenas bebendo seu vinho enquanto ele se mexia sem parar, pegando alimentos, cortando coisas, abrindo e fechando torneiras, tirando e colocando tampas de panela.

— Não há necessidade, mas obrigado. – garantiu ele com um sorriso de lado em seus lábios. – Na verdade eu gosto dessa... velocidade. Gosto de fazer tudo, de ter tudo passando por meus olhos para garantir que vai ficar como quero.

— Ah, então você é uma daquelas pessoas loucas por controle. – ela inferiu com um sorriso nos lábios. Ele ergueu os olhos, um lampejo neles.

— Não somos todos nós? – ela riu.

— Eu definitivamente não me colocaria nessa categoria. – confessou.

— E em qual categoria se colocaria? – ele ergueu uma sobrancelha.

— Hum... Das pessoas que são mais que felizes por delegar e deixar os outros cometerem erros sem me preocupar? – ela ponderou. Ele deu um sorriso de lado.

— Talvez você não fosse a melhor das chefs. – ele comentou enquanto batia uma colher de pau no canto da mão. Ela sorriu.

— Suponho que não, especialmente porque o único prato que sei fazer com excelência é macarrão com queijo. – disse em tom culpado.

— É um bom prato. – ele concedeu e ela riu.

— E eu consigo fazê-lo de várias maneiras diferentes, com ingredientes extras e tudo mais. – ela tentou se dar algum crédito, o tom bem humorado.

— Está aí um restaurante que ainda não foi aberto. – ele estabeleceu. – Talvez seja o seu momento.

— Acho que fico mais segura onde estou. – ela respondeu com um sorriso.

— E onde é isso, exatamente? – ele quis saber.

— Eu sou escritora. – Rosalie contou.

— É mesmo? Sobre o que você escreve? – ela hesitou, mordendo o lábio.

— Geralmente sobre coisas boas e ruins, sobre erros e acertos. – ela deu de ombros.

— Já publicou algo que eu conheça? – ele perguntou e ela sorriu.

— Ah, definitivamente não. – negou com a cabeça.

— Por que diz assim? – ele quis saber.

— Você não parece o tipo de pessoa que daria bola para as coisas que eu escrevo. – ela deu de ombros lentamente.

— Você não teria como saber disso. – ele discordou. – Acabei de reparar que não sei o seu nome, então não posso dizer que nunca li algo seu.

— Eu sou Rosalie. – ela sorriu. – Hale.

— É um prazer te conhecer, Rosalie, eu sou Emmett. – ele se apresentou.

— É um prazer te conhecer também. – ela disse, tomando um novo gole do vinho.

— Infelizmente, agora que me falou seu nome, tenho que concordar que não toca nenhum sino em minha cabeça. – ele confessou. – Não me lembro de nada que tenha sido escrito por você, me desculpe.

— Não tem porque se desculpar. – ela fez um sinal de desdém com a mão. – Afinal de contas, eu mesma até hoje nunca tinha provado da sua comida, então podemos concordar que está tudo bem em experimentar algumas coisas a partir daqui.

— Justo. – ele concordou. – Vou me atentar depois de hoje, nunca imaginei que tinha uma vizinha autora.

— Você mora por aqui? – ela ergueu as sobrancelhas.

— Acabei de me mudar para um apartamento aqui em cima. – ele apontou para o teto.

— Ah! E o que está achando?

— Estou gostando. É aconchegante e a melhor parte é que é realmente próximo do trabalho. Ganhei alguns pontos com meu chefe por nunca mais me atrasar. – ele brincou e ela sorriu.

— Isso é bom, ele parece muito exigente. – ela comentou.

— Na verdade ele não é tão exigente assim. – ele contradisse com um sorriso torto. – Ele é um bom homem. Você gostaria de outra taça? – ela olhou para a taça em sua mão e se surpreendeu por vê-la vazia.

— Ah! Claro, obrigada. Eu poderia me oferecer para te pagar uma taça? Sinto-me um pouco estranha bebendo sozinha. – ele riu.

— Eu agradeço a oferta, mas não precisa me pagar uma taça. – balançou a cabeça.

— Mas vai ainda assim me acompanhar? É muito estranho ficar bebendo de pernas para cima enquanto você faz tudo. – ela se encolheu, sentindo-se levemente estranha com a situação, embora soubesse que não deveria, afinal, estava em um restaurante.

— É meu trabalho. – ele respondeu dando de ombros.

— Eu sei, mas eu estou aqui te observando e me sinto meio inútil dessa forma, como se eu estivesse me aproveitando. – ele riu novamente.

— E você se sentirá melhor se eu tomar uma taça de vinho? – ele perguntou com a voz divertida.

— Definitivamente. – a loura concordou.

— Eu acho que não tenho outra opção, então. Seria muito ruim para a sua primeira experiência se você ficasse desconfortável aqui durante a estadia. – ele disse como se falasse a frase mais óbvia da vida. Ela deu um sorriso luminoso antes de responder.

— Exatamente. – ele negou com a cabeça e deu um sorriso curto enquanto pegava uma nova taça e a servia com o mesmo vinho que ela escolhera para si.

— Você tem um gosto muito bom quando se trata de vinho. – ele observou.

— Eu aprendi um pouco sobre isso. – ela assentiu. – Mas para ser sincera realmente gosto dos meus favoritos e acabou se tornando algo de lei quando vou a algum restaurante. A não ser quando indicam algo que vai melhor com meu prato, o que eu aceito prontamente.

— É um dos meus favoritos também. – ele confessou.

— Ah, eu amo essa música. – ela sorriu quando ouviu a melodia de “Santa Baby” soar. – Quando eu tinha dezesseis anos fiquei obcecada com essa canção no natal e só a cantava sem parar. Meu pai ficou uma fera.

— Por quê? – ele ergueu as sobrancelhas.

