Parenting escrita por Foster


Capítulo 1
Ser mãe. Ser pai.


Notas iniciais do capítulo

Oieeee!!!
Primeiramente eu quero agradecer imensamente a esse projeto lindo que é Romione! Um casal como esses merece uma baita homenagem e eu não poderia estar mais feliz de estar fazendo parte!
É minha primeira romione, apesar de amar ler coisas do casal. Confesso que tive muito medo no início, mas as coisas fluíram bem e... Aqui estamos!
Espero que gostem ♥



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Com uma bufada Hermione riscou raivosamente um item da lista de supermercado.

— Sem frango por um tempo. — berrou frustrada, enquanto prendia o cabelo. Era ridículo como a sensação de calor havia aumentado consideravelmente nas últimas semanas. Sabia que era impossível entrar em combustão, mas sentia que poderia facilmente ser a primeira grávida a realizar esse feito até o final da gestação. 

— O quê? — Ronald colocou a cabeça para dentro da cozinha, parecendo chocado. — Eu amava comer frango frito às sextas feiras... 

A morena torceu o nariz, sentindo um leve refluxo ao pensar no cheiro habitual que ficava pela casa inteira, e suspirou pesadamente, encostando-se no balcão. Sua barriga ainda nem aparecia, já que estava somente de dez semanas, e com todos os enjôos que vinha sentindo, ficava cada vez mais difícil esconder de seus amigos e familiares que ela e Ronald teriam seu primeiro filho - sem ainda estarem casados. 

Não que aquilo fosse um grande problema para os Weasley ou para os Granger, não, mas todos pareciam insistir demais para que eles se casassem e, se contassem agora que estavam esperando um bebê, a pressão só aumentaria. Hermione ficava com dor de cabeça só de imaginar todo o escarcéu. 

Após o fim da guerra, ela e Ron demoraram um tempo para namorarem oficialmente, com um pedido de namoro desastrado, porém muito adorável, por parte dele, que Hermione adorou cada pedacinho. Foi durante sua formatura e ela estava particularmente ansiosa para vê-lo, já que, devido aos exames finais, haviam combinado de não se encontrarem mais aos finais de semana em Hogsmeade, como fizeram o ano todo. Esperava que ele aparecesse por lá alguns dias antes, entretanto o treinamento na academia de aurores estava ainda mais intenso. 

Quando o viu em um smoking muito elegante, desconfiou. Ronald nunca ligava para estar perfeitamente alinhado. O nervosismo do rapaz também era um indicativo de que algo estava fora da linha. Foi somente quase no final do dia, após todas as despedidas, abraços e parabenizações, que eles ficaram devidamente sozinhos, próximos ao Lago Negro. 

— É estranho estar aqui depois… — ele não precisou completar a frase. Hermione sabia exatamente o que ele estava sentindo. Para ela já havia sido suficientemente difícil retornar, então imaginava que, para ele, deveria ser cem vezes pior. Ao menos tinha a companhia de Ginny, que também precisou de um grande esforço para manter-se calma e não tentar pensar a todo instante nos horrores que haviam acontecido ali há poucos meses. 

Talvez o Salão em que faziam as refeições fosse o pior lugar, por ter sido, momentaneamente, o jazido de tantos amigos e entes queridos. Se fechasse os olhos, ainda podia ver os corpos. Nos primeiros meses de aula, os momentos das refeições eram sempre silenciosos e demorou para que, de fato, voltassem a parecer com o que eram antes. Nunca seriam os mesmos, no entanto, ao menos não com aquela turma e possivelmente com algumas seguintes, mas pouco a pouco tudo iria se ajeitando. 

Pensando em como Ron deveria se sentir estando ali, uma onda de carinho preencheu seu coração, pois sentia-se extremamente grata. Ele estava ali por ela. E também por Ginny, é claro, e certamente em respeito aos outros colegas que voltaram para se formar. Mas nos olhos azuis expressivos dele era possível detectar o tamanho da força para permanecer ali ao lado dela. Por isso, apenas o puxou para si, envolvendo-o em um abraço apertado, repleto de saudade, carinho e conforto. 

— Estou orgulhoso de você. — sussurrou ao pé do ouvido da garota, que riu pelo nariz. — Não que eu tenha duvidado em algum momento, mas se formar com méritos mesmo após tudo isso é… Uau. Você é incrível. 

— Sempre o mesmo tom de surpresa. — sussurrou de volta e sentiu o corpo dele tremer conforme ria. 

Ron se afastou um pouco, ainda segurando-a em seus braços, e a encarou por longos segundos. Hermione aproveitou e o observou de verdade, como não fazia há algum tempo. Tinha sentido mais falta dos olhos azuis cristalinos e da constelação de sardas do rapaz do que ela conseguia suportar. A partir daquele momento, sabia que precisaria vê-lo com frequência. Necessitava sentí-lo em seus braços. 

— Eu planejei fazer isso de várias maneiras. — comentou alargando a gravata. Estava nitidamente nervoso e aquilo era extremamente fofo na visão de Hermione, que tentou esconder um sorriso, compreendendo tudo. — Mas… Bem… É você Hermione e tudo que eu pensava não parecia ser… Suficiente. 

— Ronald, que bobagem… — tentou rebater, porém o ruivo negou com a cabeça, respirando fundo antes de continuar.

— O que eu quero dizer é que eu pensei em várias maneiras diferentes de fazer uma coisa, só que quando eu coloquei meus olhos em você essa tarde eu simplesmente soube que não poderia esperar momento nenhum a mais. — Ron agora estava corando e Hermione sentia o coração saltar, ansiosa pelo que estava por vir e completamente encantada por ele estar sendo simplesmente perfeito mesmo sem ter ideia de que estava. — Porque se essa guerra nos ensinou algo, e eu fui cruelmente lembrado aqui agora, é que o tempo é precioso demais para ser desperdiçado. Quis esperar você terminar o ano letivo porque sei o quanto era importante para você e como distrações poderiam te atrapalhar e-

— Ron. — ela interveio com um sorriso, trazendo-o de volta para a realidade. Ele assentiu, rindo. 

— Certo. Bem, o que eu quero dizer é… — ele retirou uma caixinha vermelha do bolso, sua mão tremia um pouco ao abri-la. Dentro, um colar com um pingente dourado encravado com pequenas rosas. — Se quiser abrir primeiro… — comentou rindo e Hermione assentiu, acompanhando-o na risada. 

Lá estava uma pequena bola de luz brilhante, que fez os olhos da morena brilharem de emoção. Ela ergueu a cabeça, sentindo os olhos marejarem ao perceber que Ronald também estava emocionado. 

— Hermione Granger. Acho que devemos ser…

— Sim! — não conseguiu se conter, soltando um riso nervoso. Não havia percebido o quão ansiosa estava. Ron abriu um sorriso gigante, enxugando os cantos dos olhos. 

— Eu não terminei de perguntar.

— Ok, certo. — colocou o cabelo atrás da orelha, respirando fundo. — Pede de novo. 

—Vou reformular, acabou não soando tão legal quanto na minha cabeça. — sibilou rapidamente e pigarreou. Hermione revirou os olhos, rindo. — Você quer namorar… 

Novamente Hermione se apressou, ao passo que ambos disseram ao mesmo tempo:

— Sim!

— Comigo? 

Riram em sincronia, abraçando-se. Ron a retirou do chão, girando-a enquanto nada mais no mundo parecia importar. E, de fato, por muito tempo não importou. Mas a vida real sempre bate à porta. 

