Laços Improváveis escrita por Alice Dias


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Essa é minha primeira fanfic aqui no nyah. As postagens serão semanais. Espero que gostem!!



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POV Bella 

Agosto, 2015

 

Na manhã do dia 04 de agosto de 2015, pouco mais de três anos depois da morte do seu marido, Isabella Swan estava em pé na varanda dos fundos de sua casa, observando o sol surgir no horizonte enquanto seus olhos admiravam as nuvens no céu melancólico.

Precisava de uma xícara de café. Uma xícara grande seria suficiente e ela estaria pronta para encarar o dia: que ia se iniciar em poucas horas. Era essencial arrumar Renesmee para a escola, garantir que estaria pronta para assumir o seu posto na delegacia de polícia, e lidar com qualquer imprevisto – como, por exemplo, conversar com o professor de Nessie no final da tarde. E isso era só o começo.

À noite ficava ainda mais sobrecarregada. O simples fato de manter a casa, exigia um esforço enorme. Pagar contas, fazer compras, limpar, fazer reparos.

Isabella sentia que a vida estava passando bem diante dos seus olhos e estava literalmente parada sem fazer nada. Uma cobrança automática caiu sobre seus ombros como: preciso ler um bom livro, iniciar uma dieta, fazer exercícios, etc… ou isso talvez fosse apenas as vozes de suas amigas ecoando, querendo que ela entendesse que a vida continuava mesmo depois da morte do marido.

Isso deixaria qualquer uma exausta, mas o que ela poderia fazer?

Sentia que estava envelhecendo. Dava para sentir que sua energia no trabalho já não era mais a mesma. Antigamente, na universidade, ela e as amigas começavam as noitadas às 11 e só voltavam para casa no dia seguinte de manhã.

Nos últimos anos, com exceção das noites em que estava de plantão, 11 horas era tarde; mesmo tendo dificuldade para dormir, ela ia para a cama. Não conseguia pensar em nenhum motivo bom o suficiente para ficar acordada àquela hora.

Estar exausta já era algo que fazia parte de sua rotina. Mesmo nas noites em que Nessie não tinha pesadelos – isso acontecia de vez em quando desde a morte de Riley –, acordava se sentindo cansada. Sem foco. Com os movimentos lentos de quem se move debaixo d’água.

Na maior parte do tempo, atribui esse fato à vida corrida que levava, mas às vezes se perguntava se não haveria algo de errado com ela. Tinha lido certa vez que um dos sintomas da depressão profunda era “uma letargia sem causa direta aparente”.

Claro que há um motivo para sua situação… Bella precisava mesmo era de um pouco de tranquilidade. Passar alguns dias em uma cabana perto da praia em La Push, ou simplesmente descansando, balançando-se suavemente em uma rede e bebendo uma taça de vinho, sem ter que tomar qualquer decisão mais importante do que calçar sandálias ou caminhar descalça pela praia na companhia de um homem.

Isso também era parte do problema: a solidão.

Estava cansada de ficar sozinha, de acordar em uma cama vazia, embora essa sensação a surpreendesse. Só começou a se sentir assim recentemente. No primeiro ano após a morte de Riley, ela não conseguia nem imaginar que um dia se apaixonaria por outro homem. Nunca. Era como se a necessidade da companhia masculina nem existisse, como se a luxúria, o sexo e o amor nada mais fossem do que possibilidades teóricas sem relação com o mundo real.

Mesmo depois de deixar sua tristeza se transformar em lágrimas noite após noite, sua vida parecia ruim para - como se ela momentaneamente se desviasse do caminho e logo estivesse de volta aos trilhos, então não há razão para se preocupar com nada.

Afinal, a maioria das coisas não mudou. As contas continuavam chegando, Renesmee precisava comer. Bella ainda tinha um emprego.

Uma vez, depois de algumas taças de vinho, Alice, sua melhor amiga, perguntou a ela como era perder seu marido, e Bella respondeu que realmente não parecia que Riley estava morto. Era mais como se ele tivesse ido passar o final de semana com um amigo, e ela ficaria cuidando de Nessie sozinha enquanto ele estava fora.