— Porque eu achava que a música era realmente sobre pedir coisas para o Papai Noel e não entendia que era para um cara mais velho com quem a pessoa mantém um relacionamento. – Rosalie revirou os olhos sorrindo. – Então meu pai ficou um pouco descontente quando cantei essa música basicamente para todas as pessoas que eu conhecia, inclusive pais de amigas, professores, tios, enfim. – Emmett expirou uma risada.

— Pelo menos é um clássico da Eartha Kitt e ela é uma cantora incrível. – ele pontuou. – Você sempre pode usar isso como desculpa. – ela riu.

— Ela realmente é, é uma das minhas favoritas.

— Você gosta de jazz? – Emmett perguntou.

— Muito. – ela assentiu. – E você?

— Sim. – ele deu um sorriso torto, fazendo uma das covinhas aparecerem. – Todo natal meus avôs costumavam colocar canções de jazz e dançar em frente da lareira. Frank Sinatra foi basicamente o primeiro cantor do qual aprendi as músicas.

— Isso parece encantador. – ela sorriu também.

— É uma das minhas lembranças favoritas. – ele comentou.

— Isso está cheirando muito bem. – ela observou enquanto o via balançar uma panela nas mãos. Ele sorriu.

— Espero que o gosto esteja tão bom quanto.

— Quando vai me contar o que é? – ela quis saber. Emmett reprimiu um sorriso.

— Sua entrada fica pronta em dez minutos. – prometeu.

— Nossa. – ela corrigiu. – Você disse que ia jantar comigo.

— Disse? – ele ergueu uma sobrancelha.

— Bom, você deu a entender e estou contando com isso. – ela respondeu, franzindo os lábios e ele sorriu.

— Fique tranquila, você não vai jantar sozinha no natal. – ele concordou, balançando a frigideira levemente na mão para que seu conteúdo saltitasse. Rosalie observou o movimento enquanto dava um gole em sua taça.

— Então, há quanto tempo você cozinha?

— Desde sempre, acho. – ele sorriu. – Mas profissionalmente há cerca de doze anos. – ele contou.

— Uau, isso é muito tempo. – ela ergueu as sobrancelhas.

— Eu comecei como ajudante em um restaurante em Massachusetts. – ele contou.

— Ah, e desde quando abriu seu próprio restaurante? – perguntou.

— Há cerca de cinco anos. – contou, passando a picar algumas ervas. – Trabalhei como sous-chef em um restaurante famoso quando me mudei para cá, mas sempre quis ter meu próprio restaurante. Assim, quando consegui dinheiro suficiente, larguei aquele emprego e me dediquei à Alquimia.

— Esse é um nome interessante para um restaurante. – ela comentou e Emmett sorriu.

— O que é alquimia? – ele perguntou e ela hesitou, franzindo as sobrancelhas.

— Ah... Mágica? – tentou insegura. Ele sorriu mais.

— Alquimia é um pouco de magia. – concordou assentindo. – E de arte e de ciência. Isso não é gastronomia? Tentar diferentes ingredientes até que eles se combinem e como mágica se transformem em algo apetitoso? Esperar que a química de cada uma dessas coisas interaja da maneira correta para que juntas se transformem em algo... Mágico? – Rosalie reprimiu um sorriso mordendo o lábio inferior, assentindo com graça para as palavras dele.

— Acho que você tem razão. – concordou, observando-o olhar algo no forno. Ele parecia realmente dedicado àquilo, apaixonado pela culinária.

Era uma coisa e tanto de se observar, especialmente quando se estava do lado de dentro da cozinha. Emmett parecia inteiramente envolvido por cada processo que colocava em prática ali, parecia não só entender cada um deles, mas verdadeiramente apreciar cada etapa e cada resultado. Rosalie deu um sorriso toro, apreciando a imagem. Nunca tinha essa perspectiva quando ia a restaurantes, estando sempre do lado oposto das paredes.

— Então, Rosalie, – ele falou, fazendo-a sair do estado de contemplação e prestar atenção em sua voz. – Se não gosta de passar o natal sozinha, por que está fazendo isso hoje? – ela hesitou, mordendo os lábios enquanto o observava de costas para ela, movimentando-se com maestria pelo espaço.

— Hum... – ela suspirou, dando um gole em sua taça numa tentativa de ganhar tempo e optando pela verdade, afinal, qual o problema de desabafar com um estranho uma vez na vida? Aquilo era Nova York, pelo amor de Deus, e Alice declarara que ninguém poderia ser considerada uma nova iorquina de fato a não ser que tivesse falado demais para um total estranho sobre algo constrangedor ou incômodo. – É uma longa história.

— Temos tempo, se quiser compartilhá-la. – ele comentou. Ela deu mais um gole, o gole final para a coragem.

— Bom, eu me mudei para cá há cerca de um ano e tudo estava certo para que eu passasse o natal com a família desse cara com quem eu estava namorando. – ela contou. – Mas então hoje de manhã, quando estávamos abrindo os presentes de natal, eu achei esse presentinho minúsculo que na verdade não era nada pequeno e tudo deu muito errado. – Emmett a encarou com as sobrancelhas franzidas, claramente confuso. – Era um anel com essa pedra imensa e ele me pediu em casamento. – ela esclareceu. – Mas eu não consegui dizer sim. Eu não sei, eu não esperava por isso. Quer dizer, eu meio que esperava, mas achei que a essa altura eu sentiria mais, sabe? E não sinto mais, não o suficiente para ser esposa dele e colocar um diamante no meu dedo. Isso é uma coisa realmente séria e não gostaria de lidar com isso de forma leviana. Levo o casamento muito a sério. Então eu disse não e, é claro, tudo foi por água abaixo e ele, compreensivelmente, não aceitou de forma feliz essa resposta. Então acabamos tudo e eu me vi sem lugar algum para passar o natal. – deu de ombros. – Tudo bem, eu percebi que na verdade não é uma longa história, é bem curta e poderia ser dita de forma sucinta, mas sinto que se eu não explicasse eu seria vista apenas como a mulher horrível que disse não a um pedido de casamento no dia de natal e não quero ser essa pessoa horrível.  – desabafou.