Harry e Ginny casaram-se pouco depois de Hogwarts, em uma cerimônia simples e tão apressada que deixou Fleur e Molly Weasley de cabelos em pé com tão pouco caso. Entretanto, para os dois, algo simples e prático funcionava. Em questão de meses estavam morando juntos. Para ambos fazia sentido, já que as agendas não batiam muito com os afazeres de auror de Harry e os jogos do Holyhead Harpies e Hermione estava extremamente feliz pelos dois, tendo que conter a indignação de Ronald pela irmã mais nova ter atado o nó antes de boa parte dos outros irmãos. 

O namoro com Ronald ia bem; ele e Harry tiveram um treinamento mais rápido que o normal - vantagens de terem salvado o mundo bruxo e terem adquirido habilidades excepcionais no meio do caminho -, então em poucos meses o Potter já era Chefe da divisão de Aurores, tendo o Weasley como seu braço direito. Hermione estava em seu primeiro emprego no Ministério, começando como uma auxiliar, pois queria aprender todas as etapas adequadamente, então tinha muito trabalho e pouca remuneração. 

Um ponto em comum entre Hermione e Ronald era, justamente, a vontade de provar que eram mais do que apenas “os heróis” da guerra. Eram também duas pessoas lutando para superar traumas e conseguir sucesso em suas carreiras por mérito próprio. Não era um caminho fácil, pois exigia muita dedicação, portanto pensar em viverem juntos parecia algo distante, mas que eventualmente tornou-se realidade quando ambos foram promovidos na mesma época. 

Fora Hermione que sugerira, para própria surpresa. 

— Sabe, estive olhando alguns apartamentos. — começou tranquilamente durante o jantar de comemoração. Estavam em um restaurante chinês trouxa, em partes por Hermione apreciar a comida do local e também por ela se divertir com Ronald tentando comer alguns pratos com hashis, mesmo sem a necessidade. Ele estava tentando pegar um rolinho primavera quando ela inocentemente jogou a deixa, portanto não captou muito bem.

— Está querendo sair da casa dos seus pais? — perguntou com o cenho franzido, lutando contra o rolinho. 

— Sim… Um pouco de privacidade seria bom… Estive pensando nessa região, inclusive.

Ron fez uma careta.

— Hermione, mas essa região não é um pouco cara? Um cara do meu trabalho estava comentando que provavelmente precisaria de um colega de apartamento para poder suprir todas as contas se quisesse morar por aqui. 

Dessa vez ele tinha quase conseguido obter sucesso, entretanto o rolinho escapou no último instante.

— Ele tem razão. — falou casualmente, bebericando sua cerveja e jogando os cabelos para trás. Ronald era um pouco lerdo, especialmente quando estava concentrado em outra coisa, entretanto ela não estava irritada. Achava aquele detalhe em seu namorado particularmente adorável, na maioria das vezes. — Vou precisar de alguém para morar comigo. 

Pela primeira vez durante a conversa o ruivo pareceu genuinamente confuso, mas a expressão logo deu lugar a uma de felicidade por, finalmente, ter conseguido pegar o rolinho. Estava levando-o a boca quando Hermione decidiu ser direta:

 — Estou tentando te chamar para morar comigo de uma forma sutil.

Ron estava em choque. O rolinho caiu no prato antes de chegar até sua boca, espalhando shoyu pela mesa e a morena não conteve uma gargalhada. O namorado piscou lentamente, abrindo um sorriso enorme. 

— Eu não acredito que você pediu para morarmos juntos antes de mim. Eu estava conversando com o cara justamente para pedir mais informações sobre onde e como morar. 

Às vezes Ron fazia Hermione se questionar como era possível amá-lo ainda mais. Eram gestos como esses, dentre tantos outros, que faziam tudo aquilo valer à pena. Naquela noite sorriram e se amaram, com aquela sensação gostosa de frio na barriga pela expectativa de algo novo, juntos.

A vida a dois, no entanto, não era tão fácil. As brigas, que já eram frequentes, pareciam ainda mais fervorosas, mas, ao mesmo tempo, com resoluções mais quentes. Era particularmente agradável ter um apartamento próprio e viver longe do controle dos pais, porém um pouco estressante quando ela retornava do trabalho e não o encontrava como havia deixado. Precisava respirar fundo várias vezes e listar mentalmente coisas que a faziam amar Ronald para não gritar de frustração. No fim das contas, Hermione descobrira que, mesmo com as dificuldades, não trocaria aquilo por nada, pois ao ver o namorado ressonando tranquilo ao seu lado todas as noites, uma paz de espírito lhe preenchia, e ela tinha a certeza de que não conseguiria viver sem aquilo talvez nunca mais.

Haviam detalhes que tornavam a rotina dos dois algo muito próprio. Ron tinha no pequeno escritório do apartamento uma verdadeira coleção de jogos, pois fora apresentado ao vício pelo pai dela. Não havia nada mais divertido do que vê-lo tentando incansavelmente vencê-la nas partidas e perdendo vergonhosamente. Era ele quem sempre preparava o café da manhã e, se fosse sincera, praticamente todas as refeições, desde que não estivesse cansado demais ou envolvido em missões. Quando era o caso, ela simplesmente pedia comida chinesa, mexicana, ou qualquer que fosse a nova obsessão culinária do casal. Aos finais de semana, no entanto, tentavam sempre buscar uma receita nova. Em sua opinião não tinha nada mais sexy do que Ronald Weasley cozinhando com as mangas arregaçadas, então seu papel como sous chef acabava sendo mais como uma observadora do que realmente de alguém ativa na cozinha. Ron nunca reclamou, na realidade parecia apreciar o fato de possuir tal efeito sobre a mulher.

Hermione fazia questão de deixar alguns bilhetinhos pela casa, assim como ele, como piadas internas, insinuações ou apenas declarações de amor, já que a rotina corrida fazia com que passassem a se ver cada vez menos. O fato de trabalharem no Ministério não tornava as coisas mais fáceis, porque com tantos olhos sobre eles, não poderiam levantar fofocas a respeito de não estarem focados no trabalho. Por isso o horário de voltar para casa era tão aguardado: era onde poderiam ser Ron e Hermione, sem nenhum pudor ou sem nenhuma convenção. 

Quando Ginny engravidou de James Sirius, a pressão sobre se casarem voltou a assombrá-los. Por mais que quisessem, sabiam que estavam em um momento complicado. Haviam acabado de adquirir o apartamento e um casamento custava caro e não aceitaram dinheiro dos pais, de forma alguma. Os pais de Hermione estavam aposentados, e o pouco dinheiro que possuíam era destinado para que ambos aproveitassem, como ela mesma os fizeram garantir. Molly e Arthur também não estavam em condições muito melhores, até porque ajudaram nos casamentos de Percy e George e tinham o hábito de não negar um gasto com os netos que estavam chegando na família. 

— Me promete que vamos fazer isso só quando for o momento certo para nós. — cochichou ao pé de ouvido de Ron enquanto lavavam a louça, após um longo discurso repleto de indiretas de suas mães, em um jantar na casa dos Granger. 

— Seu desejo é uma ordem. — respondeu, beijando-a na testa. 

Muitos meses depois, relembrando aquele instante, Hermione sentia que nada realmente acontecia como o planejado e que isso deveria ser considerado na equação. Quando seria o momento certo? Ela nunca descobriria, pois agora estava grávida, e um casamento seria tudo menos adequado pelo menos nos próximos anos. 

As possibilidades inundaram a mente dela quando percebeu que a menstruação estava atrasada. Sabia que havia sido descuidada, algo que nunca é, mas após algumas taças de vinho em certa ocasião, totalmente influenciada pelo alto poder de sedução de Ronald na cozinha e o encanto de um prato afrodisíaco, acabou deixando para lá. Ledo engano achar que uma gravidez indesejada não vá acontecer com você. Não que não fosse amar a criança, mas tinha medo de que o fato de ter sido inesperado influenciasse em alguma coisa. Esperava que não. 