O tempo passou e o entorpecimento com o qual ela havia se acostumado também acabou passando. E a realidade tomou seu lugar. Por mais que tentasse tocar a vida, Bella não parava de se pegar pensando em Riley. Tudo parecia lembrá-lo. Principalmente Nessie, que, conforme crescia, ia ficando cada vez mais parecida com o pai.

Às vezes, quando Renesmee já estava na cama, Bella ficava em pé na porta do quarto e podia ver o esposo nos traços de seu rosto. Tinha de se virar antes que a menina notasse suas lágrimas. Mas aquela imagem permanecia por horas em sua mente; ela adorava o jeito como Riley ficava enquanto dormia: um braço dobrado acima da cabeça, a boca ligeiramente aberta, o peito a subir e descer suavemente ao ritmo da respiração. E o cheiro dele – o cheiro era algo que Bella nunca poderia esquecer.

 Se agarrou a outras coisas também. No início do casamento, costumavam almoçar no Mike & Jessie 's, um pequeno restaurante localizado na mesma rua do banco onde Riley trabalhava.

Era um lugar reservado e tranquilo, e de certa forma seu calor os fazia sentir que nada mudaria entre os dois. Eles não tinham estado lá muito desde o nascimento de Nessie, mas Bella começou a ir ao restaurante novamente após sua morte, como se esperasse encontrar algum resquício desses sentimentos ainda presos aos quadros nas paredes.

Riley estava sempre presente.

Em algum momento da primavera anterior, entretanto, isso começou a mudar. A mudança veio sem aviso, mas Bella logo percebeu. Enquanto dirigia para o centro, ela se viu observando um jovem casal andando de mãos dadas na calçada. E então, por apenas um instante, Bella se viu no lugar daquela mulher e imaginou que aquele homem estava com ela.

Ou, se não ele, alguém ... alguém que não apenas a amava, mas Nessie também. Alguém que a fizesse rir, que pudesse partilhar uma garrafa de vinho durante um jantar despreocupado, alguém para abraçar, tocar e sussurrar baixinho no ouvido com as luzes apagadas.

Alguém como Riley, ela pensou, e a imagem de seu marido imediatamente trouxe sentimentos de culpa e traição fortes o suficiente para tirar o casal de sua cabeça para sempre. Ou então ela acreditava.

Mais tarde naquela noite, logo após ir para a cama, ela se pegou pensando no casal novamente. E embora o sentimento de culpa e traição ainda existisse, não era tão intenso quanto antes. E naquele instante Bella entendeu que havia dado o primeiro passo, por menor que fosse, na direção de finalmente aceitar sua perda.

Ela começou a justificar essa nova realidade, dizendo a si mesma que agora era viúva, que esses sentimentos eram normais e que ninguém a negaria. Ninguém esperava que ela passasse o resto da vida sozinha.

Nos últimos meses, suas amigas tinham até se oferecido para lhe apresentar alguém. Além disso, sabia que Riley iria preferir que ela se casasse novamente. Ele mesmo disse isso em mais de uma ocasião – como a maioria dos casais, eles tinham feito a brincadeira do “e se”. Embora nenhum dos dois imaginasse que algo ruim pudesse lhes acontecer, ambos concordavam que não seria certo Nessie crescer só com o pai ou a mãe e que também não seria bom criar uma filha sozinha.

Ainda assim, parecia um pouco cedo demais para isso.

Mas, quando o raciocínio atingia esse ponto, voltava para provar que isso não aconteceria, por mais que ela quisesse pensar diferente.

Respirou fundo e voltou para dentro de casa. Serviu-se o café de que tanto precisava e seguiu rumo ao quarto da filha. Empurrou a porta para espiar lá dentro: Nessie continuava dormindo. Ótimo, ainda tinha um tempinho.

Foi para o banheiro. Abriu o registro, fazendo o chuveiro chiar por alguns instantes antes de a água sair. Tomou banho, lavou o cabelo e escovou os dentes. Enquanto penteava os longos cabelos, reparou que precisava cortá-los em breve, vestiu seu uniforme às pressas, depois pegou o coldre no compartimento trancado acima da porta do quarto e o prendeu à cintura.

