Singular escrita por WinnieCooper, Anny Andrade


Capítulo 7
Só hoje


Notas iniciais do capítulo

Só hoje - Jota quest



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 Hoje eu preciso te encontrar de qualquer jeito

Nem que seja só pra te levar pra casa

Depois de um dia normal

Olhar teus olhos de promessas fáceis

E te beijar a boca de um jeito que te faça rir

Que te faça rir

.

Hoje eu preciso te abraçar

Sentir teu cheiro de roupa limpa

Pra esquecer os meus anseios e dormir em paz

.

Hoje eu preciso ouvir qualquer palavra tua

Qualquer frase exagerada que me faça sentir alegria, em estar vivo

.

Hoje eu preciso tomar um café, ouvindo você suspirar

Me dizendo que eu sou causador da tua insônia

Que eu faço tudo errado sempre, sempre

.

Hoje preciso de você

Com qualquer humor

Com qualquer sorriso

Hoje só tua presença

Vai me deixar feliz

Só hoje

Apesar do dia na loja ter sido exaustivo Ronald resolveu ignorar o mau humor e o fato de querer se esconder embaixo das cobertas e aparatou em frente ao Ministério. Queria poder encontrar Hermione, ficar com ela sempre ajudava a melhorar o dia fosse ele como fosse.

Ficou parado do outro lado da rua encostado em um muro esperando até ela se aproximar. Com seu sorriso fácil, a roupa social e os cabelos presos.

— O que está fazendo aqui? - Sua pergunta vem acompanhada de um beijo rápido.

Ele a segura pela cintura procurando prolongar o momento por mais alguns instantes.

— Eu só queria te encontrar, te levar para casa. - Falou segurando uma das mãos da namorada.

— Dia difícil? - Hermione sabia a resposta, todos tinham alguns dias mais difíceis que outros. - Podemos caminhar um pouco antes de ir para casa.

O ruivo, vários centímetros mais alto do que ela, pareceu feliz com a sugestão. Voltou a beijá-la e apertou ainda mais a sua mão.

— Gostei da ideia. Podemos tomar um sorvete. - Seu sorriso era genuíno, o que fez com que Hermione também acabasse sorrindo.

Ela sabia que o namorado, tinha uma queda por comida e que se queria fazê-lo feliz deveria sempre oferecer algo para que mastigasse. Mas ainda achava engraçado quando ele sugeria a comida por vontade própria.

— Ótima ideia.

Enquanto caminhavam e ele fazia piadas horríveis que mesmo assim arrancavam dela gargalhadas sinceras, era possível enxergar as promessas fáceis que seus olhos faziam. Prometiam dias ensolarados, mesmo que o céu estivesse coberto de nuvens de chuva. Prometiam beijos que fazem sorrir. Prometiam tantas belezas e novidades que Hermione acabava prometendo tudo de volta.

A sorveteria estava quase vazia, mas sentaram-se no banco do jardim em frente. Suas pernas entrelaçadas, os sorvetes deixando a vida mais doce.

— Podemos ter mais dias assim? - Ela perguntou sujando o nariz dele com o sorvete.

— Posso te levar para casa todos os dias. - Ele sujou o dela de volta.

Ficaram ali, aproveitando um ao outro, o fim do dia, todas as possibilidades do hoje. E de todos os próximos dias.

.

.

.

— ... Não podemos nos encontrar hoje depois do seu expediente, estou lotada de papéis para ler e organizar.

— ...Preciso tanto de você hoje Hermione.

— Me desculpe, amanhã eu recompenso você, prometo.

Ron estava acostumado a usar o telefone público quando queria falar com Hermione no trabalho, quando ela insistia em não responder suas perguntas por coruja, mesmo que ele fosse bem insistente as vezes. Naquele dia ele precisava vê-la. Era uma quinta-feira, o serviço tinha sido horrível, precisava conversar com ela, confessar que não se encaixava no serviço de auror, pedir ajuda, uma luz, depois beijar os lábios dela, lhe arrancar um sorriso. Ele precisava disso naquele dia. Por isso foi até o restaurante preferido dela, comprou seu prato preferido, pediu para embalarem para viagem e apareceu na sala que ela ocupava no departamento de leis no ministério.

Estava envolta por vários papéis, vários livros abertos, Hermione estava tão concentrada que não notou sua presença no cômodo, estava com os cabelos mais bagunçados que o normal, suspirava cansada, tinha a testa franzida.

— Hoje eu precisava te encontrar de qualquer jeito. – já pediu desculpas prevendo que ela iria lhe dar uma bronca.

Hermione olhou o namorado, com uma expressão de inocente, estava lindo em seu uniforme de auror, sua barba estava por fazer e ela amava que ele não tivesse tempo para apara-la por hora. Notou a sacola de comida em sua mão, sempre atencioso com ela, não pensou duas vezes e se jogou nos braços dele o beijando.

Ele não resistia a ela, como poderia? Por isso beijava toda a extensão do pescoço dela, e lhe arrancava risos.

— Não devia estar aqui. – lhe deu a bronca, depois de vários beijos trocados. – Eu precisava terminar esse serviço antes de ir embora e agora vai ser impossível.