Depois, veio o desespero pela possibilidade de serem gêmeos, já que era algo comum na família de Ron. O que eles fariam se fossem, de fato, dois bebês? Certamente muitos cortes de gastos. E o apartamento? Não teria comprado um apartamento tão pequeno se em seus planos próximos estivesse pensando em ter filhos. O quarto até era espaçoso para comportar um bebê, mas certamente não para uma criança. Precisariam se mudar, porém quando seria o melhor momento?

Percebeu que não poderia continuar aguentando toda essa angústia sozinha e, quando estava prestes a falar com Ronald, algo lhe ocorreu: e se Ron não quisesse ter um filho agora? Hermione certamente não via que era o melhor momento, pois de fato não era, mas em momento algum cogitou não seguir em frente. E se fosse isso o que ele desejava? E se fosse o que ela desejava também, mesmo que não tenha pensado na possibilidade?

Ela queria ser mãe? Ron queria ser pai? Eles estavam preparados para serem pais? Quando se lembrava das brigas, da louça e da roupa suja acomulada em dias que estavam atarefados demais para sequer lançar um feitiço que organizasse tudo, Hermione considerava que não. Não fazia ideia como Molly dera conta de sete filhos ou mesmo sua mãe, apenas com ela, desdobrando-se entre maternidade e vida profissional.

Vida profissional… É claro, uma outra dor de cabeça. Shacklebolt já a rondava sobre o interesse em substituí-lo para o cargo de Ministro da Magia, pois sentia que queria aproveitar mais a infância dos netos. E se ele resolvesse aposentar-se dali um ou dois anos? Hermione seria capaz de assumir o cargo de Ministra com uma criança pequena? 

Estavam assistindo à Mr. Beans quando simplesmente soltou, após uma gargalhada escandalosa de Ronald, a notícia que mudaria a vida dos dois:

— Eu estou grávida. 

O ruivo precisou de alguns segundos para processar a informação e, na sequência, franziu o cenho, olhando para a barriga da namorada. As risadas de fundo vindas do programa pareciam embalar a cena praticamente cômica, se não fosse trágica, do jovem casal se encarando como se uma cratera tivesse sido aberta diante deles. E talvez fosse isso que a notícia de uma gravidez fosse, afinal. Não necessariamente apenas no sentido negativo, não. De qualquer forma, sendo esperada ou não, uma gravidez era mais do que surpreendente. Era exatamente como se uma cratera de possibilidades se abrisse à sua frente, podendo tender para o bem ou para o mal, dependendo de como encarasse a situação.

Hermione gostava de pensar que era algo mais agridoce do que qualquer coisa mais extrema. E teve certeza disso quando Rony a abraçou enquanto ela despejava todas as inseguranças que esteve pensando diante do silêncio profundo dele. 

— Vamos fazer funcionar. Vai dar tudo certo. — ela não entendia porque o tom da voz dele era tão manso, até perceber que estava derramando lágrimas. 

Aquele foi mais um dos momentos no qual Hermione sentiu que apaixonou-se pelo homem ainda mais. Ela conseguia ver nos olhos dele a felicidade pela notícia, mas Ron manteve-se tranquilo, consolando-a, pois havia percebido o quão assustada e insegura ela estava em relação àquilo. Era de uma empatia e consideração tão grande que ela não aguentou. Agarrou-o ali mesmo, em um contato desesperado por conforto. Não queria pensar no futuro, queria tê-lo e pertencer a ele sem pensar no que estava por vir. 

Entretanto, assim que terminaram, ainda ofegantes e nus, com Mr. Beans mutado na TV e um silêncio pesado oprimindo-os, foi inevitável não falar a respeito, afinal o fantasma da notícia estava rodeando-os. 

— Eu estou feliz. — afirmou depois de um tempo, tomando fôlego. — Só estou preocupada. 

— Vamos nos preparar. — ele garantiu, buscando a mão dela para um aperto. — E vamos fazer dar certo. E vamos ser os melhores pais do mundo para essa pequena. — sorriu enquanto acariciava a barriga de Hermione, que ria. 

— Pode ser um pequeno. — comentou depois de um tempo, colocando a mão sobre a dele. Sentia-se estranha com aquele gesto, porque ainda parecia inconcebível que havia algo crescendo dentro de si, entretanto os cinco testes de gravidez no banheiro confirmavam. 

O exame de sangue e o ultrassom que fizeram naquela semana também reafirmaram o que Hermione já sabia, o que trazia uma leve sensação de desespero, já que não tinha nenhuma margem de erro. Era real. Existia. Iria acontecer. Já estava acontecendo. A imagem em preto e branco com um pontinho que dali poucas semanas deixaria de ser um embrião e viraria um feto estavam fixadas em sua retina.

Manter tudo em segredo, até entrar no segundo trimestre de gestação, por garantia, estava sendo difícil. Enjôos matinais estavam sendo disfarçados no escritório por enjôos oriundos de estresse e recusa de convites a jantares nas casas dos pais - como prevenção a enjôos e novas comidas retiradas da lista de liberados - se tornavam cada vez mais frequentes.

Não estava sendo fácil, também, precisar abrir mão de tantas coisas. Hermione não tinha dificuldades em adaptar-se às situações quando necessário, mas isso não significava que ela não sentisse falta de algumas, e no caso ela definitivamente morreria de saudades de frango frito, mesmo ciente do cheiro que parecia impregnar em todo o canto.

Por isso suspirou fundo diante do namorado, claramente frustrado por precisar cortar algo tão gostoso da alimentação. Não era justo que ele tivesse que privar-se também. Hermione esperava sinceramente que, após o nascimento do bebê, pudesse saborear um bom frango frito sem pensar em correr para o banheiro. Era, talvez, uma das coisas pelas quais ela estava mais ansiosa, apesar de parecer racionalmente muito desproporcional, afinal com um filho recém nascido a última coisa que ela deveria estar pensando era em voltar a comer suas comidas favoritas. Entretanto, simplesmente não conseguia evitar. 

— Você pode comer frango frito no Harry. — falou massageando as têmporas após encarar o homem por longos segundos. Só esperava que ele lembrasse de escovar os dentes antes de beijá-la após comer. Não seria pedir demais. Ron comemorou de leve, tentando não parecer muito animado em respeito à esposa.

— Vou aproveitar e treinar minhas habilidades de pai com o James. 

— Só não seja tão óbvio. — murmurou lançando um olhar severo. — Harry vai perceber se você perguntar demais sobre coisas específicas.

 — Anotado. — bateu continência e aproximou-se para beijar a mulher. — Mas eu poderia, sabe, contar para ele. Vamos dar a notícia para todo mundo no final de semana, de qualquer forma. 

Era o aniversário de casamento de Molly e Arthur e todos estariam lá, até mesmo os pais de Hermione, então ambos decidiram que seria a oportunidade perfeita para revelar. Talvez fosse, mas não diminuía a sensação de ansiedade e desespero em  Hermione. 

— Quando contarmos para alguém vai parecer real demais. — justificou, acariciando os braços de Ron, que parecia frustrado, apesar de tentar com todas as forças disfarçar. Sabia que, se dependesse de Ronald, todos teriam ficado sabendo no mesmo dia que ele, mas Hermione tinha medo de revelar e o pior acontecer. Não saberia como lidar com sua própria perda e com a pena de toda a família. E agora que estava habituando-se à ideia, não queria compartilhá-la, mesmo que se tratasse de Harry e Ginny. Quando falassem não teria volta e, de repente, tudo se tornaria sobre o bebê. Fora uma das coisas que a própria cunhada lhe falara: quando uma mulher engravida, já não é sobre ela, e sim sobre a criança. E continua sendo assim depois do nascimento. E só piora. 

