I'm the BAD guy escrita por Lux Noctis


Capítulo 1
I'm only good at bein' bad




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“So you're a tough guy

Like it really rough guy

Just can't get enough guy

Chest always so puffed guy

I'm that bad type

(...)
I'm the bad guy

I like it when you take control

Even if you know that you don't own me

I'll let you play the role

I'll be your animal”




O sangue parecia ainda mais ferroso quando não era apenas o cheiro que sentia, mas também o sabor contra seus lábios. A pele machucada, cortada, ferida. Sabia que ficaria roxo no dia seguinte, inchado. Dolorido. Juntou saliva na boca, cuspiu rubro pelo sangue ali, limpou o maxilar dolorido com o dorso da destra. Os olhos quase felinos, as pupilas de um predador, uma ave de rapina. 

Uma esquivada, o soco teria acertado-o em cheio, não fosse seu reflexo bem treinado. A pele maculada, o sangue quente fervendo em veia enquanto agitava-se para revidar. Um gancho de direita foi a distração para, ao mover o pé para frente, girar o corpo acertando com punho fechado as costas de seu oponente. O gesto automático de proteção ao mover o braço para trás apenas facilitou que encaixasse suas pernas naquele braço firme, sendo içado à cima, tão logo suas pernas no pescoço dele, suas costas no tatame num estalo dolorido, não tanto quanto a sensação de achar que tinha se quebrado inteiro. Riu com escárnio ainda assim, a boca voltando a minar sangue. A saliva rubra escorrendo ao queixo ao tentar cuspir sem muito êxito. 

O peso daquele corpo contra o seu, as mãos que agarraram-se em suas coxas no ímpeto de livrar-se do aperto. Ficaria marcado mas no momento importava-se muito mais em rir sabendo que deixaria-o marcado também. 

—  É tudo o que tem? —  Sua voz fraquejou na primeira palavra, sentia o corpo fraquejar depois de tanto tempo naquele embate, naquela luta brutal, sanguinária, até! 

Quando sentiu o corpo indo de encontro ao chão uma segunda vez, repensou sua pergunta. Mas ainda assim a repetiu com um sorriso de escárnio ao ver que ele não se livrava de sua chave de perna, usando suas mãos para agarrar aqueles cabelos, puxando-os para que ele olhasse diretamente para si, para seu sorriso, sua cara de um grandessíssimo filho da puta. O espelho um do outro:

—  Só isso? Esperava mais de você. 

O golpe veio forte. Assim como aquele olhar de gelo lhe queimava, o calor daquele corpo fazia o mesmo quando descontrolado em raiva, mas Keigo conhecia aquelas nuances, aquelas chamas. Keigo conhecia os pontos fracos de Enji, e apertava os botões certos quando, em sua consciência, precisava de algo que o ferisse para pagar por seus pecados. Por isso agia como o filho da puta que era, por isso instigava-o a ir além naqueles treinos de capacidade e conhecimento mútuo, como o vilão que passou a ser em suas missões para os cara bons, aprendeu a levar Enji ao limite, forçando-o a ser e fazer aquilo que ele não mais queria. Não depois de Rei, depois de levantar a mão para ela e os filhos, mas Keigo forçava-o a isso naqueles treinos. Mas ali, com o pescoço de Enji entre suas pernas, com aqueles cabelos vermelhos em suas mãos ao ponto de quase arrancar uma mecha, com aqueles olhos frios e aquelas mãos em chamas em seu corpo queimando-o, ali ele era de fato o vilão, o cara mau. Ele, não Todoroki. 

—  Chega. 

Mas não soltou. 

Viu quando ele cessou fogo, quando afrouxou as mãos daquele aperto que o feria mas o fazia sentir algo. Notou o olhar atento dele sobre si, não mais um azul de gelo, algo um pouco mais reconfortante. 

—  Keigo! —  Nada. —  Hawks! —  Os dedos firmes daquelas mãos maculadas pelo tempo marcando agora seus punhos ao sacudi-lo para atrair sua atenção. Assim, finalmente, cedeu. O olhar desfocado, a respiração ruidosa pelo esforço e pelas pancadas. 

Queria sentar e chorar. Queria sair daquela vida dupla, daquela vida onde no fundo, fingia ser bom.

Sozinhos. 

Ao menos tinha Enji ali. 

Levantou-se com esforço depois de soltar a chave de perna. Ajoelhou no chão, as mãos no tatame, os olhos fechados e a garganta seca. Haia o sabor ferroso e a sensação que sempre o acometia: arrependimento. 

Sentiu a mão dele em suas costas, firme. 

Virou-se e sequer deu a ele tempo de raciocinar, colando seus lábios feridos aos dele, também machucados. O sabor de sangue era quase como a nicotina que havia aprendido a fazer uso. Com o tempo, não sentia mais, vivia o momento. 

Sentou em seu colo, usou daquela boca para distrair sua mente, afogando as sensações ainda estranhas numa bruma de tesão que crescia, expandia-se. Deixava que as mãos que, até então feria-o, tocasse-o para despertar prazer. Trazia dor também, um prazer culposo, uma dor boa para sentir-se desejado, visto, necessário ao outrem. 

Afogou-se em luxúria, nos beijos de Enji em seu maxilar, pescoço, lábios.

Afogou-se em calor enquanto ele enterrava-se em seu corpo. Enquanto aquelas mãos continuavam a marcá-lo, agora como apenas seu, e de ninguém mais. 

Naquele tatame de treinos, amargor, suor e sangue, agora desfrutavam de algo tão intenso quanto; embora de certo modo mais agradável. Ainda havia o suor, dor pela forma como agora arranhava as costas de Enji ao subir e descer em seu colo, ao sentir aqueles dentes fincando em sua carne. Mas era bom. 

Ruidoso, a respiração anelante pelo esforço, por mais esforço. Ainda estava no colo de Enji depois que tudo acabou, quando o corpo esfriou e veio só a dor de mais um movimento. Ainda estava ali, sendo confortado por aquele que todos veriam como um péssimo herói, sendo ainda o único a lhe direcionar uma chama no escuro.

Aceitou o afago nas costas, o protótipo de beijo na testa, era mais um roçar daquela barba por fazer de encontro a sua tez. Mas ainda era muito mais do que um cara mau como ele merecia. Talvez, estivessem juntos por isso. Eram aquele tipo de gente ruim, que não é tão ruim, mas que merece uma provação para melhorar.


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