Sob suas asas escrita por annaoneannatwo, Kacchako Project


Capítulo 1
O melhor e o pior




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—  Muito bem, pode começar se apresentando. —  o homem sorri e faz um gesto em direção à câmera.

Ninguém falou que teria câmeras, e agora ela está se sentindo levemente intimidada.

—  Bom, eu sou Uravity, e nada é pesado demais pra mim! —  Ochako ergue as mãos para mostrar as bolinhas em seus dedos.

—  Oh, já tem até um slogan! Que adorável!  — o homem abre um sorriso ainda mais largo e fala em uma voz excessivamente empostada, o que faz a jovem ter dúvidas se ele realmente gostou do slogan ou não —  Então, Uravity-san, por que escolheu a carreira de heroína?

—  Bom… eu meio que tenho mais de uma motivação, eu… assumo que comecei o curso de heróis pensando em ganhar dinheiro para ajudar meus pais, e eu ainda quero isso. —  ela diz apressadamente, percebendo que pode ser mal interpretada —  Mas também percebi que quero muito salvar pessoas, sabe? 

—  E o que motivou tal mudança? —  o homem inclina a cabeça um pouco.

—  Hum… eu diria que foi a partir do estágio com a Ryukyu-san, ela é uma grande mentora que me ensinou muito sobre o que é ser heroína, e o fato de ser alguém no top 10 a coloc-

—  Sob a supervisão dela, você participou da missão que colocou fim à organização criminosa Shie Hassakai, não é?

—  S-sim. —  Ochako confirma, um pouco frustrada por ter sido interrompida —  Graças à mentoria dela, eu tive a chance de ajudar ativamente.

—  Inclusive a resgatar o Sir Nighteye, correto? O que você sentiu quando recebeu a notícia da morte dele? —  o homem abre os olhos.

A garota já esperava que isso fosse acontecer. Ela fez muitas missões sob supervisão da Ryukyu, chegou até a sair nas notícias ao lado da Tsu e da Nejire-senpai, e isso tudo foi no primeiro ano do curso, é natural que seu momento de maior visibilidade seria a pauta, e inevitavelmente, os eventos de uma certa missão viriam à tona. O resgate do Sir Nighteye pelo qual ela ficou responsável. Ochako já pensou tanto nisso que às vezes sente que apenas imaginou, mas não, aconteceu mesmo, ela retirou tanto o peso do corpo dele quanto da enorme pedra que o atravessava, a respiração entrecortada do herói profissional, a cabeça pendendo para o lado…

Calma, não pense em nada tão gráfico. Fique calma. Você treinou muito pra esse exercício. 

De todas as disciplinas que teve desde o primeiro ano, Imagem e Mídia para Heróis foi a que mais lhe surpreendeu no quão rápido conseguiu se adaptar às atividades propostas. O professor Present Mic conduziu a matéria com muita tranquilidade, como se essa fosse sua verdadeira praia ao invés da Língua Inglesa que lecionava no primeiro ano. Talvez seja só o fato de eles estarem no terceiro ano, prestes a se formarem, já são quase colegas de profissão, mas de toda forma, é muito divertido acompanhar essa aula, mesmo que os exercícios práticos sejam difíceis.

Esse aqui sendo o mais difícil de todos! O professor explicou que eles seriam submetidos a uma entrevista com um apresentador de verdade, era de se esperar que a avaliação seria em um lugar que realmente parece com um estúdio de TV, mas não deixou de ser impressionante o quanto a U.A. se esforçou para criar esse lugar. As luzes são intensas e a fazem suar, as câmeras se movimentam como se realmente estivessem captando seus movimentos e o entrevistador, a quem o professor Present Mic introduziu como um famoso apresentador matutino conhecido por fazer heróis chorarem ao vivo em seu programa. Ela assistiu a vídeos de algumas entrevistas, num deles, até a Ms Joke ficou emocionada diante de uma pergunta sobre uma criança que ela salvou há alguns anos.