Poderia ser um pensamento egoísta, no entanto Hermione ainda queria sentir-se como si mesma: a mulher que salvou o mundo bruxo, que construía uma carreira sólida no Ministério e tinha ao seu lado um dos homens mais carinhoso do mundo. Não queria passar a ser apenas “a mãe”. Todos os dias mudava algo em sua rotina por conta do bebê e, cada vez mais, sentia-se menos como ela. Todas as vezes que ela dizia que gostaria de esperar e ele lançava um olhar incomodado, Hermione tinha vontade de compartilhar seus pensamentos, mas nunca de fato falava, pois sabia que ele não entenderia. Ronald nunca seria “o pai”, ou menos não somente isso. Era diferente, muito diferente. 

Conforme o dia se aproximava, no entanto, parecia muito mais aterrorizante falar aquilo na frente de todas as pessoas próximas de uma vez. Receberia uma avalanche de perguntas, parabenizações e abraços e não sabia se estava preparada. Estava feliz com a gravidez, mas não suficientemente contente, se comparado à Audrey, com a gravidez da caçula Lucy, quatro anos antes, ou como Angelina, com os gêmeos Fred e Angelina no ano passado. Não iria nem pensar em Fleur, com o nascimento de Victoire, o que parecia uma vida atrás. Talvez a única pessoa com a qual Hermione pudesse comparar-se era Ginny, que pareceu bem tranquila o tempo todo. 

Desejou ter ouvido Ronald e contado à ela e a Harry primeiro. Era difícil admitir que, em relação à gravidez, Ron estava tendo mais razão do que ela. Precisava dos melhores amigos, e percebeu apenas quando estava de pé no meio de todos os Weasley, sem ter coragem de anunciar.

Os enjôos aumentavam a cada minuto que passava e a morena já estava sem desculpas para recusar comida. Tudo parecia lhe embrulhar o estômago. Foi na terceira corrida ao banheiro que ela ouviu uma batida na porta. Gelou por um instante, terminando de enxaguar a boca e ajeitar-se para verificar quem era, pensando em dar uma desculpa qualquer. Deu de cara com uma Ginny sorridente e de braços cruzados.

— Ou você está com uma virose forte e é bom ficar bem longe do James, porque tudo o que eu não preciso é um bebê com febre e diarreia, ou você está grávida. — falou sem rodeios, arqueando uma sobrancelha. — É isso ou Ronald está estranhamente interessado em partos sem motivo algum. 

Hermione revirou os olhos pelo namorado não saber se controlar, mas estava sorrindo. Ginny a abraçou no ato.

— Não vou te parabenizar, porque sei que ouvir isso a todo instante é uma droga e acredite, você ouvir isso umas vinte vezes só hoje. Eu juro, quando foi comigo eu quis gritar. Mas quero que saiba que vamos todos amar muito essa criança. E você tem todo o direito de surtar e não achar isso tão mágico e incrível como as senhoras Weasley perfeitas acham. — as duas gargalharam juntas, lembrando-se dos discursos cheios de vivacidade das cunhadas, que logo mudaram depois da realidade pós-parto chegar. 

— Eu sabia que deveria ter recorrido à você antes. 

— Provavelmente. Mas eu teria surtado junto com você, porque, bem… Harry não sabe que não é cortês engravidar a esposa novamente com um bebê de menos de um ano para criar… 

A morena se afastou abruptamente da amiga, arregalando os olhos.

— Nós estamos grávidas juntas! — foi mais uma afirmação seguida de uma forte exclamação do que uma pergunta, porém mesmo assim Ginny confirmou, sorrindo.

— Eu não acredito que vou ter que empurrar outro bebê pela minha vagina daqui quatro meses. 

— Ginny Weasley-Potter, como você escondeu uma gravidez por cinco meses? — indagou atônita, apalpando a barriga da ruiva. Hermione percebeu uma leve saliência, mas muito bem disfarçada com o vestido vermelho larguinho.

— Os treinos após o nascimento do James foram bem intensos. — a tentativa foi de descontração, mas havia um sorriso ligeiramente triste no rosto de Ginny, que fez Hermione respirar fundo. 

— Você vai largar o quadribol? 

— Com um bebê pequeno e Harry sendo chefe do departamento já estava sendo difícil, mas com um recém nascido… — a ruiva balançou a cabeça, passando os dedos pelos cabelos curtos. Hermione pendeu a cabeça para o lado, suspirando. Orgulhava-se imensamente de quem Ginny se tornara: uma jogadora de renome, extremamente dedicada e reconhecida por isso. Sabia o quão seria difícil para ela se afastar da posição, entretanto o sorriso que a mulher abria toda vez que James Sirius impressionava a todos com qualquer coisa mínima faziam Hermione ter certeza de que, independente do que viesse, ela amaria seu filho - ou filha, como insistia Ronald. 

Ambas voltaram para a festa com o pacto de contarem juntas para sofrerem menos assédio da família. Não funcionou, pois a explosão de felicidade foi gigantesca mesmo assim.

— Por Merlin, abriram a fábrica dos Weasley nesses últimos anos, foi? — George falou alto, arrancando gargalhadas de todos. 

Por um bom tempo Hermione sentiu-se aliviada ao contar a novidade, até a dor de cabeça começar:

“Você já tem enxoval? É bom começar logo, pois você não vai ter tempo quando o nenê nascer.”

“Vai colocá-lo na escolinha trouxa? Você sabe que nós, bruxos, fazemos uma educação caseira de qualidade.”

“E o apartamento de vocês? Não é pequeno demais para um bebê?”

“Espero que esteja tomando todas as poções necessárias, querida. O bebê precisa crescer forte!”

“Sua rotina no Ministério não é pesada demais? Talvez reduzir as horas seja interessante, até porque quando o nenê nascer você obviamente vai largar o emprego”

“Estou dizendo a você, procure um médico trouxa. Os medibruxos do St. Mungus não sabem nada sobre bebês! Mas isso deve ser fácil para você, já que é nascida trouxa.”

“Você precisa ler os livros que eu li! Eu não teria conseguido passar pela minha gravidez sem eles. Mas se tratando de você, sei que já deve ter devorado tudo que existe.” 

Hermione quis fugir. Dava desculpas sempre que um dos integrantes da família tentava conversar sobre a gravidez. Respirou aliviada quando encontrou um momento de paz na cozinha e Ginny a alcançou, bufando.

— Achei que fosse melhorar a situação, mas começaram a falar sobre partos na mesma data, sendo que teremos alguns meses de diferença entre os dois. O clã Weasley fica mais maluco a cada ano. — ela balançou a cabeça negativamente e Hermione assentiu, passando a mão pelos cabelos cacheados.

Após a revelação tudo mudou. Apesar de já ter procurado alguns livros e ter assistido a alguns documentários, Hermione sentiu que precisava de mais e, quanto mais se aprofundava, mais percebia que nunca seria o suficiente. O segundo trimestre já não contava com tantos enjoos, no entanto as mudanças físicas começaram a ficar mais evidentes. 

Preferiram não saber o sexo, o que, na opinião de todos, era uma loucura. Apenas Ginny não fez objeção, pois ela mesma não quis saber o sexo do primeiro filho. A diferença é que agora não havia como sustentar o mistério: precisava ser prática tendo um pequeno e outro à caminho, então já havia descoberto que teria outro menino. Apesar disso, recomendou que Hermione não ligasse para a pressão dos familiares e fizesse o que quisesse.

O problema é que a todos os encontros familiares novas opiniões surgiam sobre como ela deveria lidar com a gravidez e com o recém nascido. Se via perdida entre indicações de Molly, Fleur, Audrey, Angelina e de sua mãe. Apesar de todos os esforços em ajudá-la, recebia mais olhares de julgamento ao revelar que não faria nada como elas estavam indicando do que realmente apoio. 