Já no corredor, ouviu Nessie se mexer em seu quarto. Assim que abriu a porta do quarto da menina, ela ergueu os olhos inchados de sono para a mãe. Fazia poucos minutos que havia acordado. Ainda estava sentada na cama, com os cabelos revoltos.

Isabella sorriu.

— Bom dia, meu amor.

Renesmee ergueu a cabeça quase em câmera lenta.

— Oi, mamãe.

— Pronta para o café da manhã?

A menina esticou os braços e se espreguiçou com um leve gemido.

— Pode ser panqueca?

— Que tal cereal hoje? A gente está meio atrasado.

Nessie se curvou e pegou a calça comprida que a mãe tinha separado na noite anterior.

— Todo dia você diz isso.

Bella deu de ombros.

— Todo dia você está atrasada.

— Então me acorde mais cedo.

— Tenho uma ideia melhor: por que você não vai dormir na hora que eu mando?

— Porque nessa hora eu não estou cansada. Só fico cansada de manhã.

— Bem-vinda ao clube.

— O quê?

— Nada – respondeu Bella – Não se esqueça de pentear o cabelo depois de se vestir – lembrou a filha, apontando para o banheiro.

— Pode deixar.

As manhãs quase sempre seguiam aquele roteiro. Bella pegou o leite na geladeira e abriu os armários para procurar a caixa de cereal, depois de deixar tudo sobre a mesa se serviu uma segunda xícara de café.

Quando Nessie terminou de se vestir e apareceu na cozinha, ainda parecia desligada. Bella precisava conversar com a filha, mas queria que ela pelo menos aparentasse estar entendendo.

Após alguns minutos desse silêncio, observando-a devorar a tigela com cereal, finalmente pigarrou para chamar a atenção da filha.

— Como anda a escola? – perguntou.

Renesmee deu de ombros.

— Tudo bem.

Esse diálogo também fazia parte da rotina. Bella sempre perguntava como andava a escola; Nessie sempre respondia que estava tudo bem. Mais cedo naquela manhã, porém, quando estava preparando a mochila da filha, Isabella encontrou um recado do professor pedindo que ela comparecesse à escola. 

Algo nas palavras escolhidas a deixava com a sensação de que aquilo era mais sério do que uma reunião normal entre pais e mestres.

— Tudo bem nas aulas?

— Ahã.

— Está gostando do professor?

Nessie assentiu.

— A-hã – repetiu.

Bella aguardou para ver se a filha tinha algo mais a acrescentar, mas não. Então chegou um pouco mais perto.

— Então por que você não me disse nada sobre o recado que ele mandou?

— Que recado? – perguntou a menina, de forma inocente.

— O que estava na sua mochila, o que seu professor queria que eu lesse.

Renesmee tornou a dar de ombros.

— Devo ter esquecido.

— Como é que você esquece uma coisa dessas?

— Sei lá.

— E sabe por que ele quer conversar comigo?

— Não…

Nessie hesitou e Bella percebeu na hora que a filha não estava dizendo a verdade.

— Filha, você está com algum problema na escola?

Isso fez Renesmee piscar e erguer os olhos. Bella só chamava de “filha” quando ela fazia alguma besteira.

— Não, mãe. Eu nunca faço bagunça. Juro.

— Então o que houve?

— Sei lá.

— Pense um pouco.

Nessie se remexeu na cadeira, sabendo que havia chegado ao limite da paciência da mãe.

— Bom, acho que eu posso estar tendo um probleminha com alguns deveres.

— Pensei que você tivesse dito que estava tudo bem na escola.

— Mas está tudo bem na escola. O professor é muito legal... Eu gosto da escola – ela fez uma pausa – Mas é que às vezes eu não entendo tudo da aula.

— É para isso que você vai à escola, para aprender.

— Eu sei – respondeu a menina – Mas ele não é igual a professora do ano passado. Os deveres que ele passa são difíceis. Às vezes eu não consigo fazer.

Nessie parecia ao mesmo tempo assustada e envergonhada. Isabella estendeu a mão e tocou o ombro da filha.

— Por que você não me disse que estava com dificuldade?

Nessie levou um tempão para responder.

— Porque eu não queria que você ficasse brava – disse por fim.


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Notas finais do capítulo

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