Ela não sabe exatamente se o apresentador recebeu uma ficha com informações sobre os alunos que poderiam ser usadas para as perguntas, ou se ele tem algum tipo de individualidade de adivinhação, parece-lhe que é esse o caso por conta de algumas das entrevistas às quais assistiu, os convidados são pegos de surpresa, como se tivessem algo muito íntimo sendo exposto. Independente de como for, o resgate do Sir Nighteye realmente foi catártico pra ela, é natural que entraria em pauta nessa entrevista. Ochako tem sua resposta pronta.

—  Fiquei pensando se poderia ter feito algo diferente, mas contei com o apoio de minha mentora e colegas, além do meu professor Eraserhead, que me disse algo que eu nunca vou esquecer sobre pensar bem no que eu gostaria de fazer dali pra frente. E foi ali que eu decidi que queria salvar as pessoas, para o que aconteceu com o Sir Nighteye nunca mais acontecesse com ninguém que eu possa alcançar com essas mãos.

Pronto, um círculo completo. Ochako conseguiu responder à pergunta sem fugir pela tangente, retomou o assunto inicial, citou as pessoas a quem é grata e não vacilou nem por um segundo. O apresentador continua sorrindo, mas é difícil dizer se o faz porque gostou da resposta ou está apenas mantendo a expressão educada para esconder a frustração em não ter conseguido quebrá-la.

Ela só não dá um sorriso triunfante pois tem que se manter o mais calma possível para não chorar.

Pelo menos foi assim que Ochako ensaiou.

***

—  Uaaaau, Uraraka-san, você foi tão bem! —  o Deku a encontra assim que ela deixa a sala de entrevistas, porque tem mais essa: os colegas podem assistir as avaliações. 

Ochako só pode concluir que o apresentador teve acesso a uma ficha mesmo, se ele pudesse fazer adivinhações, com certeza teria mencionado algo sobre uma infortunada quedinha que ela nutriu pelo garoto em sua frente. Durou até metade do segundo ano, e a garota chegou a se confessar, enquanto falava, ela foi percebendo o quanto aquilo não fazia muito nexo para o nível de amizade que eles tinham naquele momento. Assim que terminou de se confessar, Ochako riu. O Deku, claro, ficou sem entender, mas depois de uma longa e chorosa conversa por parte dos dois, tudo terminou bem, e eles seguem sendo os melhores amigos e parceiros. Claro que nem todo mundo entende isso, então não seria uma surpresa receber algum questionamento nesse sentido. Ela tinha uma resposta pronta pra isso também.

—  Eu fiquei nervosa… —  a manipuladora de gravidade dá um sorriso sem graça e coça a parte de trás da cabeça.

—  Não pareceu nem um pouco. Você viu a minha entrevista? —  ele faz uma careta —  Aquilo foi horrível, duvido que serei escolhido por algum dos profissionais.

—  Ah, e você acha que esse negócio é mesmo verdade? —  ela pergunta, cética. 

Segundo o Deku, que ouviu da Mina, que teoricamente ouviu do Dark Shadow quando o Tokoyami cochilou na sala dia desses, a entrevista não é a única etapa dessa prova. Haverá mais uma experiência prática: um mini estágio com heróis profissionais para os alunos aprenderem como lidar com assessoria, marketing e, claro, o público. O Dark Shadow disse que o Hawks é um dos profissionais que vai aceitar alunos, o único do top 10. 

Ochako não bota muita fé nisso, as coisas têm estado bem diferentes nos últimos anos, e as regras para o que heróis devem ou não fazer parecem estar sempre mudando. Começou com a aposentadoria do All Might, passando pelos eventos da batalha contra o Shigaraki e sua legião de vilões que culminou na queda do Endeavor como herói número 1 após a revelação dos abusos que cometeu contra sua família. O herói número 2, Hawks, foi cotado para assumir a posição interinamente, mas mesmo depois que se recuperou de quase ter perdido suas asas, recusou-se, fazendo grande campanha para o Best Jeanist e, desde então, é ele o Símbolo da Paz, mostrando uma postura bem calma e altiva diante das adversidades —  e nos últimos tempos, nunca houve tantas.