Com Ginny aproximando-se da data do parto, Hermione não quis mais incomodá-la com suas inseguranças. Harry estava tão surtado quanto a esposa, então não seria de muita ajuda. Tampouco Rony estava disponível. Ele queria, mais do que tudo, ter tempo para ela e o bebê quando chegasse o nascimento, por isso estava correndo para adiantar a papelada mais pesada do trabalho, indo cada vez menos em missões, mas em compensação ficando até mais tarde no trabalho.

Apesar da ausência dele, Ronald era extremamente presente quando Hermione precisava de companhia nas consultas e em atividades do dia a dia. A verdade é que ambos estavam se desdobrando, entretanto a morena não deixava de se sentir sufocada a cada semana. 

Encontrou consolo quando os primeiros chutes foram sentidos e pegou-se chorando de emoção. Cada célula de seu corpo vibrava e ansiava para tê-lo junto a si logo, mas, ao mesmo tempo, tinha receio de não conseguir conectar-se com o bebê logo de cara. E se rejeitasse seu leite? E se Hermione o pegasse no colo e não sentisse aquele afeto instantâneo que as mães sentem? E se? E se? E se?

Eram tantas as possibilidades e tão poucas respostas em livros que, a cada dia, era difícil. Cogitou procurar ajuda, porém isso significaria assumir que estava despreparada e que provavelmente seria uma péssima mãe. Sabia todas as informações técnicas, entretanto não deixava de se perguntar: como se desdobraria para cumprir tudo aquilo e acertar? Como teria certeza de que suas escolhas de criação estavam corretas, mesmo sabendo que procurou em todos os lugares possíveis e que estaria fazendo o que acreditava ser melhor, se ao ver que as mulheres de sua família faziam totalmente o oposto, sentia-se tão em dúvida? Como ser mãe, esposa e manter um trabalho?

Manter um trabalho… Estava com sorte que ainda não haviam chutado ela de sua cadeira após ser diagnosticada com altos níveis de estresse e pressão alta. Sabia que precisaria controlar isso se quisesse permanecer no Ministério até o fim da gravidez. 

Mulher… A ideia de um casamento estava distante, ela sabia. Era loucura fazer aquilo naquelas circunstâncias, no entanto, por que se sentia frustrada de Ronald nunca mais ter abordado o assunto?

Ser mãe… Estava cansada de ter inúmeras dúvidas em um dia, apenas para repassá-las em sua cabeça no dia seguinte, relendo trechos que a confortassem momentaneamente, somente para lhe criarem uma outra dúvida. Era o que pensava vinte e quatro por dias e gostaria de não o fazer apenas por alguns momentos.

Por isso esforçava-se para fazer coisas que nunca antes teria feito se não fosse numa situação de desespero como aquela. Sentia-se culpada por não estar pulando de alegria, então todas as suas entranhas gritavam por uma pausa. E assim ela o fazia, investindo em aulas de yoga, arriscando algumas sessões sozinha no cinema, aventurando-se na cozinha e, pela primeira vez em anos, conseguindo fazer mais do que pratos simples como macarrão com molho sem a ajuda de Ron. 

Precisava manter-se ativa a fim de aliviar a mente, o que funcionou por alguns meses, porém o cenário mudou drasticamente quando, após um sangramento, recebeu a notícia:

— Você precisará de muito repouso. E é mais indicado que se afaste do trabalho, pelo bem do bebê. 

De uma hora para a outra todas as atividades que ela vinha fazendo foram cortadas e Hermione se viu no olho de um furacão ainda mais intenso do que o outro, porque agora tinha a preocupação extra de não fazer nada que ocasionasse em um aborto. Já havia chegado tão longe que, só de cogitar aquela ideia, sentia os olhos se enxerem de lágrimas, pensando em todas as noites que deixou de acariciar a barriga e contar alguma história, apenas para passar um tempo e se sentir mais próxima do bebê, imaginando que, se não fosse cuidadosa, talvez não tivesse outros dias como aquele e sequer chegaria a tê-lo em seus braços. 

Foi quando quase sucumbiu. Não podia sair de casa, tentar pratos novos não a apetecia mais e os programas na televisão já não pareciam tão atrativos. Não sentia o calor de Ronald há semanas e sabia que parte disso era sua culpa, pois o repelia sempre que tentava se aproximar, mas era tudo por precaução. 

E então Ronald parou de ir para o Ministério, passando a fazer o serviço de casa, alegando que seria para a melhor, para cuidar de Hermione, o que só piorou as coisas. A convivência era pesada, com inúmeras palavras não ditas pressionando o ambiente, de modo que Hermione se questionava o que é que havia acontecido com eles. 

Ronald sabia que a namorada estava nervosa com ele por algum motivo, mas não queria atordoá-la, então ficava em silêncio. O silêncio do namorado fazia Hermione querer arrancar os cabelos, pois não conseguia acreditar que ela era a única à beira de uma síncope. 

Havia frieza, havia receio, havia angústia. E até mesmo durante as refeições, nos poucos momentos em que podiam relaxar um pouco, o peso do enorme elefante branco entre os dois foi sentido.

— O que acha de um chinês hoje? — o ruivo sugeriu baixinho, enquanto massageava a nuca. O trabalho parecia ser ainda mais cansativo e extenso em casa, então o tempo para cozinhar era escasso. Hermione não reclamava, pois pedir comida significava não precisar lidar com bagunça depois e não ter cheiro de comida pelo apartamento todo. 

— Pode ser. — Hermione arriscou um mínimo sorriso apesar do tom de voz desanimado. Estava folheando um livro, percebendo que nem isso a deixava tão animada mais. Não se reconhecia, mas ao menos conseguia fingir sorrisos.

— O de sempre?

— Claro. 

Após alguns instantes, Ronald retornou com um semblante triste. 

— Eles… Fecharam.

— O quê? — os olhos de Hermione quase saltaram da órbita e ela se levantou de um salto, cambaleando para trás com a rapidez do movimento. Com o susto, Ron correu para ajudá-la a levantar, mas ela dispensou as mãos deles assim que ficou firme. — Desde quando?

— Bem, aparentemente quem está lá agora já está há uns três meses…

— Eu não acredito nisso. — resmungou com lágrimas nos olhos. Sabia que era uma reação exagerada, mas simplesmente não conseguia se controlar. — Era nosso restaurante favorito…

— Vamos encontrar outro. — o homem tentou, em vão, pois Hermione apenas ficou mais irritada. 

— Como se fosse simples assim. Não será a mesma coisa, e você sabe. — passou a mão pelos cabelos recém cortados após um surto devido ao calor irritante que ainda sentia e só piorava quando estava estressada. — Tudo está mudando. Tudo nessa droga de vida está mudando. 

Ron deu um passo para trás, sentindo que Hermione não estava surtando só pelo fato de seu restaurante favorito ter fechado. Mesmo assim respirou fundo e tentou ignorar. Não iria cavar aquilo agora.

— Calma, vou tentar encontrar o antigo dono, quem sabe ele não abriu outro… 

Ela soltou uma risada de escárnio.

— Obrigada por tentar, Ronald. 

— É o que eu estou tentando fazer. — resmungou ficando ligeiramente irritado. 

— E por isso estou parabenizando-o. — rebateu ácida. 

Ron passou a mão pelo rosto, respirando fundo, e Hermione semicerrou os olhos.

— Eu estou irritando você, é isso? 

— Há algum tempo. — falou rapidamente, se arrependendo em seguida. 

— Perfeito. — Hermione riu pelo nariz, mesmo que derramando algumas lágrimas. — Pois você também está me irritando faz algum tempo. — cruzou os braços e ergueu o rosto, sabendo que aquela pose o irritava profundamente, como exatamente aconteceu. 