— Ah estou aqui para te ajudar.

— Você me ajudar? – ela ergueu a sobrancelha descrente a ele. – Você vai me ajudar a ter insônia essa noite, isso sim.

— Eu sei que faço tudo errado, sempre. Mas precisava te ver, hoje eu precisava te ver.

Ela não resistia a ele, como poderia? Por isso tirou todos os papéis de cima de sua mesa e jantou com o namorado, escutou tudo o que ele tinha para lhe falar, lhe confessou tudo o que precisava lhe confessar. O amou em toda profundidade do que era permitido o amar naquele dia.

.

.

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Se olhassem o relógio viriam que os ponteiros avisavam que mal tinha amanhecido, que ainda deveriam está dormindo. Mas foi com o sol despontando no horizonte, atrás dos cabelos ruivos de Rony que Hermione foi acordada naquela manhã de terça-feira. Não tinham combinado de se encontrar. Mas lá estava o jovem parado no em frente a porta, os olhos de quem não havia dormido. Uma garrafa azul em uma das mãos e algo embrulhado na outra.

— Rony? O que está acontecendo? - Hermione esfregou os olhos tentando se acostumar com a claridade. O sorriso dele meio torto de quem precisa decidir qual resposta usar.

— Que tal um café? - Ele ergueu a garrafa e deu um passo para trás esperando ela o acompanhar. Hermione ficou para a porta um pouco confusa. - Vamos?

— Estou de pijama. - Foi a resposta da garota. E realmente estava com um pijama cheio de nuvens coloridas, por cima um roupão azul como o céu ao amanhecer.

— Não faz mal, podemos ficar sentados aqui. E tomar um café. - Ele apontou para a calçada. Hermione estava achando aquilo tão esquisito, mas acabou que fechou a porta atrás de si e acompanhou o namorado até a sarjeta.

Ronald a ajudou a sentar. Abriu o embrulho de pano de prato e revelou um pão dourado e com perfume de felicidade. Conjurou duas canecas, cada dia estava melhor em todas as magias, deixando claro que o que sempre o atrapalhou foi a insegurança.

Entregou um das canecas para Hermione, o líquido negro com cheiro de energia a fez sorrir. Começar o dia com café garantia que ela conseguiria dar conta de tudo. Cortaram o pão com as mãos. Estava delicioso.

— Eu que fiz. - Rony disse casualmente, como se não fosse nada demais.

— O que? Sério?

— Sempre o tom de surpresa. - Ele disse rindo. Hermione o empurrou com os ombros. Naquela altura do relacionamento eles já tinham piadas internas e as surpresas eram as melhores possíveis. - Tive insônia.

— Você teve insônia e foi cozinhar? Se isso se tornar um hábito devo dizer que vou começar a fazer encomendas. - Hermione disse mordendo mais um pedaço do pão. - Porque claramente o dom veio da sua mãe e não podemos desperdiçar. 

— Eu estava pensando em você. - Ele disse olhando para o céu.

— Estou te dando insônia?

— Muito. Não consigo parar de pensar em você! Em nós dois juntos, fazendo um monte de coisas. - Suas orelhas começaram a queimar.

— Eu também. - Hermione suspirou. - Penso o tempo todo em nós dois.

— Sério?

— Claro Ron. Só que eu não faço pão de madrugada e nem apareço na porta da sua casa com uma garrafa de café. - Hermione sorria.

— Desculpa. É que eu precisava ouvir qualquer palavra tua, precisava tomar um café te ouvindo suspirar, me dizendo que sou o causador da sua insônia, como você é da minha. - Ele disse rápido demais. Ainda estava aprendendo a falar sobre os sentimentos. - Não só hoje.

Hermione percebeu que queria ouvir exatamente tudo aquilo, cada uma das palavras. Deixou a caneca de lado e o beijou tentando colocar todos os sentimentos nos lábios em movimento.

— Estive pensando. Nós deveríamos acordar juntos mais vezes. - Ron falou tentando não parecer ansioso, ou rápido demais.

— Deveríamos. - Hermione concordou.

Não estavam mais na idade média para sair de casa só após o casamento. Eles tinham enfrentado uma guerra. Eram bruxos. Não precisavam se prender as regras de pessoas retrógradas. Talvez fosse mesmo o momento de sentir insônias juntos.

.

.

.

Ronald Weasley não entendia porque seu pedido tinha sido tão inesperado. Eles já moravam juntos. Não agora que ele estava enfiado na casa de Harry porque tinham brigado exatamente por causa de um pedido óbvio. Se estivessem juntos a poucos meses poderia entender, mas eles tomavam café da manhã juntos, tinham escolhido dividir as insônias, as caras assustadas, o cheiro bom. Mas lá estava ela, com regras e planos que nunca podem ser quebrados.

Ele queria voltar. Queria dizer o quanto precisava dela. O quanto sentia falta de dormir colado ao seu corpo, de tomar banho junto, de ficar deitado em seu colo sentindo as mãos dela em seu cabelo. Mas permanecia emburrado na cozinha de Harry. A teimosia era um adjetivo constante em sua vida.