Ou seja, heróis profissionais que estão no topo não devem ter tempo para acolher estudantes, o dano de dois anos atrás ainda é muito sentido, e os que restaram estão reconstruindo a confiança das pessoas aos poucos. A eles, que muito em breve entrarão nesse meio, cabe se prepararem ao máximo que podem.

— Bom, eu não duvidaria. —  o Deku olha pra cima, onde é possível ver uma janela na enorme parede. Se realmente houver algum herói profissional assistindo às performances deles, provavelmente estará naquela sala lá no alto —  Acho que seria legal, já faz um bom tempo que não fazemos essas atividades mais práticas…

Isso também é consequência daqueles eventos, e chegaria a ser irônico que o Deku lamente por isso sendo que ele foi um dos grandes motivos para a mudança no jeito de ensinar na U.A. Os alunos passam bem mais tempo no colégio agora, tudo para garantir sua segurança, ninguém quer ver um adolescente quase destruir seus braços para enfrentar um vilão em rede nacional. Muito do que tem sido feito foi para proteger grandes talentos que têm potencial para renovar completamente a sociedade de heróis, um desses talentos é o Deku.

—  Bom, sim… mas e- 

—  Sai fora, Kirishima! —  uma voz rascante surge a alguns metros deles, e tanto Ochako quanto Deku se viram para olhar o Bakugou sentado, de braços cruzados, tentando se afastar do Kirishima para que o ruivo não ponha a mão no ombro dele.

—  Só tô falando pra você ficar de boa, mano, te conheço e sei que você tá pra surt-

—  O caralho que eu tô! Me deixa quieto, porra! —  ele cruza os braços e se afasta. O loiro chega a passar bem próximo dela, cravando os olhos vermelhos nos seus por um breve segundo antes de se retirar e anunciar que foi beber água e que não quer ninguém seguindo-o.

—  Ele foi mal… —  o Deku explica, sussurrando. Ochako não chegou a assistir à entrevista do Bakugou, preferindo ajudar a Mina e a Kyoka a praticarem.

Não chega a ser uma surpresa, o Bakugou é habilidoso em muitas coisas, comunicação não é uma delas. Quer dizer, ele sabe se expressar, ô se sabe, o problema é que… o jeito que se expressa vai contra tudo o que está sendo ensinado nessa matéria. Além do mais, Ochako imagina que o apresentador tenha feito perguntas bem incômodas para desestabilizá-lo mesmo. 

Realmente irônico que a U.A. esteja fazendo de tudo pra proteger seus maiores talentos, mas no fim, acaba por só deixá-los ainda mais nervosos com tudo.

***

— Alright! Já foram todos! —  Present Mic anuncia e sorri empolgadamente.

— Desempenhos ótimos! —  o diretor Nezu avalia, e depois complementa —  De uma maneira geral, pelo menos.

— Gosto de ver que as meninas foram bem melhor que os meninos. —  a Mt. Lady comenta, analisando os gráficos que aparecem na tela interativa que o Present Mic maneja a fim de mostrar os status de seus alunos conforme as avaliações do apresentador e a dos heróis profissionais vão sendo computadas.

—  Bom, elas estão em menor quantidade, proporcionalmente acabam ficando com uma média melhor. —  um dos profissionais aponta, ganhando um revirar de olhos da heroína em resposta.

—  Mas a Uravity-san e a Creati-san realmente tiveram um desempenho excepcional. Só o senhor deu uma nota menor para a Creati-san, não é, Hawks-kun? —  o diretor Nezu pergunta.

—  Ah sim, eu a achei muito formal, preferi a Uravity-san, me passou mais tranquilidade.

—  Bom, o que quer que seja que ache que precise corrigir na Creati-san, o senhor mesmo poderá ver, já que os dois melhores alunos irão para sua agência.

—  Ah é, sobre isso. —  o herói alado se ergue, lembrando-se de algo —  Acho que seria mais interessante fazer diferente. Ao invés dos dois melhores, por que não o melhor e o pior?