— Por que eu estaria te irritando sendo que estou tendo a maior paciência do mundo? 

— Porque você é inatingível! — esbravejou lançando os braços ao ar. Soltou o ar, aliviada por ter finalmente dito, mas definitivamente não disposta a parar agora que havia começado. — Você não precisa se preocupar em dar um passo em falso e acabar tirando a vida do seu próprio filho. Você não precisa passar por todas as mudanças físicas e hormonais. Você não precisa dormir pensando em como vai ser quando a criança chegar e acordar pensando a mesma coisa depois de ter sonhado sobre isso, ou melhor, ter tido um pesadelo. Para você é fácil, Ron. — ela deixou a mão cair ao lado do corpo, fungando o nariz. — Você já é um pai. Está adiantando tudo para poder ficar com nós duas porque é um excelente pai, enquanto eu tenho que passar por todas essas merdas e ainda ter que me preocupar em ser uma boa mãe, porque sinceramente, Ronald, eu acho que não vou ser uma boa mãe.

Sua voz quebrou com a última frase e ela assustou-se com a própria declaração. Não havia, até aquele momento, realmente considerado que seria uma mãe ruim. Porém ali, discutindo com Ronald e colocando tudo para fora, as coisas pareciam mais claras. Hermione tentava tanto, mas dificilmente atingiria um resultado positivo. Todo aquele maldito preparo estava sendo uma verdadeira cortina de fumaça. Talvez não tivesse nascido para ser mãe, se é que existisse tal coisa como vocação ou instinto materno. Esperava que não existisse, na verdade, porque isso só confirmaria sua teoria de que ela estragaria tudo. 

Ron passou as mãos nervosamente pelos cabelos.

 — Você acha que eu estou tranquilo e simplesmente já sei o que fazer? Que já sou um bom pai? Todos os dias eu acordo pensando que seria interessante que acontecesse algum acidente não muito grave, mas apenas grande o suficiente para que eu precisasse me afastar do cargo, porque não quero viver como antes, correndo atrás de bandidos sem me preocupar em levar uma maldição imperdoável. — ele respirou fundo antes de prosseguir, tentando organizar os pensamentos e tomando cuidado com o que falaria na sequência. — Eu quis me tornar auror para continuar combatendo o que passamos nossa vida inteira lutando contra. Não que eu não me importe em morrer, é lógico que sim. Não quero deixar você, nem minha mãe, nem meus irmãos ou Harry. Mas eu sei que vocês entendem o porquê de eu fazer isso. Só que… — o tom de voz firme dele vacilou. — Com a gravidez… Me apavora a ideia de ser convocado para uma missão e... Morrer. Sem nem ao menos conhecer minha filha. Ou filho. — corrigiu-se com uma pequena risada, mas Hermione não sorriu, por isso ele pigarreou e voltou a falar. — Estou pensando nisso vinte e quatro horas por dia também, Hermione. Posso não estar sofrendo fisicamente tanto quanto você e isso aqui também não é uma competição de quem está sendo mais afetado pela gravidez. Só estou dizendo que também não estou pronto, muito menos calmo. Por Merlin, a última coisa que estou é calmo! Estou fazendo em dias serviços que deveriam ser feitos em semanas apenas por medo de ir trabalhar… E estou tentando não aparentar por você, porque sei que você está lidando com muitas coisas. Sei que não é fácil, mas nunca imaginei que… — ele se aproximou da amada, estendendo um braço cautelosamente para acariciá-la. Hermione não se afastou, então ele a alcançou. — Nunca pensei que estivesse sendo tão difícil para você. 

Hermione piscou com força, ainda sem acreditar, deixando as lágrimas caírem. Sentiu toda a vontade que tinha de brigar esvair-se de seu corpo. Olhou para Ronald e um peso saiu de seus ombros. Ele estava ali, como sempre estivera, e provavelmente tão desesperado e receoso quanto ela. Sequer tentou conter um suspiro de alívio. Não estava sozinha, afinal. Seriam pais e fariam dar certo, juntos. 

— Eu sinto muito. — falou em meio à voz embargada. — E também eu… Sinto sua falta. — confessou. — Me sinto sufocada por não ter contado tudo isso antes. É que parece…

— Assustador dizer em voz alta. — concluiu e Hermione assentiu. — Também não falei com ninguém sobre meus receios… Harry não hesitou em manter a rotina de auror quando Ginny engravidou pela primeira vez então… Eu sei que é bobagem, mas me senti fraco por não ter o mesmo posicionamento. Tudo bem que minha irmã praticamente o ameaçou de morte se ele não parasse de bancar o herói por aí… — ambos riram entre as lágrimas. — Só que quis tentar não falar nada. Sei que se eu tivesse falado, Harry não hesitaria em me ajudar sem que eu precisasse preencher papelada por dias a fio. 

Não havia muito o que ser dito. Era um momento de desabafo e conforto silencioso, como costumavam fazer quando simplesmente palavras não eram suficientes. Estavam abraçados, balançando-se lentamente, quando Hermione soltou uma risadinha. 

— Estamos perdendo a mão nas brigas. Amolecendo rápido demais. 

— Eu comecei a perceber isso quando você vinha brigar comigo com alguns botões da camisa aberta. — sussurrou ele ao pé do ouvido da morena, que suspirou, sorrindo. 

— Estou feliz por ter falado. E por você também ter compartilhado. Sinto que… As coisas vão funcionar. De um jeito ou de outro. Sem pressão e sem expectativas.

— Apenas um dia após o outro. — concordou, apoiando o queixo na cabeça de Hermione. — Com muitos surtos, provavelmente, mas acho que vai ser mil vezes menos horrível e assustador com um colocando o outro no chão.

A morena não conteve um sorriso largo.

— Exatamente o que eu estava pensando. 

— Sabe, eu vi isso numa série… — Ron começou, enrolando uma mexa do cabelo de Hermione em seu dedo, pois amava o cheiro de rosas que emanava dele quando balançado. — E se falássemos em voz alta todos os nossos medos mais profundos, em situações absolutamente absurdas? Assim veremos que é tudo coisa da nossa cabeça ou ao menos estaremos preparados para o pior. 

Foi a deixa para Hermione gargalhar com força. 

— Não acredito que você está citando This is Us para mim! 

— Você assiste isso todo dia, Hermione, e as paredes desse apartamento não são exatamente grossas. Depois de um tempo fica interessante preencher papelada com a série passando ao fundo. — ele deu de ombros e a mulher ficou indignada. 

— Eu não sei se estou surpresa com você assistindo a uma série trouxa sem mim ou por você não estar se dando ao trabalho de apreciá-la de verdade colocando-a de fundo enquanto trabalha, Ronald. Mas eu gostei da ideia. — limpou rapidamente as lágrimas, respirando fundo. — Já que você sugeriu, comece você. 

— Tenho medo de não ser um bom pai. — falou o óbvio. — E aí ela, ou ele — acrescentou diante do olhar de Hermione — acabe querendo se vingar de mim fazendo coisas horríveis, como colocar um piercing aos catorze anos ou namorar algum delinquente… Os Malfoy vão ter um filho, sabia? 

— Sério? — Hermione sorriu com a notícia, mas logo ficou séria diante do olhar de Ron. — Não vá me dizer que você já está confabulando em colocar nossos filhos como inimigos? 

— Imagine se nossa filha se apaixona pelo filho de um Malfoy? 

— Ronald!

— Ou nosso filho. — corrigiu-se erguendo os braços. — Sabe eu não teria nada contra, desde que não seja um Malfoy. 

— Seus receios são puramente ciúmes. — observou a morena e, apesar de relutar inicialmente, Ron acabou concordando com uma careta. 