— Você não é uma pessoa horrível. – ele garantiu enquanto abria a geladeira. – Está certa em levar o casamento a sério e se não acha que está pronta para isso não deveria levá-lo a pensar que estava, seria egoísmo.

— Não é que eu não esteja pronta para me casar. – ela negou com a cabeça. – Acho que não estava pronta para casar com ele. Eu sei lá, sempre imaginei que me casaria com alguém que me dá frio na barriga e palpitações, mas nada disso aconteceu com ele. Talvez eu só seja realmente ligada a romances e queira um como o dos livros. – revirou os olhos, subitamente muito envergonhada por ter compartilhado tudo aquilo com um estranho. Fez um lembrete mental de garantir a Alice que agora quase poderia ser chamada oficialmente de nova iorquina.

— Não é uma coisa ruim. – ele disse. – Querer isso, quero dizer. – explicou.

— Mas também não é fácil de achar. – ela sorriu e franziu o nariz. – De toda forma, por isso fiquei sem lugar para passar o natal. Não quis ir para a casa de nenhum amigo porque não contei a ninguém sobre o término e não queria explicar sobre isso para eles hoje, porque sei que isso viraria o tema central das conversas e eu não queria que a ceia de ninguém revolvesse ao redor de como sou uma pessoa horrível.

— Você não é. – repetiu Emmett, o tom da voz divertido. Rosalie sorriu.

— Então eu estava em casa, contemplando meu macarrão com queijo natalino e vi que seu restaurante estava aberto. Então pensei “por que ficar em casa quando posso saborear uma refeição de verdade dando poucos passos?”.

— Essa foi a sua segunda melhor decisão do dia. – ele pontuou e ela riu de forma irônica.

— Por que a primeira foi quebrar o coração do meu namorado?

— A primeira foi decidir me dar total liberdade criativa para o seu jantar. – ele sorriu. Rosalie riu. – Mas quebrar o coração dele foi provavelmente a terceira.

— Não sei se ele concordaria com isso. – ela o contradisse.

— Sei que ele não vai se sentir dessa forma imediatamente. – ele concordou. – Entretanto, é muito mais fácil receber um não agora e evitar um compromisso ainda maior e milhares de dólares gastos em uma festa imensa para depois descobrir que a outra parte não estava tão envolvida assim. – Rosalie ergueu as sobrancelhas levemente.

— Você soa como um homem que já passou por essa situação? – ela perguntou, um pouco hesitante, embora quisesse de fato afirmar devido ao tom levemente ácido da voz dele.

— A entrada está pronta, mas ainda estou trabalhando no prato principal. – ele avisou, virando-se para ela. – Posso servir a você agora ou posso terminar o prato principal e realmente me juntar a você no jantar, se realmente quiser.

— Ah, eu não me importo de esperar. – ela garantiu. – Por favor, termine e junte-se a mim.

— Não vai demorar. – ele prometeu, voltando-se mais uma vez para o fogão. Ela assentiu, bebendo um gole do vinho.

— Então eu fui humilhantemente honesta com você, mas você não vai me estender a mesma sinceridade? – ela perguntou bem humorada. Emmett franziu os lábios e não a olhou ao responder.

— Que tal esperarmos até que eu beba pelo menos uma taça inteira antes de lamber as feridas? – ele sugeriu e ela riu, concordando.

— Tudo bem. Por que não me diz então por que decidiu passar o natal aqui, trabalhando, ao invés de com a sua família? – ela quis saber. Ela viu os ombros dele tensos e mordeu os lábios. – Ou podemos esperar pelo vinho novamente.

— Seria bom. – ele concordou.

— Bom, então quais temas podemos abordar enquanto você cozinha? – ela perguntou, um sorriso no canto do rosto.

— Por que não me fala o que tem achado da cidade? Você disse que se mudou recentemente. – ele sugeriu e Rosalie assentiu.

— De fato. – concordou. – Tenho gostado muito de Nova York. Trabalho para uma revista e conheci muita gente incrível ali. Fiquei muito amiga de uma garota que escreve sobre moda e ela basicamente me arrastou para todos os pontos turísticos daqui assim que cheguei. – ela contou com um sorriso. – Ela ama levar pessoas de fora para conhecê-los. Ela também me passou uma lista de coisas para fazer antes que eu pudesse me chamar verdadeiramente de nova iorquina e essa é uma das razões pelas quais fui tão completamente honesta e te contei sobre o Royce. Meu namorado. Ex-namorado. – se corrigiu.

— Ela te mandou contar sobre o seu namorado? – ele perguntou, confuso mais uma vez. A loura revirou os olhos sorrindo.

— É claro que não. Ela disse que eu precisaria desabafar com um estranho sobre algo que me deixasse envergonhada ou incomodada e essa situação me deixa as duas coisas. – esclareceu.

— E o que mais existe nessa lista da sua amiga? – ele quis saber, curioso.

— Hum... – ela murmurou bebendo enquanto tentava se lembrar de tudo. – Isso, chorar no metrô, ver um famoso na rua e não dar a mínima, entrar de penetra em algum evento importante, comer um pretzel da barraquinha que fica na esquina da sexta avenida com a rua trinta e três. – ela pontuou enquanto erguia um dedo a cada coisa. – Sei que tem mais coisa, mas não consigo me lembrar agora. A Alice é um pouco exigente.

— E você já fez tudo isso? – Emmett perguntou.

— Bom, não, mas estou chegando lá. – ela declarou. – Só preciso chorar no metrô e isso posso fazer a qualquer momento. Sou muito boa em fingir lágrimas.

— É mesmo? – ele ergueu uma sobrancelha.

— Mesmo. Sou a irmã do meio de três irmãos, então sempre que precisava me safar de algo eu chorava sem parar. Eu não era a caçula então não conseguia imunidade imediata, nem sou a primogênita, aquela que dá orgulho porque foi a primeira, logo, tive que ser criativa. – ela deu de ombros. – Sempre funcionou muito bem com meus pais, então imaginei que funcionaria bem com qualquer um.

