Entre Lobos e Monstros escrita por Nc Earnshaw


Capítulo 26
Imprinting




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Capítulo 25

por N.C Earnshaw

 

— DROGA, Kate… — reclamou Erin, vestindo a primeira blusa que viu no guarda-roupa. Carl tinha acabado de ligar para avisar que uma das garçonetes estava doente e não poderia atender hoje, sobrando para ela, que tomaria o seu lugar no turno de 6 horas. Geralmente, a quileute agradecia pelo dinheirinho extra, no entanto, naquele dia em específico, quando tinha o seu próprio turno para cumprir depois, não estava muito animada em passar 12 horas atendendo clientes babacas. — Você tinha que ficar doente logo agora!

Erin ainda tinha tanto para conversar com Embry. Ela sentia, apesar de ele não ter hesitado nem ao menos um segundo em responder suas perguntas, que o quileute estava guardando alguma informação que o deixava com o olhar aflito. 

A Landfish compreendia que era difícil para ele se abrir sobre esse outro lado de sua vida, e ao menos ela estava mais informada sobre o assunto que Tyffany. Contudo, continuava a manter uma enorme necessidade de conhecer cada pedacinho da vida dele. 

Como Embry tinha saído uma hora antes para fazer uma ronda que, segundo ele, não demoraria mais que 4 horas, Erin viu-se deixando um bilhete colado na geladeira com o ímã de joaninha, avisando sobre sua localização para que o garoto não chegasse em casa e ficasse preocupado quando não a encontrasse. 

A Landfish se atrapalhou com as chaves do carro, deixando-as cair no chão enlameado. Ela xingou, puxando o capuz do moletom marrom que usava para conseguir enxergar melhor o objeto sem que o tecido voasse e tapasse seus olhos, e se agachou segurando a mochila acima da cabeça para não sujá-la de lama. 

A chuva, geralmente, não a incomodava tanto. E tudo bem que ela passava a maior parte do tempo reclamando e pensando no quão seria relaxante ter alguns dias de sol, mas ela não permitia que algumas gotas de água atrapalhasse sua rotina. 

A quileute puxou o molho de chaves pelo chaveiro sem querer sujar sua mão mais que o necessário. E sorriu vitoriosa quando conseguiu desenterrá-la da lama sem precisar de muito esforço. Era realmente surpreendente o quão rápido a terra de La Push podia engolir os objetos. Ela ainda se lembrava de quando perdeu seu ursinho de pelúcia, o sr. Picles… 

Ela gemeu ao ouvir seus joelhos estalando assim que se endireitou para voltar até o seu carro. Sentia-se cansada mesmo que não tivesse feito nada mais que trocar alguns beijos com Embry e fritar alguns hambúrgueres para o lanche, e não conseguia imaginar como seria aguentar tanto tempo de pé tendo que correr de uma mesa para outra sem cair de exaustão. Os dias antes do seu período chegar sempre a deixavam com a sensação de que um caminhão tinha passado por cima do seu corpo e dado ré. 

A figura de Leah Clearwater parada a não mais que um metro do seu corpo a fez dar um gritinho assustado.  

— Mas que porra é essa, Clearwater! Tá ficando maluca? — Por instinto, Erin colocou a mão sobre o coração, sentindo-o bater fortemente em seu peito. Aquela doida tinha assustado-a até a morte! — Por um acaso está querendo me matar? 

Leah não esboçou qualquer expressão diferente da carranca costumeira que ela levava no rosto, fazendo com que Erin franzisse o cenho. A energia daquela mulher não parecia estar muito legal. 

— Oi! Não vai falar nada? — A Landfish balançou a mão em frente aos olhos da quileute, tentando acordá-la de qualquer que fosse o transe bizarro que estava deixando-a com aquele olhar avoado. — Você pode começar se desculpando ou sei lá. Talvez me falar o que droga está fazendo parada em frente a minha casa como uma psicopata! 

Sua casa? — Aquilo pareceu “acordar” Leah rapidamente. A mulher de cabelos curtos sorriu com sarcasmo, e olhou para a casa sobre a cabeça de Erin como se estivesse avaliando cada detalhe do lugar. — Posso estar enganada, mas acredito que a casa pertence a Tyffany Call.

Erin teve vontade de arrancar aquele sorrisinho de Leah cortando o barato dela ao dizer que não, a casa não era de Tyffany coisa alguma. De acordo com o nome colocado na escritura do lugar, a casa pertencia a Embry. No entanto, para que ela pudesse fazer isso, teria que contar a verdade sobre Daniel Lahote ser pai do garoto, e aquilo estava fora de cogitação. 