Não esperava que Hermione aparecesse ali. Claro que ela sabia onde ele estava, mas ele não sabia que mudar de planos por ele era um motivo já comum para a jovem Granger. Ela não planejava ter um relacionamento sério antes dos 25 anos. Queria consolidar sua carreira, estar cem por cento focada nos estudos, no trabalho, em conquistar a posição que merecia. Mas quando ele correspondeu todos os sentimentos escondidos, ela sabia que não conseguiria resistir. Estava seriamente envolvida com Ronald Weasley aos 18 anos. Foram morar juntos pouco tempo depois, muito antes do que ela planejava.

Se tinham algo que fazia com que ela ignorasse os planners todos, esse algo era Rony. Rony e seus cabelos ruivos. Rony e as sardas pelo corpo. Rony e todas as marcas das lutas que travaram ao longo dos anos. Rony e sua altura. Rony e as costas largas. Rony.

— Hoje preciso de você, com qualquer humor. Com qualquer sorriso. - Hermione disse antes que pudessem discutir. - Só você vai me deixar feliz. Só você consegue me fazer repensar meus planos. Hoje eu preciso ouvir qualquer palavra sua, qualquer frase exagerada que me faça sentir alegria em estar viva, viva e ao seu lado.

— Hermione…

— Eu gosto das regras, gosto de seguir o cronograma. De saber como vai ser meus passos daqui a cinco anos, daqui a vinte anos. Isso me dá paz. - Ele sorriu. - Mas eu amo esquecer de tudo isso ao seu lado. Eu amo quando mudamos os planos. Amo quando esquecemos do futuro e do passado. Eu te amo. Preciso de você hoje, amanhã, todos os dias de nossas vidas. Então, o seu pedido ainda está valendo?

— Claro que está. - Rony disse se aproximando dela.

— Então, eu aceito! Eu sempre vou te aceitar Ronald Weasley! Sempre. - Ela disse mais uma vez envolvendo o pescoço dele.

Já tinham perdido as contas de quantas vezes já tinham feito aquilo, mas sempre parecia ser a primeira vez. O primeiro beijo.

— Eu também preciso de você todos os dias. - Rony disse em seu ouvido.

.

.

.

Os cabelos brancos balançavam conforme o vento batia, eram ainda esvoaçantes, como quando era criança, seus olhos estavam perdidos em pensamentos, lembranças de tempos passados. Ronald queria acreditar que ela lembrava-se de tempos passados, mesmo que a doença não permitisse que ela se lembrar dele.

— Vai contar uma história para mim? – ela sorriu com os olhos brilhando de expectativa, lembrava uma criança.

— É uma história muito especial, de um bruxo que fazia magia num trem. – Ron acariciou o rosto cheio de rugas dela. Hermione sorriu com o gesto dele.

— Bruxos não existem...

— Mas para a imaginação tudo é possível não é?

Ron lembrava-se de Rose, quando pequena vivia pedindo para ele lhe contar uma história antes de dormir e ele adorava contar como havia conhecido Hermione, de uma forma mais fantasiosa.

— Continue...

— Um bruxo ruivo de 11 anos, estava tentando fazer magia para impressionar seu mais novo amigo, Harry, que era bem famoso no mundo bruxo por ter sobrevivido a uma maldição da morte...

— Tentaram o matar?

— Sim, um bruxo invejoso, incapaz de sentir amor ao próximo. Mas não quero contar essa história, quero contar a história do ruivo. – ele colocou o dedo na ponta do nariz dela. Hermione sorriu e fez sim com a cabeça para que ele prosseguisse. – Ele fazia uma mágica para transformar um rato cinza em um rato amarelo, mas sua magia não deu muito certo pois uma menina de cabelos marrons esvoaçantes entrou na cabine para procurar um sapo... Ela era bem irritante, o ruivo implicou com ela...

Enquanto Ron contava a história a mulher a sua frente que sofria de alzheimer, só pedia em pensamentos para que ela voltasse para ele naquele dia. Que lembrasse dele, dos filhos, da vida maravilhosa que compartilharam. Hoje ele precisava dela em qualquer essência, precisava da sua Hermione.

— ...Foram jogar um xadrez gigante, o menino ruivo era o...

— Cavalo. – Hermione o interrompeu. – Rony?

Ronald sentiu seus olhos se encherem de lágrimas, sentiu a mão dela lhe acariciar o rosto, ela sorriu e começou a chorar com ele.

— O que está acontecendo? – perguntou sem entender.

— Hoje você voltou para mim... – disse com a voz embargada e selou seus lábios nos lábios dela. – Senti sua falta, obrigado por voltar para mim.

— Como poderia não voltar? Se estarei sempre com você, estando aqui ou não.

Essa era a única verdade para aqueles dois apaixonados não importava o tempo, estariam ligados pelo poder do amor, do amar. Hoje. Amanhã. E sempre.


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Notas finais do capítulo

Olá, só lembrando que os capítulos são independentes sem ter uma sequência. Então várias versões desses dois são válidas. Só nos resta o último capítulo, que por um acaso da nome a fanfic. Permaneçam com a gente.



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