— Revele os seus então, se está tão certa de que são melhores que os meus. 

— Tenho medo dele… Ou dela… — acrescentou com um sorriso. — não me amar. 

Ron debochou e Hermione afastou-se para cruzar os braços. 

— Tão absurdo quanto o meu receio. — respondeu diante do olhar inquisidor dela. 

— Claro que não.

— É óbvio que sim. — insistiu, voltando a envolver Hermione em seus braços. — É impossível não te amar

O sorriso alastrou-se pelo rosto da morena, que jogou os braços em torno do pescoço do namorado, beijando-o com profundidade. 

— Acho que não sabemos jogar esse jogo direito. — sibilou contra os lábios do ruivo, que concordou. 

— Melhor deixar isso para os Pearsons. 

— Eu ainda não acredito que você está assistindo sem mim.

— Podemos corrigir isso agora. — comentou entre o beijo, indicando o sofá. Hermione negou com a cabeça, sorrindo de canto.

— Estou com outra ideia no momento.

Ao compreender o que ela queria dizer, Ron sorriu, pegando-a no colo. 

No dia seguinte Hermione foi acordada por uma Ginny Weasley animada, porém claramente desconfortável - e não à toa, pois a previsão para o nascimento do bebê seria dali cerca de uma semana -, então agradeceu por ter vestido sua camisola depois da reconciliação com Ronald.

— Se fosse em outras circunstâncias você pode ter certeza que eu faria um escândalo e armaria todo um esquema para te surpreender, mas sei que sua pressão não pode ficar alterada por nervosismo, então vou ser direta — a ruiva se sentou com dificuldade na cama e respirou fundo, sorrindo para a amiga — Hoje é vinte e quatro de outubro, poderia facilmente ser qualquer dia, mas será o dia do seu casamento. 

Hermione arregalou os olhos, sentando-se na cama com pressa. 

— Como é que é?

— Vinte e quatro de outubro, Hermione. — brincou Ginny.

— Não, não… A parte do casamento… — ela levou as mãos à boca quando Fleur entrou no quarto com um belo vestido branco, junto de Angelina e Audrey. 

— Ronald teve essa ideia logo pela manhã… — Fleur estava emocionada, encarando o vestido.

— Enviou um patrono para toda a família. — Angelina comentou rindo e Audrey concordou, complementando:

— Nesse momento nossa sogra está quase tendo um infarto tentando arrumar tudo à tempo lá na Toca. 

— Esse vestido… — ela se levantou calmamente, analisando-o com o cenho franzido.

— É o de sua mãe! — Fleur soltou um gritinho. — Ela e seu pai estão ajudando nos preparativos.

 — Que horas são? — foi o primeiro instinto que teve. — São dez da manhã, como Ron organizou tudo isso? 

— Sempre achei que ele fosse o sortudo em ter você. — começou Ginny, se levantando com a ajuda de Audrey. — E a quem queremos enganar, ele é. — as outras mulheres riram um pouco e Hermione balançou a cabeça, ainda atordoada. — O mais incrível disso tudo é que você também é extremamente sortuda por tê-lo, e é isso que faz de vocês dois um casal perfeito, mesmo que as brigas digam o contrário. — a ruiva se aproximou e segurou a mão da amiga. — É ridículo dizer que vocês serão felizes juntos, porque vocês já são. Mas certamente vocês serão ainda mais felizes, eu tenho certeza. 

Foi o que bastou para as duas caírem no choro, arrastando as cunhadas para um abraço coletivo repleto de risos e lágrimas. 

Os ajustes que Fleur realizou no vestido foram absolutamente perfeitos e Hermione agradeceu à existência da magia por deixá-la ficar simplesmente deslumbrante naquele vestido que era muito menor antes. As mangas bufantes haviam sumido, dando espaço a mangas ¾ transparentes. O modelo fora adaptado para que a barriga ficasse confortável e o leve tecido fazia com que Hermione sentisse que poderia flutuar. A abertura nas costas foi obra de Ginny, que garantiu que, àquela altura do campeonato, tudo o que ela não gostaria de passar era calor. 

Estava satisfeita. Iria se casar em algumas horas e não poderia estar mais feliz. Não sentia-se nervosa, pois sabia que aquilo era para acontecer. Na realidade, não se sentia tão calma há tempos. 

Ouviu uma agitação do lado de fora e sorriu para sua sogra e sua mãe, uma segurando um véu e a outra um buquê de rosas coloridas, suas favoritas. 

— Querida você está deslumbrante! — Molly depositou um beijo molhado na bochecha da nora, que sorriu. — Este é um empréstimo meu. — ela estendeu o véu e Hermione sorriu, sentindo os olhos voltarem a lacrimejar. — Não chore, meu bem! Vou até reservar todos os meus votos de felicidade para depois da cerimônia! Prometo que não vamos chorar. — apesar disso, Molly já chorava, por isso tratou de se afastar para abrir espaço para a mãe da noiva.

— Diretamente do nosso jardim de rosas, para minha flor preferida. — comentou com um abraço caloroso. Hermione sorriu abertamente, inalando o perfume que tanto fizera parte de sua infância. 

— Por Merlin, vamos todas chegar inchadas de tanto chorar nesse ritmo! — Fleur comentou, assoando o nariz, e todas riram. — Onde está a dama de honra pra dar um jeito na situação? 

Hermione percebeu que sequer havia pensado nisso devido à toda rapidez que o casamento se desenrolara, mas imediatamente buscou o olhar de Ginny, que sorriu.

— Achei que nunca fosse perguntar! 

Quando a sogra e a mãe de Hermione saíram, um novo tumulto se iniciou, pois Ronald havia invadido o quarto e agora mantinha os olhos fixos na futura esposa, completamente admirado. 

Apesar dos protestos de todas as mulheres ali presentes, Ron não se retirou. Quando elas repararam que ele e Hermione se encaravam apaixonadamente, Ginny fez seu papel como Dama de Honra, tirando todas dali e dando privacidade para os dois. 

— Você… — a voz saiu entrecortada. — É linda. 

Ela não deixou de sorrir diante do uso de “é” ao invés de “está”. Antes que ela pudesse elogiá-lo de volta, Ron começou a andar pelo quarto, nervoso. 

— Eu pensei nisso a noite inteira, sabe, depois da nossa reconciliação e de tudo oq ue conversarmos. Soube que não queria passar mais um dia sequer sem poder chamá-la de minha esposa. Fiz Harry me receber de madrugada para planejar tudo e meus gritos de exasperação quase acordaram minha irmã e o James… Eu pensei em todos os detalhes. Ou quase todos. — ele parou, vindo em direção a Hermione à passos largos. — Eu tinha tanta certeza que… No primeiro horário do dia corri para falar com seus pais, e depois os meus, e mandar todos os patronos… Acabei me esquecendo de falar com a pessoa mais interessada nessa história. 

— Seria bom saber que eu iria me casar antes da família inteira. — brincou cruzando os braços, entretanto Ronald não sorriu. Hermione percebeu que ele estava mais sério do que ela vira em toda sua vida, com exceção talvez do pedido de namoro e do primeiro “eu te amo” trocado. Percebeu que gostava desses momentos sérios e intensos de Ron e guardava-os com todo o carinho em seu coração.

— Você merece um anel. 

— Eu vou ter um, assim que nos casarmos. — falou como se fosse óbvio.

— Não. — ele negou com a cabeça, tirando uma caixinha do bolso. — Ele está comprado há tanto tempo… Estava esperando pelo momento certo para te dar… — e então Hermione viu uma peça que faria um conjunto perfeito com o medalhão que ganhara de Ronald no dia de sua formatura, oficializando o namoro. 