— E funciona? – ela se encolheu fazendo uma careta e Emmett sorriu.

— Não tão bem quanto eu esperava. – confessou, fazendo o sorriso dele aumentar, as covinhas muito proeminentes nos dois lados de seus rosto. Rosalie apreciou a inocência e beleza daquele sorriso.

— Qual evento importante você entrou de penetra? – ele quis saber.

— Uma festa do consulado da Espanha. Tudo bem, – ela disse ao ver a expressão de Emmett. – sei que isso pode não ser tão importante assim, mas não soa como se fosse? – ela sorriu empolgada e ele riu, assentindo.

Eles conversaram por mais algum tempo, Emmett dividindo as experiências que aos olhos de Alice o fariam ser um autentico nova iorquino. Ele cruzara menos coisas da lista da amiga de Rosalie do que a própria, mas estava na cidade há mais tempo que ela, então argumentava que era muito mais cidadão do que a loura.

Ela discordou, afirmando que um tempo em determinado lugar não fazia com que alguém se tornasse um verdadeiro morador dali, afinal, tudo era sobre as experiências. Então ambos se dispuseram a fazer a própria lista de quais experiências seriam essenciais para que se fosse considerado um verdadeiro morador de Nova York.

— Tudo bem, acho que já pensei nas minhas. – ela avisou depois de algum tempo de deliberação. – Ir a um musical na Broadway, ir à Albertine e não ligo se a pessoa não é leitora, aquela livraria é um marco por si só. Ir ao Central Park, conhecer a quinta avenida, passear pela Times Square, comer no Carmine’s e ir ao Empire State Building. – deu de ombros. – Eu sei, minha lista é meio turista, mas não é minha culpa se esses lugares são marcos. Além do mais eu acabei de chegar aqui. – resmungou e Emmett riu.

— São bons pontos. – ele concordou. – Embora eu não conheça a Albertine. Nunca nem mesmo tinha ouvido falar.

— Isso é absurdo e você não é um verdadeiro nova iorquino. – ela disse em tom seco, embora sua expressão fosse divertida. Emmett sorriu e negou com a cabeça.

— Só nos seus parâmetros. – ele discordou. – Vamos ver quão nova iorquina você é. – ele sugeriu e ela assentiu. – Para ser um verdadeiro morador de Nova York é preciso conhecer o Central Park, – ele concordou e Rosalie sorriu. – ir ao Rooftop Cinema Club, atravessar a ponte do Brooklyn, ir ao Rockefeller Center, ir ao Eataly, andar de metrô sem precisar necessariamente chorar nele e ir ao MET.

— Eu acho que só sou nova iorquina nos meus parâmetros. – ela confessou fazendo uma careta e o homem sorriu, as covinhas cravando-se em seu rosto.

— Um dia você chega lá. – ele disse em tom condescendente.

— Rá! – ela resmungou, dando um gole no vinho.

— Tudo pronto por aqui. – ele disse por fim, voltando-se para ela. – Por que não jantamos no salão? – ele sugeriu e ela assentiu, concordando. – Vou apenas montar os pratos e levá-los.

— Posso ajudar. – ela ofereceu.

— Não há necessidade. Além do mais isso acabaria com o impacto da visão da refeição. – ele negou e ela sorriu, revirando os olhos. – Mas você pode pegar a garrafa de vinho e levar as taças, se realmente quiser. – sugeriu.

— É claro. – ela concordou, já se levantando e começando a levar os objetos enquanto ele arrumava tudo na louça escolhida.

Ela havia acabado de levar as últimas coisas quando ele apareceu com os dois pratos nas mãos e colocou-os sobre a mesa, um de frente para o outro. Rosalie olhou a entrada, sorrindo ao ver a forma cuidadosa com a qual ele dispusera tudo ali.

— Cogumelos recheados com ervas e brie. – ele apresentou, em seguida ajudando-a a se sentar.

— Parece realmente gostoso. – ela disse, observando os detalhes da comida enquanto ele enchia novamente as taças.

— Precisa sempre parecer. A imagem é quase tão importante quanto o sabor. Não é mentira quando dizem que as pessoas comem com os olhos. – ele disse. Rosalie sorriu. – Por favor. – ele indicou para que ela experimentasse primeiro e ela pegou os talheres, pronta para experimentar.

Ela quase gemeu quando registrou os sabores, agradecendo a si mesma por ter decidido atravessar a rua ao invés de ficar em casa com seu macarrão com queijo. Emmett conseguira fazer algo delicioso e ela poderia chorar em agradecimento.

— Isso está incrível. – ela comentou. Ele deu um sorriso imenso e agradeceu, em seguida experimentando também. A loura não conseguiu tirar os olhos daquelas covinhas, que tornavam aquele rosto másculo e forte tão repentinamente inocente e acolhedor.

Comeram as entradas conversando sobre culinária, enquanto Emmett comentava alguns de seus ingredientes favoritos e viagens que havia feito para aprender mais sobre a arte de cozinhar. Rosalie ouvia tudo com muita atenção, fazendo alguns comentários. Depois de terminarem a entrada, ele saiu brevemente para montar os pratos principais e voltou poucos minutos depois, colocando-os na mesa.

— Costela de cordeiro ao molho de romã, com brócolis e purê de batata. – ele apresentou. – Não me julgue pelo purê de batata. É natal e imaginei que você podia usar alguma coisa levemente natalina. – Rosalie riu.

— Eu adorei. – confessou. – De verdade.

Emmett sorriu enquanto sentava-se e esperou mais uma vez que ela provasse antes de mergulhar na refeição. Rosalie adorou instantaneamente a combinação de sabores, elogiando-o. Emmett adorava ver o olhar das pessoas enquanto comiam seus pratos, então observava Rosalie com um sorriso de canto enquanto ele próprio comia, absorvendo as expressões de satisfação que cruzavam seu rosto.