— Se está procurando pelo Embry, ele não está. — Ela preferiu cortar qualquer que fosse o diálogo que a outra queria iniciar. Não tinha nada contra a Clearwater; uma vez que ela nunca havia feito mal a ela, entretanto, sabia bem que ela adorava provocar as pessoas até levá-las ao limite. — Saiu mais cedo para fazer ronda. 

Leah não pareceu nem um pouco surpresa. 

— Ah, que fofo! — A loba fez um biquinho que trouxe uma careta para o rosto de Erin. Ela era uma das mulheres mais bonitas que a Landfish já tinha visto, mas não combinava fazendo bico. Ficava esquisito de um jeito que a quileute não podia explicar. — Ele até contou para você sobre a transformação.

Erin revirou os olhos, não sentindo-se impelida a ficar parada no meio da chuva, aguentando os ataques sem fundamento de Leah. Não estava com paciência para ser o saco de pancadas de ninguém! 

— Olha, Leah, estou muito atrasada para o trabalho e meu chefe vai comer meu fígado se eu demorar mais um pouco. — Ela fechou o punho no molho de chaves que ainda estava pendurada na ponta dos seus dedos, não se importando mais em se sujar de lama. — Mas podemos marcar um horário qualquer dia desses quando eu estiver com tempo livre e precisando ser torturada pelos seus comentários por algumas horas. Às vezes acho que sou um pouco masoquista porque chego a gostar de ser tratada mal, então pode confirmar a minha presença. 

A Landfish deu as costas, não esperando uma resposta. Desejava ter distraído a mulher o bastante para conseguir entrar no carro. Suas preces não foram atendidas.

Leah segurou-a pelo braço com força e a puxou de volta. Erin se desequilibrou por alguns segundos, pois não estava preparada para ser tocada com aquela brutalidade, mas ganhou de volta seu balanço a tempo de soltar-se do agarre e fuzilar a loba com os olhos. 

— O que você quer, sua cretina? — Erin não conseguiu ocultar a raiva que estava experimentando naquele momento. Se antes não tinha qualquer coisa para falar sobre Leah, agora tinha uma batelada delas. Como ela se atrevia a vir do nada falando um monte de merda como se tivesse o direito? — Já falei que estou atrasada e sem tempo para jogar conversa fora. Se ainda quiser falar comigo depois do trabalho, estarei disponível… — A Landfish forçou uma expressão pensativa. — Hummm… Para você, acho que nunca. 

— Você é exatamente como todos eles! 

Erin deu um passo para trás, assustada com a fúria que contorcia o rosto de Leah. Ela, apesar de se considerar uma garota muito corajosa que não baixava a cabeça para ninguém; com exceção de Carter, sua mãe, Jane…, não estava se sentindo muito valente. Normalmente, sentiria-se até um pouco intimidada por causa da diferença de altura entre elas e pelos músculos definidos de Leah. Contudo, saber que ela era uma loba que tinha superpoderes e uma super força que poderia quebrar o seu pescoço em alguns segundos fazia com que Erin experimentasse um certo medo. 

— Pensa que só porque tem um idiota correndo atrás de você, é de algum jeito superior a mim. No início é toda: Ah, pobrezinha da Leah, foi trocada pela prima e perdeu o pai, vamos ter um pouco de paciência. E depois me trata como se eu fosse uma barata nojenta dentro do seu sapato! 

A única reação possível que Erin conseguia ter era arregalar os olhos. Mas que porra era aquela? Não lembrava de ter falado com aquela garota mais de duas vezes!

— Achei que, diferente das outras, você teria algum tipo de noção do ridículo ou até um pouco de amor próprio, mas acho que me enganei. — Erin abriu a boca para reclamar, no entanto, Leah não a deu oportunidade. — Foi só o Embry vir com esse papinho de amor eterno e toda a baboseira do imprinting que você caiu que nem um patinho! 

— Imprinting? — De tudo o que a Clearwater falou, a única palavra que seu cérebro pescou foi aquela. Imprinting. Erin tinha a leve desconfiança que já havia ouvido aquilo em algum lugar.

— Acha mesmo que essa droga de magia é sincera? — Continuou a loba, não dando atenção para qualquer coisa que ela tivesse dito. — Eles são obrigados a amar vocês. São apenas escravos das decisões de uma desconhecida qualquer. — Erin admirou o fôlego da outra. — Sabe o Paul com o imprinting pela vampira? Ele quase morreu tentando se livrar dela. Então, Landfish, não vá se achando porque o Embry está na palma da sua mão. Ele não tem qualquer escolha nisso. 