Ela não pôde acreditar. Talvez realmente fosse a peça do conjunto daquela peça de anos atrás, com os mesmos detalhes de rosas incrustadas no anel e um belo diamante reluzente no centro.

 — Isso não é…

— Eu o tenho desde aquela época. — admitiu em um suspiro, fazendo com que Hermione levasse a mão à boca, ainda sem acreditar muito bem. — Eu já sabia que você era a mulher com quem eu queria construir minha vida, casar, ter filhos e envelhecer… Mas não poderia simplesmente te pedir em casamento e manter um noivado por anos a fio. Além do mais, você tinha acabado de sair de Hogwarts, nem namorávamos para valer… Acho que se eu te pedisse em casamento antes de pedir em namoro, você fugiria. — sorriu sem jeito. — Quando eu dizia que tinha gastado com festas todo o dinheiro que havia juntado com os bicos que fiz após a guerra… Bem, foi mentira. Vi esse anel e o medalhão quando Harry foi procurar algo para Ginny e… Bem, somente ele soube, e foi excelente em guardar segredo. 

— Eu vou matar o Harry e você por isso. — falou em meio às lágrimas. — Talvez eu tenha reclamado uma vez ou outra nos últimos meses que você não parecia sequer interessado em casar comigo. 

— Eu é que vou matar o Harry! — exaltou o tom de voz, incrédulo. — Ele é um amigo fiel até demais.

— Talvez ele precise de algumas dicas de como se intrometer em momentos cruciais. — concordou, encarando o anel. Ron bateu na testa, pigarreando.

— Eu me distraio muito, fácil, me desculpe por isso. Estou nervoso. — ele mostrou a mão suada e Hermione sorriu, achando-o adorável. 

Ela estava literalmente vestida de noiva na frente dele, esperando a cerimônia que já estava quase pronta e, mesmo assim, ele ainda se sentia nervoso. Foi mais um dos momentos em que ela sentiu que estava ainda mais apaixonada, como se fosse possível amá-lo ainda mais. Um sorriso perpassou seu rosto ao perceber que, por mais que achasse que já o amava o suficiente, Ron sempre daria um jeitinho de provar que ainda havia mais espaço. Talvez o amor fosse como o universo e a mulher gostava desse pensamento. Sentia que nunca teria o suficiente de Ronald, o que era bom, já que poderia descobrir algo novo a cada dia, ou simplesmente reapaixonar-se pelas antigas.

— Hermione Jean Granger… Daqui a algumas horas Weasley. — acrescentou com um sorriso. — Minha melhor amiga. Mãe da minha filha. Ou do meu filh… Quer saber, mãe dos meus filhos. —  corrigiu-se, fazendo Hermione arfar. — Porque sim, eu quero ter mais que um filho com você, um dia, pelo simples fato de não conseguir conter o tamanho do meu amor e ficar absurdamente entusiasmado com a ideia de crianças tão lindas e brilhantes como você. Sim, é bom acostumar-se com a ideia de que talvez Harry e Ginny sejam deixados para trás na quantidade de filhos. 

— Deixá-los para trás é muita ousadia. — comentou ainda estupefata, mas adorando o entusiasmo de Ronald. — Mas equiparar talvez… — ela gostava da ideia de ao menos dois filhos, para fazerem companhia um ao outro. 

— Certo. — ele ponderou por alguns instantes e sorriu. — Dois. Mãe dos meus dois filhos. Você aceita se cas…

— Sim! — adiantou-se, arrancando uma risada de Ronald, que acrescentou rapidamente:

— Casar comigo? 

— Sim… — repetiu novamente, jogando os braços em torno do agora noivo e, dali poucas horas, marido. 

Hermione sentia que estava exatamente onde deveria estar. E, pouco tempo depois de uma das maiores declarações de amor de sua vida, ela agora era oficialmente Hermione Jean Granger-Weasley, esposa de Ronald Billius Weasley.

Tinha seus receios, é claro, mas sabia que poderia passar por cima de tudo se estivesse ao lado de Ron. Talvez tenha ficado tão apavorada quanto o agora marido no momento em que a bolsa de Ginny estourou enquanto cortavam o bolo, com ambos quase passando mal ao verem a cabeça do segundo filho dos Potter, seu sobrinho, mas todo o pavor se esvaiu quando alcançaram a mão um do outro. 

Em questão de minutos, todos os Weasley estavam reunidos no St. Mungus para acompanhar o nascimento de Albus Severus Potter, em um alvoroço tão grande que Hermione sequer percebera que nem ao menos o véu havia retirado. 

Fazer parte da família Weasley significava muitas coisas: confusão, falação, discussões enérgicas, mais pessoas reunidas para festividades do que qualquer casa poderia aguentar sem feitiços de expansão e muita intromissão aqui ou ali. Entretanto também significava união, carinho, amor e felicidade. 

Agarrou a mão do marido quando puseram os olhos no sobrinho pela primeira vez e ele correspondeu com um leve aperto na mão. Não havia momento mais lindo do que um recém nascido conhecendo o mundo, sendo apresentado para os familiares, e ficando no colo dos pais pela primeira vez. Era um momento com o qual Hermione estava definitivamente ansiosa, mesmo com muitas incertezas ainda a serem resolvidas e ciente de que muitos questionamentos não teriam resposta. O que realmente importava é que, dali algumas semanas, seriam eles tornando-se pais. 

Mexendo em seu medalhão, com lágrimas nos olhos, Hermione capturou o olhar do marido, que encarava sorridente o gesto da amada. Foi então que ele disse ao pé do ouvido da mãe de seus futuros filhos:

— Acho que tive uma ideia para um nome.

Era a primeira vez que realmente conversavam sobre possibilidades. Hermione quis não gostar da sugestão do marido, pois queria ter a própria chance de poder dar o nome ao bebê que estava à caminho, entretanto apaixonou-se na hora pela sugestão, pois agora concordava que haviam grandes chances de ser uma menina, e a escolha não poderia ter sido mais acertada:

Rose. — sibilaram juntos enquanto acariciavam a barriga de Hermione. Como se estivesse respondendo, o bebê chutou e ambos se entreolharam, rindo. Não poderia ser outro nome.  E os dois não poderiam estar mais felizes. 


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Notas finais do capítulo

Essa fanfic foi algo totalmente fora da minha zona de conforto, mas que surpreendentemente foi rápida de escrever. Nunca escrevi romione muito menos plot de gravidez. Aqui, entretanto, quis abordar mais o lado emocional do processo, com inseguranças que acredito que poderiam facilmente fazer parte da vida dos dois. Acredito que cada pessoa lide com a chegada de um filho de maneira muito distinta, mas de certa forma o receio sempre está lá, não é? Há a preocupação em proteger, cuidar e claro, tentar ser bom. Espero que eu tenha conseguido passar isso!

Alguns adendos que acho interessante: penso MUITO em Ron e Hermione com uma vida quase ao estilo trouxa e ADORO a ideia. Eles assistindo This Is Us: TUDO PRA MIM. Penso que eles sempre quiseram fazer as coisas com calma, aproveitando a companhia um do outro e talvez por isso casamento e filhos tenham demorado um pouco mais para sair do que os Potter, por exemplo. Para mim, Hermione era fã de Rosas, mas Ron acabou escolhendo o nome e o de Hugo ela acabará escolhendo, por conta de seu autor favorito e também como um trocadilho das iniciais (Rony e Hermione tiveram dois filhos com as iniciais deles, Hugo e Rose, e eu acho isso FOFO DEMAIS).
Sobre o nascimento da Rose: PRA MIM ELA É SAGITARIANA, preferencialmente do dia 3, como eu (alô aniversariante do diahahaah). Também aprovo o headcanon dela nascer no Natal hahaha
Espero que tenham gostado da minha contribuição! ♥
Beijos!



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