— Então, já se foram o que, três taças de vinho? – ela perguntou quando estavam ao final do prato principal. Emmett olhou a taça vazia e percebeu que ela estava certa. Ao erguer os olhos para Rosalie observou um sorriso brincalhão em seu rosto. – Aposto que você achou que eu tinha esquecido, mas é difícil esquecer quando eu já fui tão abertamente honesta. – ela deu de ombros. – É sua vez.

— Eu realmente achei que tinha. – ele concordou e ela sorriu mais.

— Por que está aqui sozinho durante o natal? – ela perguntou. Ele respirou fundo e encheu as taças novamente.

— Está relacionado ao casamento. – ele explicou.

— Você pretende me contar ou responder coisas sucintas? – ela perguntou bem humorada e ele não conseguiu evitar sorrir ao ver o sorriso disposto dela e os olhos violetas brilhando.

— Eu era casado. Sou casado, na verdade, porque ainda não finalizaram a papelada. – ele começou. – De toda forma, eu era casado com essa mulher e achei que estávamos no mesmo lugar. Casamos depois de um ano e meio de relacionamento. Natal sempre foi nossa data favorita. – ele suspirou. – Então eu estava indo para casa depois de fechar o restaurante mais cedo um dia por causa de uma tempestade horrível e eu...

— Oh, não. – Rosalie ergueu as sobrancelhas, claramente já pressupondo o que acontecera.

— Ah, sim. – ele discordou, um sorriso sem humor algum no rosto. – Então eu cheguei em casa, encharcado e louco por um banho quente, e percebi que algo estava errado, algo estava fora do lugar. Não notei instantaneamente o que era, mas não demorou muito para ver. Minha esposa estava na cama com outro cara. Não qualquer cara, meu primo e melhor amigo. – contou.

— Deus, isso é horrível.

— Realmente é. – ele assentiu, comendo uma última garfada. – Ela sempre adorou tempestades, é apenas cabível que ela acabasse com nosso relacionamento em uma.

— E então você não quer passar o natal com sua família por isso? – ela conjecturou.

— Minha família toda passa o natal junto, meus pais e tios, meus primos e avós. – ele explicou. – E eles estão lá. Juntos.

— O que? – a boca de Rosalie se abriu levemente. – Como assim? Sua família aceitou isso tranquilamente?

— Eu não sei até que ponto eles realmente poderiam dizer não ou impedir. – ele deu de ombros. – Edward é adulto e não ia deixar de fazer algo porque a família não queria.

— Edward é uma pessoa péssima. – a loura estabeleceu e Emmett deu um gole longo.

— Obrigado, eu também acho. – respondeu. – Porém, nem toda a família concorda comigo, então decidi ficar longe da celebração feliz e ficar em um lugar onde eu não me irritaria ou teria que falar sobre isso. – ele ergueu uma sobrancelha e Rosalie sorriu apologeticamente.

— Me desculpe! – pediu rapidamente. – Não queria te fazer falar sobre algo que te deixaria mal.

— Tudo bem.

— E eu sinto muito mesmo por essa situação toda. – ela disse em um tom empático. – Nem imagino como deve ter sido isso.

— Espero que não descubra. – ele deu de ombros.

— E tempestades são horríveis. Todo mundo sabe que um dia ensolarado é muito melhor. – ela continuou, tentando preencher o incômodo tema com palavras. – Te dá muito mais opções e é muito mais bonito.

— Eu concordo. – ele assentiu em tom sóbrio, percebendo como a mulher à sua frente remetia a um dia de sol. Rosalie franziu os lábios, mordiscando a ponta deles, e hesitou antes de continuar.

— Você a amava? – ela perguntou com os olhos no copo.

— Amava. – concordou. – Você não ama o seu namorado? – ela ergueu os olhos.

— Não o suficiente para comprometer nós dois a um futuro sobre o qual não tenho certeza. – ela balançou a cabeça. – Como você soube que estava pronto para casar?

— Eu não sei. Eu e ela estávamos juntos há algum tempo e eu estava apaixonado, então pensei que era o próximo passo a se dar. – ele se encolheu um pouco. – Achei que as coisas dariam certo e que tudo estava correndo como devia.

— Sempre achei que sentiríamos, sabe? Tipo, alguma coisa mudaria dentro de mim e eu saberia que era aquela pessoa. – ela girou a taça nas mãos. – Aquele era o cara com quem eu passaria o resto dos meus dias. Entretanto não senti isso, então pensei e se eu me casar e achar esse cara depois? Achar esse cara para quem vou olhar e pensar “poderia passar o resto dos meus dias a seu lado” e esse cara não ser o meu marido?

— Mas e se você nunca sentir isso? – ele ergueu uma sobrancelha. – Essa certeza? O que vai fazer? Escolher não casar nunca?

— Eu não sei. – foi a vez dela se encolher. – Eu só sempre achei que eu saberia, mas até hoje nunca soube. – ela deu de ombros.

— Não acho que seja assim. – ele balançou a cabeça.

— E como você acha que é? – ela sorriu erguendo uma sobrancelha.

— Por que não me dá alguns minutos para trazer a sobremesa? Então continuamos. – ele sugeriu e ela assentiu.

— Claro. Posso ajudar? – ofereceu.

— Não há necessidade. – falou se levantando. – Volto logo.

Ele se afastou então, no caminho trocando o álbum que tocava e colocando um novo blues. Rosalie sorriu, apreciando a música, e esperou enquanto observava o lugar novamente e bebia seu vinho. Emmett não demorou muito a voltar, posicionando em frente à Rosalie um prato médio. A parte exterior era feita de chocolate amargo, uma calda vermelha em cima da superfície escura.

— Experimente. – ele sugeriu enquanto se sentava. Ela sorriu, pegando uma colher para pegar um pedaço. Ao quebrar o exterior mais crocante, Rosalie viu o recheio de chocolate branco e preto com alguns pedaços de cereja, assim como um pouco de calda, aparecer. Ela sorriu, experimentando. – Sei que não é bem o que você tem o hábito de comer, mas você precisa ser flexível. – ela sorriu mais enquanto mastigava. Emmett observou, feliz por ter já preparado algumas coisas de sobremesa antes de ela chegar ali, coisas que ele pudera aproveitar para fazer o prato final.