—  How come, man? —  o Present Mic pergunta,

—  Não vejo muita graça em levar os dois melhores, eles já sabem o que têm que fazer. O melhor trabalhando com o pior é mais interessante, tanto para os alunos quanto pra mim.

—  Devo lembrar-lhe que isto não é um experimento social para seu entretenimento pessoal, Hawks. —  o Eraserhead se manifesta, depois de ter ficado calado durante toda a avaliação —  É necessário que o método adotado pelo professor seja respeitado.

—  Ah yeah… é o meu método, mas… qual sua ideia, Hawks? —  o professor da disciplina questiona, coçando a cabeça.

— O melhor avaliado trabalha com o pior, o segundo melhor trabalha com o penúltimo, o terceiro com o antepenúltimo, e por aí vai… acho que os que foram mal têm muito a aprender com os que foram bem, e os que foram bem também podem aprender algo ao corrigirem os que foram mal. E os que estão no meio, bem… coisas extraordinárias podem surgir em meio à mediocridade, por que não?

—  Hum… interesting… —  ele coça a barba, analisando a proposição —  O que acha, diretor?

—  Eu acho esplêndido! Mas, Aizawa-kun, você parece meio borocoxô... por que tanta resistência à ideia? 

—  Hahaha, acho que o Eraser-san não confia em mim para lidar com o último colocado na prova. —  o herói alado sorri, notando o olhar escrutinador de seu colega com individualidade anuladora.

—  Bom, não sou de me deixar levar por questões pessoais, mas realmente não sei se é uma boa ideia deixar este garoto com você, considerando o seu… histórico com o ex-mentor dele.

—  Realmente não deveríamos nos deixar levar por questões pessoais, o próprio Best Jeanist-san já esclareceu tudo, não? Então confie em mim, posso dar um jeito no Ground Zero-kun, mesmo que ele talvez não curta muito.

—  Isso é uma promessa ou uma ameaça?

—  Um pouquinho dos dois. —  Hawks sorri —  Mas claro, é só uma ideia, Mic-san, você é quem sabe o que é melhor para seus alunos.

—  Não, eu gostei dessa ideia. Hum… yeah, let's do this!!! —  ele concorda energicamente.

—  Perfeito, então. —  o herói alado confirma em satisfação, sua intenção não era antagonizar o Eraserhead, claro que não, nem existem motivos para tal.

Mas dizer que não está contente com os resultados seria mentira. Nada contra a jovem Creati, mas no minuto em que assistiu às entrevistas, ele já sabia quais alunos gostaria de ter sob sua supervisão.

Isso vai ser interessante…


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Notas finais do capítulo

Oi oi! Chego com uma nova empreitada, e dessa vez é com o Kacchako Project, que comemora agora em novembro 1 ano de existência!!!
Em celebração, nosso tema bimestral é um desafio, se liga só: cada um dos membros da equipe tem um personagem representativo no site do projeto, que aliás, você deveria visitar se ainda não visitou https://kacchakoproject.weebly.com/sobre--equipe.html e nas fics desse bimestre, o tal personagem precisa ser responsável por juntar a Ochako e o Katsuki de alguma forma.
Só isso? Não, tem também um desafio: colocar frases, palavras e objetos de uma lista que a gente montou.
Pois muito que bem, meu personagem representativo é, sem surpresa nenhuma se você conhece a mim e minhas cadelices, o Hawks hehe. A frase que usei da lista é "Isso é uma promessa ou uma ameaça? Um pouquinho dos dois." e a palavra "borocoxô", objeto não usei nenhum, vou usar dois no próximo capítulo pra compensar.
Sim, "próximo capítulo" porque essa fic será uma long e, apesar de fazer parte do tema bimestral, tenho permissão pra esticá-la por mais um tempo. Farei o possível para postar de 15 em 15 dias, então já agradeço por toda curtida, comentário e apoio de você, que tá lendo.

Obrigada!



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