Leah soltou uma risada seca.

— É você ou morrer. Não é tão difícil. 

— Uau. — A quileute tinha absoluta certeza que sua reação seria outra se ela soubesse o que cargas d’água seria imprinting. — Uau. 

Leah semicerrou os olhos, sem compreender sua reação. Esperava gritos, lágrimas e até mesmo alguma resposta mais elaborada. No entanto, tudo que recebeu foi “uau”. 

Ou aquela garota tinha algum problema sério na cabeça, ou… A loba fungou, desacreditada. Embry havia ocultado de suas memórias assim que se transformou horas antes, que não tinha contado a Erin sobre o imprinting. 

Cacete.

— Ele não te contou, não foi? — Leah mal conseguia acreditar na sorte que estava tendo. Quando Embry chegou todo felizinho sem conseguir parar de lembrar o quão perfeita sua vida estava, a Clearwater sentiu cada nervo do seu ser gritar para que ela quebrasse a cara dele. Era injusto que todos os outros conseguissem a felicidade enquanto ela sofria. Principalmente aquele garoto que ela achava dividir o mesmo sangue que Sam. — Agora tudo faz sentido! 

— O que faz sentido, pirada? — A Landfish já estava de saco cheio. Se ela não soubesse que a outra poderia destruí-la com apenas um soco, teria partido para a agressão no primeiro desaforo. — Pode desenvolver ou vai continuar a ser tão articulada quanto um primata? 

— Acredito que o Embry tenha te contado a historinha sobre a transformação — disse Leah, ignorando-a ao cortar a distância entre elas. Queria estar olhando para Erin bem de perto quando revelasse o segredinho sujo de Embry. 

— Ele contou. E daí? — Em sua mente, a garota rezava para a lanchonete estar vazia quando chegasse ao trabalho. Humilhação pública pela segunda vez não estava na sua lista de coisas para cumprir naquele dia. E ela tinha certeza que Carter arrancaria sua cabeça por chegar tão atrasada. 

— Ele te falou sobre o imprinting? — inquiriu Leah, sabendo bem qual era a resposta. 

Erin suspirou e jogou a cabeça para trás, pedindo a todos os ancestrais que a dessem paciência. 

— Não. Ele não falou. — A Landfish voltou a olhar para a loba. — Mas tenho certeza que você vai fazer isso por ele. 

Leah sorriu, no entanto, Erin não viu qualquer sinceridade e bom sentimento naquele ato. Parecia que a mulher tinha esquecido como sorrir de verdade, e isso era triste de formas que ela não conseguia descrever.

— Um lobo quando se transforma tem uma espécie de alma gêmea. Nós quileutes chamamos de imprinting, e tem todo aquele papo de amor à primeira vista e blá blá blá. A verdade é que o lobo acaba virando uma espécie de escravo do imprinting. No instante em que olhamos a pessoa pela primeira vez, todos os nossos desejos, o nosso amor pela família, amigos ou antigos amores, ficam em segundo plano. E a única coisa que importa é fazer o imprinting feliz, independente dos nossos sonhos ou de quais sacrifícios teremos que fazer para conseguir isso. — Erin não estava sentindo frio, então não compreendeu porquê seu corpo inteiro se arrepiou, ou por qual motivo ela sentiu uma enorme necessidade de se abraçar. — A maior loucura disso tudo é que essa magia não nos força apenas a amar alguém, mas também nos convence que cada momento é gratificante. 

— E eu sou… — E eu sou o imprinting do Embry?, quis perguntar. Contudo, não conseguiu coragem dentro de si para fazê-lo. 

— Você ainda tem dúvida? — debochou Leah, arqueando uma sobrancelha. A culpa começou a cutucá-la, mas ela conseguiu afastar aquele sentimento e guardá-lo bem no fundo da sua mente. Erin merecia aquilo. Embry também merecia. E Sam… Ah! Ela adoraria vê-lo se contorcer ao ver o irmãozinho sofrendo. — Ele surgiu do nada e virou o seu super herói. Te deu um lar e amor infinito. Jurou que te protegeria de todos os monstros que se escondem na escuridão

— O que você ganha me contando isso, Leah? — inquiriu Erin, forçando-se a não demonstrar seus verdadeiros sentimentos. Aquela garota conseguiu destruir todos os momentos felizes das suas últimas semanas.

Leah somente deu de ombros. 

— Eu estava entediada.

 


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