— Isso está incrível. – assegurou. – Tão boa quanto as que minha mãe faz e esse não é um elogio que faço com frequência. – Emmett sorriu.

— Fico feliz. – respondeu antes de também começar a se servir.

— Mas agora me conte, como você acha que é? – ela perguntou e ele assentiu.

— Não acho que você um dia vê a pessoa certa e automaticamente sabe. Como poderia? Amor é construído diariamente, com pequenas coisas. Acho que o que você pontuou tem mais a ver com paixão, mas paixão não é suficiente para manter um casamento. – pontuou. – Casamentos são compromissos e, embora importante, a paixão é só um dos ingredientes. É preciso haver respeito e concessões, compartilhar gostos e entender limites.

— E você viu tudo isso na sua ex-esposa? – ela perguntou. Ele respirou fundo.

— Eu achei que sim. – respondeu. – Talvez eu quisesse ver. Eu estava pronto para me comprometer dessa forma e queria que ela estivesse também. – confessou. – Mas ela não foi tão gentil quanto você foi com seu namorado e disse sim.

— Sua visão, é claro, faz muito mais sentido que a minha. – ela concordou com um sorriso. – Mas sempre fui muito ligada a essa concepção de amor comum de literatura.

— Acredito que isso seja normal a uma escritora, não? – ele sugeriu e ela riu.

— Embora esse não seja o tipo de coisa sobre a qual costumo escrever, talvez seja o caso. – concordou.

— Você escreve sobre erros e acertos, sobre coisas que dão certo e não... – ele repetiu, lembrando-se da resposta dela mais cedo. – Me parece muito com relacionamentos. – ela riu.

— Mas na verdade é sobre gastronomia. – ela confessou. Ele ergueu uma sobrancelha.

— O que?

— O emprego que te falei que me fez mudar para cá... Era para ser crítica gastronômica de uma revista. – explicou.

— Como pode ser crítica se disse que não sabe cozinhar? – Emmett perguntou e ela reprimiu um sorriso.

— Não, eu disse que o único prato que faço com excelência é macarrão com queijo, mas não quer dizer que não faço outras coisas incríveis. – explicou. Os olhos dele se estreitaram e ela sorriu.

— Não me lembro de nenhuma crítica com o nome Rosalie. – ele comentou.

— Assino com meu segundo nome, Lílian. – Emmett franziu o cenho, como se procurasse na memória.

— Lílian H? – ele chutou lembrando-se do sobrenome dela e ela sorriu de forma culpada.

— Acho que você conhece meu trabalho, então.  – Rosalie assumiu.

— Eu li algumas coisas que você escreveu. – ele concordou em tom sóbrio. – E também sei que tem uma opinião bastante valorizada. Então você veio aqui a trabalho hoje?

— Não! – ela se apressou em responder. – Eu genuinamente só estava procurando por um bom jantar de natal.

— Bom, espero que sim, caso contrário o Alquimia estaria prestes a receber a pior crítica já escrita. – ele disse em tom jocoso.

— O que? Claro que não! – ela ergueu as sobrancelhas. – Eu estou encantada com esse lugar. – ela confessou com um sorriso curto nos lábios. – Me lembra muito de casa, a atmosfera, a música... Meu pai fez parte de uma banda de jazz, sabe. – contou, aumentando o sorriso. – Sem contar a comida que é excepcional. É um restaurante encantador, Emmett. – ela disse e notou que ele olhava fixamente para os lábios dela. Ela reprimiu um sorriso. – Hum... Emmett? – chamou. Ele não moveu os olhos.

— Estou aqui me perguntando se já temos intimidade o suficiente. – ele murmurou. Os olhos de Rosalie se abriram um pouco.

— O que?

— Já que compartilhamos coisas bastante pessoais, você diria que temos alguma intimidade? – ele esclareceu. Ela engoliu em seco.

— Eu não... Sim? – testou. Ele sorriu.

— Bom. Porque já tem algum tempo que percebi que você manchou sua bochecha com a sobremesa, mas não sei se podia falar isso sem deixa-la constrangida. Mas como temos intimidade, sinto que posso falar que você come sobremesa como uma criança e está com a boca bastante melada de chocolate nesse momento. – ele disse e Rosalie sentiu o rosto tomar um tom rosado enquanto levantava o guardanapo até os lábios.

— Obrigada. – murmurou, levemente constrangida, depois de se limpar. Emmett sorriu mais.

— Ainda tem um pouco... – ele falou, indicando com o dedo o lugar ainda sujo de marrom.

— Argh. – ela resmungou baixinho antes de passar a mão no rosto. Emmett expirou uma risada.

— Você está deixando tudo mais melado. – ele avisou. Rosalie estava prestes a se levantar e ir até o banheiro para dar uma boa olhada no rosto quando ele completou. – Aqui, deixe que eu faço isso. – sugeriu enquanto erguia o guardanapo até o local do rosto dela que estava sujo.

A loura se manteve muito parada, os olhos fixos em Emmett, enquanto ele erguia o tecido até o rosto dela, passando-o gentilmente pela pele macia. Ele baixou a mão e então ao olhar novamente ergueu o polegar e o arrastou por uma pequena porção de pele, fazendo com o que coração de Rosalie perdesse uma batida e algo em seu estômago se agitasse.

— Tinha ficado um pouco ali. – ele explicou enquanto recolhia a mão. Rosalie engoliu em seco e passou a língua pelos lábios.

— Obrigada. – murmurou. Emmett não disse nada, permaneceu a encarando, e ela não conseguia falar nada, presa na visão das covinhas que se faziam presente pelo sorriso curto que ele mantinha nos lábios.

— Então, como seria seu natal normalmente? – ele perguntou depois de alguns segundos. – Quero dizer, se você não estivesse aqui com um estranho, mas sim com pessoas com quem de fato você gostaria de passar o natal? – Rosalie demorou alguns segundo para sair do transe ao qual tinha se prendido e balançou a cabeça, tentando se focar.

— Hum... Eu provavelmente estaria com meus pais. Normalmente fazemos uma ceia comigo, meus pais e meu irmão, Jasper. Às vezes alguns tios. – ela contou. – Papai pendura nossas meias na lareira até hoje e sem falta, em todas as manhãs de natal, tem presentes para todo mundo lá. – ela sorriu e revirou os olhos. – Ele é o maior amante de natal que conheço. Minha mãe não gosta muito, na verdade, porque a mãe dela morreu bem perto dessa data e ela fica bastante triste. Porém, em todo natal ela coloca o suéter horrível que o papai escolhe para nossa família e faz o prato preferido dele e o ajuda a decorar a nossa casa. – ela sorriu mais, mordendo os lábios. – E todo natal ela o ajuda a fazer qualquer coisa que ele ache importante, desde cantar músicas natalinas durante o dia ou checar o recheio do peru ou tentar consertar um pisca-pisca que deu defeito.

— Isso é o que você deveria esperar. – Emmett murmurou após ela terminar. Rosalie tombou a cabeça, confusa.

— O que?

— Não um momento que você subitamente saiba. – ele explicou. – Mas isso. Esse momento onde uma situação não é a sua preferida e você sequer gosta dela, mas o seu parceiro ama. Então você passa por cima dos seus poréns, porque você sabe o quanto aquilo significa para a outra pessoa e você simplesmente... faz. Se o outro gosta de café sem açúcar, você faz sem e deixa para adoçar o seu na xícara, porque você sabe que aquilo vai deixar o outro feliz. Se o parceiro odeia fazer as malas, você acorda mais cedo e faz as malas dele; não porque você precisa, mas porque você quer, porque sabe que vai deixa-lo feliz.  É assim que você sabe.

Rosalie absorveu o discurso, um sorriso torto no canto dos lábios enquanto assentia lentamente. Ela colocou o último pedaço de sobremesa na boca e concordou com a cabeça.

— Acho que essa é uma boa maneira de saber. – concordou.

— Eu nunca fiz as malas dela. – ele murmurou, revirando um pedaço de chocolate no prato.

— Como? – Rosalie perguntou franzindo as sobrancelhas.

— Bella odiava fazer as malas. – ele constatou sem erguer os olhos. – Mas eu nunca fiz as malas dela.

— Isso não é razão para ela trair você. – Rosalie balançou a cabeça.

— É claro que não. – Emmett concordou erguendo o olhar para ela. – O que quero dizer é que... Eu sei que o que é amor. – afirmou. – Ainda assim nunca fiz as malas dela.

— Talvez porque você soubesse que esse não era o amor que valia o investimento? – ela tentou, mas ele negou.

— Não vale todo amor no qual investimos? – ele perguntou. – Se eu decidi tentar algo com ela, eu não deveria dar o meu melhor para fazer aquilo funcionar?

— Emmett, aquilo não foi sua culpa. – ela negou rapidamente com a cabeça. – Jamais.

— Eu sei. – afirmou mais uma vez. – Ainda assim... Pergunto-me se há algo que eu poderia ter feito.

— Você não poderia ter mudado a mente dela. – Rosalie balançou a cabeça novamente. – Se ela fez o que fez, não foi por causa de você. Não foi sua culpa. – ela reafirmou cobrindo a mão grande dele com a dela. Eles permaneceram em silêncio e ele levou os olhos para as mãos unidas, sentindo o toque macio e quente dela sobre ele. – Você vai achar alguém que faça suas malas, Emmett. – ela assegurou. Rosalie mordeu os lábios, rapidamente tirando a mão dali ao ver onde os olhos dele levavam. Emmett ergueu os olhos, percebendo como ela olhava ao redor, parecendo um pouco constrangida.

— Você achou? – ele perguntou. Ela deu um sorriso triste.

— Eu não me importo com fazer malas. Na verdade acho um processo reconfortante. – garantiu antes de baixar os olhos para o prato vazio. – Mas eu realmente amo café na cama.

— Eu sinto muito. – ele respondeu ao compreender que não era algo recorrente na rotina dela com o ex-namorado. Ela sorriu.

— Está tudo bem. Se ele não fazia isso, só significa que tenho a oportunidade de achar alguém que faça. – Rosalie deu de ombros.

— Significa. – ele concordou com um sorriso singelo em seus lábios enquanto ele observava o rosto angelical da mulher à sua frente.

Ultimamente todas as mulheres o lembravam de sua ex-esposa. Rosalie não.

Ela era o total oposto de Bella. Enquanto Bella era uma garota miúda, de olhos e cabelos castanhos, feição singela e traços comuns, Rosalie era o total oposto. Os cabelos louros a faziam parecer com atrizes dos anos 90 e os olhos violetas eram as coisas mais incomuns que ele já vira. Sem contar o rosto. O rosto dela era tudo, exceto comum. Embora fosse genuinamente sincera, ele se esforçava para ler por detrás dos olhos enigmáticos e da expressão bem humorada. Todo o conjunto o fazia viajar para contos da juventude e o relembrar de quão místico e confiável podiam ser as coisas, sem se importar de quão contraditório aquilo podia ser.

Eles permaneceram em silêncio por um longo tempo, ambos se avaliando, sem falar nada. Por fim, Rosalie expirou uma risada e olhou para baixo antes de falar.

— Emmett, esse foi um jantar realmente incrível. – disse. – Obrigada, pela companhia e pela experiência.

— Eu fico feliz que tenha gostado. – ele respondeu sorrindo de lado.

— Eu preciso ir agora. Eu comprei uma passagem de última hora para ir para casa amanhã depois de... Bom, você sabe, toda a coisa do anel. – ela se encolheu. – Vou passar o resto do feriado com minha família, mas ainda preciso arrumar as minhas coisas.

— Você quer um café antes de ir? – ele ofereceu rapidamente.

— Ah, não, obrigada. – ela negou.

— Ah. – eles permaneceram em silêncio por alguns segundos.

— A conta, por favor? – Rosalie pediu, um sorriso bem humorado no rosto. Emmett rapidamente negou.

— Sem conta. – garantiu. – É natal.

— Não. – ela negou novamente. – Por favor, me cobre. – ele sorriu.

— Eu não poderia nem se quisesse. – ele balançou a cabeça. – Você me fez companhia e é natal. – ele declarou o óbvio. – Natal indica presentes.

— Eu não poderia aceitar isso. – ela respondeu. – Especialmente porque não te dei nada em troca.

— Na verdade, você deu. – ele discordou, um sorriso lento tomando conta dos lábios, as covinhas cativas em suas bochechas. Rosalie reprimiu um sorriso.

— Eu não dei. – ela disse.

— Você deu, sim. – ele reforçou. – Mas se você não consegue aceitar isso de forma tranquila, tenho certeza que pode achar uma maneira de nos deixar quites. Não vão faltar oportunidades, afinal, você mora no prédio bem em frente ao meu. – Rosalie sorriu.

— Tudo bem, então. – concordou lentamente, antes de se preparar para levantar. Emmett rapidamente se ergueu, ficando de pé e pegando o casaco dela sobre a cadeira.

Enquanto Emmett a levava até a porta do restaurante, Rosalie observava a decoração cuidadosamente colocada no local. Ela sorriu ao ver a que estava localizada logo acima da porta de entrada, perguntando quem fora a astuciosa pessoa a coloca-la ali.

— Este foi um jantar realmente encantador, Emmett. – ela reafirmou enquanto ele a ajudava a colocar o casaco. – A comida estava incrível e o serviço impecável. – ele sorriu bem humorado.

— Fico feliz que tenha gostado. Espero que volte outra vez e possa nos ver em uma situação normal. – incentivou e ela deu uma risada curta.

— Não sei se será tão agradável quanto essa vez, mas garanto que voltarei. – ela provocou, fazendo-o sorrir mais. – Bom, foi um prazer te conhecer. – ela disse por fim. – A comida é incrível e seu restante realmente é algo a se conhecer.

— Fico feliz que tenha gostado. – ele repetiu enquanto aquiesceu.

Ela assentiu também, um curto sorriso nos lábios, levemente hesitante. Mordeu os lábios então, aproximando-se lentamente dele até que por fim ergueu um pouco os pés nos saltos altos e encostou os lábios levemente aos de Emmett. Ao se separar ele parecia levemente surpreso, embora decerto não desgostoso. Ela apontou o dedo indicador para cima.

— A culpa é toda sua. Quem põe uma coisa dessas na porta de entrada? – perguntou sorrindo e apontando para um visco pendurado na porta. Emmett lentamente sorriu enquanto observava as folhas verdes e as frutas vermelhas; aquilo era a cara de Kate. – Adeus, Emmett. – ela se despediu por fim, virando-se para sair. Emmett segurou sua mão, puxando-a de volta e trazendo-a para seus braços. Lentamente, pousou uma das mãos no rosto delicado dela, contornando seu queixo com o dedão e trazendo-a com cuidado para mais perto de si. Rosalie não apresentou nenhum obstáculo, então ele juntou seus lábios mais uma vez, beijando-a da forma mais delicada que conseguia.

— Talvez eu tenha que considerar dar um aumento a quem quer que tenha colocado esse visco aqui. – ele murmurou quando eles se separaram.

 Rosalie riu, os olhos se transformando em fendas e fazendo um sorriso de covinhas brotar no rosto de Emmett. A neve lá fora não caía mais, todo o branco já congelado no lugar, e de repente um estrondoso trovão soou, fazendo-os se sobressaltar. A loura olhou com as sobrancelhas erguidas para fora do estabelecimento, vendo com surpresa as gotas de água começarem a cair fortemente do céu. Era estranho que estivesse chovendo logo naquele dia, quando a previsão era apenas de neve e nada de água. Ela voltou-se para Emmett.

— Talvez eu tenha que voltar aqui e agradecer pessoalmente a quem quer que tenha colocado esse visco aqui. – ela respondeu por fim, um sorriso bem humorado no rosto. – Feliz natal, Emmett. - disse enquanto se afastava dele e se encaminhava para fora, dando uma piscada e acenando para o homem antes de entrar sob as gotas de água que caíam implacavelmente do lado de fora.

Emmett a observou andar rapidamente até o outro lado da rua, dando passos apressados até que por fim estivesse sob a proteção da portaria de seu prédio. Ela tirou o casaco vermelho molhado então, passando as mãos nos fios louros que agora se colavam em seu rosto e voltou o rosto para o restaurante. Ela sorriu ao ver que ele ainda a observava e Emmett não conseguiu reprimir o sorriso que o invadiu. Ela permaneceu alguns segundos ali, encarando-o, até por fim rir e morder os lábios antes de se virar e andar até o elevador. Emmett balançou a cabeça, como se para se afastar do transe em que aquela mulher o havia inserido. Ele sorriu, ainda abrigado naquela atmosfera de aconchego e calma, enquanto trancava as portas de seu restaurante.

Talvez tempestades não fossem tão ruins no final das contas.


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Notas finais do capítulo

Oi gente! Como estão vocês?

Antes de tudo, feliz natal! Falei que ia trazer uma história natalina e finalmente consegui kaka. Nunca tinha escrito história temática em datas festivas, mas como 2020 foi um ano atípico, cá estou eu com uma.

Espero que o natal de vocês esteja sendo incrível na medida do possível. Como não sei se apareço novamente antes de 2021, um muito obrigada a todo mundo que me acompanhou tão pacientemente esse ano e embarcou nas minhas histórias junto comigo. Espero que no ano que vem eu traga ainda mais para continuar vendo vocês nos comentários e trocando ideias hahaha

Um bom natal, um ótimo ano novo e que 2021 possa trazer algumas boas notícias pra gente, né?

Um grande beijo (e espero que vocês tenham gostado do meu singelo presentinho hahahah!),
Lana.